Harukaze escrita por With


Capítulo 52
Capítulo 52


Notas iniciais do capítulo

Boa noite!
Trago mais um capítulo; desejo boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 52

O horizonte está se afastando

O céu é azul demais para descrever amanhã

Sobre um grupo de pessoas estagnadas lutando para respirar

Desde quando eu estou mergulhando aqui?

  Sentado no banco da sala de espera, observando o jeito que Haru se comportava perante a imagem da mãe, Hatake Kakashi já não sabia mais o que pensar. Verdade que gostaria de saber por que Haru fugira horas atrás, contudo o cansaço acomodou-se em seus ombros, fazendo-o engolir as interrogativas e viver aquele presente. Novamente Tsuhime havia se machucado, longe de sua vista, e com tudo de estranho que se desenvolvia ao redor dela deveria ter esperado por aquilo e se preparado.

  Poderia ter colocado seus cães para cercá-la, poderia ter insistido acompanhá-la enquanto trabalhava... As opções eram infinitas, porém, nenhuma foi cumprida e ele não sabia o motivo. Aquilo o castigava por dentro. Uma voz reprimente ecoava dentro da sua cabeça, alegando que o culpado fora ele. Por não ter sabido proteger a esposa, por não ter estado ao lado dela quando ela mais precisava...

  Suspirou cansado, passando as mãos pelo rosto a fim de se livrar daquela agonia, mas é claro que não surtiu efeito. Estivera no hospital desde o momento em que Tsunade o solicitara e não comera, temendo se ausentar e perder as notícias. Erguendo os olhos novamente para Haru, percebeu-o aflito e remexendo nos dedos, como se fossem altamente interessantes. A boca infantil se abria e fechada constantemente, mantendo um monólogo com a mãe. Ele gostaria de saber que segredos ele confiava à Tsuhime.

  A ligação entre Haru e Tsuhime era deveras forte, ele não precisava que ninguém lhe dissesse, afinal convivia com eles tempo suficiente para tirar conclusões, que lhe causava certo desconforto. Haru não mediria esforços para proteger Tsuhime assim como ele, contudo ele pensava até onde aquele laço os levaria. Não queria que Haru pensasse que ele não se importava, pelo contrário. Se Haru ao menos notasse que ambos eram importantes para si talvez confiasse mais nele.

  Desde os meses que Haru passara com Tobi, sentia-se muito mais distante do filho. Era como se entre eles existisse a imagem de Tobi, interrompendo qualquer aproximação mais profunda de sua parte. E Kakashi queria muito acreditar que não era assim. Crianças tendem a buscar o apoio da mãe em primeiro lugar, contudo os pais também poderiam exercer aquele papel. Será que o fato de não ser pai biológico de Haru o incomodava?

  Essas e outras perguntas assolavam a mente de Kakashi, deixando-o ainda mais cansado. Martelar sobre aquelas questões quando se estava fatigado de nada ajudaria, apenas o desgastaria, portanto ele decidiu que as reveria em outro momento. Agora sua concentração destinava-se a Tsuhime.

  Como avisara a Haru, a cirurgia terminara há dez minutos e ele aguardava por Tsunade. Negou-se a formular conclusões, pois a imagem que tinha de Tsuhime lhe dava alguma esperança. Concentrar-se em Haru ficaria em segundo plano.

  — Kakashi. — Tsunade o chamou, caminhando em sua direção. O semblante pacífico e neutro, porém o brilho nos olhos cor de mel era preocupante. Sentou-se ao lado do jounin, mirando a parede de vidro. — É bom que Haru esteja aqui. Como você está?

  — Não precisa perder tempo, Godaime. — O jounin suspirou, ajeitando a postura no banco. — Como estou ou como me sinto são irrelevantes agora.

  — É como se estivéssemos naqueles dias. Tsuhime chegou a Konoha desamparada, passou por muita coisa e está nessa situação de novo. Até quando? — Enquanto falava, Tsunade recordava de quando conhecera Tsuhime. Ela havia crescido tanto. — A cirurgia foi complicada, não vou mentir. O corpo dela estava bastante machucado, perdeu muito sangue e tivemos que nos esforçar para não deixar que o coração parasse de bater. Nunca usei tanto chakra para operar alguém. Mas, graças a isso, conseguimos descobrir algumas coisas.

  — Que tipo de coisas? — Kakashi fez a pergunta, direcionando os olhos para as mãos da Hokage. Nelas uma pequena rocha dançava, como se estivesse viva e precisasse apenas de um comando para infectar. — O que é?

  — O mesmo material que encontramos no corpo de Seiji e Natsumi. Não é uma técnica qualquer. Quando ela entra no corpo se dissolve e infecta os nervos, ou seja, atinge diretamente o cérebro. Não é reversível. — Tsunade depositou o fragmento nas mãos de Kakashi, para que ele pudesse senti-la. — Pegue. É manipulável.

  — Quer dizer que quem atacou Tsuhime...

