Harukaze escrita por With


Capítulo 19
Capítulo 19


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 19


Os fogos de artifício que eu olhei, só

Deram ao meu coração uma dor aguda

Logo agora, a próxima estação

Deve chegar


Olhando-se no espelho, Yatsuki Tsuhime cogitou se Hatake Kakashi realmente estava pensando em convidá-la para ir ao festival. Pelo modo como ele se dirigiu a ela e pelas feições que açoitaram o semblante do ninja copiador, foi como impulso interrompê-lo e se autoconvidar. Agora já não havia como voltar atrás.

Konoha encontrava-se em polvorosa e toda ornamentada, tão linda quando se podia esperar. Barracas, luminárias de várias cores, pessoas devidamente vestidas para aquela comemoração. E ela acompanhara todo o processo pela janela do quarto. Saíra apenas para comprar o seu yukata e alguns adereços discretos para os cabelos, afinal aquele dia seria especial. Diferentes de todos os outros anteriores. Encontrou-se com Sakura e pedira total segredo para a kunoichi médica, não queria que todo o seu esforço se desviasse em camadas de distrações.

E por que estava tão preocupada com a reação de Kakashi?

Parecia que Kakashi sabia o que estava se passando dentro dela, e a oportunidade de abandonar todo o passado e tudo que nele aconteceu foi deveras oportuna. Teria que agradecê-lo por tamanha gentileza. Caminhando de volta para a cama, Tsuhime analisou o yukata vermelha de flores brancas e imaginou se saberia vesti-la corretamente, afinal era a primeira vez que possuía uma peça daquele tipo em seu guarda-roupa. Eu consigo. E foi com esse pensamento que ela começou a se vestir. Logo Kakashi viria buscá-la e não seria adequado deixá-lo esperando.

Ornamentou os cabelos com os adereços, prendendo-os em um elegante coque que ela demorou vinte minutos para se sentir satisfeita com o trabalho que havia feito. Calçou os chinelos novos que combinavam com a roupa e não necessitou se maquiar. Ela gostava de seu rosto da maneira em que se encontrava, porém não resistiu a um leve brilho nos lábios.

Agora, depois de duas horas se preparando, estava finalizada. Observou de todos os ângulos o traje, notando-o impecável. Até que não foi tão difícil... Ela conversou consigo, ajeitando uma mecha que insistia em cair sobre sua testa. Prendeu-a superficialmente, e vendo que ela não havia parado, decidiu deixá-la livre. Não ficara ruim e esperava que não lhe atrapalhasse.

— Você está muito bonita. — A voz de Kakashi a fez sobressaltar, as bochechas imediatamente atingiram uma coloração avermelhada. — Desculpe-me, mas eu bati e parece que não me escutou.

— Não, tudo bem. — Ela sorriu nervosa. — Obrigada. — E, olhando-o de cima a baixo, percebeu que Kakashi não havia se vestido para a ocasião. Aquilo a confundiu. — Por que não está vestido?

— Ah... — Ele pareceu reformular a resposta. — Não é necessário, quase todos os ninjas estarão trajando suas roupas normais, então...

— Não quer ser o único diferente. — Tsuhime concluiu suas palavras. — Não tem problema, você está certo. Eu estou pronta. Vamos?

Lado a lado, ambos dirigiram-se para a saída do quarto. E talvez Tsuhime estivesse imaginando coisas, mas sentia claramente o olhar de Kakashi sobre ela.

(...)

Andavam relativamente perto, chamando a atenção de todos os presentes do festival. Muitos conheciam a fama de Hatake Kakashi, e vendo-o acompanhado por uma mulher era algo de se admirar. Principalmente causou espanto em Gai e em seus alunos — menos Sakura, ela desconfiava que ambos aparecessem juntos no festival —, e a bonita jovem aproveitava a ocasião com um largo sorriso. Havia tempo que Tsuhime não sabia o que era se sentir normal. Porém, aquela sensação de que alguma coisa a perseguia não se dissipara.

— Tudo bem? — Kakashi interrogou ao vê-la pensativa.

— Claro. — Tsuhime sorriu, colocando a mecha solta atrás da orelha. Um sinal evidente de que estava constrangida. — Vamos comprar dango! — Segurou a mão do ninja copiador e saiu arrastando-o entre a multidão. Não fazia sentido persistir naquelas sensações, depois de quatro anos seu pai não iria querê-la de volta.

Kakashi recusou o doce, apenas observou Tsuhime devorá-lo como se nunca tivesse experimentado. E, na verdade, aquela era a primeira vez. Escolheu mais dois, de sabores diversos, e perambulou pelas barracas com Kakashi em seu encalço. Ele deveria estar se recriminando por tê-la convidado, embora mal tivesse terminado a frase tamanho era o seu constrangimento. E vê-la sorrir, transbordando felicidade, aquecia algo dentro dele. Algo que Kakashi não conseguia explicar, contudo a sensação não lhe desagradava.

