Harukaze escrita por With


Capítulo 53
Capítulo 53




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585683/chapter/53

Harukaze

Capítulo 53

 

Todos têm sonhos que não podem ser contados
Maior até mesmo do que os pensamentos inacessíveis
Pegue o seu coração puro e levante-se novamente

 

  Deitado na cama de casal solitário, Kakashi debatia as ideias que formavam em sua cabeça. Achava que estava começando a perder completamente o bom senso, ou talvez desde sempre ele não existisse. Haru confirmou que faria o que fosse preciso, e Kakashi não imaginava como contaria a esposa quando ela acordasse. Provavelmente brigaria com ele, alegando não saber cuidar de Haru. “Ele é apenas uma criança!”, ela diria e o Jounin sabia que o menino não era simplesmente uma criança comum.

  O desejo de proteger aqueles que amava crescia com vigor e ele não poderia dizer que Haru estava errado, pelo contrário. Kakashi não queria que Haru tivesse arrependimentos depois, assim como ele. Perdera seus companheiros em um breve espaço de tempo e tudo que restou foi um vazio, uma voz dizendo que ele poderia ter feito mais por eles. Dessa vez tinha que ser diferente. O que ele pudesse fazer para tornar o desejo de Haru vívido o faria, na tentativa vã de aplacar os erros do passado.

  As horas passaram e o novo dia nasceu, trazendo ainda mais especulações. Tomou banho e vestiu-se devidamente. Não precisou chamar por Haru, pois o menino saiu do quarto no mesmo instante que ele. O semblante dele possuía um ar mais neutro, e Kakashi suspirou aliviado. Haru era uma criança com um peso a sustentar, e aparentava saber lidar com aquilo muito bem.

  — Bom dia, papai. — O menino cumprimentou sorrindo. Apesar de ter dormido pouco as emoções se aquietaram dentro dele.

  — Bom dia. Dormiu bem? — Kakashi se dirigiu para a cozinha com o filho em seu encalço.

  — Sim. Eu queria ver a mamãe antes da gente ir falar com a vovó Tsunade. — Haru confessou, sentando-se à mesa enquanto Kakashi preparava o café.

  — Nós iremos, não se preocupe. — Minutos após ambos desfrutavam da primeira refeição. — Haru, tem certeza de que quer fazer isso? Uma vez que a Godaime concordar não haverá volta.

  — Eu sei e tenho certeza.

  — Já pensou em como sua mãe vai reagir? — Kakashi tocou no assunto, vendo que o filho suspirou. Ambos estavam preocupados com aquela questão e, por mais que a amasse, sabia que Tsuhime não o perdoaria.

  — Ela não precisa ficar sabendo. — Haru encarou o pai com convicção, quase como se lançasse a ele um ultimato. — A mamãe tem sofrido muito e a gente não deve piorar as coisas. É o nosso segredo.

  — Acredita mesmo que vamos conseguir manter isso entre nós? — Kakashi lançou a pergunta. Poderia estar passando uma imagem errada, contudo Haru era a melhor opção.

  — Eu sei que a mamãe é esperta, ela vai notar alguma coisa. Ela sempre nota. Mas a gente vai conseguir. Estou cansado de ver que ela sempre se fere. Chegou a nossa vez de proteger ela, papai.

  O jounin nada mais disse, as palavras de Haru tinham um tom adulto e se lamentava por a infância estar se dissipando. Queria que ele fizesse coisas de sua idade e não perdesse a inocência, mas Kakashi sabia que isso era uma consequência. Haru crescia depressa, ultrapassando a mentalidade e adquirindo o compromisso para com Konoha, assim como ele. Via-se em Haru, aqueles foram tempos difíceis. Poucas lembranças ainda adornavam sua memória e as que tanto lutava para esquecer eram as que mais o visitavam em sonhos. Até quando se submeteria a elas?

  Antes de irem visitar Tsuhime, Kakashi avisou a Neji que naquele dia Haru não compareceria ao treino. Explicara brevemente a situação e o Hyuuga assentiu, desejando que as coisas melhorassem. Hideki e Saiyuri se limitaram a lançar um olhar a Haru, cujo menino entendeu. Ele sabia que estava os tratando com descaso, contudo era necessário. Não podia prejudicá-los com seus problemas. Após isso rumaram para o hospital.

  Tsunade se fazia presente, alegando que cuidaria de Tsuhime até que ela estivesse totalmente recuperada. E ver a dedicação de pai e filho a incentivava ainda mais. Tsuhime foi capaz de fazer um instinto maternal se desenvolver em si, que perdê-la tornou-se algo a ser temido.

  — Ela acordou, mas ficou lúcida por pouco tempo. Ainda precisa descansar, os danos foram mais profundos dessa vez.

  — E o Selo? — Kakashi quis saber após aconselhar Haru a entrar primeiro no quarto. O menino não precisava saber sobre certos detalhes.

