Sherlock Holmes e a Expedição Perdida escrita por Carol Stark


Capítulo 10
Uma Frase Sutil




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/585439/chapter/10

Na manhã seguinte...

– Não, Sr. Holmes, eu realmente não compreendo o que aquele índio quer! – Estella confessou enquanto conversavam reunidos no quarto de Estella para evitarem olhares curiosos.

Watson olhou de relance para o amigo que falou de forma investigativa:

– Hum, realmente não compreende, Estella? Você parecia conhecer bem aquele índio. Como era mesmo o nome dele? (...) – Sherlock deu uma breve pausa fingindo esquecimento – Raoni, certo?

– Mas eu já lhe disse, Sr. Holmes, não sei o que ele pode querer comigo. – Estella olhou para Watson pedindo uma quase imperceptível compreensão – O que sei é que meu marido, George, o líder da expedição perdida, está morto!

Holmes cerrou os olhos, austero. Estella continuou:

– O que sei é o que lhes disse no dia em que aquele velho índio foi ameaçado... No dia em que me apresentei a vocês. – Ela retomou brevemente a história – Conheço a tribo porque meu marido salvou um dos índios de uma onça. Passamos a frequentar este lugar e... E em uma das vindas para cá, há meses atrás, trouxemos nossa-- - Estella interrompeu-se.

– Sua filha. – Watson pronunciou baixo lembrando-se do relato do Sr. Borges, dono da Hospedaria sobre o louco homem que o ameaçou perguntando sobre a tal tribo.

Rita, que sentara perto da mulher, tocou-a de leve e incentivou-a a continuar.

– Exatamente... Watson - Estella suspirou engolindo a angústia e seus olhos se tornaram úmidos. Concluiu olhando para o doutor e para o detetive.

– Sentimos muito, Estella, pela sua perda. Soubemos deste acontecimento através de-- - Sherlock omitiu o Sr. Borges – algumas testemunhas.

– O que sabem sobre isto?! – A mulher perguntou levemente espantada com os olhos vermelhos ao lembrar-se da sua doce Bárbara.

Todos ficaram em silêncio. Estella repetiu a pergunta encarando Watson.

– Vamos, digam-me, como sabem sobre isto?

– Bem, nós precisávamos de pistas para descobrir porque o Marcos Ribeiro ameaçou o índio e... – Watson começou incerto.

– E encontramos uma pessoa que nos ouviu conversar sobre como poderíamos ajudar este povo, então se apresentou para nós e contou-nos que algo parecido aconteceu há dez meses. – Sherlock continuou. Estella os ouvia com atenção.

– Na verdad, descobrimos que otra persona também buscava informações com os indígenas, Estella. – Rita tomou a palavra – Y esta persona era George, seu marido.

– Como?! O que estão dizendo?!

– Dez meses atrás, seu marido voltou aqui enlouquecido em busca de alguma cura para a doença de sua filha, Bárbara, que morreu aqui nestas terras. – Sherlock resumiu e percebeu o olhar assustado de Estella ao ter ouvido o nome da filha.

– Desculpe-nos por envolvê-la nisto, Estella. – Watson falou.

– Eu já estou envolvida. E não sei como me separar disto! – Estella levou as mãos ao rosto. – Bem, a única coisa que posso dizer-lhes, é o que sei... E, e o índio, Raoni me falou que posso ajudá-los; que sou a única que pode ajude-los... Só não compreendo como.

– Conte-nos mais sobre lo que sabes. – Rita pediu pacientemente.

Estella levantou a vista para o trio e com um suspiro começou a falar:

– Houve um dia já depois da morte de Bárbara que, em nossa cidade ao sul do país, em nossa casa, tudo estava aparentemente normal, suportável, exceto George. Meu marido mostrava-se incontrolado depois da morte de nossa filha, mas até então eu pensei que podia acalmá-lo... – Estella relembrava.

– Ou controlá-lo, você quer dizer. – Sherlock murmurou ao relembrar o relato do Sr. Borges. A mulher continuou:

– George mostrava-se agressivo e com a ideia fixa de encontrar a cura para a doença que nos levou nossa Bárbara. Na verdade, eu o dizia que não a traríamos de volta e que aquele seria o momento de nos apoiarmos um no outro-- - Estella recompôs a voz que ficava embargada – Dizia a ele que juntos afastaríamos a nossa dor (...).

