Harukaze escrita por With


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Harukaze

Capítulo 14

As memórias implacáveis parecem não ter

Nenhuma intenção de me perdoar

Se eu fechar os olhos, elas só irão crescer ao meu redor e

Manter a distância de você sorrindo

Tantos anos são capazes de mudar alguém? Era o pensamento que assombrava a mente de Shino enquanto analisava Tsuhime de cima a baixo com a expressão mais séria e indiferente que possuía, afinal ele vinha convivendo com aquele semblante durante bastante tempo. A mulher que ele amou não era a mesma já havia muito. Os cabelos mais longos, o corpo mais definido de mulher, os olhos que ele tanto gostara agora possuíam outra cor.

E o que mais o irritava se destacava os batimentos desenfreados de seu coração, quase podia ouvi-los. Não restavam dúvidas de que se agitou ao vê-la, que tinha muitas perguntas a fazer e respostas para reaver, todavia, perante a sua vida agora, tornava-se desnecessário a sua euforia. Ele também já não era o mesmo, conseguira se desprender daqueles tempos em que realmente acreditou que poderia permanecer ao lado de Tsuhime, que ela o amava da mesma forma que ele a amava. Meros pensamentos, completamente enganados.

Oe, Hinata... — Kiba chamou a companheira de time, atraindo a atenção da meiga Hyuuga. Aproximou-se, até ser capaz de alcançar-lhe os ouvidos. — Ela não te lembra alguém?

Hyuuga Hinata apenas assentiu, abstendo-se de dizer qualquer palavra. Ela era discreta o bastante para respeitar a privacidade das pessoas. E o silêncio mortífero instalou-se na sala, nenhum dos presentes ousavam quebrá-lo. A aura que os abraçava era melancólica, exigente e pesada, e Tsuhime decidiu que no momento silêncios eram dispensáveis, afinal eles esperaram muito.

— Precisamos conversar. — Tsuhime verbalizou, sentindo as mãos gélidas e suadas. Tantas sensações a dominavam que ela mal sabia como comandá-las.

— Parece que sim. — Foi tudo o que Shino respondeu, evitando prender-se na mulher a sua frente. Seu corpo e sentimentos o traíam descaradamente. — Você me deve isso.

— Eu sei. — A jovem sorriu triste. A coragem esvaindo como fumaça, os pensamentos se entrelaçando em um único ponto. Finalmente ela iria contar o que Shino sempre quis saber, porém temia o que ele também tinha para confessar. — Podemos nos encontrar mais tarde, se quiser.

Shino apenas concordou com um gesto de cabeça e Tsuhime avançou, passando por eles e deixando que terminassem o trabalho. Privá-lo-ia de tolerar a sua presença por mais algumas — longas — horas. Sabia que o simples fato de ter voltado irritava o Aburame, e não era apenas isso: Teria que ser sincera, dizer por quais motivos fora embora sem dá-lo a chance de fazer algo por ela. Seja o que fosse. Mesmo que fosse difícil, seguiria o conselho de Tsunade, entretanto, ela não estava preparada para escutar um não. Preparara-se para muitas coisas, diversas ocasiões, menos para uma rejeição.

Desejando tranquilizar-se, Tsuhime voltou para o quarto alugado. Não era de seu interesse esperar amargamente o chamado de Shino, imaginando mil e uma possibilidades de uma reconciliação. Eu o amo, mas e ele? Será que sente o mesmo por mim? Foi o que ela se perguntou ao abrir a porta e encostar-se nela. Não fazia sentido torturar-se com tais hipóteses, afinal, não iria conseguir nada dela além de mais dúvidas.

(...)

A tarde chegara a um ritmo acelerado, muito diferente de uma tarde habitual. Não sabia se era por causa da primavera ou por sua própria ansiedade. Aburame Shino conhecia bem o paradeiro de Tsuhime, poderia confrontá-la agora se quisesse. Se quisesse... Na verdade, esse encontro era um dos seus desejos mais profundos.

