Harukaze escrita por With


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 33

E quando a noite cai a minha volta

Eu não penso que eu o farei

Use sua luz pra guiar o caminho

Dois meses...

Dois meses se passaram e com eles Haru escutou histórias sobre o clã Uchiha. Cada dia uma nova revelação, e agora terminava de assimilar os acontecimentos que seu pai — recebera instruções para chamar Tobi assim, e o fazia por opção, talvez não houvesse problema se fosse da boca para fora — fizera questão de lhe contar. Apesar de conhecer a sua linhagem, Haru não ligava para ela. Ele queria estar com Hideki e Souma e com os pais. Poderia estar ajudando a mãe em alguma tarefa ou conversando com Kakashi sobre o seu dia na academia. Tobi não tinha tamanho interesse por seus assuntos, então optou por apenas escutá-lo calado.

Em todas as aulas de história do clã, Tobi esperava que Haru assumisse o seu legado corrupto e indisciplinado. Verdade que muito antes de conhecê-lo o interesse era mínimo, todavia como tudo no mundo muda com ele não foi exceção. Vez ou outra pegava Haru revirando os olhos ou bocejando, evidentemente cansado de tanto falatório. Para crianças de cinco anos boas histórias sempre atraiam a atenção, o problema era que Tobi não colocava emoção como Kakashi. Narrava fatos antigos, de ódio ressentido e vingança a ser cumprida. Apenas isso.

Quando não estavam conversando, Tobi fazia questão de ensinar ao menino a usar a sua kekkei genkai corretamente. Explicou cada evolução e seus poderes ocultos, que com o passar do tempo ele iria despertar. E Haru não era dado a conquistas muito grandes. Simples e cordial, buscava o conforto. Contudo, para Tobi, isso não lhe serviria de nada no futuro. Entretanto, mantendo um diálogo interno, Haru entendeu que a opinião daquele homem não importava. Quer dizer, não tanto quanto a sua própria.

— Mas eu só tenho cinco anos, não entendendo o que você diz. — O menino rebateu confuso, irritando Tobi que a todo o momento fora paciente.

— Leia isso, então. — Entregou a Haru um pergaminho, percebendo o completo desinteresse no filho. — Você precisa conhecer o seu passado, gaki.

— Esse passado não é meu, não ligo. — Haru cruzou os braços, ignorando o pergaminho. — Quero voltar para casa. cansado.

Tobi encarava aquele ato rebelde com impaciência. Com certeza Tsuhime mimara muito o garoto, por isso a desobediência. Mas não tinha com que se preocupar porque ele daria um jeito nisso. Era o pai, certo? Então, poderia educá-lo como bem entendesse. O tapa acertou Haru no mesmo instante em que ele virou o rosto para encará-lo. O gosto ferroso apossando-se da boca infantil, enquanto ele deixava o filete escorrer e encarava aquele homem com profunda raiva. Entretanto, para a surpresa de Tobi, o menino sorriu.

— Acha que é o suficiente? — Haru interrogou, na voz um tom adulto e destemido. — Pode me bater o quanto quiser, eu não vou mais obedecer você. Diz que é o meu pai, mas o meu pai se chama Hatake Kakashi.

— Então... — Tobi ativou o Sharingan, a voz fria e inquebrável. — Devo te punir por isso.

Do lado de fora da sala, Kabuto podia escutar os gritos estarrecidos de Haru. Claro que adorou ver alguém enfrentar Tobi que não fosse ele, contudo as consequências viriam rápidas. Tobi era homem dado a ser superior e nunca ter suas ordens contestadas, e Haru infringira a lei de modo agressivo, rebelde e impulsivo. O garoto era difícil de iludir e driblar, sempre em cima de explicações e porquês, e tantas perguntas deixavam o Uchiha irritado.

A verdade era que, por mais que Tobi maltratasse e exigisse do menino mais do que ele poderia dar, jamais o machucaria de fato. Ele tinha planos, estes que estavam guardados silenciosos na mente insana, e Haru fazia parte dele. Se seria para confrontar a mãe ou Kakashi? Até que não pensara em vão, mas tinha certeza que seria algo muito mais cruel do que isso. Prova disso era que obrigara o garoto a machucar a mãe e, por mais arrependido que Haru estivesse, evitou esboçar reações perante Tobi. Sem dúvidas, o garoto era curioso e interessante, e talvez ele o usasse para seus planos também.

