Harukaze escrita por With


Capítulo 37
Capítulo 37


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 37

Estamos no mundo dos esquecidos
E perdidos dentro de sua memória
Você está se arrastando, seu coração foi partido
Porque todos nós sucumbimos na história

Não sabiam por quanto tempo tinham caminhado, porém o cansaço era evidente em Haru. Além de levar uma mochila pesada nas costas, correr ao ritmo ninja às vezes poderia ser bastante exaustivo. Suas pernas eram curtas e embora treinasse todos os dias para se aprimorar, ele sabia que teria um longo trajeto a percorrer antes de se tornar tão bom quanto o pai ou próximo a ele. E o que mais irritado o jovem Yatsuki era parecer fraco.

Um cachorro ninja, que ele achou extremamente curioso, guiava-os em sua trajetória. Pakkun sentira o cheiro de Kabuto nos trapos que Kakashi lhe ofereceu e agora pareciam cada vez mais perto de encontrá-lo. Percorriam outras vilas ligadas a Konoha, porém em uma volta, Pakkun levou-os para territórios até então desconhecidos por Haru. Adentravam civilizações rústicas, cercada por uma densa floresta. Alguns animais piavam e rugiam em torno deles, contudo Kakashi aconselhou ao filho a não escutá-los.

— O cheiro termina aqui, Kakashi. — Pakkun anunciou, cessando os passos em frente a uma estátua de cobra. Não precisavam adentrar para saber o quão escura seria. — É necessário que eu continue com vocês?

— Não, pode ir. Obrigado. — Kakashi negou-se, olhando para o garoto que admirava tal construção estranha.

A tarde caía tímida, marcando que logo a noite se faria presente. Lado a lado, pai e filho seguiram adiante atentos. Haru levava em mão uma kunai enquanto Kakashi apenas mantinha-se perto do menino. Recebeu um olhar interrogativo do filho, entretanto não tiveram tempo para assimilar. Ao virarem o que parecia um corredor, uma fraca luz bruxuleante chamou-lhes a atenção. Barulhos de utensílios se chocando com algo também ressoaram pelo local. Haru sentiu o coração acelerar de antecipação, entretanto acompanhou a calmaria do pai.

— Até quando vão ficar aí? — A voz tão conhecida de Kabuto questionou-lhes. Viram a sombra de Kabuto dançar nas paredes, ele tinha algo nas mãos. — O que querem?

— Tio! — O menino correu para ele eufórico, aquela demora estava tirando-o do sério. Percebeu que o olhar que Kabuto lançava para ele havia mudado. Era sério, frio e cortante.

— Você não deveria deixar seu filho se aproximar do inimigo tão descuidadamente, Kakashi. — O médico cutucou maldoso, sorrindo. — Eu soube de Tsuhime, e ninguém lamenta mais do que eu.

— Você pode curá-la, não pode? — Haru irrompeu em perguntas, alheio a afronta dos homens mais velhos.

Kabuto analisou a frase do menino, logo dando uma breve risada.

— Então, vieram até mim para salvá-la? Sabe, eu não sei se perceberam, mas eu não tenho a mínima intenção de fazer isso. Já obtive tudo o que preciso, então o que eu ganharia salvando Tsuhime?

Evidente, a típica troca quando resolviam firmar um acordo com o inimigo, contudo o que Kabuto exigiria Kakashi não poderia ceder. Talvez até estivesse se precipitando, porém o contratante era Yakushi Kabuto e embora a vida de Tsuhime dependesse dele, hesitava.

— O que você quer, tio? — Haru fez a tão temida pergunta, surpreendendo Kakashi. Ele estava decidido a levar Kabuto a Konoha para que ele pudesse salvar a mãe, o preço não importava.

— O que está acontecendo com você, Kakashi, permitindo que seu filho tome à dianteira? Por acaso a situação é tão desgastante que prefere deixar que uma criança cuide disso no seu lugar?

Kakashi cerrou os punhos. Não, ele não poderia responder as afrontas do ninja médico. Sabia que eram puras e simples provocações, porque de uma coisa ele tinha certeza de que Kabuto era: Sádico, que se divertia a custa do sofrimento dos outros. Todavia, ele tinha razão em questioná-lo. Que tipo de homem ele estava se transformando quando permitira que o filho passasse a sua frente?

— Você é mais corajoso que seu pai, garoto. — Kabuto tocou os cabelos de Haru, afagando-os. Abaixou-se a altura dele e sussurrou-lhe ao nos ouvidos. Algo que fez o menino sorrir em um misto de aceitação e confusão. — Se você fizer isso, eu salvo a sua mãe.

— Mas... E se eu não conseguir? — Os olhos ônix de Haru se arregalaram, vendo a gravidade da condição do médico.

— Sua mãe vai morrer, simples. — Kabuto endireitou a postura, encarando-o de cima e depois observando Kakashi, que a todo o tempo mantinha uma expressão vaga. — Mas você é um Uchiha, certo? Fazer o que eu pedi é muito fácil.

