Sagas Quiz escrita por Elo


Capítulo 7
Episódio 7 - O julgamento




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          Snow sai da limusine preta usando óculos escuros Gucci e um terno cinza com uma florzinha vermelha em seu bolso. As mãos à frente do corpo estão algemadas e ele sorri calorosamente para os repórteres e as câmeras disparando flashes ao seu redor, enquanto os guardas o escoltam escadaria acima.

— Olá, olá! – ele diz, rindo. — Ah, como eu senti falta disso!

          6 anos… 6 maravilhosos anos desde que ele escapara.

          Aproveitando-se da fama e do sucesso estrondoso do programa “Sagas Quiz”, o ex-apresentador viu todos abaixarem a guarda diante de sua vilania. Como qualquer bom vilão, então, ele… fugiu!

          — Presidente Snow, presidente Snow! — ele ouve um repórter dizer. Acha tão adequado que ele tivesse usado sua alcunha de presidente que resolve chegar perto dele, arrancando olhares de reprovação de sua escolta.

          — Olá, meu caro! — Snow se aproxima, dando atenção a ele.

          — Presidente Snow, é verdade que você esteve escondido na Rússia, em Sokóvia, em Asgard e no Reino Quântico?

          — Oh, meu péssimo e mal-informado repórter, como todos! Me sinto lisonjeado, mas não. — Snow esclarece, dando um aceno de modéstia com a mão. — Só estive na Rússia.

          — Ex-presidente Snow! — um outro repórter chama o vilão.

          Snow não gosta do vocativo e mostra a língua para ele, subindo mais alguns degraus.

          — Snow, Snow! — uma jovem jornalista chama, e Snow decide dar atenção a ela. — É verdade que, enquanto esteve na Rússia, cometeu crimes inomináveis, como roubar doces de criancinhas?

          Snow ri como se tivesse recebido um elogio.

          — Pode apostar que assino por todos esses crimes, querida! — ele dá mais um aceno para a multidão ao redor, e os guardas o pressionam para que ele termine de subir.

          Caminhando, então, em câmera lenta, aproveitando toda a cobertura da mídia, Snow entra no tribunal.

............

Snow está sentado à frente do salão, esperando, sentado em uma cadeira e com os braços apoiados em uma simples mesa de madeira. O espaço do auditório começa a ser preenchido pelos espectadores da audiência. O conselho de sentença chega logo depois, junto com o promotor, que lança um olhar de esguelha para Snow e caminha para o lado esquerdo da assembleia.

Alguns murmúrios na plateia sobressaltam o vilão: “Bruce Wayne!”, “Bruce Wayne é o promotor”, “Ooooh!”. Entretanto, Snow não demonstra surpresa, fazendo fusquinha para Wayne.

Em poucos minutos, a juíza entra por uma porta ao fundo do tribunal, dirigindo-se à sua mesa, onde acomoda-se com suas vestes longas e escuras, os cabelos escondidos sobre a clássica peruca cinza e comprida.

Os murmúrios aumentam no salão, especulações e expectativas enchiam de energia nervosa o ambiente com tudo o que Snow mais gostava: intriga. Faltava apenas uma arena para que tudo ficasse a seu gosto.

A juíza, então, elevando sua voz, jovem, porém dura, chama a atenção de todos:

— Ordem no tribunal! A sentença vai começar agora. Peço que todos permaneçam em silêncio enquanto encaminho as apresentações.

A balbúrdia cessa instantaneamente. A juíza prossegue:

— Estamos aqui reunidos hoje...

Snow vira os olhos e lasca um comentário:

— Tá, tá, podemos pular essa parte? Todo mundo já sabe disso! Tenho manicure marcada às 16h, estou com pressa. — Ele diz, a voz tradicionalmente entediada.

          — Calado, réu! — a juíza demonstra seu pulso firme. — Você não tem voz aqui a não ser que eu a conceda.

          — Então como é que eu estou falando, hein?! — ele diz e a plateia ri.