Jurara para si mesmo que um dia teria Tsuhime novamente, e exclusivamente para ele. Suportara por cinco anos vê-la feliz, esquecendo-se do passado e continuando a vida como se sempre pudesse. A questão era que dele ninguém tirava absolutamente nada. Perdera muitas coisas desde que se lembrara e Tsuhime ele não admitiria. Sabia o quanto poderia ser fácil manipulá-la, ele ainda tinha influência sobre ela, e por opção deixara-a levar uma gravidez tranquila. Estaria tudo bem se ela não tivesse se casado com Kakashi há três anos.

E ele já sabia o que fazer para tê-la, embora pudesse atrair problemas. Entrar e sair de Konoha eram tarefas altamente fáceis para Kabuto, afinal passara sua vida inteira invadindo aldeias em busca de informações. Ele pretendia não chamar muito atenção, agora que firmara aliança com a organização Akatsuki por puros interesses. Enquanto se concentrava em tarefas extracurriculares, ao mesmo tempo daria atenção a seus objetivos. Organizado, simples e rápido.

Sorriu com a arquitetura que montara e abriu a porta da sala onde Tobi se encontrava com Haru. Presenciou uma cena de pena: O garoto tinha o rosto marcado por grossas e pesadas lágrimas, ofegava e tremia. Mas o que mais o fascinou foi o modo como Haru encarava Tobi: Totalmente altivo, irado e rancoroso. O castigo não fora o suficiente para apagar aquele brilho petulante dos olhos ônix do garoto. Evidentemente palpável o quanto Tobi alimentava a raiva crescente dentro dele, e em um piscar de olhos dividia a sala apenas com Haru. Kabuto ainda sorria, como se houvesse conquistado uma meta significativa.

Com dificuldade e sem qualquer força nos músculos, Haru forçou-se a se ergueu cambaleante. A cabeça pesada de imagens e os ouvidos de vozes cruéis. Mesmo sabendo que fora somente uma ilusão, nada o acalmava. Tobi mostrara-se um homem perigoso, disposto a fazer o que for para ferir as pessoas que eram importantes para ele, entretanto se continuasse apenas nas ilusões Haru poderia se esforçar para se adaptar a sua rotina. Observou Kabuto, que a todo instante não dissera uma só palavra, apenas mantinha um sorriso idiota nos lábios.

— Você não faz ideia com quem está se metendo, mas devo admitir que, para uma criança, você é bem corajoso. — Kabuto interagiu, apoiando o corpo do menino fraco nos braços. — Aguentou muito bem a tortura, mas creio eu que não foi apenas psicológica.

Haru achou desnecessário respondê-lo e apenas deixou-se ficar no calor que Kabuto oferecia. De todos ali, o ninja médico era o que mais lhe apetecia. Permitiu que a mão do homem de cabelos cinza tocasse-lhe o rosto, tirando o inchaço e dor que se instalaram naquela região.

— Se quiser, pode conversar comigo. Eu prometo manter segredo. — Kabuto sugeriu solícito, deitando o menino no futon. — Não sou tão chato quanto seu pai.

— Ele não é meu pai. — Apesar da voz fraca, a afirmação foi convicta. Irritava-o ouvir sempre a mesma coisa diversas vezes ao dia. Os olhos escuros começaram a se render ao cansado. — Posso te pedir uma coisa, tio?

— O que é? — Kabuto mostrou-se curioso apenas para incitá-lo em dizer. Percebeu que em breve Haru cairia no sono pelo gasto que sofrera.

— Pode avisar a mamãe que bem?

Perante tal pedido, Kabuto foi incapaz de controlar o sorriso que se alargou em seus lábios. Com prazer, Haru. Logo depois de Haru adormecer, Kabuto foi ter com Tobi em uma das salas do casarão.

— Não acha que tem pegado pesado demais com o garoto? — Kabuto interrogou Tobi, que o olhou com indiferença. — Detonou o coitado, não está sendo um bom pai.

— Ele é igualzinho a mãe. Ambos têm o poder de me irritar. — Tobi retorquiu, evitando entrar em detalhes.

— Parece que você está inseguro. O que foi? Está começando a gostar do garoto? — Kabuto sabia onde pisava, embora nada garantisse que daria certo conhecer o território inimigo. Há vários dias vinha pensando naquela questão, pois as pessoas quando não sabem lidar com situações novas tendem a destratá-las. E o que via em Tobi era puramente a sua teoria. — Aposto que não deve ser tão ruim assim. Haru é uma criança interessante, como você esperou.

