Harukaze escrita por With


Capítulo 28
Capítulo 28


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 28

Porque estou com você

Enquanto o coração tenta fugir das coisas ruins

Eu desaparecerei com tudo enquanto estou ao seu lado

Se estivermos nós dois juntos

Secaremos as lágrimas e seguiremos em direção ao amanhã

Ali, confrontando-a da forma mais covarde que existia, jaziam as perguntas, cujas Tsuhime fugiu durante os cinco anos. Antes de se casar com Kakashi há três, ambos entraram em um acordo: Como Tsuhime se mostrava muito frágil quando o assunto era a origem de Haru, Kakashi havia prometido questioná-la quando estivesse pronta. Porém, depois do que presenciara no filho, tornou-se incapaz de ignorar a curiosidade. Convenhamos, ele já esperara demais e talvez Tsuhime devesse deixar de ser tão egoísta.

Observou-a virar o rosto, escondendo-se de sua inquisição. Não importava o que ela dissesse ou fizesse, naquele dia, embora cansado, ele iria obter respostas. Ele merecia não só por ser o marido de Tsuhime e sim por amá-la. Declarara-se a ela, gesto que nunca havia tomado em sua vida. Segurou-a mais perto, impedindo que ela fugisse como tantas outras vezes.

— Tsuhime, olhe para mim. — Kakashi exigiu, obrigando-a a obedecê-lo. — Não quero ser rude com você. Também não adianta se esquivar porque eu vi o Sharingan nos olhos daquele menino. Eu fui paciente e respeitei o seu tempo, mas já chega. Você precisa me dizer a verdade.

— Não! — Ela afastou-se dele, nervosa e trêmula. O corpo vacilou com a sua repentina atitude. — Ainda não quero conversar sobre isso. Não exija explicações agora, é injusto.

— Injusto? — Kakashi gesticulou, entregando-se aquele sentimento que o corroia a cada segundo: A raiva. Do silêncio dela, da relutância da esposa em deixá-lo participar do seu passado. — Quem está sendo injusta é você, Tsuhime. Não percebe que estou preocupado? Eu não entendo como pode se fechar para mim depois de todos esses anos!

— Você prometeu não contrariar o meu tempo, Kakashi! — Ela alterou a voz, surpreendendo-se ao teor que podia chegar. — E você não está cumprindo com o que me prometeu. Meu coração ainda está machucado demais, eu não consigo!

— Então, eu não fui capaz de curá-lo? — O Hatake lançou a interrogação, vendo que a postura da esposa mudara completamente. Ela o encarava atônita, como se pela primeira vez estivesse realmente levando aquele casamento a sério. E aquela demonstração de desafeto o magoou, bem fundo. — Depois de tudo que te ofereci, nada mudou?

— Não fale assim! — Ela tapou os ouvidos, bloqueando que a voz do marido adentrasse sua mente. — Não me condene! Não tire conclusões a partir do que enxerga! Saber ou não a verdade é irrelevante. Você viveu comigo sem conhecê-la e éramos felizes assim.

— Acontece que o seu silêncio se transformou em um peso. — Kakashi não queria, na verdade agir daquele jeito não era de sua personalidade, contudo pegou-se gritando. A indignação que se instalara dentro dele resolvera sair de uma vez. — Imaginou como estariam se eu não tivesse chegado? Já pensou que isso poderia ter sido evitado se tivesse se aberto comigo antes? Colocou a vida do seu filho em risco por puros caprichos!

E já não lhe importava avaliar se estaria sendo cruel demais, afinal a razão de se comportar daquela maneira devia-se a Tsuhime unicamente. As lágrimas que ela derramava em nada o emocionavam, era como se as emoções houvessem adquirido frieza. A sensação era horrível e uma ferida se abriu, permitindo que tudo o que viera guardando se mesclasse, criando uma personalidade completamente diferente de traços sombrios, de calor frio e coração cortante.

