A Peregrina escrita por Bleumer


Capítulo 25
Conto Um - Uma Vida Comum


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO: ESSE CONTO ACONTECE EM UM UNIVERSO ALTERNATIVO. NADA DO QUE FOI RETRATADO AQUI TEM LIGAÇÃO COM A HISTÓRIA DE A PEREGRINA.

Como eu prometi aqui está um conto extra como agradecimento pelas dez recomendações. Espero que vocês gostem!



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Universo Alternativo

Tédio. Era só isso que eu sentia no momento. Eu estava com meus fones de ouvido e a música no máximo, batendo os dedos na minha coxa no ritmo do som forte, cheio de agudos e de uma guitarra que parecia gritar. E mesmo assim a música não conseguia prender minha atenção totalmente. Tudo aquilo era um saco.

Eu não queria estar naquela maldita cidade nova, não queria ter sido transferida por causa do meu emprego, não queria ter que organizar toda a minha mudança para a casa nova. Sério, você já tentou fazer uma mudança? Sabe o quanto é cansativo aquilo?! De repente tudo tinha virado de cabeça para baixo na minha vida. Tinha virado um inferno. Eu diria que é um inferno de cabeça para baixo, se é que isso faz sentido.

Minha vontade era de estar na minha cidade natal, com minha família e amigos, maaaas não! O destino parecia ter outros planos para mim.

Que ótimo.

Ok, ok, não era como se eu tivesse mudado de cidade de um dia para o outro. Isso só acontece em livros ou novelas. Claro que eu tinha pesquisado sobre essa nova cidade, Pandora. Tinha procurado um lugar para morar e sabia onde era meu trabalho, além de ter aprendido o caminho da minha casa até o... Trabalho... E só.

Só conhecia isso da cidade.

Mas não era de todo mal... Meu novo apartamento era até bonitinho. O prédio onde ele ficava era um pouco antigo, com paredes azuis com branco, mas estava bem conservado, e não tinha elevador, o que era um problema sério para mim. Ah, sim, ainda tinha o fato que meu vizinho de porta era algum tipo de maníaco que ouvia música clássica no último volume. Eu já morava nesse prédio há uma semana e nunca o tinha visto, mas carinhosamente o chamava de Maníaco Clássico. Tirando isso, o prédio não tinha nada demais. Era um lugar comum em uma cidade comum para uma garota comum com uma vida comum.

E chega de comuns na mesma frase.

Se Molly, minha melhor amiga, estivesse aqui diria que eu penso demais e resmungo demais. Mas o que eu posso fazer se não estou feliz?

Reclamar menos, era o que ela diria. Suspirei resignada e olhei pela janela inutilmente, afinal eu estava dentro de um metrô e não tinha nada o que ver lá fora. Meu tédio só aumentou.

Depois de alguns minutos dentro daquele vagão quase vazio, ele parou na próxima estação e eu esperei alguém entrar... E alguém realmente entrou... E nossa mãe do céu. O homem que passou pelas portas do metrô e sentou um pouco a minha frente era simplesmente lindo.

Ele era alto, magro, mas do tipo musculoso, como se a mãe natureza o abençoasse com um corpo atlético e invejável sem ele precisar fazer uma academia. E sim, estou presumindo que ele não faz academia. De qualquer forma o que mais chamava atenção era seu cabelo... Era loiro e brilhante, parecia que o próprio sol dava sua luz a esse homem, além de seu cabelo ser longo e cair descuidadamente pelas suas costas, apenas preso por um rabo de cavalo frouxo e baixo. Seu rosto exibia traços delicados e ao mesmo tempo firmes, de alguma forma dando um equilíbrio perfeito para sua beleza.

Seus olhos eram azuis e ofuscantes. Eu poderia ver o céu ali dentro... E ele estava olhando para mim!

Rapidamente desvie o olhar, constrangida por ter sido pega em flagrante ao encarar tão descaradamente um estranho. Pelos deuses! Que merda eu tinha na cabeça para ficar secando esse cara?! Ele provavelmente deve estar me achando uma louca.

Ainda temerosa ousei olhar de novo na sua direção... E ele continuava me olhando!

Puta que pariu.

Abaixei o rosto e fingi estar muito concentrada no meu celular e na música. Mexer no celular era a escapatória para qualquer situação social. Mas eu ainda podia sentir os olhos daquele homem perfurando minha pele... Certo, ele não estava perfurando nada, mas eu tinha certeza que estava me encarando também e aquilo começou a me irritar.

