Os vampiros que se mordam escrita por Gato Cinza


Capítulo 32
Desculpe-me


Notas iniciais do capítulo

Hey,

Semanas sem nenhum pingo de criatividade e eis em fim um capitulo para vocês, lamento a demora e espero que tenha ficado bom.



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Bonnie entrou no quarto de Damon e se deitou ao seu lado, sem tocá-lo, sem olhá-lo. Ficaram ambos olhando para o teto sem pronunciar nenhuma palavra durante horas. O silêncio quebrado pela respiração deles não os incomodava, talvez antes incomodasse a bruxa, mas agora ela não conseguia mais se importar com esses momentos desconfortáveis e constrangedores. Ela não pronunciaria nenhuma palavra, conhecia Damon e sabia que ele não aguentaria ficar quieto por muito tempo, sabia também que ele podia simplesmente se levantar e ir embora dali. Para o alivio da bruxa, o vampiro tinha perguntas á serem respondidas e apenas ela podia saciar sua curiosidade. E ele começou com um assunto que vinha o perturbando há bons tempos.

— Eu sei o que está atrás daquela porta selada com a rosa de sangue na sua cabeça.

— Dias de um verão perfeito entre uma menina boba e um vampiro misterioso. Eu também lembro Damon. Agora eu me lembro.

Damon imaginava que ela se lembrava, afinal não era possível que apenas ele tivesse aqueles sonhos. Ainda mais agora que ele precisava de qualquer sinal de esperança de recuperar sua bruxa. Tão impassível quanto o possível, questionou:

— O que aconteceu depois que apaguei? Depois que sua avó te contou o que eu era.

— Ela quebrou o galho de uma árvore e ia enfiar em seu coração, mas...

— Me mostre – pediu o vampiro, queria ver aquela versão do passado pelos olhos da bruxa.

Bonnie se virou de lado e estendeu a mão tocando o rosto do vampiro que fechou os olhos ao sentir o toque suave dela, e foi sugado para um momento no passado que ele não presenciara.

Bonnie olhava assustada para o vampiro inconsciente. Ele era um monstro, uma das criaturas que havia levado sua mãe para longe. E ele era também a pessoa mais legal, fascinante, amável e protetor que ele conhecera, sentia-se segura ao lado dele, mesmo sabendo que algo sombrio se escondia por trás do seu sorriso torto, mas aquele sorriso torto era uma das coisas que o tornava tão interessante. Mas ele era um vampiro, um monstro sanguinário que matava pessoas apenas para satisfazer a própria sede... sua avó havia se afastado e agora voltava com um galho seco quebrado, a ponta era farpada e ainda assim era uma arma eficaz contra vampiro e com alguns instantes de atraso foi que Bonnie entendeu para que servia o pedaço de madeira.

— Ele é um Salvatore – gritou se jogando sobre o corpo do vampiro e por poucos milímetros não se tornando alvo da estaca.

Sheila ficou atordoada por quase ter enfiado a estaca improvisada na costa da neta que abraça o vampiro, protegendo seu peito com o próprio corpo.

— Bonnie saia da frente. Ele tem que morrer.

— Ele é um Salvatore – repetiu a bruxa chorando – É dever de um Bennett guardar pelos guardiões. Ele é um Salvatore. Um Salvatore e como o senhor Zach ele pertence ás famílias fundadoras.

O argumento da menina era válido, Sheila estava a ensinando sobre seu legado de família e não podia retirar o que já havia dito. Afinal, estava certa. Com a estaca na mão, tentou convencer a neta a se afastar do vampiro antes que o mesmo despertasse.

— Bonnie, ouça. Ele é um vampiro, mesmo sendo um membro das famílias fundadoras. Ele deve morrer.

— Se a mamãe tiver se tornado um deles então a senhora a mataria? Ou se Damon tivesse me transformado em monstro também me mataria?

— Não tente apelar para lógica, Bonnie. Agora saia daí – Sheila a puxava pelo braço com força.

Então pela primeira vez na vida a bruxa teve acesso á sua magia, ela esticou a mão para a avó e o pedaço de madeira voou para longe. Uma rajada de vento começou a soprar enquanto a bruxa-juvenil olhava com determinação para a avó mesmo estando confusa e assustada com si mesma, não ia deixar que matasse aquele vampiro, não aquele.

— Tudo bem – começou Sheila tranquila e surpresa com a força destrutiva da neta – Acalme-se Bonnie. Não vou mata-lo.

— Promete?

— Prometo.

