Os vampiros que se mordam escrita por Gato Cinza


Capítulo 31
Amada Imortal




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Antes

Quando o livro da luz se materializou na mesa Bonnie sabia que não teria volta, assim que tocasse o livro ia transferir para o objeto toda sua capacidade emocional e dependeria dos amigos para voltar ao normal, uma última olhada para Q’rey que a observava com indiferença a fez decidir. Entregou a Matt o livro e quando o rapaz saiu ela sentiu-se... capaz.

— Muito esperto de sua parte se livrar das emoções para não se ligar á mim, entretanto seu sacrifício emocional era o que eu precisava para que fosse perfeita.

— Eu sei – ela mal se reconheceria se ouvisse á si mesma, não havia emoção alguma em sua voz – Quando Lumina libertou Klaus e se uniu á mim entendi o que acontecia com as emoções, ela me dissera uma vez que o amor é a arma mais poderosa que existe quando usado do modo certo. Concordo com ela, meu amor por meus amigos me tornavam uma fonte única de poder, agora tenho apenas poder bruto e inexplorado. Perfeita.

— Então havia planejado se livrar das emoções para que eu não as usasse contra você.

— Exato. Esse foi o erro de Lumina quando se uniu á você, sentir... mas deixemos isso para depois e vamos aos negócios, quando vai usurpar de meu coração?

Q’rey se levantou estendendo a mão para a bruxa, ainda tinha até o anoitecer para perder as forças que o mantinha em pé. Bonnie o acompanhou, quando atravessaram a porta desapareceram e se materializaram em um lugar diferente, ruínas na beira de um penhasco.

— Onde estamos?

— Iona, uma ilha.

Bonnie olhou ao redor, estava em um templo subterrâneo, uma caverna cujas paredes continha gravuras rúnicas e símbolos estranhos. Q’rey gesticulou e as roupas de ambos mudaram, Bonnie trajava um longo vestido da cor de sangue e ele uma coisa medieval da cor de fogo.

— Não precisamos de um padre ou uma sacerdotisa para nos casar?

— O que faremos é um juramento perpétuo, temos tudo o que precisamos neste lugar.

Bonnie poderia ter discordado, mas não ia estragar os planos do futuro marido informando-lhe que as leis mágicas de onde ele e Mina vieram não se aplicavam á ela, a ignorância dele sobre as leis mágicas da Terra era a brecha da qual ela precisava para se libertar quando chegasse a hora de matá-lo. Q’rey preparou o altar com seu sangue e o sangue de Bonnie, algumas ervas mágicas que a bruxa humana desconhecia e fogo. Ajoelhados diante um do outro de mãos dadas eles repetiram o juramento de união e igualdade para todo sempre, a morena sentia o corpo queimando como se tivesse com febre alta, as mãos formigavam e sua cabeça doía, quando o juramento terminou ela desmaiou fraca demais para permanecer consciente. Q’rey ficou imóvel por horas até que a dormência em seu corpo passasse e conseguisse se mover novamente, então se levantou, retirou a capa que vestia, dobrou e colocou debaixo da cabeça de Bonnie que abriu os olhos, Q’rey sorriu ao ver as pupilas verticais e o tom fluorescente dos olhos verdes da morena reagindo á escuridão da caverna.

— Como você se sente? – perguntou

— Não sinto – respondeu a bruxa com voz fraca e quebradiça – Não sinto nada. O que você fez comigo?

— Quase nada, agora estamos compartilhando da mesma força, sou mais humano e você mais draconiana. O que você está sentido é apenas seu corpo respondendo á nova energia. A sensação é bem desagradável, não é?

Bonnie estreitou os olhos, mas até aquele gesto simples não era possível de realizar, seu corpo não respondia aos seus comandos. Ela estava completamente inerte, nem mesmo sua respiração ela conseguia sentir. Q’rey informou enquanto andava pela caverna acendendo pequenas pedrinhas brilhantes que podiam queimar durante meses se ficasse em ambiente frio, e aquela caverna ficava bem fria durante as noites, o feiticeiro sabia por ter passado muito tempo ali enquanto planejava sua vingança contra Lumina.

— Vai piorar. Quando a sensibilidade do seu corpo retornar, você vai sentir cada célula do seu corpo queimando, vai ser uma tortura inominável, sua carne vai rasgar enquanto seu corpo se regenera e se adapta á magia.