          — ORDEM, ORDEM! — a juíza bate o martelo e todos se calam novamente. — Hum, hum... — ela arranha a garganta e continua. — Retomando de onde paramos, está na hora de fazermos as apresentações. Sou a juíza J. J. Silva e conduzirei a sentença de Coriolanus Snow, acusado de fuga da liberdade condicional após ser resgatado do inferno, abandono da apresentação do extinto programa Sagas Quiz, roubo de doces de crianças inocentes, assaltos a asilos, criação de bingos ilegais e extorsão de dinheiro de idosos.

          — Senhora juíza, não nos esqueçamos da criação dos “Jogos Frangais”, práticas das ilegais lutas de galos dentro de uma arena. — Fala Wayne, complementando a juíza.

          — Já não pode ser com pessoas, agora nem com galos é brincadeira. — Defende-se Snow.

          — A prática é ilegal com animais também. — Diz a juíza a Snow, friamente.

          — Tá... — Snow dá de ombros.

          A juíza Silva estreita os olhos e estuda a expressão de Snow.

          — Com plantas também não pode. — Ela diz, a voz como uma lâmina.

          Snow contém uma reação perplexa, depois tira um celular pré-pago da manga do paletó, aperta um botão e leva as duas mãos algemadas à orelha direita.

          — Dave, cancela as plantas carnívoras. — Ele diz, depois simplesmente desliga o celular, levanta-se e entrega-o nas mãos de Bruce Wayne, que, como todos, olha para o telefone, perplexo.

          — Achei que gostaria de apreender isso, sr. Promotor. — Ele dá uma piscadinha maliciosa para Wayne, provocando-o.

          A plateia ecoa a pergunta na boca de todos: “Como aquele celular podia estar ali?”.

          A juíza ordena uma pequena pausa e pede para que Snow seja revistado mais uma vez. Após terem encontrado apenas alguns chacos em lugares impróprios, ele foi declarado como limpo e acusado também de porte ilegal de armas.

          — Prosseguindo... — continuou a juíza. — O promotor que acompanhará a acusação deste réu é o Sr. Bruce Wayne, que dispensa maiores explicações. Ele veio diretamente de Gotham City para poder cuidar deste caso. Sr. Wayne, é muito bom finalmente vê-lo fazendo algo útil pela sociedade além de ser um milionário chato e egocêntrico, se me permite o comentário.

          — Já que você já falou... — Wayne levanta os braços.

          — E então, como já finalizamos as apresentações... — continuou J. J. Silva.

          — Espere! — Snow interrompeu, absurdado. — Ainda falta meu advogado de defesa!

          — E onde está seu advogado?! — perguntou o promotor Wayne, irritado.

          — Ora, está esperando ansiosamente por sua entrada dramática como todos os ex-vilões! — diz Snow, achando tudo muito óbvio. — Senhoras e senhores desta assembleia ridiculamente incrível (por minha causa, claramente), recebam meu advogado de defesa, o Sr. Verdugo K.R.U.E.L.L.

          A plateia vai ao delírio quando Verdugo abre as portas duplas ao fundo do salão e passa pelos espectadores sentados nos bancos de cada lado do espaço. Ele acena para todos e finalmente se senta na cadeira ao lado de Snow, tirando um pequeno óculos, uma pilha de papéis e uma canetinha sabe-se lá de onde.

          Ele termina de se aprumar enquanto Wayne fala indignado com a juíza Silva.

          — Senhora juíza, isso é um absurdo! Este advogado de defesa é um ex-criminoso!

          — Querido Wayne, admiro seu argumento, mas me diga de verdade quantos advogados criminais que você conhece não tem um pezinho no mundo do crime?! — Snow contesta. — Vejamos pelo lado mais importante: Verdugo foi inocentado após ser concluído que ele foi um experimento genético criado e programado para a maldade. Foi um passado muito difícil, e ele não pode ser responsabilizado por algo sobre o que não tinha controle. Ele seguiu adiante e agora é um novo... ser. Até mesmo se formou em Direito! É a geração do futuro, minha gente, para quem acredita em um mundo melhor.