Aos poucos a ventania se acalmou e Bonnie se curvou exausta com tudo aquilo. Quando a avó deu um passo na sua direção, ela correu para proteger o corpo do vampiro.

— Não vou quebrar minha promessa Bonnie – garantiu a bruxa mais velha – Mas lhe proponho um acordo, é perigoso ser amiga de vampiros. Apagarei as lembranças que vocês têm um do outro e deixarei ele ir embora ou entrego ele para o Conselho.

Bonnie olhou horripilada para a avó, desde quando sua vovó boazinha e gentil que dava aula de esoterismo tinha se tornado a bruxa má? Damon, atrás dela, se mexeu dando um pesado suspiro. Estava recobrando a consciência.

— Aceito – concordou a bruxinha – Ele vai embora sem lembrar de mim, mas vai embora vivo.

Sheila anuiu, mandou a neta pegar algumas velas e minutos depois estava com as duas mãos segurando a cabeça do vampiro. Quando terminou ele se levantou, os olhos estavam desfocados e o nariz sangrava, ele se limpou e caminhou com passos firmes sem olhar para trás e se o fizesse de nada adiantaria, pois veria apenas duas estranhas cercadas de velas. Então foi a vez de Bonnie. Sheila trancou as memórias dela, todas incluindo seu conhecimento de magia, a neta ainda não estava preparada para receber um legado tão perigoso como o que ela havia dado á sua filha, Abby.

E novamente estavam no quarto de Damon, a bruxa se virou para olhar o teto novamente enquanto o vampiro procurava nela alguma expressão que indicasse que aquilo havia a afetado, mas ela parecia tão insensível ás próprias lembranças como ele se sentiria se tivesse desligado as emoções. Então fora assim que ambos acabaram se esquecendo um do outro, Bonnie abriu mão de suas lembranças á troco de mantê-lo vivo. Não que aquilo valesse alguma coisa agora.

— Como faço para te ter de volta? – o vampiro perguntou ainda fitando o teto do quarto.

— Ainda me tem. Eu só preciso me perder para que você me reencontre.

Desta vez o moreno não foi capaz de evitar, ele se virou fitando os olhos verdes dela que brilhavam de um modo anormal, reptiliano, com suas pupilas verticais contraídas. Ele desviou para o teto novamente, não suportava olhar para aquele rosto e ver nele uma desconhecida.

— Eu não falo bruxês – tentou brincar, mas seu tom de voz não soou divertido.

— Quero dizer que conversei com Kol, ele é o bruxo mais antigo que conheço e vai dar um jeito de me ressuscitar depois que eu morrer.

— Depois que você morrer? Pensei que agora fosse imortal.

Bonnie riu, uma risada sem nenhuma emoção.

— Existe uma poção antiga correndo nas minhas veias criadas por uma ancestral para transformar um imortal em mortal. Em outras palavras, nunca fui imortal.

Damon se sentou surpreso, havia um breve sorriso arrogante nos lábios de Bonnie.

— Mas você disse que... mentiu para todos nós?

— Sim. Não queria lhes dar esperança. E eu não tinha certeza, foi por isso que pedi ao Klaus que me trouxesse o Kol, ele confirmou que eu não sou imortal.

— Mas Q’rey está ligado á você e você mudou.

— Claro que mudei, Damon, minhas emoções estão trancadas nas paginas de um livro mágico que nem é deste mundo. Q’rey fez um ritual bizarro para nos unir e sou metade humana metade outra coisa. Mas fora isso, permaneço sendo da mesma Bonnie de sempre, só que mais inteligente e menos emotiva.

— Caroline me disse que você tem desmaios toda vez que ele morre.

— Não tenho forças o bastante para ficar acordada enquanto ele se regenera, mas isso não faz de mim imortal.

— Por que não me contou antes? – perguntou o vampiro ansioso e chateado.

— Por que talvez Kol não seja capaz de me trazer de volta. Por que se eu retornar não serei mais a mesma Bonnie. Por que há uma mínima chance de Q’rey voltar a viver quando eu voltar e por isso preciso me desconectar dele. E o mais importante, por que eu queria te poupar de reviver comigo o que viveu com Katharine, esperar por tanto tempo e se decepcionar no fim.

Damon se agitou, em um movimento rápido se colocou sobre ela, mantendo-se apoiado pelos cotovelos enquanto olhava naqueles olhos desumanos e depois de tantos dias, tão parecidos com os que ele tanto amava.

