Arabella escrita por Selene Aurier


Capítulo 1
Prólogo




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12 de julho de 2009

As estrelas faíscam no céu escuro. Elas são a única coisa visível do grande quarto branco, bem arejado e quase vazio localizado no quarto andar. Nuvens acinzentadas pairam e deixam gotas d’água caírem sutilmente delas.

No sofá bege, ao lado da maca, não há nada nem ninguém. Aparelhos fazem um barulho que para muitos seria extremamente perturbador e registram informações a cada segundo que são transmitidas diretamente para o departamento de dados e computação, no térreo. O Doutor Ian adentra o quarto, para checar se está tudo como o de costume, mas não está.

Ela não está mais totalmente imóvel. Não está mais incomunicável. Não mais inconsciente.

Os olhos do jovem homem de cabelos muito pretos e olhos acinzentados brilham em uma junção de horror, surpresa, superação e alegria insana.

– Você acordou – Ele sorri.

07 de janeiro de 2012

– Lembre-se de ter absoluto cuidado com as palavras- Benjamin murmura, arrumando o terno preto e em seguida deslizando a mão por minha roupa para desamassá-la. – Eles levam tudo ao sentido literal. Você está bem?

– Estou.

– Tenha calma. Tudo vai ficar bem. – Ele diz, calmamente.

– Tudo bem.

Vozes de um coral parecem ecoar em minha mente enquanto as lembranças são remoídas de forma doída em minha mente. É como se estivesse voltando no tempo. Voltando no tempo em que tudo parecia fácil, inocente, quase infantil, talvez. Agora, esse tempo me parece longínquo. Consigo vagamente me lembrar de minha vida antes de chegar àquela estrada e imediatamente enxergar-me em uma prisão. É como se anjos cantassem hoje. Como se os céus ajudassem. Chamam-me para adentrar o tribunal, e o faço.

Ao caminhar pelo meio dos bancos, todos lotados, um frio absoluto me percorre o estômago e a espinha. Não consigo encará-los sem ouvir o barulho da destruição eminente. Ando, tentando parecer confiante, com o olhar nômade entre juiz, jurados e a cadeira de madeira que me sentarei para ser interrogada. O barulho de meus sapatos ecoa pelo salão inteiro, ao contrário dos de Benjamin – que caminha atrás de mim – que permanecem silenciosos assim como todos os aqui presentes. Sento-me.

– Qual é o motivo de você ter recebido uma convocação solicitando a sua presença aqui esta manhã? – O juiz, um homem calvo, porém com o resto de seu cabelo e barba castanho-acinzentados, pergunta.

Respiro fundo. É minha hora de quebrar o silêncio.

– Porque presenciei coisas que nenhum ser humano deveria presenciar. – Respondo, movendo meu olhar de meus sapatos para os olhos do juiz. – E porque escapei delas.

– Correto. – Diz ele. – Tudo que lhe peço é que me conte tudo o que sabe, tudo o que sua memória guarda daquele período.

Balanço a cabeça afirmativamente, embora me sentindo sufocada. É como se algo interferisse, estivesse preso em minha garganta. A mesma sensação de quando minhas lágrimas querem se libertar, mas eu não quero que elas se libertem.

À medida que minhas palavras fluem, todos me encaram, parte curiosos, parte amedrontados.


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