          Wayne abre a boca para protestar, mas a juíza profere sua sentença.

          — O advogado pode continuar.

          Snow sorri, agradecendo a juíza com um profundo inclinar de cabeça.

          — Promotor! — J. J. Silva chama. — Pode iniciar esta audiência.

          Bruce Wayne, vestido de branco da cabeça aos pés, posiciona-se entre o réu e a juíza, começando sua declaração:

          — Muito bem, senhoras e senhoras... Seguindo as pistas das notícias em mercados clandestinos que falavam sobre os “Jogos Frangais”, sentimos que estávamos tomando o caminho certo para encontrar o foragido ex-presidente e apresentador. — Snow se contorce na cadeira diante do lembrete de suas expropriações de cargo. — Depois de onze meses de perseguição assídua, finalmente encontramos o réu fantasiado de Peeta Mellark em uma festa em Moscou.

          — BZZZZZZZZZZZ?. — Verdugo indagou, olhando interrogativamente para Snow.

          — Ora, Verdugo... Existe alguém mais patético e sem graça que Peeta Mellark? Ele passou dias camuflado na minha arena, sem ser ameaçador em nenhum sentido, e sobreviveu porque ninguém nunca o viu ali. Achei realmente que ia passar despercebido. — Snow expõe sua linha de raciocínio.

          Verdugo mexe a cabeça ao ponderar e faz anotações nas folhas de papel com sua canetinha: “Bzzzzzz Snow, bzzzzzzz, bzzzzz Peeta”.

          Wayne continua.

          — Temos provas contundentes de seus crimes, que variam desde fotografias, até extratos de transferências para contas bancárias na Suíça.

          — Ainda bem que ele não descobriu as contas brasileiras... — Snow falou baixinho, cutucando Verdugo, e os dois riram cumplicemente como crianças.

          A juíza lança um olhar afiado aos dois, e ambos se calam.

          — Sr. Snow, o senhor se declara culpado pelos crimes listados pelo Sr. Wayne? — pergunta a juíza.

          Snow torce o nariz e levanta o dedo, pedindo um segundo. Ele cochicha algo com Verdugo, e os dois assentem um para o outro, em concordância.

          A palavra é de Snow:

          — Eu me declaro inocentemente culpado por estes crimes.

          A reação da plateia é estrondosa. Os burburinhos começam por todos os lados.

          Wayne se manifesta:

          — Inocentemente... culpado? Isso é ridículo!

          Verdugo, então, se levanta, pedindo a palavra à juíza.

          — Concedido. — responde J. J. Silva.

          Ele arranha a garganta, arruma os óculos e começa.

          — BZZZZZZZZZZ, BZZZZZZZZZZZZ Bzzzzzzzzzzzz BZZZZZZZ, bzzzzzzzzzzzzzzzzzz, bzzzzzzzzzzzZZZZZZZZ BBBBBzzzzZZZ bzzzzzz, bz, BZZZZZZZZ.  Bzzzzzzzzzzzzzzzzzzz, Bzzzzzzzzzzzz BZZZZZZZZZZZZZZZZ, BZ BZ BZZ, BBZZZZZZZZzzzzzzzzz. BZZZZZZZZZZ, BZZZZZZZZZZZZ Bzzzzzzzzzzzz BZZZZZZZ, bzzzzzzzzzzzzzzzzzz, bzzzzzzzzzzzZZZZZZZZ BBBBBzzzzZZZ bzzzzzz, bz, BZZZZZZZZ.  Bzzzzzzzzzzzzzzzzzzz, Bzzzzzzzzzzzz BZZZZZZZZZZZZZZZZ, BZ BZ BZZ, BBZZZZZZZZzzzzzzzzz?! Bzzzzzzz, bzzzz.

          Quando Verdugo termina de falar, até mesmo a juíza parece duvidar da culpa do réu.

          — Ele tem um ponto... — J. J. Silva coça uma barba invisível.

          — O QUÊ?! — Wayne fica desestabilizado. — Vocês não vão cair nessa, não é? Vocês sequer entendem o que esse inseto gigante diz?!