— Como pode pensar isso? Não importa o quanto tempo passe perdida sei que quando te encontrar você será a minha Bonbon. A que eu amei em um verão muitos anos atrás e que mesmo com tantos obstáculos voltou para mim.

A bruxa soluçou tentando evitar as lágrimas. Os olhos azuis do vampiro se arregalaram, ela ainda sentia algo, mesmo sem emoções ela ainda sentia algo irracional por ele. Se curvou para beijá-la, mas ela se virou evitando os lábios dele e sussurrou:

— Não conte aos outros, deles eu posso suportar o medo nos olhos ao me fitarem, mas não conseguia mais evitar a dor em te ver magoado. Q’rey não pode saber que sou mortal e preciso ganhar tempo até descobrir como me libertar dele. Agora preciso ir, estou cansada... Invisique.

Damon olhou para os lados, detestava aquele feitiço. Então saiu do quarto, precisava descobrir como acabar com o feitiço que unia Bonnie á Q’rey. Não encontrou ninguém na casa, Caroline havia arrastado Stefan para uma biblioteca e Enzo soou irritado quando atendeu ao celular:

“Estou ocupado, fale logo”.

— Só quero saber como anda os planos para salvar a Bonnie.

“Salvá-la? Quem disse que quero salvá-la? Eu devia mais é matar aquela bruxa, mentirosa. Sabia que ela está mentindo? E que aparentemente resolveu se matar de novo?”

— O que?

“É, ela enganou todo mundo, me deu alguns frascos com sangue e pediu que hipnotizasse alguns estudantes do hospital-escola de Whitemore para fazer algumas pesquisas. Acabo de falar com um cientista que me disse que uma das amostras estava saudável, mas a outra estava infectada”.

— Não entendi, o que a cura do vampirismo tem haver com isso?

“Não é a cura. Um é amostra de sangue do marido da Bonnie e o outro é dela. Não sei que estupidez ela fez, mas contaminou o próprio sangue com o sangue dele que é algum tipo de veneno que os cientistas nunca viram”.

— Ela já está morrendo – Damon sussurrou desligando a ligação, então jogou o celular contra a parede.

Furioso.

...

Agora faltava pouco. Ela sentia-se mais fraca a cada dia, entendia o que Mina estava passando quando usou o coração de Klaus, quanto mais forte um feitiço que usava, mais frágil ficava sua vida. Mas ela tinha que sobreviver, até que conseguisse matar Q’rey. Não apenas derrotá-lo como Mina fizera, ela ia destruí-lo de vez. Deitou-se na confortável cama do hotel onde estava hospedada, não queria dormir na casa dos Salvatore, não queria cair em tentação. Já tinha fraquejado e contado á Damon que ainda havia uma salvação, mas não lhe contou toda a verdade. Não contou que estava morrendo, não tinha se tornado imortal por causa do soro da cura em seu sangue, mas ao se unir á Q’rey tornou o próprio sangue um veneno para si, também não havia contado o que Kol havia lhe dito.

— Só mais alguns dias – murmurou tomando o chá frio preparado por uma bruxa conhecida de Klaus.

Ela não tinha a menor ideia para que servia o chá, sabia apenas que tinha cheiro de barata e gosto de ovo, não perguntou ao híbrido quem havia o preparado assim como não queria saber seus ingredientes. No passado não havia confiado em Klaus nem mesmo para tomar algo do mesmo copo dele, mas agora ele tinha algo á ganhar com ela permanecendo viva, aceitasse ou não, ela era uma das bruxas mais poderosas que ele conheceu ou conheceria e de todas elas uma das poucas que ele podia chamar de amiga.

— Devia ter contado á eles a verdade – disse o loiro desligando o celular.

— Como vai Hayley e sua filha? – ela perguntou deixando o comentário dele morrer no ar.

— Elas vão bem assim como todos em Nova Orleans que aparentemente não acreditam na minha boa vontade em te ajudar sem ganhar nada em troca.

— Lembro-me de uma promessa, mais ou menos assim: Eu Niklaus Mikaelson torno-me seu servo pela eternidade sem que este juramento jamais seja rompido. Lealdade eterna de um Mikaelson é tão... extasiante.

— Eu só me lembro de um beijo – rebateu com deboche.

A bruxa o fitou com inexpressão, permaneceram se encarando em silêncio até que ela adormeceu. Klaus ficou a observando por algumas horas então se retirou. Tinha algo muito errado com a bruxa Bennett, e não era apenas o desinteresse e as mentiras. Algo que ela não tinha contado nem mesmo para ele.


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