Harukaze escrita por With


Capítulo 34
Capítulo 34


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585683/chapter/34

Harukaze

Capítulo 34

Não olhe para trás

Não se arrependa

O tempo está passando por entre essas mãos

Eu deixarei você me abandonar

Assim que ouviu o barulho de algo se quebrando, Kakashi apressou-se para a casa. Com euforia seguiu o som, deparando-se com Tsuhime recolhendo os cacos do que um dia fora uma linda xícara. Era estranho que aquilo tivesse acontecido, afinal, ela cuidava muito bem da coleção que ganhara da Hokage no dia do casamento. Escutou-a praguejar algo, alheio a sua presença, e levar o dedo à boca. Ela havia se cortado e reparou que as mãos dela tremiam. Alguma coisa estava errada com Tsuhime, pois ser distraída não condizia com a personalidade da esposa. Fechou a porta com um estalo, recebendo o olhar acastanhado sobre sua figura.

— Está tudo bem? — Kakashi perguntou, analisando-a com cuidado.

— Tudo. — Tsuhime rebateu constrangida, prendendo uma mecha de cabelo atrás da orelha enquanto se levantava.

— O que aconteceu? — Ele retirou a máscara em um gesto displicente, as sobrancelhas franzidas no cenho bonito. — Você se cortou.

— Ah, não foi nada de mais. A xícara só estava um pouco quente. — Tsuhime jogou os cacos no lixo. Entretanto, permaneceu encostada ao balcão da cozinha cogitando a oferta de Kabuto. Ela não poderia tratar disso com Kakashi, ele jamais a deixaria agir conforme as condições do espião. — Kakashi, eu... — Quando se virou, teve os lábios tomados por um beijo apaixonado. Fora impossível para Tsuhime se negar a retribuí-lo. — Preciso te dizer uma coisa. — Ela avisou ao se separarem.

— Estou ouvindo... — Kakashi garantiu, embora sua atenção estivesse voltada para a mulher a sua frente, presa entre seus braços.

— Kabuto veio me visitar ainda há pouco. — E como Tsuhime imaginou, o marido interrompeu todos os movimentos. Os olhos escuros inspecionando-a com surpresa. — Ele disse que sabe onde está Haru e pode nos devolvê-lo se eu aceitar as condições dele.

— Você realmente acreditou nele? — Kakashi afastou-se, encarando a esposa firmemente. — Ele pode estar mentindo, Tsuhime. Sabe disso.

— Sim, eu sei! Mas foi a informação mais confiável que tivemos durante esse tempo, Kakashi. — Ela gesticulava nervosa, expondo suas ideias com total dedicação. — Eu não me importo em me arriscar, contando que Haru volte para nós.

— O que ele quer de você? — Essa era a parte que mais preocupava Kakashi. E quando as palavras de Tsuhime se formaram em sua consciência, ele viu todo o seu mundo desmoronar na frente de seus olhos. — Não, definitivamente não! É impossível eu permitir que faça isso.

— Eu já tomei minha decisão, Kakashi, você gostando ou não.

E Kakashi nunca tinha escutado Tsuhime se dirigir a ele daquela maneira. Era como dissera a Iruka: Ela o via como um incômodo, algo a ser desafiado e ignorado. Não entendia desde quando Tsuhime mudara tanto a ponto de sua opinião não mais valer. Todavia ele desejou poder voltar no tempo, talvez assim pudesse resgatar a essência daquela mulher com quem se casara. Então, naquela noite, Kakashi preferiu não discutir e acomodou-se no sofá. Seriam longas horas de desconforto.

(...)

Tsuhime ainda era a mesma de antigamente, aquela que ele conseguia chantagear e ser prontamente atendido. O sorriso de satisfação estendeu-se por seus lábios num ímpeto, reafirmando o quanto ainda era capaz de afetá-la. Seus planos sairiam como nos sonhos e faltava pouco para adquirir o que faltava.

Desde muito antes ele admirava a genética de Tsuhime, achando-a fascinante e manipulável, seria muito fácil desenvolvê-la privadamente. E embora não precisasse de permissão, desta vez ele tivera um motivo maior. Tinha que agradecer a Tobi por ter trazido Haru para o meio deles, assim o garoto iria ter mais valor do que normalmente possuía.

Testara o sangue dele muitas vezes com a amostra que colhera, porém mesmo sendo filho de Tsuhime, ela era única. Ninguém no mundo portava células tão submissas e desobedientes. Ela era perfeita. Dobrou o corredor que dava para os quartos e abriu a porta, tendo que se esquivar de um objeto que Haru lançara. Seguiu-o com o olhar, deparando-se com agulhas extremamente finas e brilhantes. Embora Haru não possuísse a mesma genética da mãe, herdou os mesmos truques que ela.

— Saia daqui! — O menino gritou, certificando-se de atirar quantas agulhas ele precisasse. — Eu não quero você aqui!

