Sabe? Meu pai parecia feliz, então tudo bem. Quero dizer, ele vai seguir sua vida, claro que algumas coisas vão mudar, mas tudo bem. Uma hora isso aconteceria. E é claro que eu aceitei isso, como o bom filho que era. E todos são felizes para sempre?

Não! Quem eu estou tentando enganar? É claro que eu tenho sérios problemas com esse casamento. Quero dizer, desde sempre eu moro com o meu pai. Só nós dois, e na maioria do tempo isso funciona perfeitamente. E agora, o que acontecerá? Fora o fato de que depois do casamento vamos nos mudar. Mudar! Não quero sair da minha casa, do meu apartamento, do meu quarto, de tudo! E é claro que vamos viver todos juntos. Todos! E nisso incluo Camila. Viver na mesma casa que Camila... E o pior de tudo será contar isso a Anne, como direi a ela que vou morar com a minha ex? Claro que tenho até setembro para contar, mas afinal setembro estava quase ai. E quando contei a Elizabeth, depois dela ter se recuperado do quase ataque cardíaco ela me fez prometer contar a Anne o quanto antes. Que seria pior se eu não contasse. Bem fácil para ela de dizer, uma vez que não vai ser ela quem vai contar.

Ok, pode não ser tão mal. Anne vai entender, é claro, e não vai ter problema nenhum. Senhor, quem eu quero enganar outra vez? É claro que isso não vai acontecer. Anne não vai aceitar tão fácil, uma vez que ela e Camila são quase inimigas mortais!

A campainha tocou. Tomara que seja Elizabeth. Elizabeth por favor. Elizabeth por favor. Elizabeth por favor.

-Oi Anne.

Disse sorrindo. Só de vê-la esqueci os meus problemas. Ela estava usando uma jaqueta com uma blusa verde por baixo. Como ela conseguia ser tão linda?

-Oi Lucas.

Ela me beijou. Problemas? O que essa palavra significa mesmo? Como ela podia ser tão maravilhosa?

-Entra.

Dei espaço para ela entrar. Fechei a porta e fui para o meu quarto, ela me seguiu.

-Vai tocar para mim hoje?

Ela perguntou olhando para meu violão que estava dentro de sua capa esquecido em um canto do meu quarto. Olhei para ele, ele olhou para mim. Nada feito.

-Desculpe, Anne, mas tenho que te dizer uma coisa antes.

Ela me olhou com uma sobrancelha levantada. Não suportei sustentar seu olhar e desviei o meu para baixo.

-É sobre o almoço com seu pai e a mãe da Camila?

Anne me perguntou a meia voz. Assenti.

-Se você não falar eu não vou saber, Luke.

-Ok, Anne. Aconteceu o seguinte: os dois estão noivos. O casamento será em setembro.

Olhei para ela. Seu rosto estava surpreso. Sorri, até a ai ela estava agindo como esperado.

-Então os dois vão se casar?

-É.

-E Samantha e Camila vão vir morar aqui depois do casamento? O apartamento não é tão grande...

Se ela não fosse tão inteligente poderia nem ter de dado conta disso.

-Vamos ter que nos mudar.

-Para onde?

Bem que eu gostaria de saber...

-Olha Anne, eu ainda não sei. Nem eles, para falar a verdade.

-Isso quer dizer que você...

Completei antes que ela falasse.

-Vou morar na mesma casa que Camila.

Anne ficou calada. Seu olhar estava vago, então ele me mirou.

-O que você acha disso?

Tentei ver com um olhar otimista para a situação.

-Sinceramente, pensando bem, não é tão ruim assim.

Ela pareceu genuinamente surpresa. E não de um jeito bom.

-Não?

Tentei concertar o que tinha dito.

-Quero dizer, Camila não é a megera que você pensa. Aposto que se conhecesse ela melhor mudaria sua opinião.

-Mudaria?

Mas pelo jeito não funcionou.