          Vários “Ooohhh” ecoam entre os espectadores. Verdugo leva as mãos ao peito, depois uma delas cobre seus olhos.

          — Oh, Verdugo! — Snow se ressente pelo amigo. — Venha cá, não ligue para este idiota inconsequente do promotor.

          Verdugo encosta a cabeça no ombro oferecido por Snow, enquanto este dá tapinhas em suas costas.

          — Senhor Wayne! — fala a juíza, em tom de advertência. — Devo lembrá-lo que este é um tribunal de respeito, e que não aceitamos práticas ofensivas contra quaisquer um dos representantes aqui presentes! Não volte a proferir as palavras “inseto gigante”, nem sugerir a ausência de linguagem do advogado de defesa do Sr. Snow.

          — MAS...!

          — Sem mas! — a juíza profere, afiada.

          — Mas o réu me chamou de “idiota inconsequente”! — Wayne já está até descabelado.

          — EU DISSE “SEM MAS”! — A juíza fala outra vez, batendo com o martelo. — É minha primeira advertência, Sr. Wayne.

          Wayne fica emburrado, mas se cala temporariamente.

          — Prossiga, Sr. Verdugo. — J. J. Silva chama o ex-vilão, a voz doce para expressar seu apoio pelo ocorrido.

          Verdugo limpa duas lágrimas antes de continuar.

          — Bzzzzz, BZZZZZZ BZ Bzzzzzzzzzzzzz bzzzzzz Bz! Bzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. — ele conclui, arrumando seus papéis na mesa e sentando-se.

          — Obrigada, Verdugo. — Fala a juíza. — Sr. Wayne, passo a palavra para você.

          Wayne levanta-se do próprio assento, no qual havia se acomodado enquanto esperava a raiva passar. Ele ajeita a gravata e os cabelos e parece renovado ao falar:

          — Sra. Juíza, agradeço as considerações do Sr. Verdugo para o caso. Entretanto, não acredito que elas possam inocentar o réu. Veja, ele mesmo se declara culpado dos crimes. E garanto que a mente diabólica que foi capaz de sustentar por anos os Jogos Vorazes não faz nada de forma não premeditada. Permita-me solicitar a presença de uma testemunha, neste momento, para que possamos entender o funcionamento da mente maquiavélica de Coriolanus Snow!

          A juíza reflete por poucos segundos antes de assentir.

          — Que venha então a testemunha.

          A porta então se abre, e Peeta Mellark surge, caminhando timidamente entre todos. Ele passa por Snow, que rosna para ele.

          Assustado com o rosnado, Peeta se encolhe e corre para tomar seu lugar no assento rebaixado ao lado da mesa de J. J. Silva, enquanto Snow cai na gargalhada, quase virando a cadeira para trás.

          — Está vendo, sra. Juíza? — Wayne se aproveita do ocorrido para emendar sua fala. — Este pobre rapaz mal entrou e já foi ridicularizado pelo ex-presidente e ex-apresentador! — Snow faz bico para Wayne. — Desde que foi traumatizado pelos eventos relacionados a Coriolanus Snow, Peeta Mellark nunca mais foi o mesmo... Até desapareceu da mídia! Diga-nos, Peeta, seu testemunho em relação às atrocidades cometidas pelo réu.

          A juíza passa a palavra para Peeta, que engole em seco e fala baixo e timidamente.

          — Bem... Bom... Ele... O Snow... É... — Peeta começa, mas se enrola na fala.

          Depois de alguns minutos em que Peeta se cala, Snow exibe um sorriso triunfante. Mas Wayne está preparado.

          — Peeta, sei que os eventos são traumáticos demais para você! Deixe-me, então, mostrá-los ao público! — Bruce bate as mãos duas vezes, e um telão desce do lado direito da câmara da assembleia.

          Retirando um controle do paletó, o promotor então começa uma apresentação de Slides.