Quando ela fora embora, não havia sido surpresa para ele. Alguma coisa, uma aura diferente, pairava sobre Tsuhime e ele deveria ter imaginado que a qualquer momento o que viviam não duraria por muito mais tempo. Ele se lembrava de cada cena que dividiram, desde o primeiro encontro no hospital até o dia em que se separaram. Foram memórias insistentes, que sempre povoavam seus pensamentos a qualquer hora, sem qualquer permissão.

Por dois anos, Shino aguardou por alguma notícia. Contudo, parecia que as notícias, assim como Tsuhime, nunca eram direcionadas a ele. Embora soubesse que não deveria continuar vivendo agarrado a memórias e passado distantes, ele recusava-se a abrir mão dela. Até aquele dia, em especial. Talvez devesse contar a Tsuhime o homem que se tornara nesses últimos anos, ou talvez apenas enganá-la, dizendo-lhe mentiras. Qual das opções a agradaria mais? Shino não queria destruir o sentimento que havia entre eles, que mesmo depois de muitos anos de silêncio, ainda encontrava-se alojado dentro deles, porém, por outro lado, ele não podia simplesmente aceitá-la de braços abertos.

Transformara-se em um homem calculista, afinal, várias pessoas se entrelaçavam nessa situação. Não pensaria apenas por ele, seria um egoísmo que não lhe condizia. Todavia, ele sabia que no fundo de seu coração jamais amaria outra pessoa que não fosse Tsuhime. O amor entre eles surgira espontâneo, nítido. E apesar da não convivência, continuava crescendo mesmo agora.

Mesmo agora... Ele repetiu sua reflexão, optando por, enfim, vestir-se e adiantar o que esperaram. Queria conhecer a verdadeira personalidade de Tsuhime, aquela que ela havia se tornado agora. Desejava ver o mesmo brilho de antes nos olhos dela e ansiava por ouvi-la dizer seus motivos, seus argumentos.

— Shino, irá sair agora? — Shibi, seu pai, interceptou quando o filho estava prestes a passar pelos portões. Um teor preocupado imperava na voz do Aburame.

— Sim, eu não irei demorar.

— Esteja aqui antes das sete. — Shibi apenas avisou e permitiu que o filho seguisse com o que tinha que fazer.

E não demorou mais do que vinte minutos para Shino encontrar-se na hospedaria que Tsuhime estava. Era possível sentir a presença marcante, ele jamais se esqueceria daquele chakra. O recepcionista o cumprimentou, oferecendo gentileza, porém Shino recusou alegando saber onde deveria ir. O recepcionista não discutiu e voltou a folhear um livro de capa verde, muito conhecido por um distinto ninja.

As escadarias o levaram rapidamente ao andar dos quartos e a frequência do chakra dela ficava mais forte à medida que avançava. Por que ele hesitava tanto? Apesar da aparente calma que demonstrava, por dentro o Aburame disputava entre manter o controle ou ceder a ansiedade. Ele nunca fora de se alterar ou deixar que sentimentos o atrapalhassem, no entanto, a força com que eles o dominavam era demais até mesmo para Shino. Rendeu-se, parando de frente para uma porta com o número 720 talhado na madeira. Anunciou sua chegada com uma leve batida.

Podia-se ouvir alguns barulhos vindos do outro lado, de dentro do cômodo. Algo se confrontou com o chão e um resmungo soou mais perto. Ela está vindo, Shino conversava consigo. Os segundos que aguardou pareceram infinitos, até que finalmente a porta se abriu, revelando a figura de Tsuhime. No semblante dela existiam confusão e nervosismo, não distinguido do seu.

— Shino...? Como me encontrou? — E a confusão que ela sentia transformou-se em uma frase de teor receoso. Porém, Shino apenas apontou para uma parte de seu corpo e ela pôde ver um pequeno inseto rosado caminhando em seu ombro. — Eu deveria ter imaginado.

— Eu posso entrar?