-Sim, ela sabe ser legal, divertida, engraçada,...

Minha voz foi sumindo enquanto sentia o olhar gelado de Anne.

-Aposto que sim.

Ela disse com ironia.

-Não fica assim Anne...

-Ficar de que jeito? É claro que ela deve ser uma garota legal, afinal, ela não era sua namorada?

Droga, sabia que ela ficaria brava. Então falei, tentando fazer com que ela se acalmasse.

-Era, não é mais.

-Mas será que isso quer dizer que você não gosta mais dela?

Parece que não adiantou muito...

-Anne, não. Até parece...

Tentei mais uma vez deixá-la mais calma.

-Espera, Lucas, agora me deixa falar!

-Anne, não tem nada há ser dito.

-Não? Eu posso pensar em várias coisas.

-Por favor, não fica irritada.

-Irritada? Quem disse que eu estou irritada? Por acaso foi a Camila?

-Anne, sério é de você quem eu gosto não dela.

Ela começou a gritar. Estava uma fera, com toda certeza.

-E quem falou o contrario? Você é que fica falando isso. E se fala é por que sente algo por ela.

-Anne, foi você quem falou.

Agora eu também estava gritando.

-Agora a culpa é minha?

-Culpa de que?

-Não se faça de tonto Lucas! Isso você não é, eu acho...

-Então agora eu sou tonto?

-É o que parece!

-Então por que esta comigo?

Fiquei olhando nos seus olhos e ela nos meus. No silencio que se seguiu ouvi a campainha. Sai do quarto e Anne também, ela se sentou em uma das cadeiras.

-Oi Elizabeth.

-Oi Lucas! Nossa, como você demorou para atender a porta, acho que alguém aqui deste andar estava brigando, pois ouvi gritos abafados, mas não entendi o que...

Elizabeth foi parando de falar ao notar o olhar que eu estava lhe lançando, então seu olhar recaiu sobre Anne, que tinha tirado a jaqueta, e voltou a mim.

-Luke não me diga que era você...

-Entra.

Falei seco. E ela o fez, sem hesitar. Beth se sentou perto de Anne e as duas começaram a começar sobre o trabalho que era sobre o Reino Unido. Me juntei a elas. Precisávamos decidir como fazer a apresentação do trabalho. Logo o resto do grupo chegou: Luciana, Janaina e Carlos. Achei que esse último não apareceria depois do que aconteceu na segunda-feira, mas me enganei pelo jeito. Tanto ele quanto Anne agiam como se eu não tivesse brigado com eles. Porém sentia como ela estava fria comigo, bem diferente de seu jeito espontâneo.

No fim decidimos fazer alguns cartazes sobre as diferenças do inglês americano e do inglês da Inglaterra, sobre a localização do Reino Unido, os países que fazem parte e sobre o regime monárquico. Anne sabia muito a respeito disso, além de ter um inglês impecável o que denunciava o fato dela ter vivido grande parte de sua vida fora do país.

Tínhamos acabado o trabalho e estávamos arrumando tudo quando meu pai apareceu, ele não parecia nada bem. Furioso para dizer a verdade. Chegou já batendo a porta com tudo, o que fez com que cada um de nós desse um pulo só de susto. Olhei para ele, surpreso por sua atitude, já que ele sempre me xingava por fazer isso, bater a porta quero dizer.

-Pai, o que houve?

-Aconteceu que eu vou matar o ex marido de Samantha.

-O que aconteceu?

Perguntei com medo da resposta. Meu pai não era o tipo de pessoa que fica dizendo que vai matar as outras, a não ser quando é realmente importante.

-Aquele cretino, desgraçado. Assim que soube que sua ex mulher, a mãe de Camila, foi tirar satisfações com ela. Como Samantha confirmou o casamento aquele maluco fez a pior coisa do mundo, ele bateu nela. Eu não acredito. Agora ela esta lá no hospital.