Fomos andando em silêncio, passamos no armário (dessa vez eu não esqueci), descobri que o da Clary é do lado do meu, e fomos pra sala.

— Então, você veio de onde? - ela resolveu abrir a boca e perguntou.

— Eu vim do Rio de Janeiro, no Brasil.

— Hum, você se mudou? Por que veio pra cá?

— É uma história meio longa, eu fui deixada em um orfanato e essa família do Brasil me adotou, depois que a minha mãe adotiva engravidou ela não me quis mais, então encontrou minha família biológica que mora aqui e cá estou eu...

— Ah, no caso a sua família biológica é a mesma do Mitchel? - perguntou fazendo uma cara de nojo.

Sentamos, ela na frente e eu atrás, a professora chegou e antes que ele se apresentasse respondi:

— Mais ou menos, minha família biológica o adotou, tipo por remorso por terem me deixado, mas não espalha, por favor, não sei se o pessoal sabe disso. Mas o que vocês têm contra ele? Eu sei que ele não é flor que se cheire, mas...

— Mocinhas! Posso continuar? - reclamou a professora.

— Sim, senhora. - respondemos em uníssono.

A professora se chama Nicole, é pequenininha, pele branca, cabelos castanhos na altura dos ombros. É muito bipolar e olha que eu só tive uma aula com ela! Uma hora ela briga outra hora sorri animada, meu Deus!

Ela passou um pouco da matéria, conversou bastante com a turma e aula passou rápido. Nenhuma vez a Clary olhou pra trás ou falou comigo.

O sinal bateu e nem acreditava que ainda faltava uma aula inteira.

— Então? - insisti.

— Então o que?

— Por que quando vocês falam do Mitchel fazem uma cara de nojo? - perguntei enquanto saíamos da sala.

— Oi, quéeeridas! Aula de que agora? Diz que é matemática, por favor!!!! - adivinha quem é? Não é a minha fada madrinha...

— Não foi dessa vez, Emma... - quer dizer que a Emma ela responde, agora eu... - E você, Andrew, alguma chance de ser literatura?

— Eu tenho, Emma! - festejei.

— Até que enfim alguém! - ela comemorou

— 100 por cento de chance, Clary. Vamos?

— Só se for agora!

— Tchau, meninas! - eles se despediram.

Por que a Clary é tão legal com os outros e vive me evitando? É agora que eu vou descobrir!

— Emma.

— Euzinha! - ela respondeu.

— Por que vocês não gostam do Mitchel? Nem tenta me enrolar! Eu preciso saber.

— Então...

— Sim? - questionei. - Vai! Continua!

— Há quase um ano teve uma festa. Uma festa daquelas, todos foram convidados. Os pais de Olívia Backman tinham viajado a negócios. Ela iria se mudar no mês seguinte e os pais foram resolver algumas papeladas em Washington. Ela queria a festa perfeita, ia ser sua despedida. Mitchel sempre foi popular, nunca fez parte do grupinho dos populares em si, mas todos o conheciam, o pegador. Clary sempre foi tímida e estudiosa e essa foi uma das primeiras festas em que ela foi. Lá eles se conheceram, trocaram telefone e conversavam toda hora. Começaram a ficar e ele a pediu em namoro, eram o casal mais fofo do colégio, perdidamente apaixonados um pelo outro. Depois de quatro meses de namoro firme, Matthew, o melhor amigo do Mitchel falou pra Clary que ele só estava com ela por causa de uma aposta, ela não acreditou em nenhuma palavra do que ele falou, mas ele tinha um vídeo, no vídeo o Mitchel estava completamente bêbado e aceitava a aposta, ele ganharia se a Clary, santinha que nunca ficava com ninguém, aceitasse namorar com ele. Na hora a Clary terminou com ele, ficou chorando por um mês inteiro, na primeira semana ele ia todo dia na casa dela, mas ela não atendia, com razão. Depois, ele desistiu. Agora todo mundo do nosso grupinho odeia ele, principalmente o Willian já que... Depois a gente termina de conversar, matemática é minha matéria preferida!

