Garota Ideal escrita por T Freitas


Capítulo 2
Pode me informar as horas?


Notas iniciais do capítulo

Bom, estou postando esse novo capítulo para caso tenha alguma fantasminha, um outro capítulo ajude vocês a se decidirem se gostam ou não.



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O mês passou depressa, como se alguém tivesse apertado o botão do controle remoto para avançar x8. Estava em uma rotina sem fim: casa, faculdade, estágio e casa. Como um ciclo vicioso. Nem saía aos finais de semana, andava sem vontade, não era mais como antigamente, quando cada final de semana era uma aventura diferente. Porém, isso foi antes, quando fazia sentido todas essas coisas. Quando ele gostava. Mas ele tinha mudado. Refletido. Andava cansado, festas já não lhe agradavam tanto. Acabou vendo que a época de suas saídas tinha chegado ao fim.

Mas a grande questão do momento era que estava ficando difícil esquecer a garota dos olhos escuros e sorriso bonito — não quando ela aparecia em todo lugar.

Não sabia como antes não a tinha notado. Encontrou-a dois dias depois daquele em que a ajudou com o ônibus, nas barcas novamente. Dessa vez, ela sentou no banco a sua frente, o que fazia difícil a tarefa de desviar os olhos do topo da sua cabeça.

Encontrou-a durante o intervalo na faculdade, cruzaram-se no corredor e depois, na volta. E assim foi. Às vezes, apenas a encontrava na ida e na volta. Em outras, em todos os lugares.

Com o tempo, ele começou a ansiar por esses encontros — por mais de seus sorrisos de lado e seus belos olhos, escuros e intensos, encarando-o.

— Não aguento mais essa vida de estudante, preciso de férias. — reclamou Carlos.

Estavam sentados no refeitório e comiam um sanduíche. Carlos tinha a mania — às vezes, irritante; outras, nem tanto — de trazer assuntos do nada, para preencher o silêncio que, para ele, era incômodo.

— Férias seriam boas. — concordou Hugo, e deu uma mordida no seu sanduíche, mastigando-o.

— Quanta animação, H. Consegue me deixar arrepiado.

Hugo, como sempre, ignorou-o — era bom nisso — e continuou, lentamente, a mastigar o seu sanduíche na esperança de que pudessem comer em paz. Mas ele devia saber que, se tratando de Carlos, isso não era possível. Nada intimidado pelo silêncio do colega, o garoto começou a tagarelar sobre como as aulas do dia tinham sido entediantes, enquanto Hugo suspirava e concordava nas horas certas.

E então, como sempre acontecia àquela hora, ela apareceu. Parecia distraída com alguma coisa, fez uma pausa e olhou a sua volta, procurando alguém. Seus olhos percorreram cada pessoa e pararam, exatamente, nele.

Totalmente envergonhada, ela desviou rapidamente os olhos e andou depressa, deixando-o impressionado — não sabia que ela podia se mover daquele jeito. Não pôde evitar um sorriso incrédulo pela atitude dela. Parecendo incentivado pelo seu sorriso, Carlos passou a falar mais animado, balançou as mãos para dar mais ênfase. Hugo estava absorto, talvez a menina dos olhos escuros e sorriso bonito não fosse ignorante quanto a sua existência afinal.

Naquela manhã, foi para sala se sentindo até um pouco descontraído. Não sabia direito o porque daquela garota o estar influenciando tanto, talvez tivesse sido o olhar de mais cedo — tinha feito com que se sentisse bem. Sabia, agora, que não era o único que estava observando. O seu humor estava tão bom que se permitiu até rir de uma das conversas idiotas do amigo depois da aula.

Não sabia quando tinha se tornado tão sério e até mesmo mal-humorado, mas, naquele dia, estava se sentindo bem o suficiente até para fazer uma piada.

Já nas barcas, o seu estranho humor não o abandonou, o que causava uma certa desconfiança no amigo, que olhava de rabo de olho tentando entender o que estava acontecendo. Mas, por incrível que pareça, não comentou nada, ficou quieto — era melhor Hugo com seu estranho bom humor do que com sua carranca constante.