          — Temos aqui várias imagens de Peeta durante os Jogos Vorazes... — ele vai passando várias imagens de Peeta na arena. — Mas este seria apenas o começo do sofrimento de Peeta. Depois, ele foi usado no próprio programa Sagas Quiz, sendo obrigado a desfilar por aí com roupitchas extravagantes e coladinhas... — algumas fotos constrangedoras de Peeta surgem na tela, mostrando episódios da temporada anterior de Sagas Quis. — E, nos bastidores do programa, era maltratado por Snow de inúmeras formas!

          As imagens falam por si só:

Peeta de colã preso por um sistema de roldanas sobre um lago de crocodilos com Snow ao fundo, gargalhando.

Peeta percebendo em desespero que a corda de seu paraquedas havia sido rompida, com Snow ao fundo, o paraquedas aberto e uma faca não mão, gargalhando.

Peeta encontrando minhocas em seu hambúrguer, com Snow ao fundo, gargalhando.

Peeta salvando um gatinho da árvore que o arranhou inteiro. Os arranhados formavam a palavra “Snow”. Ao fundo, está Snow, segurando um controle remoto, gargalhando.

E assim sucessivamente.

— E então, meus caros?! — Wayne lança um olhar especialmente afiado para o conselho de sentença. — Percebem que esta mente perversa diante de vocês é o lar de intensos cálculos e maquinações voltadas para o mal maior?

— Eu sabia que essa documentação iria me sabotar um dia... — desabafa Snow, fazendo um gesto com a mão. — Mas Peeta me divertiu tanto que seria impossível não tirar fotos para lembrar.

— É humilhação demais para suportar! — Wayne leva uma das mãos dramaticamente à testa. — Vindas diretamente deste homem! — ele aponta acusativamente para Snow.

— Não só dele... — Peeta suspira, tamborilando os dedos na mesa enquanto apoia a cabeça na mão livre. Ele olha desoladamente para o telão, pensando em todas as imagens que foram apresentadas.

Apesar disso, Peeta parece tomar coragem para falar algo realmente importante, sua primeira contribuição de fato.

— Eu queria dizer que... — ele engole em seco, olhando para Snow, que lhe dirige um olhar assassino. — Que... Que Snow me ameaçou e que disse que se eu abrisse o bico aqui hoje, ele colocaria minha esposa e meus filhos dentro de uma arena! Eu tenho uma gravação.

A plateia fica chocada. Wayne sorri vitorioso.

— Muito bem... Acho que finalizo minha fala por aqui, senhora juíza.

J. Silva assente, faz algumas anotações e prossegue:

— Não se preocupe, senhor Mellark, a justiça protegerá o senhor e sua família. — Snow remeda a juíza enquanto ela fala. — Há algo que queira declarar frente aos fatos apresentados, senhor Snow?

Verdugo abaixa a cabeça, apoiando-a entre as patas, desolado. Snow, entretanto, parece inabalado. Ele se levanta, dando outros dois tapinhas no ombro de Verdugo.

— Obrigado por seus esforços, amigo. — ele diz. — Eu antecipei este momento, pode deixar que eu assumo daqui.

Aprumando a postura, Snow então eleva a voz:

— Senhoras e senhores deste tribunal! Gostaria de dizer que há uma conspiração contra mim neste recinto! Quero crer que já fiz inúmeras ameaças de mandar a família do senhor Mellark para uma arena, de forma que a alegação de uma gravação não prova nada sobre abordagens recentes. Apesar disso, o que mais me machuca — ele leva a mão ao peito — são as acusações do senhor Wayne, não apenas maquinadas em conjunto com meus arqui-inimigos, como também aparentemente provenientes de uma motivação pessoal.

Wayne olha indignado para o réu.

— Como pode ser pessoal? Eu sequer o conheço! Meu compromisso é com a justiça!

— Oh, senhor Wayne... — Snow ri, o olhar afiado. — Sei bem que o senhor adora bancar o justiceiro por aí...

Wayne para de repente, captando algo na fala de Snow.

— O que está querendo dizer, Sr. Ex-presidente? — ele estreita os olhos.