Rita suspirou segurando uma das mãos de Sherlock enquanto Estella revivia o tal dia.

– George, – continuou Estella – como já lhes disse, era caçador, mas uma de suas grandes paixões era a ciência e tornou-se também cientista. Depois que Bárbara se foi, ele passava horas e horas em seu pequeno laboratório e cada vez que saía de lá parecia mais transtornado, transformado. Até que em uma noite uniu os seus amigos cientistas e caçadores e rumaram para cá. Tentei impedi-lo de cometer esta insanidade revivendo a morte de... Bárbara... Mas... – Estella não mais segurava as lágrimas ao pensar na filha – Mas ele não me deu ouvidos e me empurrou violentamente.

Watson franziu o cenho tornando sua face rígida enquanto encarava a bela Estella. Sherlock e Rita se entreolharam.

– E depois disto você nunca mais o viu. – Sherlock concluiu.

– Exatamente, detetive. – Estella confirmou – Nunca mais soube do meu marido até ter recebido a informação do desaparecimento do grupo de expedição que ele liderava.

– O grupo sabia das verdadeiras intenções dele, Estella? – Watson questionou.

– Não sei, Watson. Não percebi nada... – Estella calou-se no meio da frase puxando pela memória algum acontecimento referente ao conhecimento do grupo.

– Do que pretende lembrar, Estella? – Rita interrompeu os pensamentos da mulher.

– Tenho a impressão de ter ouvido George comentando com um de seus amigos sobre superar e fugir do mundo (...).

– Estella, por favor, feche seus olhos. – Sherlock pediu sem rodeios ou floreios.

A mulher olhou para o detetive sem compreender o motivo para tal coisa.

– Não acho que seja necessário. – Estella respondeu decidida.

– Estella Lavoie, pedirei novamente: feche os olhos. Precisamos saber do que você se lembra. Pode haver alguma sutil informação altamente importante para mim.

Estella olhou para Rita que meneou a cabeça positivamente e em seguida para Watson que falou:

– Vamos, Estella. Sei que o Sherlock não é a pessoa mais simpática e amigável deste quarto, mas se não confia nele, confie em mim. – Watson após ter dito as últimas palavras, rapidamente repensou:

– E em Rita.

Estella o observou compassiva sorrindo levemente para em seguida fechar os olhos como havia pedido Sherlock Holmes.

– Agora, Estella – começou o detetive com seu tom de voz mais suave – relaxe seu corpo e seu pensamento...

O aposento era todo silêncio.

– ...Respire e expire lentamente. – Sherlock pontuou a última palavra – Ouça apenas sua respiração e concentre-se nela.

Os três a observavam atentos esperando que a mulher conseguisse lembrar o que disse ter ouvido do marido. Ela relaxara e compenetrava-se em seu âmago.

Holmes continuou:

– Imagine-se em um vazio... Em um vácuo... E agora seus pensamentos se elevam com você, flutuando em nuvens leves e tranquilas...

Sherlock calou-se por um breve minuto e Rita sussurrou em seu ouvido:

– Crees que ela vai se lembrar de alguna cosa?

– Espero que sim. – Respondeu Holmes.

Então, com os cenhos franzidos, Estella abriu os olhos de súbito e de cabeça baixa, mirou o chão com os olhos agitados. Pareceu assustada e transtornada.

– Diga-nos do que lembrou-se, Estella. – Watson pediu-a inclinando-se para ela.

Olhando de Watson para Sherlock, Estella respondeu:

– Eu estava escondida olhando por sobre o janelão da sala para o terraço de nossa casa... Eu, eu vi quando um dos amigos de George chegou informando que os preparativos para a viagem estavam prontos. George agradeceu e falou que precisava deste tempo para superar a morte de nossa filha e falou algo como pensar em como viver sem ela. Isso. Ele queria fugir do mundo.