— Pode fazer parar?

— Posso mais não farei, se fizer isso agora, Bonnie, você não vai aprender a suportar a dor física.  De que vai te adiantar ter aberto mãos de suas emoções se não aprender a conviver com a dor externa? E por mais que eu gostasse de ficar aqui te assistindo queimar e te dando apoio, tenho um mundo para congelar e uma rainha élfica para matar. Ver-nos-emos em breve  Bonnie.

— Não me deixe aqui Q’rey. Q’rey?!

Agora

As coisas não podiam estar melhores. Seus problemas em Nova Orleans não existiam mais, sua família estava em segurança novamente e seus aliados dispostos a manterem a paz recém-conquistada, o hibrido estava satisfeito com as noticias e desejava que isso perdurasse pelos próximos anos, ao menos em sua cidade, pois ali em Mystic Falls as coisas estavam longe de ficarem bem. Quando ele conhecera aquele grupo sobrenatural pensou que todos fossem unidos por Elena e que sem ela as coisas ruiriam, entretanto nos dez dias em que esteve ali tendo que conviver com as brigas intermináveis e com as constantes ameaças de homicídio em massa, seu julgamento mudou. Não era Elena quem os mantinha na linha, era Bonnie. A bruxa de olhos verdes era realmente um elo especial entre aquele grupo exótico, mesmo Caroline tendo pulso firme e Stefan tentando manter o irmão sobcontrole, havia os outros. Matt, que ficava á um passo da morte á cada segundo que Damon mencionava a namorada desaparecida, estava cuidando de alguma coisa envolvendo a tal cura para vampirismo e passava muito do seu tempo na presença de Valery uma bruxa que Stefan chamou para ajudar a localizar – sem sucesso – Bonnie, por motivos que Klaus preferia não saber a bruxa ficara muito interessada na cura. Tyler ligava á cada meia hora para Alaric na esperança que o clã gemini tivesse encontrado o paradeiro de Bonnie que possivelmente estava na presença de Q’rey, pois ele queria vingança pela morte de Liv. Damon estava simplesmente insuportável, conseguia arrumar confusão com qualquer um apenas para ter um motivo para matar alguém. Caroline e Stefan haviam injetado verbena nele e o trancado, o resultado não fora dos melhores. Mas agora estava tudo calmo e tão silencioso que mesmo sem sua audição superdesenvolvida ele poderia ouvir os corações pulsando.

— Impressionante!

Ele que estava na adega procurando algo especial para comemorar a sensação de calmaria, chegou rapidamente á sala onde encontrou Bonnie observando com curiosidade o silencio na casa, da porta ela via apenas os cabelos loiros de Caroline e um par de sapatos pretos masculinos que ela não conseguia identificar.

— Achei que tivesse abandonado á todos – disse Klaus indo até ela

— Apenas por alguns dias, nada que pudesse causar o fim do mundo. Mas se te chamaram é por que as coisas não estão bem.

— Damon me convidou, ele queria que eu matasse um bruxo que vem te perturbando. As coisas saíram do controle quando Matt informou que você tinha se unido á esse tal bruxo.

— Infelizmente para meus vampiros queridos, Q’rey estava mexendo com a minha cabeça. Precisei ir antes que ficasse louca e matasse á todos em Mystic Falls.

— Se foi com ele por que voltou? – Klaus avaliou a aparência da bruxa – E onde é que esteve nos últimos dez dias?

Bonnie usava o que um dia fora um exuberante vestido vermelho, mas que agora estava sujo e rasgado, também estava descalça e os cabelos estavam presos debaixo de um lenço improvisado com pedaço do vestido. Tinha olheiras profundas e parecia doente.

— Não quero falar com eles ainda – disse ela entrando na casa e indo direto para o andar superior – Deixe-os assim por mais um tempo, preciso de um banho quente, roupas limpas e alguma coisa que não seja frutinhas para comer.

Klaus não libertou os vampiros, respeitou a vontade da bruxa involuntariamente. Quase uma hora depois quando ela desceu, achou a cozinha movimentada, três mulheres preparavam uma farta refeição enquanto Klaus lambia uma colher, a visão era um pouco esquisita, mas agradável.