Durante alguns minutos ficamos nessa situação. Ele me encarando e eu o encarando... Discretamente.

Até que o metrô parou em outra estação e dois jovens entraram. Diferente do loiro, esses caras não tinham um ar elegante e altivo. Além de parecerem estar voltando ou indo para alguma festa a julgar pelo cheiro de bebida que vinha deles.

_Ei, olha essa ai... Mercadoria da boa. - Um dos caras falou para o outro enquanto olhava na minha direção.

_UAL! Ela é bem gostosa! - O segundo homem deu uma risada maliciosa ao me olhar de cima a baixo.

Mesmo por cima do barulho que vinha dos meus fones, eu podia ouvir claramente a vozes desses vermes, já que eles não estavam preocupados em falar baixo. Na mesma hora senti nojo deles, nojo do que eles diziam e de seus olhares para mim. Era isso que eu ganhava por andar no último horário do metrô tarde da noite, cerrei os dentes de raiva e tentei ignorar aqueles homens. Sem sucesso.

Um deles, o mais baixo, esticou a mão na direção do meu ombro enquanto dizia.

_Eu e meu amigo vamos a uma festa, porque não vem com a gente, delícia?

Quando senti seu toque frio sobre minha pele, tremi involuntariamente... Não de medo, mas de raiva. Parece que eu vou ter que quebrar a mão de alguém... Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, o cara loiro surgiu do lado do homem que me tocava e retirou sua mão do meu ombro. De modo brusco.

_Acho que ela não está interessada nessa festa, rapazes. - O tal loiro disse e sua voz era maravilhosa... Era melódica e forte. Com uma surpreendentemente autoridade presente.

_Quem é você? Cai fora, a gente a viu primeiro. - O baixinho reclamou e eu tive que me segurar para não bater na sua cara gorducha e feia. Acho que se eu não tivesse tão surpresa pelo súbito ato do loiro, eu já teria quebrado esse verme em dois.

_Eu a vi primeiro e sou o namorado dela, não é óbvio? - O loiro respondeu com uma naturalidade incrível enquanto sentava-se ao meu lado e passava o braço envolta dos meus ombros. Então fez algo que realmente me pegou de surpresa...

Ele, esse loiro, que era um completo estanho para mim, simplesmente me beijou na frente de todo mundo. Seus lábios tocaram os meus de forma carinhosa e suave, para logo depois nos separar e olhar para os homens a nossa frente que olhavam tudo com uma expressão irritada.

_Vamos embora. Deixa para lá. - O segundo homem puxou seu amigo e ambos foram para o final do vagão. Sumindo de nossas vistas.

Eu fiquei estática. Minha boca devia estar aberta em um O perfeito e meus olhos arregalados. Com certeza eu devia estar linda assim.

E o estranho ao meu lado ainda estava com o braço envolta dos meus ombros, como se aquela fosse uma posição natural e confortável.

Certo, hora de colocar ordem nisso.

Ergui a mão e usei minhas longas unhas para beliscar a pele da mão do loiro. Assim o fazendo me largar.

_Ai! Você é louca?! - Ele retraiu o braço e massageou sua mão enquanto me olhava espantado.

_Você que é o louco! Apareceu do nada e me beijou! Seu pervertido!

_Eu salvei você daqueles caras! Devia ser mais grata!

_Então você tem o costume de ser cavalheiro e salvar donzelas em perigo?! Grata? Você me beijou contra minha vontade! - Arranquei os fones de raiva, os guardei na minha bolsa e olhei furiosa para ele.

_Você não parece uma donzela e o beijo não foi ruim. Tenho certeza que não tirei nenhum pedaço seu. - A voz do loiro soou calma e controlada. Uma insinuação de sorriso estava presente em seus lábios.

_E você não é mesmo um cavalheiro ou príncipe! É só um pervertido! E só para você saber, o beijo foi horrível! - Certo, ele tinha razão em dizer que eu não parecia uma donzela e que o beijo não tinha sido ruim, na verdade... O beijo foi bom. Muito bom. Mas nunca admitiria isso.

_Fale baixo! As pessoas estão olhando! Vão pensar que eu fiz algo de ruim com você. - Ele me pediu em um sussurro enquanto olhava por cima do ombro. Sua expressão era de preocupação.

_Mas você fez mesmo! Me beijou! - Só agora notei que realmente estava falando alto e as pessoas olhando.

_Eu te salvei!

_Não pedi sua ajuda!