Hugo não conseguiu controlar um sorrisinho maroto quando a viu passar pelos dois, parecia compenetrada em ficar na frente — provavelmente, querendo pegar um bom lugar. O bom daquele horário era que não estaria tão cheio, o que permitia a ele ter esperança de conseguir um lugar ao seu lado sem precisar arrastar Carlos atrás dela para que não perdessem a chance.

Quando a “porteira do curral” foi aberta, o rebanho começou a andar, esbarrando-se e apressando o da frente até a entrada do barco, onde os funcionários, trajando coletes salva-vidas laranjas, sorriam estranhamente e ajudavam e esperavam os passageiros entrarem.

Entraram, procurou-a. Carlos seguiu, buscando um lugar. Hugo não demorou; achou-a no mesmo lugar de sempre, perto da janela. Ninguém ainda tinha ocupado o seu lado, e isso só o incentivou.

Carlos ocupou o assento ao lado, sobrando apenas o da ponta. Hugo a observou. Estava bonita, com o cabelo castanho ondulado e um pouco bagunçado batendo nos ombros. Sua franja estava presa por uma presilha.

Ela mexia distraída no celular, o que lhe deu tempo para observar como estava vestida. Jeans e camiseta. Uma espécie de casaco repousado no colo. Ela continuava a usar duas bolsas — uma carteira e outra menor de cor azul, feminina.

Ele precisava testar algo, e estar ao lado dela era a oportunidade perfeita para isso. Virou-se em sua direção e ensaiou abrir e fechar a boca, mas sua voz parecia presa na garganta. Pigarreou, mesmo a contragosto — não era como se quisesse chamar sua atenção desse jeito.

A morena o olhou, os olhos novamente um pouco arregalados, deixando visíveis as íris cor de mel e o verde no fundo, evidenciado por causa da luz que passava pela janela. Seus olhos não eram escuros como pensava.

Percebendo que a encarava há algum tempo, passou as mãos pelo cabelo e, sem jeito, disse a primeira coisa que veio a cabeça: — Pode me informar as horas?

Ela pareceu ainda mais perplexa do que quando ele a chamou. Piscou os olhos bonitos algumas vezes.

— Hum... 10h50. — respondeu, e só depois ele se tocou de quão idiota foi a sua pergunta.

Ele devia saber a resposta, já que estava pegando a barca daquele horário. Mas na hora, quando ela olhou assustada, ele não soube o que falar. Não sabia nem mesmo porque a chamou. Podia simplesmente tentar passar o resto da viagem quieto, sem mais momentos constrangedores.

— Obrigado.

Limitou-se a um aceno de cabeça e virou o corpo para frente, querendo ignorar tanto ela, que ainda o encarava, quanto o seu amigo, que tentou perguntar com os olhos qual era o problema. Bom, nem ele sabia.

Era melhor ignorar ambos. Pegou seu fone na mochila e colocou-o rapidamente. Carlos o cutucou algumas vezes, mas se deu por vencido, Hugo não diria nada.

Quando a barca chegou ao seu destino, Hugo praticamente pulou do banco, assustando Carlos, que, sonolento, lutava contra o cochilo. Piscou duro e tentou acompanhar o amigo, que, com o olhar semicerrado, mandava-o sair do caminho.

Ainda um pouco atrapalhado, pulou do assento para se mover para longe de Hugo.

Hugo não olhou para trás. Embora não gostasse de confessar, estava se sentindo um tolo no momento e não queria olhar para a garota novamente. Na verdade, ele queria esquecer que tinha feito papel de idiota, mas sabia que não seria tão fácil — não quando o seu amigo vinha logo atrás, curioso e, provavelmente, animado para querer saber o que tinha acontecido.


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Notas finais do capítulo

Mais um pouco de Hugo. Bom, como essa história se trata de amores platônicos, então paciência com ele, particularmente, curto a situação pela zoeira do Carlos. Mas sou suspeita para falar. Meus novos bebês. Bem, deem suas opiniões. '-'