— Já chega! — Tsuhime limpou as lágrimas com gestos rápidos. — Minha cabeça está a mil para sustentar qualquer discussão. Vou ver o meu filho. — Girou nos calcanhares, pronta para sair do clima pesado do quarto, contudo, Kakashi prendeu-lhe o pulso com certa força.

— Nós ainda não terminamos.

Tsuhime desvencilhou-se do contato e continuou o caminho, sendo seguida pelos passos apressados de Kakashi. Adentrou rapidamente o quarto do filho e trancou a porta à chave, logo se encostando a ela. Deixou que a torrente de culpa, mágoa e solidão viessem à tona em forma de um choro ruidoso. Sentia-se extremamente incapaz naquele momento e a cada segundo a mente fazia-lhe questão de lembrá-la o quão fraca fora.

Era a primeira discussão séria que o casal tinha em cinco anos e a intensidade ecoava no íntimo de cada ser. Enquanto se acomodava no chão do quarto de Haru, escutava a voz de Kakashi do outro lado praguejando frases ininteligíveis e logo um soco atingiu a porta, fazendo-lhe estremecer. Irritara-o profundamente, sabia disso e arrependia-se, todavia a situação fugira do controle e era mais do que podia suportar. O emocional encontrava-se em frangalhos e decidiu que passaria o resto da noite refugiada ali, tentando recompô-lo.

(...)

A manhã agraciou-os com um céu cinza, monótono. Embora nenhum dos dois tenha dormido bem à noite, Tsuhime acabou por permanecer no quarto do filho por mais tempo do que deveria. O garoto ainda não acordara e o único som no cômodo era o ressonar cansado e preguiçoso de Haru.

Limpando o rosto, Tsuhime ergueu-se do chão e destrancou a porta, espreitando antes se não se depararia com Kakashi. Apesar de saber que fora tudo o que o marido a intitulara ontem, ela não estava equilibrada o suficiente para encará-lo. Sendo assim, adentrou o quarto que dividia com Kakashi cautelosamente, notando-o vazio. A cama não fora desfeita, indicando que nenhum corpo havia descansado ali.

Por falar em corpo, o seu encontrava-se dolorido. Não quisera incomodar o filho, então terminou dormindo onde estava: No chão. Ao parar de frente para o espelho no banheiro, ela percebeu o quão condoídas estavam suas expressões. Possuía olheiras, o nariz avermelhado e os olhos inchados denunciavam que chorara involuntariamente. Retirou as roupas molhadas de suor do corpo e tomou um banho demorado e morno, esperando que seus músculos pudessem relaxar. Vestiu-se com um vestido de alças finas e que alcançavam suas coxas. Os cabelos ela deixou como estavam: Soltos, o que se tornara a marca dela desde o dia em que Kakashi os elogiara.

E por que tinha que pensar nos momentos felizes logo agora? Ela não queria se ver com ar sonhador depois de ter sido tão infantil. Considerava-se a pior pessoa do mundo, que não merecia ter um homem como Kakashi ao seu lado. E se tivesse recusado o pedido de casamento dele? Será que estaria passando por toda aquela situação que ela mesma criara? Talvez sim, afinal, não haveria ninguém para dar explicações. No entanto, já não conseguia se imaginar sem ele. Muito menos Haru, que estimava Kakashi em todos os sentidos. Seria egoísmo de sua parte privá-lo de ter uma figura masculina como exemplo.

Não, Tsuhime não havia aceitado Kakashi por causa de Haru, longe disso. Ela o aceitara por gostar dele, da forma como ele a tratava, dos horizontes que ele a cada dia renovava a seus olhos. E pensando nisso foi que ela percebeu que nunca, nesses cinco anos, havia dito a ele, exclusivamente, que o amava. Aquilo a entristeceu imensamente, como se um enorme vazio tivesse tragado tudo de bom que ele já teve. Os olhos castanhos marejaram, porém ela deu um jeito de afastar as lágrimas. Chorara o suficiente.