Avistou Gai acenando para ele e pediu licença a Tsuhime, combinando de se encontrarem minutos depois na barraca de jogos. Enquanto andava sozinha, Tsuhime encantava-se com as coisas diferentes que via. Pareço uma menina de seis anos, ela repreendendo-se, achando graça de si mesma. Não havia culpa se por todos aqueles anos se reclusara, sem participar do convívio social. Comprou uma bebida, que mais tarde tornou-se a comida mais odiável de toda sua vida: Suco de feijão.

Um vento fresco soprou, trazendo às narinas de Tsuhime um perfume característico. Perfume que ela jamais conseguiria esquecer vivesse os anos que fosse. Ele estava impregnado em sua pele, seus pensamentos, seu corpo, coração e alma. Aroma amadeirado... Distinguiu-o, fechando os olhos e aspirando-o. Parece tão perto... E ao abrir os olhos acastanhados, no meio da multidão, um par de óculos escuros a observava. Era impossível saber que sinal eles transmitiam àquela distância, entretanto, Tsuhime tinha suas dúvidas. Encarou-o com a mesma intensidade, decida a não ceder desta vez.

Todavia, como para dissolver seu autocontrole, ela viu uma jovem — aparentemente um ou dois anos mais nova que ela — se aproximar de Shino. Tsuhime estreitou os olhos, constatando o quanto a moça era bonita: Cabelos castanhos, olhos dourados como duas luminárias e vestida elegantemente em um yukata azul-claro. O espaço ao redor de Tsuhime pareceu se contrair, forçando-a a tragar-se para sua realidade. Então, essa é a sua noiva? Agora entendo por que preferiu a ela. É linda e condiz com você. Mas não posso deixar de invejá-la... Deu as costas aos dois, talvez o festival não precisasse terminar naquele momento. E teria terminado se Kakashi não tivesse a encontrado instantes mais tarde.

— Quero que veja uma coisa. — Ele colocou as mãos nos bolsos, despistando a atenção por cima dos ombros de Tsuhime. Não havia justificativa para a expressão condoída na face dela.

As pessoas começaram a se dirigir para a parte sul da vila, animadas e com enormes sorrisos nos lábios, especialmente as crianças. Algumas marcas luminosas tingiram o céu com distintas cores e Tsuhime cancelou os passos e observou admirada a bonita atração. Fogos de artifícios emolduravam figuras no céu, atraindo as pessoas para um espetáculo único. Os olhos não se distanciaram do show de luzes e Kakashi contemplou a mudança de feições, agora um pouco mais alegres.

— É lindo, Kakashi... — Tsuhime murmurou apenas para ele. — Você sabia?

— Sim. E pensei que devesse vê-los com você. — Encarou-a de frente, deixando que o único olho a mostra traduzisse as suas palavras. Kakashi nunca fora dado a indiretas, contudo, aquela foi a melhor opção no momento.

Tsuhime, por sua vez, sentiu a garganta secar. As palavras grudaram-se, formando um bolo congestionado. Abriu os lábios diversas vezes à medida que Kakashi se fazia entender. O brilho que vislumbrou nos olhos negros e a postura do homem a sua frente, bem mais próximo agora, denunciavam-no completamente. Sem disfarces, sem máscaras, sem hesitação. E, instantes depois da declaração, Tsuhime se encontrava ainda sem respostas, entretanto o sorriso que se formava em seus lábios entregavam suas emoções.

— Fico feliz que tenha pensado em mim. — Tsuhime verbalizou envergonhada, retomando a atenção para a queima de fogos. Sentia claramente que Kakashi a observava e mordeu o lábio inferior, impedindo que o sorriso se espalhasse. Ora, que mulher não se engrandecia por ser desejada?

Contudo, seus sentimentos davam inúmeras voltas entre a razão. Contara a Kakashi parte de sua vida, revelou a ele sua origem e mesmo assim ele a queria? Existiam homens capazes de aceitá-la com seus inúmeros defeitos? Existiam homens capazes de enxergar nela algo de bom, de unir-se a uma pessoa que mais entra em conflitos internos do que se segura em autoconfiança? A resposta é sim, existem. E um desses homens compartilhava um momento com ela quando poderia ter escolhido outra mulher. Percebeu, no instante em que o último fogo de artifício explodiu no céu, que ainda não estava completa.

(...)