Snow abre seu sorriso mais maquiavélico e sádico desde que entrara em julgamento.

— Senhoras e senhores! Eu gostaria de acusar o Sr. Bruce Wayne, promotor do meu caso e milionário de Gotham City, de brincar de justiceiro por aí, encarnando nada mais, nada menos, do que a figura fúnebre, solitária e cafona do BATMAN!

A plateia vai ao delírio mais uma vez. Até mesmo J. J. Silva se levanta de seu assento, apenas para poder cair nele na sequência.

— O QUÊ?! — Bruce Wayne se alarma. — Isso é ridículo! E com base em quê você, criminoso como é, faz esse tipo de alegação totalmente falsa?

Snow sorri, deliciando-se com o momento.

— Eu gostaria de chamar minha testemunha, o Sr. Coringa Joker, para depor em meu favor a respeito da acusação contra o Sr. Wayne.

A porta da câmara se abre outra vez, e Coringa caminha debochadamente enquanto ri pela plateia. Os guardas presentes no tribunal correm para contê-lo, mas ele mostra o corpo, deixando-se ser revistado, e diz:

— Vim em paz!

Snow retoma a palavra:

— Coringa está em liberdade condicional, assim como eu estive, e pode depor como minha testemunha segundo as “Regras do tribunal de personagens de ficção — volume 3, página 341, parágrafo 12, inciso 4º”. — Snow está com os pequenos óculos de Verdugo percorrendo as páginas do livro.

— Como é possível que ele esteja em liberdade condicional? — rebate Wayne. — Ele é um sádico!

— E isso importa? — Snow contra-argumenta. — Esta narrativa é claramente obra de gente bastante sádica. Afinal, quem me escolheria para ser o apresentador de um programa? Talvez este seja o capítulo mais racional que tivemos até agora.

— ORDEM, ORDEM! — J. J. Silva dispara. — Coringa, você pode depor. Sente-se.

— Senhora juíza, com todo o respeito! — Wayne tenta novamente aludir ao juízo nos corações. — Qual é a relevância desta acusação? O que eu ser o Batman, que claramente não sou, teria a ver com a acusação feita a Snow por todos os seus crimes?

— Número 1: — Snow responde. — Você, por se achar um super-herói justo e heróico e blá, blá, blá, certamente já conserva um antagonismo natural por vilões, o que faz com que sua promotoria seja absolutamente parcial.

— Mas é claro que é parcial! Você é culpado! — Wayne está com os olhos vermelhos de raiva e desgaste simultâneos.

— Mas sua análise das provas deveria ser imparcial e, como Batman, isso não é possível. Ninguém está totalmente alheio a julgamentos, quem dirá super-heróis, que se julgam os mocinhos em detrimento de todo o resto! — Snow repudia.

— Bzzzzzzzzzzzzzzzzzzz “2”, BZZZZZZZZZZZZZZZZZ BZ BZZZZ, bZZZ, bzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. — Diz Verdugo.

— Exatamente, Verdugo! — Snow incita. — Mais um motivo pelo qual o Batman conservaria uma direta antipatia em relação a mim!

O conselho de sentença balança a cabeça em concordância.

— Quietos! — J. J Silva retoma a ordem. — Coringa, fale.

Coringa sorri debilmente e começa seu discurso:

— Bom, a primeira coisa a dizer é que o Batman sempre usa preto, e que o Sr. Wayne escolher um traje totalmente branco para vestir hoje é muito suspeito... O oposto da cor do Batman, para não arriscar suspeitas. Sagaz... só que não. — Coringa dá um risinho e leva a mão à boca.

— Ou pode ser que eu escolhi este terno porque sou milionário e só eu aqui posso pagar pelo preço dele, especificamente... — Wayne solta, irritado.

— Meritíssima! — uma mão levantada.

— Sim, Sr. Snow.

— O Batman está sendo rudemente esnobe diante de todos neste tribunal.

Wayne revira os olhos, e J. J. Silva lhe avisa:

— Esta é minha segunda advertência, senhor Wayne. Não tolerarei uma terceira.