O professor acabou de entrar, mas não prestei atenção em nenhuma palavra do que ele disse. O Mitchel realmente é um idiota, mas nunca pensei que seria a esse ponto. Será que alguém pelo menos conversou com ele? E o Willian? Por que ele ficou com mais raiva que os outros?

Primeiro dia de aula e já tenho tanta coisa pra pensar. Até que não fui tãaaao mal...

— Bruna, pega o material! O professor já olhou pra você umas três vezes! - sussurrou Emma para mim.

Peguei meu material e comecei a copiar a matéria. A aula custou a passar e eu não aguentava mais ficar naquela sala! Finalmente meu amigo sinal resolveu bater!

— Tava no mundo da lua? - perguntou Emma

— Mais ou menos, tava pensando no que você me contou... Ei, mas mudando de assunto, você sabe onde o Mitchel mora?

— Sei, fui lá várias vezes quando eles ainda, bem... Você sabe.

— Sabe se alguém mora por perto e pode me dar uma carona?

— O Willian e a Clary, mas ela vai direto pro dentista hoje e acho que não seria legal pra ela, pergunta pro Willian.

— Perguntar o que pra mim? - falando na criatura...

— Será que você pode me dar uma carona?

— Claro, se você me der algo em troca, - ele disse chegando mais perto. - tipo um...

— Já tô indo, Will! - interrompeu, graças a Deus, Clary.

— Tchau, Clary, se cuida. - nunca pensei que o Willian fosse carinhoso, mas com a Clary ele era diferente do que com as outras pessoas. - Dirige devagar e depois me liga, para eu saber se correu tudo bem. - terminou dando um beijo na testa.

— Ei, gente, eu e Emma já vamos, até amanhã. - Andrew se despediu levando Emma.

— Bye, bye!

— Também vou nessa, beijos. - e como sempre ficou séria pra mim, que sacooo.

— Vamos, Collins? - perguntou Willian.

— Vamos.

— Então, agora você me deve dois beijos. - disse enquanto dava partida no carro.

— Se você quiser eu saio agora do carro. - sinceramente? Já tô sem paciência nenhuma

— Vamos com calma, nervosinha. Onde é a sua casa mesmo?

— A Emma disse que vocês sabiam... Bem, é a mesma do Mitchel.

— Ah, - disse agora desanimado. - esqueci que você é irmã dele.

— Eu sei que vocês não gostam dele, mas isso tem muito tempo, ele ainda é meio idiota, mas no fundo ele não esse traste todo que vocês acham. Ele é... Um bom irmão.

— Se você acha, Collins. - disse fechando a cara. Meu Deus, não posso nem falar o que eu penso...

Passamos o resto da viagem em silêncio. Então o Müller realmente não gosta do Mitchel. Sei lá, simplesmente aquela descrição não bate com a do Mitchel bobão que eu conheço. Se bem que eu nem conheço ele direito, nenhum deles pra falar a verdade...

— Chegamos... - anunciou em tom baixo.

— Obrigada, - disse sem graça tirando o cinto de segurança. - bem... Por tudo.

— Você sabe como agradecer. - respondeu sorrindo dando uma piscadela enquanto eu saía do carro. - Tchau, Collins.

— Tchau, Müller.

Bati a porta e entrei "em casa". Olhei ao redor e não tinha ninguém na sala, nem na cozinha.

— Ana? - chamei.

— Olá, senho... Bruna!

— Oi, não tem ninguém em casa, não?

— Não, dona Helena só chega sete e meia da noite, a escola de Mike é integral, mas Mitchel já deve estar chegando, pra falar verdade já deveria ter chegado... - disse pensativa.

— Obrigada, Ana! Vou subir pro meu quarto.

— OK, você não quer comer alguma coisa?

— Não, obrigada, já almocei no colégio. - respondi sorrindo.

Subi as escada e fui direto para o banheiro. Tomei um banho e coloquei uma calça de moletom e um casaco, nunca fiquei tão cansada em um dia de aula. Não tenho dever, então peguei o livro O Dia do Curinga que estou lendo e voltei a ler, liguei o ar condicionado e deitei na cama.

Li umas cinquenta páginas e não aguentei, dormi.

Acordei desesperada com o meu celular tocando. Olhei a hora e são 16:40, ou seja, dormi por vinte minutos.

— Alô?