  — Ainda se protege. Como havíamos previsto, ele guarda uma parcela de chakra. — Tsunade esclareceu, afirmando o que o jounin já entendia. — Mas essas liberações são perigosas, se Tsuhime sofrer mais uma não sei se poderei reverter o quadro.

  — Eu o selei uma vez, e parece que não foi suficiente.

  — Em certo ponto foi, Kakashi. — A soberana o chamou com um gesto de cabeça, afastando-se do alcance de Haru. Aquele garoto era deveras esperto e com o Sharingan conseguiria ler seus lábios e facilmente decifrar o que conversavam. — Por um tempo ele ficou inativo, a técnica teve o seu efeito, mas é como se tivesse enfraquecido. A reserva de chakra está aumentando e me repeliu várias vezes.

  — Por isso disse que se acontecer de novo não será capaz de ajudá-la. — Kakashi rebateu, sentindo-se impotente. Por que ele sempre saía impune.

  — É uma marca viva e está se acostumando com nosso chakra. — Tsunade cruzou os braços, encostando-se a parede fria. — É como uma técnica usada repetidas vezes: Você acaba aprendendo a se defender. E é isso que o Selo está fazendo.

  — Eu não sabia que era possível. O Selo do Sasuke é totalmente diferente na maneira que atinge o portador.

  — Exatamente. Varia de pessoa para pessoa, e como Tsuhime passou por mudanças genéticas é amplamente manipulável.

  — O Selo a está usando como receptáculo. Quer assumir o controle.

  — É mais complicado do que pensávamos. — Tsunade suspirou pesadamente, odiando aquela condição de Tsuhime. — Se continuar assim...

  — Não diga. — Kakashi a cortou, o corpo trêmulo pelo choque de informações. — E se o selarmos de novo?

  — Provavelmente funcionaria, mas, em contra partida, teria uma validade. Há quanto tempo fez o ritual?

  — Há seis anos.

  — Então vamos presumir que esse é o tempo limite. Mas não podemos fazer agora. Ela não aguentaria.

  — Entendi. — Kakashi murmurou, ainda tinha outra questão a resolver. Tsuhime era apenas o começo de sua lista. — Haru tem mantido contato com Tobi.

  — O quê?! — As sobrancelhas finas e loiras se franziram confusas. — Como assim, Kakashi?

  — A senhora ainda não sabe? — Kakashi exclamou surpreso, pois Tsuhime considerava demais a Hokage e não a deixaria por fora das novidades. Recebendo um aceno negativo de cabeça. — Tobi é o pai biológico de Haru.

  — Deus... Isso é...

  — Eu sei que é difícil de acreditar, mas é a verdade. — Havia um tom magoado na voz de Kakashi. — Tsuhime me contou há algum tempo, e não é só isso: Haru me disse que ouviu nossa conversa e foi atrás de Kabuto, parece que Tobi e ele estão formando parceria. Tobi ofereceu a Haru a chance de manter a mãe segura e ele quer fazer isso.

  — Não pode permitir algo assim! Se Tsuhime souber...

  — Conversamos sobre isso. — Tristemente o jounin mirou o menino sentado ao lado da cama de sua esposa, apenas a observando. — Ele está disposto.

  — Me diga que não concordou. — Como resposta Tsunade obteve o silêncio. — Kakashi...

  — Ele quer proteger Tsuhime, algo que parece que eu não sou capaz no momento. Como posso impedi-lo disso?

  — Ele é uma criança!

  — Eu sei. Pensei nisso várias vezes, mas Haru a ama demais. O amor é o ponto fraco dos Uchiha e, querendo ou não, ele herdou a maldição.

  — Kakashi, o que está havendo com você? — Tsunade parou de frente para ele, inspecionando-o com firmeza e irritabilidade. — Você quer que Haru se aproxime de Tobi? Eu não entendo!

  — Nem eu, Godaime. — O jounin passou a mão no cabelo, sentindo-se extremamente cansado. — Por um lado eu quero que Haru desista dessa ideia, que veja que possamos fazer algo de uma forma diferente, mas... Não posso privá-lo de tomar decisões. Ele está disposto a fazer qualquer coisa por Tsuhime. Mesmo que disséssemos não, ele iria dar um jeito de ir. É isso que ele faz.

  — Isso...! Você é o pai dele, faça-o mudar de ideia! Ele tem seis anos, não sabe medir as consequências que isso trará! Já pensou que pode perdê-lo?

  Por longos segundos Kakashi não falou nada, apenas refletiu. Ele não queria que Haru aceitasse a oferta de Tobi e poderia tê-lo persuadido e imperado sua autoridade, entretanto ficar no caminho apenas o desgastaria. Não fazia isso por amor à vila e sim por que confiava em Haru. De qualquer forma, as opções sempre voltariam ao mesmo lugar.

