inCOMPLETO escrita por Lorenzo


Capítulo 11
Inocência


Notas iniciais do capítulo

(realmente me sinto envergonhado) Perdão pela demora. Novamente.



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Ter. 12.06.2012

Eu estou num daqueles momentos críticos. Tia Jaque continua a mesma, porém cada vez mais abatida. Penso que ela acredite que eu seja algum demente ou algo similar para não notar o quanto ela emagreceu tão repentinamente, sua pele está cada vez mais branca, suas olheiras estão acentuadíssimas. Eu sinto pena dela. Eu gostaria de poder ajuda-la mas, na verdade, acho que meu orgulho é maior. Só não sei até quando posso me dar este privilégio.

– Posso entrar? – ela coloca parte de sua cabeça na porta e já posso sentir seu cheiro: um perfume antigo que tio Alfredo gostava muito.

Eu resolvo ser delicado. Ao menos tento.

– Claro, tia. – seu sorriso ao ouvir minhas palavras me ilumina e por um segundo me sinto bem. Me sinto bem como a tempos não consigo me sentir.

– Eu preciso dar uma saidinha, meu bem. Deixei uma tigela de salada de frutas na mesa e... Na verdade, deixei duas. Tomei a liberdade de chamar Juan para te fazer companhia.

– Ele chegou? – pergunto olhando em seus olhos tristonhos.

– Ainda não. Deixarei a chave contigo – ela coloca o molho de chaves sobre o livro no meu colo – para que você possa abrir assim que ele chegar. Tudo bem?

– Tudo sim, tia...

Uma buzina toca do lado de fora e tia Jaque se assusta, andando a passos rápidos para a janela e abrindo um pequeno espaço na persiana com seus dedos, para que só ela possa ver.

– Eu já vou indo, meu amor. Qualquer coisa, me ligue...

– Tia. – a interrompo – Preciso te perguntar uma coisa.

Ela para. Ainda de costas diz:

– Diga.

– O que está acontecendo? – espero que ela vire e me encare, mas percebo apenas que ela baixa a cabeça e olha para o chão.

– Tudo ficará bem. Tudo ficará bem... – ela caminha a passos lentos em direção a porta.

. . .

Ante que Juan chegasse resolvi tentar arrumar o quarto, porém em vão. Não consigo catar nada que cai no chão (por motivos óbvios) e em geral acabo deixando muitas coisas caírem das minhas mãos. É complicado segurar alguns objetos, principalmente esféricos e se forem grandes é ainda pior.

. . .

Estamos comendo nossa salada de frutas – todas elas muito bem selecionadas por minha tia – e sequer paramos para conversar um pouco. Acho que Juan ainda está um pouco chateado comigo, porém ainda não tive coragem o suficiente para pedir desculpas. Acho que sou um pouco orgulhoso.

– Emilly queria vir. – ele diz de forma indiferente. Meu coração salta, mas no segundo seguinte já está tudo bem.

– Ah sim.

– O que está acontecendo contigo? – Juan afasta a sua tigela e me encara.

– Nada. Só achei que você estivesse chateado ou algo assim. – Volto meu olhar diretamente a minha salada de frutas. Meu cotovelo está apoiado na mesa e faço do meu braço uma alavanca. Sei que qualquer um que entenda de regras de etiqueta me julgaria muito mal por me ver comer dessa forma, mas aposto que me veriam ainda pior se soubessem toda sujeira que faço – e mal conseguindo comer – se não apoiar meu cotovelo na mesa.

–E estou. Mas quero entender o SEU lado. A amizade é uma via de mão dupla. – a forma como ele é enfático é assustadora.

Sim, é uma via de mão dupla. Mas como posso dividir tudo o que acontece comigo se não posso ter certeza de absolutamente nada? É impossível basear uma amizade em conjecturas.

– As coisas por aqui estão meio estranhas. Você sabe. – ele parece não acreditar em mim.

– Sim? – sua expressão interrogativa me irrita.

– Tia Jaque... Ela está mudada. Ela está cheia de segredos e... – começo a falar tudo o que vem acontecendo ultimamente. Juan apenas escuta e parece estar realmente interessado no que digo. Agora eu sei como é ser ouvido.

– O que você acha que pode estar acontecendo com ela? – Juan parece um médico ou qualquer profissional na área. Soa interessado e ao mesmo tempo não demonstra desespero. Somos muito diferentes neste ponto.

– Eu não sei. Temo ela estar morrendo. Não quero que ela morra, Juan. Eu REALMENTE não quero. Eu amo minha tia, mesmo ela estando assim tão estranha comigo.

– E se algo acontecer com ela, o que você fará?

Eu já havia me confrontado com esta pergunta milhões de vezes. No fundo eu sabia a resposta, ela implorava para sair da minha boca: Eu me mato. Estar sozinho no mundo seria pior que a morte. Sem tia Jaque eu já estaria morto, mesmo que meu coração continuasse batendo.

Juan me encara e percebo que ele também sabe o que eu faria.

– Você não fará nada assim. Eu não vou permitir. – ele soa firme. Eu gostaria de possuir metade desta firmeza.

– Falta de coragem não me impediria – deixo meus pulsos em evidência, e vejo sua imediata expressão de terror.

COVARDE; ÓRFÃO; INCAPAZ; DOENTE; COXO; INÚTIL – se lia em meus pulsos.

– Sou eu quem não vai deixar. – ele diz numa atitude quase paterna.

. . .

Juan já foi embora a algumas horas e esperei tia Jaque chegar para tomar banho e ir para cama. É um pouco deprimente depender tanto de alguém que você não sabe se viverá mais alguns anos. O problema em perder tia Jaque não está apenas em perder sua ajuda e cuidados, o problema real em perdê-la é que junto com ela eu perco minha maior e mais importante referência de amor. Seria como perder minha mãe. De novo.

– Eu quero saber o que está acontecendo contigo. – digo num surto insano de coragem assustadora.

Tia Jaque me beija na testa.

– Se você soubesse apenas a metade iria aprender o que é o ódio. – ela respira fundo – Não se arrisque a sentir algo assim, meu bem. Boa noite.


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Notas finais do capítulo

Lembra da nota do capítulo dez? Então, vou cumprir com ela. Não deixarei de postar inCOMPLETO e de forma alguma permitirei que esta história morra! (:

Perdão, novamente, pela demora! ):

Eu gostaria de aproveitar a oportunidade para divulgar nossa pequena página no Facebook e espero que vocês aprovem a ideia!
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