Respirei fundo. Toda aquela discussão em sussurros era ridícula. Cruzei os braços e encostei-me no banco. Pondo fim naquilo. Acho que o loiro pensou o mesmo, pois ficou em silêncio.

O metrô parou na próxima estação e dessa vez não subiu ninguém. Suspirei aliviada.

_Desculpa. Eu quis te ajudar, mas acho que fiz da forma errada. Não devia ter te beijado contra sua vontade. - Olhei para o ele e o vi me encarando... Seus olhos azuis refletiam de sinceridade.

_Tudo bem... E obrigada. - Respondi baixo, meu orgulho não me deixava agradecer em voz alta. Mas aquilo pareceu ser o suficiente para o estanho, já que ele sorriu um pouco.

_Vamos começar de novo. Qual seu nome?

_Bleumer... - Minha voz saiu meio hesitante. Eu ia mesmo começar uma conversa com ele?

_Bleumer... É um nome diferente. Você é estrangeira? - Ele perguntou e virou o corpo para mim, como se estivesse mesmo interessado no que eu ai dizer.

_Não, apenas minha mãe que não tem bom gosto para nomes. - Eu disse simplesmente e ele riu. Sua risada era gostosa de ouvir...

_Bom, meu nome é Legolas.

_Seu nome também é diferente.

_Acho que meu pai também não tem bom gosto para nomes. - Legolas fez piada e eu não pude deixar de rir também.

_Seu cabelo também é diferente. - Pensei em voz alta. Merda! Isso não é o tipo de coisa que se diz para alguém que você acabou de conhecer.

_Posso dizer o mesmo do seu. Ele é branco, mesmo você não parecendo ter mais que 25 anos. - Ele disse rindo e ainda bem que não ficou irritado com meu comentário.

_É de família, o que posso fazer? - Sorri ao pensar em minha mãe, a pessoa que eu tinha puxado esse cabelo.

Ficamos conversando por mais alguns minutos, o ocorrido de antes parecia um passado distante e eu descobri que Legolas era... Legal. Foi divertido falar com ele e contar um pouco de mim enquanto ouvia um pouco dele.

Até que uma caixa de som anúncio a próxima estação, que era a minha.

_Bom, Legolas, eu desço aqui. Boa noite e tente não salvar mais nenhuma mulher dessa forma. - Brinquei com ele e levantei indo até a porta. Lancei um último olhar a ele e vi que ele me olhava de forma curiosa.

_Boa noite! E não belisque mais as pessoas, Bleumer!

Ele devolveu a brincadeira e piscou para mim. Então a porta abriu-se e eu sai sem olhar para trás.

Por sorte a estação era perto do meu prédio, então eu não precisava caminhar muito. Enquanto saia da estação não pude deixar de pensar em Legolas... Eu queria vê-lo de novo. Eu tinha sido muito idiota por não ter pegado o número dele, mas também o que eu diria? Me passa seu número, gato? Não, não mesmo. Eu não era assim.

Tanto faz agora, eu nunca mais o veria de novo. Na verdade, nem o conhecia de fato. Então não valia a pena perder tempo pensando nele. Embora meus lábios ainda estivessem formigando por causa do seu breve beijo.

Maldito Legolas.

Resolvi prestar atenção na rua que já estava deserta por causa da hora e acabei olhando por cima do ombro... Havia um homem a poucos metros atrás de mim. E ele era Legolas!

Ai meu deuses! Legolas devia ser um assassino em série e agora estava seguido sua próxima presa, eu, no caso!

Aumentei o ritmo dos passos e ouvir que ele também aumentava os dele. Certo, ele realmente estava me seguindo.

Como eu pude ter uma queda pelo maníaco assassino e pervertido do metrô?! Como pude ter uma queda por Legolas?!

Não entre em pânico, Bleumer! Pense em algo! Alguns metros a minha frente havia um beco... Uma ideia idiota surgiu na minha cabeça.

Sem pensar duas vezes, corri para o beco e me escondi, ficando colada na parede, esperando Legolas passar.

Ouvi seus passos rápidos se aproximando e quando ele colocou o rosto para dentro do beco para olhar... Eu dei um grito em desafio e levantei a perna em um chute alto e giratório. Minha meta era acertar seu rosto e eu teria conseguido se o maldito não tivesse ótimos reflexos e tivesse segurado minha perna no meio do chute.

_Você realmente tem a mania de agredir as pessoas próximas a você, sua louca?! - Legolas me perguntou meio irritado enquanto soltava minha perna.

_Tenho essa mania se a pessoa estiver me seguido! - Gritei de volta, com raiva.