Disposta, abandonou o quarto e rumou para a cozinha, também a encontrando vazia. Não se martirizou, pois esperava que Kakashi não estivesse em casa quando acordasse. Pegou um pacote de chá no armário e colocou a água pra ferver, enquanto esperava lavava as louças e as guardava. O silêncio era um bom companheiro quando a mente não suportaria indagações. Todavia, não durou para sempre.

A porta da frente foi aberta e ela sentiu a ressonância do chakra de Kakashi. Os passos ecoavam pelas paredes, entretanto não avançaram para ela e sim dobraram no corredor. Suspirou, retraindo o corpo pela suspeita. Por que a esperança de que o veria a assolou? Evidente que Kakashi estava chateado com ela, ou pior, irritado. E não era para menos.

Preparou o chá, despejou-o em uma xícara e com ela encaminhou-se para a varanda, sentando-se no piso de madeira. O vento fresco da manhã açoitava-lhe o rosto e ela elevou o olhar ao céu. Naquele dia o sol não conseguiria iluminar, restando por fim a desistência. Assim como ela. Soprou a fumaça do chá e tomou o primeiro gole. Sua mente a questionava a todo segundo. Ela não deveria esperar pelas palavras de Kakashi, e sim dizê-las a ele. Entretanto, por onde começaria? Pelo começo, ela disse irônica consigo. Ótima opção, se ela o soubesse.

Enquanto Tsuhime criava lutas internas, Kakashi adentrara o quarto de Haru e agora o observava. Estava ali por preocupação, embora não negasse querer visualizar no garoto alguém. Sabia que seria muito mais fácil forçar Tsuhime a lhe contar a tentar adivinhar, no entanto vê-la agora ressuscitaria os sentimentos de outrora. Dormira na sala, pensando que a esposa habitava o quarto, e cedo foi caminhar um pouco para espairecer.

Tsunade havia lhe dado dois dias de folga, começando pelo atual, o que Kakashi considerou um erro. Se as coisas estivessem bem, sim, ele poderia curtir a folga com a família e ocupar-se com Haru enquanto a esposa cumpria seus horários no hospital. No entanto, não havia o que fazer.

O clima da casa carregava ambos, desgastando as tentativas de ainda conseguir ter uma conversa mais calma com Tsuhime. E mesmo que ontem tivesse doído vê-la daquele jeito, não rejeitaria os seus direitos. Como afirmara, Tsuhime se comportava de maneira egoísta e injusta com ele e já bastava tanto silêncio, tanta reclusão.

Despertou-se dos devaneios ao ver que Haru acordara, os olhos ônix avermelhados e cansados devido ao dia anterior. De alguma forma aqueles olhos lembravam os próprios em épocas doentias e sublimes, regadas de conquistas e perdas.

— Bom dia, papai. — O garoto afastou as cobertas e sentou-se sonolento, de frente para Kakashi. — Onde a mamãe?

— Não sei. — Respondeu simples e rápido, afagando os cabelos espetados do filho. — O papai tem um pedido a fazer para você.

— Hmm...? — Haru murmurou, como se dissesse que estava ouvindo. O que poderia levar a Kakashi a repetir o que quer que fosse. Exigir algo dele quando acordava seria desgastante.

— Preciso conversar com a sua mãe e seria melhor se você não estivesse em casa.

— Por quê? — A tão esperava pergunta deixou os lábios de Haru, que agora encarava o pai de maneira firme. — Vocês brigaram?

— Estamos com um problema. — Kakashi não achava justo tornar Haru a par, afinal, ele ainda não passava de uma criança. — Pode me ajudar?

— Certo, papai. — Haru concordou, por fim.

Em seguida fez a higiene matinal, trocou de roupa e acompanhou o pai até a casa de Hideki e Souma. Assim que viu os amigos, esqueceu-se do por que estava ali. Despediu-se do pai com um aceno ao longe e com um enorme sorriso.