  — Queria que ela estivesse fora da jogada. — A soberana completou, não gostando daquela conclusão. — Existe uma parcela mínima de que isso esteja ligado a Kabuto. Quando você veio ao meu gabinete, debatemos sobre isso. E você reparou as marcas no sangue?

  Kakashi refletiu, trazendo a memória à imagem do sangue quase seco e com riscos uniformes, como se alguém tivesse o limpado em áreas estratégicas. Confessava que naquela hora não se ligara a esse fato, mas agora, discutindo com Tsunade, o cenário começou a fazer sentido.

  — Ele conseguiu. — O jounin sussurrou, lançando um olhar perdido para a parede de vidro. Haru e Tsuhime estavam do outro lado, mas não passava de um borrão para ele.

  — Queria muito dizer o contrário, Kakashi, mas as chances são altas. O volume de células de Tsuhime, apesar de estarem se multiplicando, não estão normais. Fizemos uma hemotransfusão para acelerar e eu espero que os resultados sejam satisfatórios. — Num gesto de conforto, Tsunade repousou a mão sobre o ombro de Kakashi, recebendo o olhar cansado sobre si. — Ela vai ficar bem.

  — Eu sei. — Kakashi retrucou, sentindo-se péssimo por não ter tamanha certeza. Quem poderia garantir que, dessa vez, Tsuhime aguentaria? Não fazia muito tempo que ela saíra do coma e já estava sobrecarregada outra vez. — Podemos ir atrás de Kabuto e roubar as amostras?

  — Também pensei nisso. — Tsunade encostou-se a parede e fechou os olhos. — Mas passou algum tempo desde que trouxemos Tsuhime para cá, então...

  — Devem não existir mais.

  — Exatamente, mas Kakashi... Você não está prestando atenção em uma coisa muito, muito importante.

  — Não? — Kakashi piscou confuso.

  — Não. — Tsunade apontou o dedo na direção de Tsuhime, guardando um mínimo sorriso de alívio nos lábios. — Tsuhime está viva.

  E aquelas palavras fizeram todo o sentido para o jounin.

  Acalmando as perturbações, ele compreendeu o que Tsunade queria dizer. Ao mesmo tempo em que se sentiu esperançoso, todo aquele sentimento esvaiu aos poucos. Deus sabia o quanto se encontrava agradecido por não ter perdido a esposa, mas o fato de ela estar viva significava que aqueles ataques voltariam a acontecer, pois querendo ou não Tsuhime ainda detinha uma parcela da genética de Tobirama graças ao Selo Amaldiçoado.

  — Não vou deixá-la sozinha aqui. — Ele murmurou para si mesmo, chamando a atenção de Tsunade.

  — Já pensei nisso. — Tsunade se levantou, ajeitando o haori por cima dos ombros. — Uma equipe ANBU irá monitorá-la vinte e quatro horas, autorizados a barrar qualquer pessoa que não seja Haru, Sakura, você ou eu.

  — Obrigado, mas...

  — Mas nada! — A soberana levantou a voz ao ver que o jounin se preparava para contradizê-la. — Você vai para casa descansar, é uma ordem.

  Kakashi não rebateu, apenas assentiu. Mesmo sendo contra sua vontade ele iria para casa, não ajudaria em nada ficando ali. Levantou-se e abriu devagar a porta do quarto da esposa, encontrando Haru debruçado contra a cama, os olhos fechados e a respiração ritmada. Deveria se mostrar preocupado com o filho, ele não era o único chateado naquela história, e quem sabe conseguisse fazer com que Haru confiasse nele?

  — Haru... — Kakashi o balançou levemente pelos ombros, vendo os olhos do menino se abrirem preguiçosos. — Temos que ir.

  — Quero ficar aqui com a mamãe. — Haru resmungou, esfregando os olhos a fim de espantar o sono. — Quero que ela me veja quando acordar.

  — Eu sei. — O jounin abaixou-se, ficando a altura de Haru. — Também quero que estejamos aqui quando ela acordar, mas a mamãe precisa descansar. Vamos.

  — Tudo bem. — Haru inclinou-se para beijar a testa da mãe e segurou a mão do pai, tomando os corredores silenciosos.

  Ele odiava hospitais, era como se não estivesse de fato sozinho. As paredes pareciam se fechar a cada passo, causando-lhe desespero. Apertou o contato das mãos, aproximando-se mais de Kakashi. Não ligava de aparentar ser um menino assustado, era normal que se sentisse assim em relação a algumas coisas e em sua idade isso não era imperdoável.

  Quando ganharam as ruas foi que Haru se permitiu respirar com mais naturalidade. O céu estava escuro, sem estrelas, e ele não soube como as horas correram tão rápidas. E, na verdade, reparar no tempo era apenas uma válvula de escape. Tobi lhe dera três dias para pensar, dar-lhe uma resposta, e Haru sabia qual palavra o mascarado desejava ouvir: Sim. A questão era: Ele estava pronto para dizê-la? E, mesmo que aceitasse, como iria fazer para burlar os pais e se encontrar com Tobi?