  — É exatamente por esse motivo que estou o deixando ir. Você não percebe, mas esse não deve ser o primeiro encontro dos dois. Acho que Tsuhime tem a mesma opinião. Haru mudou muito e quer aceitar Tobi em sua vida.

  — Não acredito no que estou ouvindo! — Tsunade elevou a voz, literalmente irritada. Furiosa. — Acorde, Kakashi, e me explique que tipo de comportamento é esse! Não há espaço para Tobi na vida de Haru, não faça com que uma abertura separe vocês dois. Por que estou começando a acreditar que você está desistindo de Haru, desistindo de tudo?! Aquela mulher que se casou com você merece uma vida tranquila e você tem que proporcionar isso a ela, cuidar para que nada abale essa união. Isso significa zelar por Haru. Então, vou fingir que não ouvi nenhuma palavra sua.

  — Godaime...

  — Acho bom você não insistir mais nessa questão. — Tsunade fez um gesto, espantando a próxima fala de Kakashi. — Haru não vai aceitar a oferta e ponto final.

  — Não desisti deles. — Kakashi rebateu, os olhos voltados ao filho e a mulher. — Jamais farei tal coisa, eles são as pessoas mais importantes da minha vida.

  — Não parece.

  — A única coisa que quero é acabar com o sofrimento de Tsuhime e sem a ajuda de Haru isso não será possível. Porque ele deseja o mesmo que eu e tem consciência para escolher os próprios caminhos. Podemos obter informações e saber onde atacar.

  — Você não está pensando em...

  — Papai! — A voz de Haru atropelou a frase de Tsunade. O menino tinha o semblante confuso, não sabendo transmitir o que ocorrera. — A mamãe acordou!

  Tsunade e Kakashi passaram correndo pela porta, deparando-se com os olhos amarelados abertos e fixos no teto. A Hokage diminuiu a luz, temendo causar danos na visão de sua médica e a examinou. As pupilas dilataram com a luz brilhante do oftalmoscópio, porém quando meneou o aparelho para a direita os orbes não o seguiram. Um sinal de que ela não se encontrava consciente. Os nervos não sofreram alterações, o que fez Tsunade respirar mais aliviada.

  — Sinto muito, Haru-chan. — A mulher loira virou-se para o menino, que aguardava ansioso por uma resposta. — Foi apenas um reflexo, sua mãe ainda está dormindo.

  — Quer dizer que vai ser como da outra vez?

  Observando o rosto infantil guardando nervosismo, as palavras simplesmente não se sentiram a vontade para sair. A garganta se tornou seca, dificultando a decida da saliva. O que ela poderia dizer àquela criança?

  — Não temos certeza. Ela pode acordar ainda hoje ou amanhã, é complicado afirmar qualquer coisa sobre isso, Haru-chan. Sinto muito.

  Haru abriu e fechou a boca, sem saber o que dizer. Portanto ele agiu, aproximando-se de Tsuhime e a abraçou como podia. Beijou-lhe o rosto, as pálpebras tremendo e úmidas.

  — Não se preocupe, mãe, a gente vai te proteger agora. Eu te amo.

  Minutos mais tarde, Kakashi e Haru participavam de uma reunião com a Hokage em seu gabinete. Haru expôs a ideia que combinara com o pai, recebendo a missão de reporta-los sobre os planos do adversário. O menino acatou, assentindo diversas vezes sem aparentar medo ou insegurança. Ele conhecia Tobi e Kabuto, saberia como se comportar.

  A única questão que preocupava os adultos era se Haru se manteria fiel às suas palavras. E sobre tal suspeita Kakashi e Tsunade apenas se entreolharam. Eles sabiam que aquela possibilidade seria apresentada a Haru, mas queriam confiar no julgamento dele apesar da pouca idade. E Tsunade depositava toda sua fé exclusivamente em Kakashi para pudesse guiá-lo.

  — Papai, por que a vovó tava com cara de preocupada? — Haru questionou assim que saíram do gabinete, caminhando pelo corredor de mãos dadas com Kakashi. — Ela não acha uma boa ideia?

  — Não é isso. É que você é novo demais, Haru. Na verdade, não era para você estar fazendo isso.

  — Mas...! — Haru se calou. Confessar-se ao pai agora o limitaria, faria que ele mudasse de ideia e o proibisse. E perder aquela chance ele não se permitiria. Pela primeira vez a sua voz foi ouvida e a sensação era prazerosa para descartá-la. — Eu vou conseguir, papai.

  — Eu sei que sim, Haru.

  — E?

  — E eu só espero que você não se esqueça de voltar para casa.

  Haru não compreendeu a colocação do pai, contudo algo se agitou dentro dele. A sensação era diferente de ser boa, pelo contrário. E, talvez no fundo, ela sempre tivesse existido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
Algumas coisas estão sendo esclarecidas aos poucos, é uma história longa e que estou fazendo com carinho e paciência. Qualquer dúvida, críticas construtivas, opiniões... Será muito bem vindo.
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harukaze" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.