— Uh, uh! — Snow levanta a mão de novo. — Na terceira, podemos girar a roleta da perdição e decidir a punição de Wayne! Essa foi minha melhor contribuição para aquele programa idiota.

— Calado, réu. — diz a juíza. — Coringa...

— Claro, claro... — Coringa retoma. — Eu também queria dizer que tenho diversos mapas, fotografias e documentos que apontam que Batman sempre esconde seu rastro nas proximidades da mansão Wayne.

— Isso também não prova nada. — Wayne acaba se sentando, aparentemente entediado. — Olhem bem pra mim, pra que um milionário bonitão como eu ia querer sair por aí arriscando minha vida? Eu tenho tudo, quero aproveitar meus dias.

— Algumas pessoas são viciadas em adrenalina. — Snow pontua.

Wayne estreita os olhos para ele.

— Sr. Wayne, é de conhecimento de todos que você ainda sofre luto pela morte de seus familiares. Você não tem tudo, e talvez isso gere em sua vida um vazio que precise ser preenchido, talvez com minha presença arqui-inimiga. — Coringa continua, humildemente.

— Bzzzzzzz Bzzzzzzzzzzzzzz bZZZZZZZZZZZZZZZ... — Verdugo cochicha para Snow.

— Concordo, Verdugo... Quem são os verdadeiros loucos? As conclusões de Coringa me parecem absolutamente lúcidas. Vou querer contratá-lo como meu psicólogo.

— Talvez um vilão possa realmente explicar sobre sua fixação doentia por arenas! — Wayne diz e mostra a língua para Snow.

Coringa retoma sua argumentação.

— E, por fim, embora o Sr. Wayne não tenha tudo, eu tenho algo bem interessante aqui comigo neste momento... — ele ergue um frasco transparente com algumas gotas de líquido vermelho dentro. — Uma amostra de sangue do Batman! Eu a consegui no meu último embate letal com o homem-morcego.

Wayne fica pálido da cor de seu terno.

— Acho que vai ser ótimo — Coringa olha maleficamente para Bruce. — poder testar minha amostra com uma amostra de sangue do Sr. Wayne... — um sorriso lhe estampa a fronte.

A plateia mais uma vez vai ao delírio.

— Isso é ridículo! — dispara Wayne.

J. Silva pondera.

— Sr. Wayne, vou precisar testar a amostra. Se elas combinarem e você realmente for o Batman, precisará ser afastado deste caso e, inclusive, eu diria, da promotoria.

— Não vou me submeter a isso! — ele diz, apontando para Snow e Coringa. — Isso é armação!

— Se não colaborar, precisarei pedir a sua retirada, Sr. Wayne. — A juíza o adverte novamente.

— Isso sequer parece um tribunal de verdade! — Bruce está colérico.

— É claro que não parece um tribunal de verdade! É UMA FICÇÃO! — Snow ri debochadamente, junto com Coringa.

Bruce Wayne corre para bater não em Coringa, mas em Snow.

J. Silva chama imediatamente os guardas, que seguram Wayne a centímetros de estourar a cara do ex-presidente e apresentador. A um sinal da juíza, o milionário é arrastado para fora.

— Não esqueçam a amostra! — Coringa ri, exibindo o frasco para os guardas.

— Isso não vai ficar assim! — Wayne grita. — Ainda vamos tirar isso a limpo, Snow!

Snow coloca os dedos espalmados das mãos lado a lado em suas bochechas e mostra a língua para Wayne. Depois, quando o ex-promotor (Snow adora isso) fica fora de vista, ele vira-se para J. J. Silva e declara:

— Bem, parece que, como não há um promotor, então a sentença não pode continuar por hoje... Vamos, Verdugo. — Ele começa a se afastar em direção à saída quando o martelo da juíza ecoa estrondosamente por toda a câmara.

          Todos se viram na direção da meritíssima.

          — Errado, Sr. Snow. Eu já tenho uma sentença para proferir.

