Meus dias passavam rápido demais e parecia que nada dava certo. Ainda não tinha a mínima idéia do que faria sexta-feira (amanhã) o dia da tal “apresentação artística”. Não tinha entendido nada da matéria de matemática. E o pior de tudo, Anne continuava brigada comigo.

            Não sei quanto tempo agüentarei, afinal, já se passaram três semanas. Será que isso não é o suficiente? As vezes, no recreio, na sala de aula ou até mesmo no refeitório quando olho para ela noto que ela também estava me olhando. Vejo nos seus olhos que ela esta triste, mas sempre que estamos juntos é como se ela fosse um robô. Anne não fala diretamente comigo a não ser quando realmente é necessário e nessas vezes ainda é breve e fria.

            Meu pai veio da cozinha, se sentou no sofá com um livro na mão e baixou quase até o mínimo o volume da TV. Olhei para ele, afinal, tinha colocado no máximo na MTV por que estava passando um show do Coldplay, e música sempre me ajudou a pensar.

            -Ei, por que você fez isso?

            Perguntei indignado, ele me olhou na maior cara de pau e disso.

            -Fiz o que?

            -Baixou o volume da TV.

            -Porque não quero ter que pagar seu tratamento depois que você ficar surdo e muito menos ter que ouvir reclamação dos vizinhos.

            Bufei.

            -Pai, música é arte. Ninguém iria se incomodar e eu ficaria surdo por um bom motivo.

            -Arte? Isso parece barulho.

            -Claro que não. Será que você não entende? Esse é um jeito de se expressar, um jeito melhor do que falar...

            Minha voz foi sumindo de acordo com que me dava conta de que estava falando. Um jeito de se expressar. De dizer algo...

            -Lucas? O que foi?

            Meu pai perguntou curioso ao ver minha expressão. Sorri.

            -Acabei de achar a solução para um grande problema. Basicamente, a minha passagem para fora do inferno.

   Ele levantou um sobrancelha, mas não dei muita bola. Ainda estava eufórico por minha idéia. Peguei minha mochila que estava no meu lado no sofá, desliguei a TV e fui para meu quarto.

     Me sentei na minha cama, peguei um dos meus cadernos, abri em uma folha branca aleatória. Peguei uma caneta. Fechei meus olhos e me concentrei em Anne, tudo nela. Depois pensei em tudo que queria lhe dizer, tudo que queria que ela soubesse. De repente sabia exatamente o que escrever.

   Parei de escrever e reli, fiquei surpreso ao ver o quão bom estava. Tinha escrito em inglês, para que rimasse melhor. Peguei meu violão e comecei a tentar fazer uma melodia, cantei uma vez para ver como ficava.

“I'm in love with the girl I hate

She enjoys pointing out every bad thing about me.

I'm in love with a critic and a sceptic, a traitor

I'd trade her in a second.

She's a backseat driver, a drama provider

An instant update of the world.

She's a first class liar,

a constant forgetter.

(She's attractive but bitter)

Did you scream enough to make her cry?

Did you turn around, turn around

Baby, don't return to me

If you think that I'm not worth your time.

She's a lady and ladies shouldn't be messed with.

She's a lady and ladies shouldn't be messed with.

Take off your shoes, come in the room

And baby, let's try not to argue.

Turn out the lights, turn on the radio

And how can we fight when I'm too busy loving you?

I'm too busy loving you

I'm too busy loving you.

Did you scream enough to make her cry?

Did you turn around, turn around

Baby, don't return to me

If you think that I'm not worth your time.

She's a lady and ladies shouldn't be messed with.

She's a lady and ladies shouldn't be messed with.

Here I am, there you go again (again)

And we will not ever be eighteen again (again)

And I'm worn out of fighting and every night you leave crying

And I could use some time

And here I am, and there you go again (again)...

So here I am and I'm dying

And I'm waiting for you, waiting for you.

Come back, come back to me

And I'll take you gladly and I'll take you in again.

Did you scream enough to make her cry?

Did you turn around, turn around

Baby, don't return to me

If you think that I'm not worth your time.

Did you scream enough to make her cry?

Did you turn around, turn around

Baby, don't return to me

If you think that I'm not worth your time.

She's a lady and ladies shouldn't be messed with.

She's a lady and ladies shouldn't be messed with”

Será que a minha Lady entenderia? Será que ela vai gostar disso? Espero com todas as minhas forças que sim. Anotei ao lado da letra a melodia que deveria usar, passei o resto da minha tarde praticando.

Acordei com meu “desepertador” tocando. Não podia já ser de manhã, parecia que eu tinha ido dormir a menos de uma hora. Meus dedos ainda doíam um pouco, mas isso nem era o pior. E se não desse certo? E se Joanne continuasse me ignorando? E se ela nunca chegasse a me perdoar?

Tentei livrar minha cabeça desses pensamentos. Coloquei um casaco de moletom todo preto e uma calça jeans escura. Tomei meu café da manhã rápido e pedi a meu pai que me levasse para escola hoje, ele franziu a testa mas disse que estava tudo bem. Liguei para Elizabeth e pedi que ela avisasse Eduarda disso. Ela me perguntou o que tinha acontecido, mas eu apenas falei que esclareceria isso depois.

Descemos pelo elevador, meu pai ainda me olhava estranhamente para meu violão que agora estava dentro de sua capa. Não falei nada e ele também não perguntou. No carro o coloquei no banco de trás e assim fomos, ainda em silêncio.

Meu pai me deixou na frente da escola, que ainda estava fazia. Fui até o auditório, que é a onde aconteceriam as apresentações e me sentei na segunda fila. Coloquei meu violão ao meu lado, e na minha mente repassei exatamente o que faria.