  Definitivamente não fora uma boa ideia ter ido se encontrar com Kabuto, nem ao menos cogitara a possibilidade de se deparar com Tobi, e tudo em um momento que deveria ficar ao lado do pai e dar apoio. Haru suspirou cansado, aquilo estava lhe rendendo dor de cabeça. Ergueu os olhos para Kakashi, deparando-se com o rosto dele voltado para si. A saliva desceu como pedra, deixando um caminho em brasa. Lógico que Kakashi notaria qualquer mínima mudança, então por que se sentia tão culpado por não se abrir com ele? Contara tudo à mãe, embora não obtivesse resposta... Desejava poder criar um laço mais forte com Kakashi, contudo algo dentro dele alertava que não era o momento.

  — O que foi, papai? — Decidiu romper o silêncio.

  — Por que você saiu correndo quando mandei Pakkun te chamar? — Eis a questão que incomodava Kakashi, forçando-o a questionar o filho.

  — Eu só queria ficar um pouco sozinho. A mamãe machucada de novo e é tudo culpa dele.

  — Dele quem? — O jounin estreitou os olhos, focando-se em captar o empenho de Haru a manter um assunto importante fora de seu alcance. — Haru, o que está escondendo?

  — Eu... Eu ouvi a conversa de vocês. Aquela que a vovó Tsunade foi lá em casa. Não devia, eu sei, mas... Me desculpe, papai.

  — Então você sabe que Kabuto não é boa pessoa.

  — Agora eu sei. — Haru respondeu cabisbaixo. Ele gostava de Kabuto, pensara que ele era diferente de Tobi, mas havia se enganado completamente. Sua ingenuidade o traíra, mas não é como se ele pudesse exigir muito de si mesmo porque, acima de qualquer coisa, ainda era uma criança. — Ele disse que era um grande amigo da mamãe, então por que ele continua machucando ela?

  — É complicado, Haru. — Kakashi fugiu do contato visual, mirando o caminho a sua frente. Konoha ainda estava ativa e a energia que exalava não era capaz de contagiá-lo. — Não sei se eu sou a pessoa certa para te responder isso.

  Ambos guardaram quietude, e Kakashi agradeceu por Haru ter cessado as perguntas. Sua mente tornou-se incapaz de processar qualquer informação, ele precisava de uma boa noite de descanso. Esperava apenas que o dia seguinte pudesse lhe fornecer boas notícias.

  Já em casa Kakashi permitiu que o filho tomasse banho primeiro, enquanto isso gastou alguns minutos preparando alguma coisa para comerem. A casa ficava absurdamente silenciosa sem Tsuhime, e Haru concordou consigo quando se juntou a ele à mesa.

  — Papai... — Haru começou sem jeito, não sabendo ao certo escolher as palavras. — Se você tivesse uma chance de fazer com que a mamãe nunca mais se ferisse... Você faria?

  Kakashi repousou o hashi na mesa, interessado no que o menino dizia. A inquietação dele não diminuíra, apenas esperou a aproximação do filho antes de questionar o motivo.

  — O que quer dizer? — E não responderia precipitadamente, pois Kakashi compreendia o poder das palavras ditas erradas. — Haru, está tudo bem. Você pode me contar qualquer coisa.

  — Qualquer coisa? — Haru observou o pai assentir. Kakashi não era Tsuhime, mas se importava com ele igualmente.

  — Sim.

  Então, Haru narrou toda sua trajetória até Kabuto, o que conversaram e a presença de Tobi. A menção de tal nome deixou Kakashi nervoso, porém não interrompeu o monólogo do menino. E finalmente a oferta que Tobi o fizera e seu prazo. Em toda narração Haru não ergueu os olhos para o pai, temendo ver qualquer sinal de que receberia uma bronca. Sabia que não era sensato seguir os instintos daquela forma, embora não se arrependesse.

  — O que você acha disso tudo? — Kakashi interrogou. Ele não poderia tratar Haru como criança para sempre. Se o filho estava seguindo o que achava melhor, também tinha que aprender a pesar as consequências. Ele tinha sua opinião formada, mas queria conhecer a de Haru.

  — Eu quero aceitar, mas com medo. E se eu não conseguir? E se Tobi pedir algo e eu não puder fazer o meu melhor?

  — Podemos fazer isso dar certo.

  — Sério?! — Haru encarou o jounin eufórico.

  — Sério. — Kakashi sorriu pela primeira vez aquele dia. — Mas vamos precisar de ajuda.   


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Notas finais do capítulo

Agradeço a você que leu, espero que tenha gostado.
A partir de agora a postagem será mais lenta, pois estou escrevendo ainda e gosto de postar quando tenho capítulos reservas.
Qualquer dúvida, crítica construtiva, sugestões... Será muito bem vindo.
Até o próximo!
Beijos.



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