Tsuhime deu passagem a Shino. Por mais que tentasse se manter firme diante dele, ela sabia que seria inútil. Se ele ainda continuasse o mesmo, então ela também seria o mesmo livro aberto para ele de quatro anos atrás. Fechou a porta, permanecendo de costas para Shino. Estava nervosa, isso era um fato indiscutível. E eu pensando que seria mais forte, Tsuhime reclamou, dando a atenção que ele tanto exigia.

— Se preferir, podemos ir a outro lugar. — Tsuhime sugeriu, passando por Shino e pegando do chão o que derrubara: A caixa que Taki lhe dera. Estava com ela nas mãos quando ouviu a batida na porta. Espero que não tenha danificado. Colocou-a na mesa, segura.

— Aqui está ótimo. — Ele negou convicto, pelo modo que falava não adiantaria desconversar. — Você demorou muito para voltar.

— E você sempre direto. — Ela comentou, os braços abraçando o próprio corpo enquanto caminhava pelo quarto e aproximava-se da janela. Nesse trajeto, os olhos de Shino pesaram sobre ela. — É verdade, Shino, eu demorei muito para voltar. Agora, estou aqui, disposta a responder o que você quiser.

— Por que mentiu para mim? Por que escondeu todas as coisas quando sabia que eu estava do seu lado? — A postura indiferente, mãos nos bolsos e rosto coberto pelas roupas davam-lhe um ar intimidador. Entretanto, ali não existia nada mais além de um homem exigindo qualquer desculpa para evitar que sua mente se martirizasse. — Faz ideia do que eu senti quando vi que você não estava mais aqui? Que talvez não voltasse?

Tsuhime fechou os olhos, absorvendo o impacto daquelas palavras. Shino tinha razão em dizer que fora egoísta, mesmo que não expressamente. Enquanto raciocinava, o Aburame observava em como a respiração dela se alterara com tão pouco. Não importa se você não é mais aquela garota que eu conheci, ainda consigo lê-la perfeitamente.

— Eu não queria envolver você. — As primeiras explicações, mais precisamente o começo delas, causaram um misto de alívio e nervosismo em Tsuhime. Confessar-se para Shino certamente a livrariam de um grande peso. — Não queria que fizesse parte dos meus problemas, da vida miserável que eu levava. Acha que eu quis deixar você? Acha que, se existisse outra maneira, eu não teria feito? Eu apenas te protegi da forma que eu podia. — Os olhos se abriram devagar, vendo que Shino não desviara a atenção dela nem por um minuto. — Foi difícil para mim também, acredite. Quando eu estava na escuridão, você era a única pessoa que me fazia não ter medo. Eu aguentei tudo apenas para poder te ver de novo, Shino. Sinto muito se magoei você, não foi minha intenção.

— Do que você alega ter me protegido? — Aburame Shino deu um passo, que Tsuhime não fez questão de se afastar. — Durante quatro anos, nada me atingiu. Nada veio atrás de mim, a não ser as lembranças. Você tentava me proteger quando eu tinha todos os momentos que passamos juntos, atormentando meus pensamentos dia e noite? Eu não preciso desse tipo de proteção!

— Eu sei que agi errado, e você não precisa me perdoar! Na verdade, não estou pedindo para que me perdoe, apenas para que me entenda. — Tsuhime sentia a ardência das lágrimas incendiando-lhe os olhos. — Se eu não o inseri na minha vida antes, foi porque eu te amava. E se eu estou te contando isso agora, depois de tanto tempo, é porque te amo. Desde o dia em que você entrou naquele quarto de hospital. Se eu também abri mão de um futuro com você, foi pelo mesmo motivo. Sempre foi pelo mesmo motivo, Shino. E não tenho o direito de exigir nada de você, afinal, fui eu quem me afastei. Você não precisa mentir para mim. Sei que há algo que deseja me contar.

Shino calou-se por alguns momentos, absorvendo tudo que Tsuhime despejou contra ele da maneira mais verdadeira que tivera a oportunidade de presenciar. E ele queria dizer que a entendia, que a perdoava, que estava disposto a traçar um futuro que não puderam antes. Entretanto, a realidade não era simples. A realidade não mudaria com palavras, nunca. Sei que há algo que deseja me contar, Tsuhime estava certa. Ele tinha muitas coisas para dizer, porém jamais revelaria que se arrependeria para sempre.