Entretanto, depois de alguns segundos observando o garoto, Kabuto percebeu que o alvo não era ele. Parecia que Haru estava preso em uma ilusão e lutava contra alguém de seu total desagrado. Tinha que admitir que Tobi pegasse pesado com o filho, se continuasse nesse ritmo iria causar um colapso na capacidade de percepção de Haru.

Cauteloso, Kabuto adentrou o cômodo e segurou o menino pelos braços no intuito de acalmá-lo. O que piorou a situação, pois Haru conseguiu se soltar e feri-lo no rosto. No mesmo instante, o lado afetado foi coberto por uma fina camada de gelo que se reproduzia automaticamente, fazendo com que seus movimentos fossem paralisados.

Irritado com a ousadia de Haru, Kabuto o golpeou na nuca. O menino caiu imóvel enquanto o espião ia ter com Tobi. Estava na hora de parar de torturar o garoto, ou quando menos se esperava o encontraria em estado vegetativo. Mesmo que ele fosse um Uchiha, não passava de uma criança descobrindo os poderes.

— Vai matá-lo. — Foi tudo o que proferiu as costas de Tobi. Com um soco revestido em chakra, conseguiu libertar-se do gelo. — Haru não vai aguentar o seu genjutsu e eu preciso desse garoto em perfeitas condições. Libere-o.

— Ainda não tive vontade, ele merece. Quem sabe assim Haru aprende a me respeitar? — Tobi virou-se para Kabuto, revelando-se sem a máscara.

— Apenas está fazendo com que ele fique com medo de você.

— Isso também é bom. Respeitamos aquilo que tememos ou não teríamos ordem.

— Vou entregá-lo a mãe antes que o mate. — Kabuto encaminhou-se para a saída do quarto, porém sob o poder de uma força desconhecida ele manteve-se no lugar.

— Não se atreva. — A voz mortífera cantou em seus ouvidos como uma maldição. — Haru é meu filho e vai ficar comigo, Kabuto. Não ouse me desafiar.

— Você não me assusta, Tobi. — Kabuto sorriu e ajeitou os óculos sob o nariz. — Suas ameaças não dizem nada para mim. Você está brincando demais com Haru, vai deixá-lo louco. Vou entregá-lo a Tsuhime ainda hoje.

Assim que Tobi o soltou, Kabuto apressou-se em distanciar. Sabia que estava se arriscando demais o enfrentando, porém até mesmo seu coração sádico compreendia que a situação não os levaria a lugar algum. Haru ainda dormia, então seria fácil transitar com ele sem levantar suspeitas. Tobi não o impediria, caso contrário teria feito mais do que apenas restringir seus movimentos brevemente. Contudo, afirmara convicto de que naquele ritmo mataria o garoto.

Acomodou Haru nas costas, tendo o cuidado de segurá-lo com firmeza. Ele murmurava coisas desconexas, porém em um dado momento ele entendeu perfeitamente quando ele dissera “Você não é meu pai... Hatake Kakashi que é”. Kabuto riu abertamente, Tobi não havia feito progresso algum. E tudo se confirmou quando o mascarado não impediu de avançar para fora da casa. Kabuto escondeu o sorriso em uma linha fina, enquanto preparava-se para percorrer o caminho até Tsuhime o mais rápido que conseguisse.

— Onde a gente ? — Depois de mais ou menos uma hora, Haru perguntou sonolento e cansado.

— É melhor perguntar: “Para onde está me levando?”, não acha? — Kabuto rebateu divertido, sentindo os braços do garoto se apoiarem mais em seu pescoço.

— Para onde me levando?

— Para sua mãe. Você não queria ir embora?

— É sério, tio? — Haru interrogou, na voz um teor esperançoso e alegre. — indo pra casa? Não vou mais precisar chamar aquele tio de pai?

— Não, Haru. — Kabuto confirmou, fazendo o menino sorrir.

Oe, tio... — Por mais que lhe envelhecesse permitir Haru chamá-lo de tio, acabou por se acostumar. — Eu gosto de você.

— Mesmo?

— Sim. Você vai vir me visitar, não vai?

A pergunta fez Kabuto rir. Não por ser incabível, mas pela inocência de Haru. Ora, o que ele poderia esperar de uma criança de cinco anos? Aos olhos de Haru o ninja médico era confiável, alguém que ele poderia interagir em sua convivência sempre, entretanto guardava os mesmos sentimentos que Tobi pelo menino ou até mais. Haru era a sua chave para obter o que tanto queria de Tsuhime.

— Eu acho que sua mãe não vai querer que eu me aproxime de você, Haru. — Kabuto tentou ser o mais breve possível, sabendo que o menino logo o questionaria.

— Por quê? Quando a mamãe souber que você foi legal comigo, ela não vai ficar brava. — Argumentos infantis, quase impossível de ir contra eles.

— Você não entende, garoto. Os adultos são diferentes.

— Diferentes como? — Haru segurou-se mais em Kabuto quando eles saltaram de uma montanha.

