Reviravoltas escrita por Judy


Capítulo 15
Sorveteria


Notas iniciais do capítulo

Eii, mais um pra vocês! Ah, e este capítulo vai para:

Boa leitura!



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— ONDE VOCÊ TÁ, SUA MALUCA? - Maluca? Eu?

— O que aconteceu, Mitchel? – perguntei, o que será que eu fiz agora?

— O que aconteceu pergunto eu!

— Dá pra falar logo? - me acorda e ainda fica brigando comigo?!

— AONDE VOCÊ TÁ?

— Em casa, na minha cama e antes... DORMINDO!

— Ahh... Quer dizer que você está em casa, na cama, quentinha? Enquanto eu ainda tô no colégio, supostamente te ESPERANDO?

— Você tá ME esperando? - não aguentei e caí na gargalhada.

— Como você voltou pra casa? - perguntou bravo.

— É... Um amigo que eu conheci me trouxe...

— Amigo, ahaam. Tchau.

Eita, a princesinha quebrou a unha e ficou com raiva... Esse garoto, vou te contar, hein?

Depois dessa não consigo mais dormir... Continuei a ler o livro, mas não consegui me concentrar, troquei de roupa e resolvi sair.

Saí do quarto e dei de cara com ninguém mais ninguém menos que... Mitchel! Ele não falou nada e passou reto por mim, nem liguei e desci as escadas correndo. Avisei à Ana que ía sair e... Saí.

Liguei pra Emma para ver se ela sabia de algum lugar para eu ir, sei lá, um shopping, uma sorveteria...

— Emma? Aqui é a Bruna, sabe se aqui por perto tem alguma sorveteria, um cinema...?

— Tem uma sorveteria na rua ao lado da sua. Eu até te acompanharia, mas como eu disse estou ficando na biblioteca depois do colégio...

— Poxa... Tinha esquecido, mas obrigada, Emma. - disse e nos despedimos.

Na verdade não estava querendo a companhia dela, nem a de ninguém, pelo menos ninguém daqui...

Dei uma volta no quarteirão e encontrei a sorveteria, toda de madeira escura, com um balcão de madeira branca com alguns bancos e algumas mesas.

Peguei uma casquinha com duas bolas, uma de baunilha e outra de cereja, e sentei em uma mesa desocupada.

O sol começou a sumir, o vento começou a balançar as árvores e eu comecei a ficar com frio. Olhei as horas e já eram quase sete horas, resolvi levantar e pagar o sorvete. Sem prestar atenção dei de frente com um garoto e derrubei (lê-se: esmaguei) a casquinha do garoto na blusa dele.

— Ai, meu Deus! Desculpe-me!

— Que gelo! Não, tudo bem, foi só um acidente. Prazer, meu nome é Logan.

— Prazer, Bruna. Mas, sério, foi mal. - disse sem graça tentando limpar a blusa com a mão.

Ele tem olhos amendoados redondos com cílios grandes e escuros, cabelos castanhos claros da cor de sua pele, rostinho de menino, mas o corpo...

— Nada, pode deixar, tá tudo bem. Agora eu que vou me desculpar, tenho que ir. - disse apontando pra saída atrás de mim.

Ou melhor, pra morena que estava lá, cabelão até a bunda e com uma cara de que não tava gostando de esperar.

— Nossa, eu que tenho que pedir desculpas, não sabia que estava acompanhado, não quero atrapalhar, com licença.

— É, eu tô mesmo. - disse. - Pela minha irmã... - sussurrou em meu ouvido.

Dei uma risada e ele piscou pra mim indo embora. Paguei o sorvete e voltei pra casa, enfim consegui sorrir.

Como Oscar viajou ficamos só eu, os pestinhas e Helena jantando. Jogamos conversa fora contando como foi o dia, sem perceber o tempo passar. Assustei-me ao ver as horas, 20:40.

— Licença, gente, mas já tô saindo. - disse.

— Boa noite. - responderam em coro.

Passei na cozinha dei boa noite aos serviçais e aproveitei para levar um copo d'água pro quarto.

Enfim no quarto troquei de roupa, coloquei a mesma que eu estava e fiz minha higiene pessoal. Ao mesmo tempo em que eu gosto de ficar sozinha, é tão ruim... Só consigo pensar no Rio, o que eu estaria fazendo lá, com quem eu estaria e até mesmo o que eles estão fazendo agora...

Tentei afastar os pensamentos e peguei meu livro. Reli o mesmo parágrafo cinco vezes até desistir, peguei meu celular e não havia nenhuma mensagem, realmente eles me superaram mais rápido do que eu imaginei...

Fui na minha playlist e coloquei Say something. Meus pensamentos, como de costume, voaram até Lucas. Provavelmente ele já deve estar com outra garota e eu aqui, ainda pensando nele. Se pelo menos eu tivesse notícias... Meus olhos encheram-se de lágrimas, mas antes que alguma rolasse um ogro abriu a porta e eu retirei os fones de ouvido.

— O que aconteceu? - perguntei, ou melhor, gritei assustada limpando os olhos.

— Por que você não abre a porta? - Mitchel perguntou levemente bravo. - Tá tudo bem? - ele falou mais baixo me olhando, minha cara de choro me entregando. - Se for porque eu fiquei bravo e ter gritado com você hoje, já passou tá?

— Não, eu tô bem, - respondi. - não foi nada. Eu não ouvi você bater ou chamar, estava de fone. - segurei-os mostrando. - Então, o que você quer?

— Só ia me desculpar e dar boa noite.

— Desculpa também, por não avisar que não ia com você. Boa noite. - disse recolocando os fones.

— Ah, o Mike tá te chamando.

Levantei animada, não queria afundar de novo em meus pensamentos, e o Mike é um fofo!