Seu sangue fervia e odiava admitir que aquele maldito mascarado tivesse razão. Sim, Kabuto a amava e não lhe importava saber desde quando começou a vê-la como mulher, mas sim lhe importava afastá-la de Kakashi antes que os dois se envolvessem. Lógico, ele não queria problemas que comprometessem sua segurança e de Tsuhime — afinal, entrara em um acordo com aquele homem apenas para tê-la de volta —, porém se ela continuasse a deixar que o ninja copiador habitasse o espaço que ainda restava em seu coração, seria quase impossível tirá-la da vista de Kakashi. E isso Kabuto não poderia permitir.

Queria ser o responsável por causar a Tsuhime mais dor e sofrimento, ele saberia onde tocar e o que dizer, ao contrário do mascarado que iria direto ao ponto. Com certeza abalaria as estruturas já fracas de Tsuhime e desmanchariam todo o esforço em poupá-la. Eu preciso agir logo, antes que ele o faça. Kabuto aconselhou-se, vendo como ela ficava bonita sorrindo e imaginou se ainda o manteria se descobrisse o que fizera a Taki. Sim, fora justamente ele que a apunhalou onde mais doía. Nas emoções, nos sentimentos. Fosse como fosse, já havia feito e não poderia voltar atrás.

Konoha encontrava-se movimentada e conseguiu esgueirar-se entre as pessoas até manter-se alguns metros de distância da garota. Eu deveria ter vindo para cá antes, repreendeu-se observando Tsuhime acompanhar Kakashi depois da queima de fogos. Mas não tem problema, nós ainda temos tempo... Minha Hime.

(...)

— Obrigada, Kakashi, foi uma noite maravilhosa. — Tsuhime sorriu em contraste com sua timidez, deixando que Kakashi a desvendasse da forma que entendesse e fosse possível. — Nunca tinha visto algo tão bonito.

Kakashi aproximou-se, segurando o rosto dela entre as mãos e puxando-a, até que seus lábios encobertos pelo pano da máscara se encontrassem com a testa da jovem. Aspirou o perfume dos cabelos negros, faria questão de guardá-lo muito bem e relembrá-lo depois. Receosas, as mãos de Tsuhime repousaram na cintura do ninja copiador e deixou-se apreciar o contato, embora não fosse de todo certo. Você tem que se desprender do passado de uma vez por todas... Fechou os olhos, absorvendo o calor que ele lhe oferecia.

— Um dia eu verei o seu rosto. — Ela expôs seu pensamento em meio ao torpor, inebriada pelo carinho repentino.

— Durma bem. — Kakashi desvencilhou-se da jovem, não respondendo a curiosidade que todos tinham para com sua aparência. Dito isso, o ninja passou a caminhar para as escadarias que davam para o térreo da hospedaria e sumiu ao dobrar a curva que elas faziam.

Tsuhime entrou, retirando os adornos dos cabelos e livrando-os do coque que os submetera. O yukata desprendeu-se de seu corpo e, pelo cansaço, ela não fez questão em dobrá-la. Vestiu-se com a camisola de tecido leve e deitou-se; O sorriso ameaçando torturar-lhe os lábios ao lembrar-se de minutos atrás. Em menos de um dia conseguira perder o homem que amava e no outro possuía a perceptível certeza de que poderia amar outra pessoa. Não tão intensamente, mas amar de novo e ser correspondida. E talvez fosse exatamente disso que ela precisava.

(...)

Ah... Você é tão linda, Hime. Kabuto conversava consigo enquanto observava-a dormir. O leve tecido da camisola marcava o corpo de curvas harmônicas e sensuais, mostrando os braços e uma parte dos seios. Superficialmente a tocou, sentindo psicologicamente a pele macia contra seus dedos. Não se atreveu a sentar na cama, poderia acordá-la e anunciar sua presença agora seria catastrófico. Subiu o olhar, deparando-se com algo diferente na marca que Orochimaru colocara nela e ele conhecia aqueles símbolos. Maldito Kakashi!

Seus músculos se retesaram ao vê-la se mexer e permaneceu imóvel, esperando que ela se acalmasse e o permitisse ficar um pouco mais. Logicamente, Kabuto era inteligente o suficiente para tê-los seguido e poder aproximar-se de Tsuhime enquanto não fosse notado. Espreitá-la de tão perto atiçava seus planos, atiçava-o a dar continuidade aos preparativos ali mesmo, naquele instante. E esta impaciência não condizia com ele. Sempre fora calmo, buscando soluções em meio a contratempos, estranhou-se.

O mascarado tinha razão e isso o irritava, mas não mais do que admitir para si mesmo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Deixe sua dúvida, crítica construtiva, sugestões... Tudo será bem vindo.
Até sexta!
Beijos.



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