Feito isso, Kakashi voltou para casa e seguindo a frequência do chakra da esposa, foi ter com ela na varanda. Havia uma xícara vazia ao lado dela e a cabeça descansava na pilastra de madeira. Ela não o olhou quando se sentou ao seu lado, apenas remexeu-se desconfortável. Manteve-se em resguardo, não se importando tanto com a indiferença dela. Iria esperar até que ela começasse a falar, o que não atingiu mais do que cinco minutos depois:

— Eu conheci o pai do Haru quando fui atrás de respostas sobre a morte de Orochimaru. Mesmo com tanta mágoa, eu me importei. O que agora percebo que foi um erro. Tobi, ou pelo menos esse foi o nome com que ele se apresentou, manipulou a minha mente para que eu visse os meus desejos mais íntimos como realidade. Vi o homem que eu acreditei ainda amar e fui incapaz de perceber que tudo não passava de um genjutsu criado pelo Sharingan.

— Talvez desde sempre o objetivo de Tobi fosse subjugar alguém com a genética mais fraca que a dele e que não atrapalhasse seus planos. Em um mês, descobri o que ele havia feito, porém não tinha forma de reverter a minha situação. Eu estava grávida de um Uchiha. Por um tempo eu não conseguia aceitar a minha realidade, pensei várias vezes “Eu não consigo!”, entretanto depois das surras que você leva da vida aprende a ser mais forte. À medida que eu sentia Haru crescendo dentro de mim, um sentimento incomum me dominou.

— Ser mãe sempre foi um dos meus sonhos, e embora Haru não tivesse sido gerado a partir de uma relação estável e amorosa, era impossível voltar atrás. Eu estava rendida àquela criança e tudo que ela significava para mim. Haru veio como a minha salvação, e eu o amo independente de tudo, Kakashi.

— Quando eu estava com um mês e meio de gravidez, anunciei-me a Hokage. Eu sabia que ela te contaria alguma coisa, por isso não te procurei. Na verdade, eu temia a sua reação. O que você pensaria de mim? Toda vez que eu olhava para você, sentia que havia falhado com tudo que um dia estávamos prestes a construir. E você se aproximou, disposto a me aceitar, a nos aceitar com todos os defeitos e falhas, Kakashi. Você curou as maiores feridas da minha alma, e eu te amo.

— Agora você sabe tudo o que aconteceu. Sinto muito por tudo o que causei a você, por ter sido tão egoísta a ponto de me esconder de você, por ter feito você ser alguém que não está acostumado. Obrigada por ser tão carinhoso com meu filho e por nos amar.

Ao final de tudo, Kakashi tentava processar cada informação despejada contra ele sem nenhuma pausa. Entendia os motivos de Tsuhime, porém achava-os tolos. Evidente que ela sentiu-se envergonhada pelos próprios atos por tempo indeciso, entretanto ela já deveria conhecê-lo o suficiente para saber que jamais a julgaria. Cada um possui uma história que o rege, tornando-o especial a sua maneira. E Tsuhime, por todos os erros que cometera, continuaria sendo a pessoa que escolhera para compartilhar o resto de sua vida.

Tocou-lhe a mão, entrelaçando os dedos aos dela. Os olhos acastanhados se fixaram na sintonia entre eles e logo os lábios se renderam em um sorriso. Ela era linda e a amaria em anos incondicionais, essa era a verdade.

— O que acontecerá com Haru? — Tsuhime interagiu, intensificando o contato. — Não quero que nosso filho sofra o mesmo de ontem, nunca mais.

— Irei tomar conta dele, não se preocupe. — Kakashi a tranquilizou. Esgotara-lhe tocar no assunto depois de tudo que tomou conhecimento, por isso cortou a conversa. — Venha aqui. — Trouxe a esposa para perto, dando-lhe um beijo nos lábios, sendo prontamente correspondido.

Talvez ainda estivessem por vir mais alguns obstáculos, porém eles gostavam de pensar que aquela fase havia se encerrado.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Críticas construtivas, sugestões, dúvidas... Tudo será bem vindo.
Até o próximo,
Beijos!



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