— Não, eu sou um Yatsuki. — O menino contrariou convicto. O sobrenome Uchiha causava-lhe incômodos. — Papai, ele quer um pergaminho secreto da vila.

— É apenas um pergaminho, Kakashi. — Kabuto debochou, dando de ombros. — Você fará isso para salvar a mulher que ama, não é mesmo? Ou vai condená-la a viver para sempre em coma? Afinal, eu sou o único que pode reverter o quadro dela.

— Por que tanto ódio, Kabuto? — Kakashi tocara em um quesito particular, algo que não deveria ter mencionado em voz alta. Todavia, ver a postura do médico mudar o fez ter certeza de suas especulações. — Se o que eu penso for verdade, você já aceitou ir a Konoha desde o momento em que pisamos aqui.

— Você não sabe o que diz. Se eu aceitei foi por interesse, eu já disse minhas condições e o que quero, tudo depende de você. Trair ou não a sua amada vila já não é problema meu. — Dando a conversa por encerrado, o Yakushi voltou a seus afazeres. — Se mudar de ideia, quero o pergaminho de Técnicas de Ressurreição, criado pelo segundo Hokage.

— Papai... — Haru soou implorante, segurando a mão do pai com exigência.

Mesmo que aquilo o tornasse um traidor, aprendera desde cedo a não abandonar as pessoas importantes. Kakashi havia feito uma escolha ao mirar o filho tão pedinte, portanto tornando-se impossível o regresso. Ele iria salvar a esposa sob qualquer condição.

— Está bem.

(...)

Konoha o recebeu muito bem aquela manhã de primavera, embora os olhares de recriminação sempre recaíssem sobre sua figura. Yakushi Kabuto não se importava, afinal teria uma recompensa significativa apenas por gastar um pouco do seu chakra. Escoltado por dois ANBU, o ninja médico caminhava naturalmente pelo corredor do hospital. Ao longe pudera visualizar a imagem da Hokage, de expressão fechada e braços cruzados. As pessoas tendem a desconfiar quando a situação começa a dar certo, e no caso de Kabuto ter aceitado ajudar o estado de alerta era máximo.

Kakashi havia contato a Hokage toda a conversa, e a mulher muito inteligente e com a ajuda de Jiraiya dispuseram o pergaminho que Kabuto tanto queria, claro com algumas modificações seguras. Kabuto era um homem abusado e que martelava sempre aonde mais doía nas pessoas, entretanto daquela vez eles tinham aprendido a lição. Quando ficaram frente a frente, Tsunade pediu aos ANBU que permanecessem do lado de fora enquanto entrava no quarto com o convidado. Se algo acontecesse ela se encarregaria pessoalmente de Kabuto.

A respiração de Tsuhime era falsa, provocada por máquinas. No entanto, poder vê-la pior do que todas as situações que já criaram causaram nostalgia em Kabuto. Todas as lembranças ressurgiram divertidas em seu cérebro, quase podia escutar a voz suplicante da mulher que vira crescer. Era, no mínimo, gratificante.

O líquido que injetara em Tsuhime abrangeu os efeitos específicos, ele cogitou mesmo em tirá-lo do caminho depois que conseguisse o que queria. Contudo, viu-se rendido pelo sentimento que nutria por ela e, por pura punição, decidiu deixá-la a beira da morte, além de livrá-la de todos os genes invasores. Talvez, mesmo com seu tratamento, ela demorasse a acordar, porém ninguém precisava tomar conhecimento daquele detalhe.

Disposto a encerrar logo o seu trabalho, Kabuto juntou chakra nas mãos e as sobrepôs na testa de Tsuhime. Pôde sentir a mente submissa dela, tão frágil quanto se imaginava e concentrou-se em penetrar o chakra por todo o corpo da mulher. À medida que descia a mão, curava e restaurava estruturas que Tsunade levou horas para reorganizar e ainda assim tivera ajuda na tarefa. Seria arriscado demais admitir, mas Kabuto era um ninja médico excelente; De atos rápidos e certeiros, podendo matar uma pessoa causando menos estrago do que fizera com Tsuhime. Em outras conclusões, ele era perigoso.

Do vidro, Haru e Kakashi acompanhavam tudo. O menino pediu colo ao pai para que pudesse visualizar melhor, além de se ver fascinado pelas técnicas peculiares de Kabuto. Ora, ele nunca tivera a oportunidade de acompanhar nada daquele feitio, a não ser às vezes em que a mãe tratava de seus ferimentos. Todavia, aquilo não poderia se comparar com simples ferimentos.

Todo o sistema da mãe estava se regenerando, já era possível constatar que a palidez abandonara Tsuhime e que agora possuía uma cor mais saudável. As pálpebras tremiam ansiosas por abrir. Envolveu o pescoço de Kakashi com os braços, a sessão parecia estar chegando ao fim, o que significava que logo poderia ouvir a voz dela.

