Dois Quartos de Vinho escrita por Ninguém


Capítulo 41
Ao entardecer


Notas iniciais do capítulo

Olá, querido leitor. Seja bem vindo! Puxe uma cadeira ou deite no sofá, tome um chá ou coma uma pipoca. Enfim, sinta-se a vontade e tenha uma ótima leitura.



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Ao entardecer o céu estava tão limpo quanto nos dias de verão, mas isso não era o suficiente para alegrar o coração na jovem que sentia a aproximação de um temporal em sua alma. Há dias sentia-se assim e, antes que fosse tarde, sabia que devia tomar alguma providência.

Chegou em seu apartamento, deixou sua bolsa na sala e os saltos no corredor; foi direto tomar um banho que durou menos do que gostaria. Ainda de lingerie, deitou em sua cama junto a Rumpel, mas viu que o vazio que sentia tardaria a passar. Infeliz, não gostou da conclusão que chegou para livrar-lhe do amargo que carregava, mas, relutante, levantou-se e pegou seu celular. Quatro toques para ouvir a voz que esperava.

— Milady? – A voz de Elídio estava rouca.

— Te acordei?

— Acordou, mas vale apena acordar e ouvir sua voz - Frase que arrancou um sorriso tímido da jovem.

— Tenho um convite pra você.

— Para onde?

— Isso não importa. Se arruma, pega dois cobertores e dois travesseiros que em vinte minutos eu tô chegando – Desligou sem dar direito a replica.

Foi até seu guarda roupa e escolheu um vestido de renda amarela que ainda estava com a etiqueta. Na cozinha, pegou uma garrafa de vinho, duas taças e um pote de sorvete, parou diante da porta, mas não a abriu, pensou por mais alguns segundos, não se convencendo se isso iria mesmo melhorar a solidão que sentia.

Assim que estacionou diante da conhecida casa azul, buzinou duas vezes e saiu do carro em direção ao portão. O homem não demorou a aparecer, desceu rapidamente a pequena escada e abriu o portão para sua visita. A morena pulou em seu colo, surpreendendo-o com um beijo cálido que quase derrubou-o no chão, mas, sem pensar muito e ainda com a jovem em seus braços, Elídio fechou o portão o mais rápido que pôde e levou-a para dentro de casa. Continuaram o beijo no sofá.

O moreno ainda estava deitado sobre a jovem quando perguntou:

— Para aonde você vai me levar?

— Se eu disser, vai estragar a surpresa, não acha?

— São surpresas demais para um senhor da minha idade, não sei se vou aguentar – riu e depois depositou um beijo em sua testa.

— Não acha que eu mereço um esforço? – Ele não respondeu, apenas sorriu, entregue a tudo que ela tinha a oferecer.

Demorou um pouco para que chegassem até o local. Lia estacionou logo à frente de um prédio abandonado em um bairro tão nobre quanto sua beleza, que ainda resistia entre a poeira e o descaso.

Desceram do carro e tiraram o que haviam trazido do porta-malas, seguiram para a lateral do prédio e com uma chave que tirou do bolso, a mulher abriu a única porta ali existente. Um bafo de poeira foi de encontro aos dois e, após algumas tosses contidas, os dois seguiram porta adentro.

— Ganhei esse lugar de presente, – ela disse assim que chegaram ao terraço. Não era bem verdade, mas não queria contar como aquele prédio foi passado para seu nome. – vim aqui uma única vez durante uma exposição de arte, e fiquei encantada com essa vista. – seus olhos miravam o horizonte – Nunca trouxe ninguém aqui antes – Seu tom indicava a importância daquele momento.

— E por que me escolheu?

— Achei que já soubesse a resposta – seu olhar foi intimidante, seu sorriso, dissimulado.

Arrumaram o lugar para uma espécie de piquenique noturno e depois de comerem, deitaram lado a lado nos colchonetes. A conversa fluía tão natural que a cada palavra sentiam-se mais próximos um do outro; as risadas ficavam cada vez mais altas e frequentes e os beijos mais românticos e sinceros.

Então, em meio a deliciosa conversa, Elídio aproveitou que estavam a sós para perguntar algo que desde a noite no bar com seus amigos ficará em sua mente. Acreditava que longe de todos a postura da mulher seria diferente.

— E o amor? O que você tem a dizer sobre ele?

— Nada. Nada posso declarar sobre aquilo que não conheço de fato.

— E não tem vontade de conhecer? - Ele viu se formar um sorriso no rosto dela, que olhou para o lado em uma estúpida tentativa de esconde-lo, o que o fez franzir o cenho. - O que foi?

— Você costuma desejar conhecer coisas que não existem? - Seu tom foi mais sarcástico do que o habitual.

— Cruel! - Ele disse arqueando as sobrancelhas.

— Calunia! - A mulher esboçou novamente um sorriso, dessa vez sem medo de esconde-lo.

— É, realmente crueldade não é de seu feitio. Na verdade você é impar, sedutora e totalmente desejável, misteriosa e dona de uma amarga doçura.

— Como o vinho. - Ela emoldurou a frase com mais um de seus sorrisos enquanto brincava com a taça ostentando o liquido de cor escura e aroma doce.

Ele a observou por um longo tempo perdido em seus pensamentos, sentindo-se totalmente vulnerável diante de tamanha mulher.

— Você não pode fazer isso com as pessoas, Lia. Não pode fazer isso comigo – deixou escapar, se controlando para não deixar seus pensamentos tomaram conta ainda mais de si.

— Isso o que? – Ela perguntou sorrindo, sorriso esse que agravou ainda mais o estado do homem.

Não pode entrar na minha vida e vira-la de cabeça para baixo sem se importar, não pode roubar meu sono e sanidade sem um pingo de compaixão, não pode me deixar assim de quatro por você e não assumir que sente o mesmo, não pode diminuir meus sentimentos a nada e depois pisar neles com seus saltos aveludados, não pode sorrir assim pra mim e depois alegar inocência, não pode! Pensou enquanto sua cabeça entrava em colapso e seu corpo fervilhava.

Puxou-a para um beijo tão forte que pode sentir um tímido gemido, passou as mãos por entre seus cabelos, se perdendo naquele mar de ondas negras enquanto sentia o ritmo descompassado de seus corações.

— Acho que estou apaixonado – disse, assumindo tudo aquilo que tentava esconder há meses, tudo aquilo que temia, tudo aquilo que não queria acreditar. Disse como um de seus últimos apelos para a jovem.

— Eu também – ela respondeu doce, porém determinada. Os olhos do humorista brilharam como os dos adolescentes que experimentam o primeiro amor. – Esse sorvete de flocos é realmente maravilhoso.

Infeliz e desiludido, o outro concordou.

— É, é sim.


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Notas finais do capítulo

Um abraço, até o próximo capítulo.



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