– Ótimo, Estella! – Watson a parabenizou tocando de leve sua mão. Ela continou:

– Lembro-me que até então eu não me conformei em George me deixa sozinha... – seus olhos lacrimejaram – Mas é o que vou dizer-lhes agora que acho que será o mais importante para vocês: eles, George e seu amigo, se cumprimentaram e ao dar as costas, George sorriu enviesado. Era um riso irônico. Pelo que eu conheço... Ou melhor, conhecia do meu marido, ele não estava sendo sincero...

– Um riso irônico... – Repetiu Sherlock – De fato, Estella esta foi a parte que deveríamos realmente saber. Muito obrigado por ter confiado em nós.

– Não tem que agradecer, detetive Holmes. – Estella parecia mais confiante para com Sherlock, o que ele logo percebeu agradecendo mentalmente ao seu amigo, Watson, por isso.

– Bom, - Sherlock levantou-se – pelo que vejo temos mais o que desvendar.

Todos se levantaram em seguida cumprimentando-se e logo Rita dirigiu-se à porta juntamente com o detetive. Watson, ao encaminhar-se, sentiu pequenas mãos segurar-lhe o braço.

– Watson, - falou mais baixo Estella ao fazê-lo virar-se para ela – obrigada... Obrigada por me ajudar e por acreditar em mim. – Ela falava com certa urgência. Sentia-se nervosa ao encarar o doutor. E o abraçou de súbito.

Ele, por sua vez, não retribuiu imediatamente o ato desesperado daquela mulher sensibilizada. Estella enxergara em Watson um foco de confiança, uma proteção, um porto seguro e preocupava-se em demonstrar sua gratidão.

Passados rápidos segundos, Watson a abraçou compreendendo os sentimentos angustiados e mistos daquela bela mulher e sentiu-a sem fôlego. Foi então quando ela sussurrou ainda abraçada a ele:

– George está morto, Watson. Para mim.

Watson afastou-se dela olhando-a nos olhos que não sustentou o ato por muito tempo abaixando a vista.

– Não tem que agradecer. – Watson respondeu austero e pensativo retirando-se do aposento.

O Dr. seguia a passos pesados pelo corredor da Hospedaria pensando sobre o quê exatamente aquilo queria dizer. O perigo poderia ser bem maior do que eles estavam imaginando e “lutar” com o que não se tem total conhecimento, não é nada bom.

As preocupação do Dr., que estavam quase palpáveis, foram interrompidas:

– Onde você estava, meu caro? – Sherlock inquiriu com uma sobrancelha arqueada enquanto dobrava para o outro corredor que daria para os seus quartos.

– Estella. – Foi apenas o que Watson respondeu – Onde está a Rita?

– Ela desceu, disse que iria comer alguma coisa e conversar um pouco.

– Certo, eu--

– Sim. Eu sei que você precisa conversar e eu preciso saber o que Estella lhe falou. – Holmes percebeu.

Watson arregalou os olhos para o amigo.

– Como sabe que tenho algo a dizer, homem?

– Você entrega seus pensamentos, Watson. A forma como olha para trás, em direção ao quarto de Estella Lavoie, seu rosto não está calmo como de costume, você está falando mais baixo que o normal e parece-me muito pensativo, o que não é tanto de seu costume... Pensar, quero dizer. Além de que, na verdade, percebo uma maior confiança da parte dela para você – O detetive declarou em tom soberbo e sutilmente divertido – Cuidado, caro Watson. – Falou desta vez mais sério.

Watson pôs sua bengala de boa e lustrosa madeira na frente do amigo que caminhava o que o fez topar e bufar impaciente.

– Vamos, não creio que é hora para me subestimar, Holmes. Você deve admitir que sempre precisa de mim. – Watson deu uma pausa – Estella me falou uma única frase; muito instigante e sutil, posso dizer. E é sobre isso que devemos conversar. – Olhando para os lados, continuou:

– Agora!

***

A sutileza das palavras

acontece quando permitimos.

São marcas muitas vezes escondidas

na escuridão de nosso sótão

ou na luz de nossas almas...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam? O que Estella quis dizer quando estava só com Watson?... :3
#Sutilezas
#Enigmas

Vamos aos comentários?! >>>>



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sherlock Holmes e a Expedição Perdida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.