Após percorrer todo o corpo de Tsuhime, Kabuto concentrou-se novamente na cabeça. Se havia algum dano no cérebro, ele retiraria. Não lhe agradaria que as memórias dela se perdessem, queria ficar gravado nas lembranças de Tsuhime constantemente. Eternamente. Permaneceu mais tempo naquela região do que gostaria, até sentir as mãos de Tsunade segurando-lhe o pulso.

— Está atrapalhando, Tsunade-sama. — Ele repreendeu-a irritado. — Não estou fazendo nada que precise se preocupar.

— Ela acordou.

Kabuto encarou-a enquanto Tsunade permitia que Kakashi e Haru fizessem parte do momento. Entretanto, os olhos de Tsuhime haviam mudado. Já não possuíam mais a cor acastanhada e sim voltaram à cor original: Amarelos. Haru foi o primeiro a comentar, afinal a espontaneidade dele era superior a de qualquer um naquela sala.

Quando Tsuhime sentou-se com a ajuda de Tsunade, ela recebeu o abraço caloroso do filho, entretanto seus movimentos ainda transcorriam lentos. Ela mal assimilava onde estava ou via qualquer coisa mais longe do que um metro. Portanto, ao invés de abraçar o filho permaneceu na mesma posição, o que decepcionou um pouco o menino.

Deixando a família sozinha, Tsunade chamou os ANBU e escoltaram Kabuto até o gabinete, solicitando um enfermeiro. Enquanto isso, Kakashi aproximou-se e abraçou a esposa, depositando um beijo na testa dela. Ela ainda estava mais magra do que a última vez que a vira, no entanto essa questão aos poucos se resolveria. A mudança nos olhos de Tsuhime não o espantou, afinal Tsuhime contara-lhe anos atrás que o acastanhado fora um presente. Agora, apesar de se parecer com Orochimaru novamente, percebeu que os olhos amarelados lhe caíam muito bem.

— Como se sente, querida? — Kakashi perguntou suave, tendo consciência que ela estava fragilizada.

— Cansada, mas feliz por vê-los. — Ela sorriu, um sorriso fraco e bonito. O enfermeiro retirou-lhe o soro e as sondas, livrando-a dos desconfortos.

— Mamãe, os seus olhos estão incríveis! — Haru agitou-se, fazendo com que as sobrancelhas de Tsuhime se franzissem. — Como você fez eles ficar amarelos?

— Amarelos? — Tsuhime interagiu confusa, procurando qualquer coisa que lhe desse reflexo. Kakashi ajudou-a a segurar uma bandeja próxima e ali estava à antiga Yatsuki Tsuhime, a imagem esculpida de Orochimaru. — Por que estão dessa cor?

— Muitas coisas aconteceram enquanto você estava em coma. — Kakashi iniciou a explicação devagar. — Como o seu chakra se esvaiu com a liberação do Selo Amaldiçoado, não pude reproduzi-lo sem você.

— Então, quer dizer que eu não tenho mais chakra? — Ela não deveria mostrar-se tão passional, porém as lágrimas chegaram nítidas e rebeldes. — Eu me tornei uma simples civil?

— Isso é ruim, mamãe? — Haru interrompeu o acesso nervoso da mãe, inocente. Sentou-se no colo do pai, inspecionando as atitudes de Tsuhime.

— Não, meu amor, a mamãe só ficou... Surpresa. — Ela mentiu, não era justo preocupar o filho logo agora.

(...)

Quando a noite caiu, Haru dormia no sofá que havia no quarto que Tsuhime ocupava enquanto Kakashi permaneceu junto da esposa. Ouvira-a despejar as frustrações, de que estava sendo difícil para ela aceitar a nova condição. Prometera a ela que não havia com o que se preocupar, que ela ainda era a mesma e recebeu em troca um sorriso trêmulo. Na verdade, Kakashi notou que prometera muitas coisas a sua família e que não cumprira metade delas. Informou Tsuhime sobre a coragem de Haru em ir procurar por Kabuto e isso encheu os olhos dela de lágrimas.

— Ele fez isso? — Ela sussurrou, observando o menino ressonar perdido nos sonhos. — Haru é mais do que eu imaginei.

— Ele foi contra tudo enquanto eu me negava a aceitar a ajuda de Kabuto. Haru é mais forte do que eu pensei. Desculpe se eu me deixei guiar pela raiva, se fui orgulhoso demais, é que... — Os olhos escuros de Kakashi se perderam no semblante calmo de Tsuhime, que continuava olhando para ele sem recriminá-lo. — Eu não conseguia aceitar que a pessoa que te machucou fosse o único que pudesse salvá-la.

— Você não mudou nada. — Tsuhime sorria, aconchegando-se mais nos braços do marido. Como era bom senti-lo realmente e não apenas escutar resquícios da voz dele. — Não se culpe, Kakashi, ninguém está bravo por você ter se comportado desse jeito. Eu só quero que me abrace e me mostre que não estou sonhando.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
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