— Não me compare a você, Kabuto.

— Então, qual o motivo de tamanha impaciência? — O sorriso ainda estava estampado, iluminando o rosto do ninja médico com um brilho de deboche. — Você queria uma linhagem sua e conseguiu. Haru despertou o Sharingan e é um Uchiha, não vejo porque você fica de manha. Não me vê reclamando só porque meus planos ainda estão se desenvolvendo.

Por incrível que pareça, Tobi guardou silêncio como se estivesse assimilando as palavras de Kabuto. E talvez o ninja médico contemplasse razão. Porém, se conhecia o bastante para saber distinguir obrigações de gostar. Haru poderia ser uma criança impulsiva e que o desafiava sempre, porém esse lado dele lhe apetecia. Suspirou profundamente e saiu do cômodo, a presença de Kabuto lhe inspirava contradições e suspeitas que nunca sentira antes. Ou isso se devia por ver verdades?

Espantando as dúvidas, Tobi adentrou o quarto que o filho dormia. A respiração era arrastada, mas estável, e já não havia o machucado no rosto dele. Kabuto. Interagiu consigo. O ninja médico era o único ali capaz disso, e não existiam problemas desde que não interferisse em seus assuntos com Haru. Ele iria conseguir corrompê-lo como ele mesmo fora; Iria fazê-lo repudiar a família e seguir pelo mesmo caminho que ele. A solidão por muito tempo fora sua companheira fiel, talvez ter alguém para compartilhar tornasse tudo mais suportável.

Embora tivesse ímpetos, impressionava-se com a paciência que gerara em relação à rebeldia do garoto. Nunca havia sido o tipo de homem que repensava mais de uma vez seus passos, e agora estava ali, observando Haru e cogitando se realmente queria que o menino fosse como ele. De repente, a imagem de Kakashi invadiu-lhe a mente e foi o instrumento que faltava para fazê-lo retomar a si. Sorriu satisfeito e fechou a porta à chave. Haru merecia um castigo não só por tê-lo desafio, mas também por tê-lo rejeitado descaradamente e sem presunção alguma.

(...)

O tempo avançara após a conversa com Kakashi, a tristeza instalara-se em Tsuhime tornando-se perceptível a quem quer que fosse apenas por olhá-la. Nada substituía à ausência do filho e constantemente Kakashi a via encarando uma foto de Haru e se desculpando. Fizera de tudo para ver apenas um mínimo sorriso nos lábios da esposa, mas as emoções se trancafiaram em um lugar inalcançável. Até mesmo para ele. Sentia-se frustrado.

— Alguns ANBU saíram em busca. — Kakashi avisou, recebendo os olhos de Tsuhime. — Tsunade-sama acha melhor você não se envolver.

— Todos pensam saber o que é melhor para mim. — Ela rebateu, magoada. — Mas ninguém faz ideia do que estou sentindo. Meu filho está com Tobi e vocês não me deixam procurá-lo por puro medo. Eu me sinto impotente.

— Tsuhime, você vendo a situação desse ângulo não está nos ajudando. — Kakashi suspirou, passando as mãos pelo cabelo prateado. — Acha que é a única a se sentir assim? Eu também não posso buscar por Haru pelos motivos que você também não pode! Então, que tal tentar ser um pouco mais compreensiva e esperar por notícias boas?

— Diga-me como, Kakashi?! — Ela se levantou, sustendo a discussão. Os olhos marejados, quase não suportando segurar as lágrimas. — Porque eu não consigo sozinha! Não há nada que me faça pensar diferente! Eu só vou ser a mesma quando o nosso filho estiver aqui, conosco! Até lá não exija muito de mim.

Kakashi controlou a vontade de dizer a Tsuhime muitas coisas, coisas que a magoariam ainda mais. Tentava compreendê-la, colocar-se no lugar dela e dividir as angustias, mas a convivência decaiu muito depois que ela se fechou. Enquanto ela mostrava como se sentia, ele guardava para si mesmo a fim de não preocupá-la. Gostaria de poder dizer que também sentia falta de Haru, que estava com medo, que se sentia incapaz, entretanto com o descaso acabou por lidar consigo sozinho. A verdade era que Tsuhime estava apenas pensando nela mesma, ignorando qualquer pessoa afetada e próxima. E ele, por sua vez, cansara-se.