— Mike, - chamei abrindo a porta do quarto. - você tá aí?

Entrei no quarto e encontrei um lugar super aconchegante. Em um lado uma escrivaninha com livros e um notebook branco e um pufe azul claro, do outro a cama encostada na parede e no "pé" dela uma porta onde supus ser o banheiro. Perto da porta do banheiro tem um baú colorido e perto dele alguns brinquedos jogados. Também há um armário, porém, diferente do meu, sem espelho e uma televisão presa à parede.

— Pera aí! - ouvi seu grito de dentro do banheiro.

Esperei sentada em sua cama, com a janela aberta uma brisa adentrava o quarto deixando o ambiente agradável. As parede tem um tom de azul escuro em sua metade de baixo e a de cima, branco. Feche os olhos respirando fundo o ar puro e senti a presença de Mike no quarto.

— Oi.

— Oi, mocinho. Me chamou?

— Chamei, queria saber se, bem... - ele disse sem graça e eu sorri vendo seu rosto corar como o meu. Com um pijama e os cabelos negros ainda molhados continuou. - Eu sei que vai parecer meio infantil, mas... Óbvio que eu sei ler, claro. Mas você poderia ler uma história para eu dormir? - ele pediu envergonhado. Os olhos de um azul tão claro que podem hipnotizar qualquer um pediam meigamente, que perigo esse garoto quando ficar maior!

— É isso? Claro que eu leio, pequeno!

Ele secou o cabelo com a toalha que tinha em mãos, fechou a janela e ligou o ar condicionado. Escolheu o livro e retirou os óculos redondos.

— Escovou os dentes? - perguntei sentando no pufe e abrindo o livro na primeira página.

— Ops, esqueci! - ele disse dando uma risadinha.

Levantou rapidamente e escovou os dentes sem muita demora, depois voltou a se deitar na cama e se aconchegou em meio a coberta. Ele fechou os olhos e eu fiquei o observando, como era lindo! E uma saudade bateu dos meus outros pais imaginando como seria esse novo bebê.

— Pode começar... - ele disse como quem não quer nada.

— Há muito, muitíssimo tempo, na próspera cidade de Hamelin, aconteceu algo muito estranho: uma manhã, quando seus gordos e satisfeitos habitantes saíram de suas casas, encontraram as ruas invadidas por milhares de ratos que iam devorando, insaciáveis, os grãos dos celeiros e a comida de suas bem providas despensas.

'Ninguém conseguia imaginar a causa de tal invasão e, o que era pior, ninguém sabia o que fazer para acabar com tão inquietante praga.

Por mais que tentassem exterminá-los, ou ao menos afugentá-los, parecia ao contrário que mais e mais ratos apareciam na cidade. Tal era a quantidade de ratos que, dia após dia, começaram a esvaziar as ruas e as casas, e até mesmo os gatos fugiram assustados.

Ante a gravidade da situação, os homens importantes da cidade, vendo perigar suas riquezas pela voracidade dos ratos, convocaram o conselho e disseram: Daremos cem moedas de ouro a quem nos livrar dos ratos.

Pouco depois se apresentou a eles um flautista taciturno, alto e desengonçado, a quem ninguém havia visto antes, e lhes disse: "A recompensa será minha. Esta noite não haverá um só rato em Hamelin".

Dito isso, começou a andar pelas ruas e, enquanto passeava, tocava com sua flauta uma melodia maravilhosa, que encantava aos ratos, que iam saindo de seus esconderijos e seguiam hipnotizados os passos do flautista que tocava incessantemente.

E assim ia caminhando e tocando, levou-os a um lugar muito distante, tanto que nem sequer se poderia ver as muralhas da cidade.

Por aquele lugar passava um caudaloso rio onde, ao tentar cruzar para seguir o flautista, todos os ratos morreram afogados.

Os hamelineses, ao se verem livres das vorazes tropas de ratos, respiraram aliviados. E, tranqüilos e satisfeitos, voltaram aos seus prósperos negócios e tão contente estavam que organizaram uma grande festa para celebrar o final feliz, comendo excelentes manjares e dançando até altas horas da noite.

Na manhã seguinte, o flautista se apresentou ante o Conselho e reclamou aos importantes da cidade as cem moedas de ouro prometidas como recompensa. Porém esses, liberados de seu problema e cegos por sua avareza, reclamaram: “Saia de nossa cidade! Ou acaso acreditas que te pagaremos tanto ouro por tão pouca coisa como tocar a flauta?"

E, dito isso, os honrados homens do Conselho de Hamelin deram-lhe as costas dando grandes gargalhadas.

Furioso pela avareza e ingratidão dos hamelineses, o flautista, da mesma forma que fizera no dia anterior, tocou uma doce melodia uma e outra vez, insistentemente.

Porem esta vez não eram os ratos que o seguiam, e sim as crianças da cidade que, arrebatadas por aquele som maravilhoso, iam atrás dos passos do estranho músico. De mãos dadas e sorridentes, formavam uma grande fileira, surda aos pedidos e gritos de seus pais que, em vão, entre soluços de desespero, tentavam impedir que seguissem o flautista.

Nada conseguiram e o flautista os levou longe, muito longe, tão longe que ninguém poderia supor onde, e as crianças, como os ratos, nunca mais voltaram.

E, na cidade, só ficaram a seus opulentos habitantes, seus bem repletos celeiros e bem cheias despensas, protegidas por suas sólidas muralhas e um imenso manto de silêncio e tristeza.

E foi isso que se sucedeu há muitos, muitos anos, na deserta e vazia cidade de Hamelin, onde, por mais que se procure, nunca se encontra nem um rato, nem uma criança. '- terminei horrorizada.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Valeu a pena a espera? (historinha: O flautista de Hamelin)