— Isso é o que penso que é? – perguntou ela se juntando á ele e lhe tomando a colher de brigadeiro.

— Pode contar agora o que te aconteceu ou prefere esperar mais?

As mulheres estavam todas hipnotizadas e o cheiro de comida sendo preparada deixou a bruxa consciente da quão faminta ela estava, quando chegou na mansão Salvatore sabia que sentia fome, mas não tinha noção que era tanta. Sentou-se á mesa com a panela de brigadeiro preparada por Klaus enquanto lhe contava detalhadamente o que havia acontecido desde seu último encontro com ele, várias semanas antes. Quando terminaram a conversa Klaus foi despertar os outros vampiros que se juntaram á eles. Caroline abraçou a amiga se esquecendo de sua força sobrenatural. Stefan demonstrou-se mais curioso sobre o tempo em que Bonnie havia retornado do que surpreso por ela ter voltado. Já Damon, ele manteve-se distante, observando cauteloso para sua amada bruxa.

— Não está feliz em me ver de volta? – perguntou Bonnie se virando para ele de repente.

O moreno não respondeu, ele apenas se virou saindo da cozinha onde estavam reunidos querendo saber sobre o que acontecera com a bruxa. Bonnie olhou inexpressiva para Klaus e saiu seguindo o namorado. Alcançou Damon na garagem, ele estava dentro do carro pronto para sair.

— Sim – disse ela sentando-se – E não. Sim, eu me casei com Q’rey. Não, não passei os últimos dias desfrutando de uma lua de mel em um lugar paradisíaco e romântico.

— Foi muito idiota de sua parte fazer isso – o tom casual de Damon assustou Bonnie, ele não gritou nem soou furioso, apenas comentou – Fizemos planos para recuperar o livro mágico e matar aquela coisa, e você simplesmente foi até ele e fez uma troca estúpida.

— O que há com você? Não esperava beijos e abraços pelo meu retorno, mas também não esperava essa reação. Damon?!

Damon segurou as mãos de Bonnie entre as suas. A temperatura da bruxa havia desaparecido, não estava fria como de um vampiro tão pouco estava quente como de um humano. Ele buscou nos olhos dela algum sinal emoção, mas viu apenas curiosidade, como se ela o estudasse.

— É dever de um Bennett guardar pelos guardiões – Damon falou beijando as mãos de Bonnie e saiu velozmente para qualquer lugar deixando a bruxa olhando para sua mão onde sentia o toque dos lábios do vampiro.

...

— Damon saiu – Bonnie comunicou ao entrar na casa novamente – Acho que ele não gostou muito da ideia da namorada ter se casado com um monstro.

— Então se casaram mesmo – Caroline arrastou a bruxa para o sofá e começou a interrogá-la.

Bonnie contou uma versão resumida sobre o que aconteceu, Klaus notou a expressão vazia da bruxa enquanto falava, ela estava os poupando dos detalhes de como quase chegara á insanidade antes de ir atrás do feiticeiro. Os amigos contaram o que aconteceu nos últimos dias deixando claro que todos estavam determinados á fazer o que fosse preciso para ajudar a bruxa. A declaração deles outrora a teria feito chorar, mas agora a única reação de Bonnie fora perguntar quais planos eles tinham para matar o imortal sem afetá-la. De repente a morena ficou pálida, sangrou pelo nariz e apagou. Acordou novamente poucos minutos depois se sentindo sonolenta e dolorida.

— O que foi isso? – questionou Klaus

— Q’rey. Isso acontece sempre que ele morre, não sei se vai parar algum dia ou se vou apenas me acostumar com os desmaios.

— Estão ligados fisicamente?

— Não existe nenhuma ligação entre mim e ele. Apenas compartilhamos a mesma fonte de energia, se eu morrer ele morre e se ele morrer permanecerei imortal.

— Então só precisamos descobrir como matá-lo? – perguntou Caroline otimista.

— Não, Caroline. Precisamos descobrir como me tornar humana novamente antes de matá-lo, enquanto eu for como ele, ele vai continuar voltando e voltando.

— Não entendi.

Bonnie piscou, os olhos verdes escuros se tornaram claros e fluorescentes.

— Feitiços de sangue são feitiços de sangue em qualquer lugar do universo. Sangue dele é veneno para humanos e se eu permanecer imortal ele continuará voltando dos mortos.