— Eu tenho uma noiva. — Ele desferiu a verdade pausadamente, para que Tsuhime escutasse. Shino acompanhou cada mudança na feição da jovem, sentindo-se quebrar por dentro. — Vou me casar no próximo verão.

E foi como se seu coração tivesse se esquecido de como bombeava. As batidas pararam e os olhos encheram-se de lágrimas tristes e abundantes, nublando-lhe completamente a visão de Tsuhime. Então, essa era a verdade por trás da hesitação da Hokage? Esse era o medo que lhe estampara o rosto ao perguntar por ele? Como Tsuhime nunca cogitou tal possibilidade? Seus pensamentos sempre estiveram voltados para um futuro desejado, onde seus pecados seriam perdoados e retomaria o rumo de sua parada. Entretanto, as palavras de Shino destruíram todos os seus sonhos, todas as expectativas que ela sabia que não deveria ter. Via seus planos se esvaindo diante de seus olhos, e aquilo lhe causava uma dor que Tsuhime nunca poderia descrever em palavras.

— Como? — Tsuhime piscou nervosamente os olhos, incrédula do que acabara de escutar. — Uma noiva? E vai se casar?

— Isso mesmo. — Shino foi categórico, não havia motivos para esconder a verdade dela. Mais dias ou menos dias Tsuhime o veria com a mulher que escolhera para compartilhar o resto de sua vida.

— Então, eu perdi você para sempre? — Quando se deu conta, a pergunta já havia sido feita. Irreversível, receosa e triste. — Shino, eu não estou pronta para te deixar ir. Na verdade, eu não quero que você vá. — As lágrimas que ela tentou segurou, agora escorriam por seu bonito rosto. — Eu am...?

— Eu também não estava pronto, mas mesmo assim deixei que você fosse. Então, assim como eu, você pode me libertar. — Shino interrompeu-a antes que ela falasse as três palavras novamente. — Depois de certo tempo passa a ser um leve desconforto. Você viveu quatro anos sem mim, qual a diferença de viver um pouco mais?

Tsuhime não rebateu a afronta como Shino gostaria, pelo contrário. Ela fez algo que na atual situação seria considerada imprópria. Do jeito que se encontrava, em pedaços ou não, ela caminhou até ele e o abraçou. Um abraço com calor de despedida, que Shino quase se recusou a retribuir. O corpo feminino tremia contra o seu rígido e sem reação. O Aburame sabia que, se pudesse, Tsuhime pediria mais, contudo era como se ela tivesse entendido. Aceitado, assim, sem lutar por eles. Repousou as mãos na cintura fina, lutando contra a vontade de abraçá-la tão forte como ela fazia, tentado a corresponder ao afeto da única mulher que ele amaria em toda sua vida.

— Sinto muito por não ser eu a estar com você. — Foi o que a jovem disse, depositando um beijo amigável no rosto de Shino e desfez o abraço, voltando a ter uma distância segura dele. Já fora impulsiva o suficiente. — Acho que não preciso desejar que seja feliz. — Tsuhime formulou mais para desejar a ele, mas o que viesse a falar a partir de agora soaria altamente ressentido e invejado. Então, apenas sorriu e preferiu encerrar a conversa, dirigindo-se para o quarto.

Já não havia mais o que discutir se Shino agora pertencia à outra pessoa. Se o amor dele já não era mais seu há muito tempo. Enquanto sentava-se na cama, Tsuhime escutou o som da porta se fechando. Agora é a minha vez de vê-lo me deixando para trás. Tendo a certeza de que finalmente encontrava-se sozinha, ela permitiu-se chorar.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ler, espero que tenha gostado.
Qualquer dúvida, crítica construtiva, sugestões... Tudo será bem vindo.
Até segunda!
Beijos.



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