          — Mas... Wayne... As provas falhas... A ausência de um promotor... Não há como... — Snow começa a balbuciar.

          — Sim, Sr. Snow, reconheço seus esforços, mas... Segundo “Regras do tribunal de personagens de ficção — volume 21, página 794, parágrafo 3, inciso 10º”, caso falte um promotor e um capítulo precise ser finalizado, o juiz pode dar a sentença final de acordo com seu julgamento dos fatos apresentados, se este estiver em consonância com o do conselho de sentença.

          A um movimento de sua mão, todos os membros do conselho erguem uma folha com seus veredictos: CULPADO.

          Snow abre a boca para falar algo, mas não há tempo.

          — Declaro-o, Sr. Coriolanus Snow — fala J.J. Silva — culpado por todos os crimes da acusação.

Os espectadores exclamam. Snow se permite dizer um baixo “Não...”.

— O senhor será sentenciado a...

— HÁ! — Snow ralha. — O que vai ser, então? Vão me mandar de volta para o inferno? Eu já saí de lá uma vez, posso sair de novo. Ou vão me prender? Terei muito prazer em passar o resto de meus dias sendo bem cuidado dentro de um cárcere de segurança máxima... Algo próximo do que foi o de Hannibal Lecter me agrada. De qualquer forma, vão perceber que a vida fica muito mais desinteressante sem mim. Sinceramente, deveria ter uma roleta aqui, seria muito menos previsível. — Ele então dá de ombros e se vira novamente para fazer sua saída dramática, mesmo que fosse para ser preso logo na sequência, ou ser levado de volta ao inferno.

— Com isso nós concordamos plenamente, Sr. Snow. — Diz a juíza. — E é por isso que eu o sentencio a liberdade condicional durante 25 episódios de Sagas Quiz!

— O QUÊ?! — Snow virou, incapaz de acreditar no que ouvia.

J. Silva sorri e então, diante de todos, bate o martelo:

— O caso está encerrado!

Snow cai de joelhos, enquanto a assembleia começa a esvaziar. Ele não vê, não ouve, não consegue pensar em mais nada. Sua visão fixa-se na juíza, que se aproxima dele vagarosamente.

Ela para diante dele e lhe oferece a mão.

Ele não aceita. Em vez disso, pergunta, apenas:

— Por quê? — sua voz sai desolada, os olhos estão vidrados.

— Por quê, Sr. Snow? — ela retira a peruca, revelando cabelos loiro-escuros. — Realmente, não está me reconhecendo?

Snow estreita os olhos, a confusão transparece em seu rosto.

A juíza suspira. Ela tira suas vestes de trabalho, revelando uma camiseta laranja do acampamento meio-sangue. Do bolso da calça, ela tira um óculos, e alguma marcas de espinha ainda são visíveis em sua testa.

Snow solta um gritinho.

— Ju-Ju-Juréia?! — ele exclama.

Juréia havia crescido, estudado e se tornado juíza em seis anos. Quem diria?

— Ainda vamos nos ver, Juréia, para tirar isso a limpo! — Snow se levanta, ameaçador.

— Com certeza, Sr. Snow! — ela sorri. — Já comprei ingressos para todos os programas! — os olhos dela parecem estrelinhas, dada sua animação, conforme ela mostra todos os tickets ao recém-admitido apresentador.

Snow tem vontade de se jogar de um precipício. Ele teria preferido um milhão de vezes a roda da perdição àquilo.

— Que os jogos comecem, Sr. Snow! —  Juréia sorri, se despedindo. — E que a sorte esteja sempre a seu favor!


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal, tudo bem?

Queríamos dizer que, depois de seis anos com dificuldades de várias ordens para escrever, ficamos muito felizes em retomar a nossa Saga. Para explicar a ausência durante este tempo, obviamente Snow havia desaparecido, e o assunto era muito sigiloso.

Esperamos que gostem do capítulo e podem nos mandar ideias de perguntas, de personagens e o que vier à mente para podermos nos inspirar.

Beijinhos no bumbum,

Elissa, Elo e Lele ♥



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