_Eu não estava seguindo você! Eu moro perto daqui! - Legolas passou as mãos pelos cabelos, tentando se acalmar.

_Bom... Então isso muda um pouco as coisas, mas não me assuste assim, idiota! - Passei direito por ele e continuei andando em direção ao meu prédio, que já podia ver daqui.

_Só devo dizer que sua estratégia de se esconder no meio de um beco escuro não foi a mais esperta. Teve sorte porque fui eu. - O loiro me disse enquanto caminhava ao meu lado e eu fiquei levemente ofendida... Certo, aquela não tinha sido uma das melhores ideias, mas não precisava falar assim.

_Ainda não estou vendo a sorte disso.

_Você é inacreditável. - Legolas disse e riu. Não entendi se foi um elogio ou não, mas tanto faz... Ouvir a risada dele me deixava... Feliz?

Parei na frente do meu prédio e Legolas fez o mesmo. Eu o olhei curiosa.

_Não me diga que mora aqui.

_Moro. Isso que é coincidência ou seria destino? - Ele sorriu de canto ao dizer aquilo e depois abriu a porta, entrando e a segurando para mim.

_Se esse for meu destino, então eu sou muito ferrada. - Ri de leve. Não dizem que rir é o melhor remédio?

Subimos as escadas até o terceiro andar e eu parei na porta do meu apartamento e o olhei. Legolas abria a porta em frente a minha.

Não, aquilo não podia ser possível.

_Você é o Maníaco Clássico! - Pensei em voz alta de novo! Puta que pariu! Que mania idiota essa!

_ ... Oi? - Legolas me olhou verdadeiramente confuso e eu não o culpava. Eu só estava dando motivos para ele me achar uma louca.

_Bom... Eu não sabia quem morava no apartamento da frente... Mas essa pessoa sempre ouvia música clássica no máximo... Tipo, igual a aqueles caras de filme de terror, sabe? Então eu acabei o apelidando de Maníaco Clássico... É, falando isso em voz alta, vejo como não faz sentido... É. - Minha voz foi diminuindo até sumir de tanta vergonha. Não acredito que contei isso para Legolas.

E a segunda grande surpresa do dia foi quando Legolas gargalhou, gargalhou de verdade do que eu disse.

_Eu não sou maníaco e nem nada disso. Mas porque você sempre pensa o pior de mim? - Ele disse entre risos.

_Digamos que eu não tive muitas oportunidades para pensar o contrário.

_Hmm... Eu posso mudar isso. - Legolas se aproximou de mim e pegou uma mecha do meu cabelo. Sua voz soou tão agradável aos meus ouvidos e o modo como ele me olhava, como se eu fosse importante para ele, me hipnotizou.

_Estou esperando por isso. - Consegui responder e logo depois me afastei abrindo a porta do meu apartamento e entrando.

_Ah, quanto à música... Vou abaixar o volume. - Legolas prometeu da soleira da minha porta e eu não duvidei.

_Não precisa abaixar... Eu acabei gostando, claro, não é melhor que metal, mas é bom também. - Sorri para ele e o loiro me olhou com... Admiração? - Boa noite, Legolas. - Sussurrei e fui fechado à porta, mas por último ouvi.

_A primeira noite de muitas.

Bati a porta e sentei no meu sofá.

Como meu dia tinha acabado assim? Que linhas do destino tinham se enrolando para me levar até aquele momento? Bem, não importa.

Conhecer Legolas fora a melhor parte do meu dia, na verdade a melhor coisa que aconteceu desde que cheguei nessa cidade.

Eu não estava apaixonada por ele, não me apaixonaria em um dia, isso só acontecia nos livros que eu lia, não na vida real. Mas eu tinha uma leve queda por Legolas. No que isso iria resultar? Não sei, mas talvez esteja disposta a descobrir e acho que Legolas também.

Isso não seria uma épica história de amor, com magia e dramas. Não, era apenas a história de uma garota comum em uma cidade comum que conhecia um cara comum. Nada de extraordinário aconteceria, mas ao mesmo tempo tudo podia acontecer.

Afinal, aquela era uma possibilidade... Comum.


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Notas finais do capítulo

Olá! o/

Então vocês gostaram? Eu sei que foi diferente de A Peregrina, mas pensei que podia ser interessante colocar Bleumer e Legolas em situações diferentes, além de mexer um pouco na personalidades deles. HAUAHAUHUA

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*Imagem meramente ilustrativa, encontrada no Google e editada pela minha beta.

Até logo! Beijo de Luz do Viajante!