A maioria dos dias Kakashi só via a esposa a noite e em raras oportunidades. Preferia discutir o caso com Tsunade ou um amigo mais próximo a tentar qualquer diálogo com Tsuhime. Vez ou outra perguntava como ela estava e a voz era seca e fria, respondendo um: “O que você acha?”.

— Você está mesmo acabado, Kakashi. — Iruka encontrava-se no Ichiraku fazendo-lhe companhia naquela noite de primavera. — Tente não se importar muito, Yatsuki-san no fundo aprecia sua preocupação e só quer poupá-lo das dores que ela carrega.

— Mas nós não nos casamos para poupar o outro de dores. Fizemos o típico juramento de cuidar um do outro em qualquer situação e parece que só eu estou cumprindo. — Empurrou a tigela de lámen, mostrando-se satisfeito. Kakashi não era dado a despejar suas frustrações em alguém, porém guardara sentimentos demais e precisava se livrar deles. — Estou ficando cansado do silêncio dela, eu já não sei mais o que fazer para me aproximar de Tsuhime. Às vezes eu penso que ela me vê como um incômodo.

— Não diga isso, Kakashi. — Iruka o repreendeu, as sobrancelhas franzidas no rosto amorenado. — Ela precisa de você e sabe que tem feito o possível. As coisas podem não estar indo bem agora, mas irão melhorar, tenho certeza. Só dê a ela mais um tempo, logo ela virá te procurar por notar que não consegue aguentar tudo sozinha. Temos limites, Kakashi. Até os mais fortes precisam se apoiar em alguém.

— Talvez você tenha razão. — O ninja copiador concordou, depositando sobre a mesa o dinheiro da refeição. — Obrigado, Iruka. — O amigo apenas sorriu em resposta e acenou uma última vez antes de seguir o caminho casa.

Enquanto Kakashi se abria com Iruka, Tsuhime tomou um banho e vestiu-se com uma saia preta e blusa de manga comprida vermelha. Não estava frio, porém para ela tornou-se impossível distinguir reações. Ela só conseguia pensar no quão grosseira estava sendo com o marido nos últimos dias e o arrependimento que se instalou tragava-a gradativamente. Devia desculpas, era inegável. No entanto, quase não o via em casa por passar mais tempo no quarto.

Foi para cozinha, colocando a água para ferver e enquanto esperava encostou-se a pia. Tantas coisas acontecendo e ela não sabendo lidar com nenhuma delas de forma racional. Entregara-se ao emocional e se distanciava de Kakashi a cada segundo. Logo agora quando mais precisava dele... Embora quisesse lidar com os próprios sentimentos à sua maneira, sabia que não iria entendê-los se não os contasse a alguém.

Pegou um pacote de chá no armário e despejou água na xícara. Absorveu o perfume e logo se virou, com intenção de ir para sala e esperar pelo marido, porém a figura tão característica de Kabuto parado bem a sua frente à fez perder a força e soltar a xícara, que se destruiu em contato com o chão. Permitiu que ele brincasse com seus cabelos, tamanho a sua surpresa.

— Você está linda, Hime-chan. — Kabuto elogiou, sorrindo para a mulher que o encarava como se fosse uma aberração. — Foram apenas cinco anos e mesmo assim eu não consegui esquecê-la.

— O que está fazendo aqui? — Ela se afastou do contato do ninja médico, como se estivesse recuperando a lucidez. Piscou os olhos diversas vezes, comprovando se a presença de Kabuto fosse real. Ela percebeu que a aparência dele havia mudado.

Kabuto sorriu, escondendo as mãos entre as roupas pesadas e compridas.

— Vim apenas te dar um recado.

— De quem? — O coração batia apreensivo dentro do peito, deixando-a vulnerável. Kabuto podia dizer qualquer coisa, já que ela se encontrava em suas mãos.

— Do seu filho, de quem mais seria? — Ele deu de ombros, impaciente com a forma lenta que Tsuhime processava suas informações. — Ele está bem, não se preocupe.

— Sabe onde Haru está? — Tsuhime deu alguns passos na direção de Kabuto, não se importando se seus pés descalços pisavam nos cacos da xícara. — Por favor, diga-me.

— Eu digo, minha Hime, se aceitar as minhas condições. Quem sabe eu até possa trazê-lo para você.

— O que você quer de mim? — Ela interrogou sem hesitação.

Você.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ter lido, espero que tenha gostado.
Crítica construtiva, sugestões ou dúvidas serão recebidos com muito carinho.
Até quarta!
Beijos.



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