— Veja, já estamos chegando. — O médico mudou de assunto, apontando para os portões da vila de Konoha. Colocou Haru no chão e usou o Henge no Jutsu para se disfarçar e poder transitar pelas ruas sem ser reconhecido.

Assim que puseram os pés em Konoha, Haru foi recebido de surpresa pelos irmãos gêmeos. Souma praticamente jogou-se contra Haru, prendendo-o pelo pescoço e remexendo os cabelos negros. Hideki, mais silencioso, apenas acenou com um meio sorriso. Gêmeos, mas extremamente opostos. Kabuto apenas analisou a situação com certa impaciência. Pigarreou, chamando a atenção do garoto que já se afastava com os amigos.

— Mais tarde a gente se vê! — O Yatsuki despediu-se, deu a mão para Kabuto, que agora era um rapaz de cabelos negros e olhos castanhos, e seguiram para a casa.

O coração agitado de ansiedade por rever os pais lhe causava desconforto. E quando avistou a casa, Haru soltou-se do ninja médico e correu em direção ao lar, abrindo a porta com euforia.

— Mamãe! Papai! — Ele gritou dentro do imóvel. Não obtendo resposta, Haru percorreu todos os cômodos e notou-se sozinho. — Tio, não tem ninguém em casa.

— Vamos esperar. — Sentou-se confortavelmente no sofá da sala, afinal, Kabuto dispunha de tempo.

Haru foi até uma das estantes e retirou o Mahjong, mostrando-o a Kabuto. Ajeitou-se sobre o tapete e disponibilizou o tabuleiro e as peças na mesinha de centro.

— Vem jogar comigo, tio.

Talvez valesse a pena ter se tornado uma pessoa tão querida por Haru, assim as coisas poderiam se dispor mais rápidas.

(...)

Na sala da Hokage, Tsunade mantinha uma reunião com Kakashi e Tsuhime. A jovem sempre distante e reclusa, enquanto deixava com o marido acatar ou não as condições. Ela estava cansada de escutar as promessas, queria mais ações do que palavras. Alguns ANBU tinham se deslocado em busca de qualquer informação sobre Tobi ou Kabuto, pois se assim conseguissem seria mais fácil localizar Haru. Contudo, Tsuhime guardava profundo ceticismo em relação às especulações.

— Acha que tudo sairá como o planejado? — Ela reagiu perante os dois, que a olharam confusos. — Tobi e Kabuto não são idiotas para nos dar suas localizações. Eles podem estar bem embaixo dos nossos narizes rindo de nós.

— Não temos opção melhor, Tsuhime-chan. — A Hokage rebateu, as sobrancelhas franzidas em convicção. — Se não formos cautelosos, eles podem perceber que mandamos um grupo de busca. Será mais difícil nos mover com essa certeza.

— O problema é que somente temos hipóteses. — Tsuhime caminhou, ficando ao lado de Kakashi. — Conheço esconderijos, posso guiar um grupo por Otogakure.

— Esqueça, não vamos te entregar para eles. — Desta vez Kakashi interrompeu as ideias da esposa, mostrando-se firme e categórico. — Já conversamos sobre isso e sabe que é arriscado. Deixe que os ANBU cumpram com o trabalho deles.

Os olhos acastanhados de Tsuhime marejaram enquanto buscava no semblante impenetrável de Kakashi uma oportunidade para fazer valer os seus argumentos. No entanto, Kakashi manteve a atenção voltada para a Hokage, irredutível. Limpou uma lágrima que escorreu com as costas das mãos e respirou fundo.

— Como você quiser, Kakashi. — Ela proferiu desdenhosa e saiu do gabinete, sem dizer mais nenhuma palavra.

Seus passos apressados levavam-na rapidamente para a saída do palacete enquanto ignorava os chamados do marido. Ela queria se sentir apoiada e não contrariada. Tsunade não era mãe, então jamais poderia entender o que ela estava sentindo, mas Kakashi era capaz. Ele era o pai de Haru, então como se mantinha tão calmo? Num ímpeto seu braço foi agarrado e a força o puxou para trás, batendo de frente com o corpo de Kakashi. Evitou olhá-lo, assim ele não precisaria ver toda a irritação e frustração que a corroia.

— Não fuja de mim. — Kakashi a abraçou, depositando um beijo casto na testa dela. — Não nos afaste ainda mais. Eu estou aqui por você, tudo o que faço é pensando no seu bem estar.

— Eu sei, eu sei! — Tsuhime abraçou-o de volta, acomodando-se no calor do marido. — É impossível lutar contra esse vazio sozinha. Desculpe-me por vir te ignorando todo esse tempo, Kakashi. Não tenho o direito de jogar tudo em cima de você. Mas isso está me consumindo! Ajude-me.

— Claro, querida. Vamos para casa.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Críticas construtivas, sugestões, opiniões serão muito bem vindos.
Beijos!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Harukaze" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.