— Se ele morrer você será imortal e ele volta á viver, mas se você virar humana morrerá por que seus sangues estão misturados e sangue de dragão é veneno para humanos. Descobre a cura para o vampirismo e não sabe como curar á si mesma – disse Klaus impaciente.

— Esse tom não me ajuda em nada, afinal isso tudo é sua culpa – disse Bonnie ficando em pé e fazendo o uísque no copo do hibrido se incendiar.

Klaus largou o copo e se voltou irritado para a morena:

— Minha culpa? Por acaso fui eu quem se casou com um monstro medieval vindo de outra dimensão?

— Não, mas preciso culpar alguém e não posso ser culpada por todos os problemas sobrenaturais da cidade – ela suspirou profundamente e voltou á inexpressividade – Preciso de todos os livros de magia que conseguirem, e do seu irmão Kol. Sei que ele está em Nova Orleans no corpo de um bruxo.

— Para que quer o Kol?

— Ele é o único bruxo que conheço que já esteve entre os mortos e retornou á menos que queria ressuscitar sua mãe de novo. Agora preciso dormir, estou ficando tonta.

Seguiram a bruxa com os olhos sem fazer nenhum comentário, então Caroline pegou o celular e começou a ligar para os amigos. Klaus voltou sua atenção para o uísque que bebia contendo a vontade de sorrir, Bonnie havia se livrado das emoções, mas ainda era capaz de ficar irritada, que era de certa forma um sinal que nem tudo estava perdido. Stefan saiu para procurar pelo irmão esperando que ele não tivesse feito nenhuma estupidez irreparável.

...

Damon estava no alto da torre da igreja olhando para os humanos trinte e nove metros abaixo vivendo suas vidas inúteis que Bonnie mais uma vez sacrificou-se para salvar. Tentava se decidir pelo que fazer agora, desligar suas emoções e desaparecer no mundo? Não era de sua natureza fugir, mas aquela era a primeira vez que seus sentimentos entravam em conflito. Se por um lado ele compreendia agora as razões de Bonnie sempre agir como salvadora mesmo quando não era seu dever proteger os outros, por outro ele queria defendê-la de si mesma, trancá-la em uma caixinha onde permanecesse intocável de todo mal. Mas sabia que isso não era possível, a bruxa era teimosa demais para se deixar proteger enquanto outros corriam perigo, afinal ela era uma Bennett e fora criada sobre um juramento tradicional, proteger as famílias fundadoras de Mystic Falls contra o mal, agora não restava muito dos fundadores e os que restavam eram sobrenaturais. Stefan sentou-se ao lado do irmão no alto da torre, o céu estrelado desviava a atenção da lua crescente que brilhava opaca na escuridão.

— Bonnie disse que passou os últimos dez dias presa em uma ilha – informou o mais novo – Depois que Q’rey fez o feitiço que os uniu, ele desapareceu indo atrás do povo de Mina enquanto Bonnie passou pelo processo de transformação sozinha.

— Como ela conseguiu voltar?

— Magia. Depois de dias treinando ela conseguiu se materializar em Mystic Falls. Está mais fraca e debilitada do que aparenta, quando sai de casa ela estava dormindo.

— Ela é a Bonnie, vai ficar bem.

— Não se atreva a fazer o que penso que quer fazer.

— Agora virou telepata?

— Te conheço melhor do que pensa e sei quando planeja sumir. Primeiro fica bonzinho, depois se isola e faz alguma estupidez para obrigar todo mundo ficar zangado, então vai embora enquanto as pessoas estão com raiva demais para se importarem. A Bonnie não merece isso, ela depende de nós para salvá-la.

— Eu sei – Damon gritou ignorando as pessoas lá embaixo que olharam para cima – Acha que não sei que ela espera ser salva antes de se destruir? Mas eu não sei como salvá-la. Ela não deixou o manual de instrução sobre como salvar o mundo caso ela fosse o perigo.

Stefan preferiu naquele momento não informá-lo da condição mágica de Bonnie, seria melhor se ela mesma explicasse para ele os detalhes. Permaneceram calados olhando a cidade adormecer aos poucos, cada um imaginando o que o futuro lhes reservava caso as previsões catastróficas da bruxa Bennett se realizassem e a cidade fosse consumida por chamas.


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