Fevereiro de 2009

Gabriel PDV

A chuva tinha cessado há algum tempo. O sol já brilhava no céu, deixando tudo mais quente ainda. O trânsito estava meio parado. Parece que a cidade inteira resolveu sair de carro. Ligo o rádio, está dando uma musica muito estranha, me pergunto como Lucas gosta dessas coisas... Peguei um CD dos Raimundo, logo a primeira faixa era Mulher de Fases. Me senti obrigado a cantar junto, seria uma ofensa não fazer isso.

O carro na minha frente começou a se mexer depois de um século. Engatei o carro e segui seu exemplo. Estava começando a ter a esperança de chegar em casa antes de anoitecer, o transito parecia estar bem quando na minha frente aconteceu um acidente, o carro que vinha pela preferencial bateu em um que estava na minha frente.

Desliguei a música, peguei meu celular e sai do carro. Disquei rápido o numero do hospital, falei com Jenny a secretária e ela me disse que uma ambulância estava sendo mandada.

Uma homem moreno também estava indo em direção ao acidente.

-Senhor, sei que sua intenção deve ser boa, mas deixe os profissionais ajudarem as vitimas, você pode acabar deixando elas ainda piores.

Olhei para o homem que agora tinha parado na minha frente.

-Olha aqui senhor, tem pessoas dentro daqueles carros que podem estar feridas então eu agradeceria se você saísse da minha frente. E quanto a não ser profissional, sou medico!

-Desculpe, Doutor, mas sou bombeiro e fui treinado para isso.

-Ok, veja como esta o motorista do carro prata que eu vou ate o outro.

Corri até o carro vermelho, o outro carro tinha batido no lado do motorista, e esse deveria estar machucado. Ao abrir a porta me deparei com uma mulher. Ela parecia confusa.

-Oi. Meu nome é Gabriel Smith, sou médico do hospital São Rafael aqui da cidade. Você acabou de sofrer um acidente, mas vai ficar tudo bem, ok?

Ela me olhou com seus enormes olhos verdes.

-Gabriel... nome de anjo... você é um anjo? Eu estou morta?

Fui obrigado a rir.

-Não e não. Mas você não me disse qual é o seu nome.

-Sabe, você parece um anjo. Achei que fosse... Ah, meu nome é Samantha.

-Então, Samantha, você esta sentindo algum tipo de dor?

-Aham.

Ela disse e levou a mão até a cabeça,de onde descia um pouco de sangue.

-Ok, a sua cabeça está doendo?

-Está sim.

-E mais algum lugar dói?

-Não.

Ouvi a sirene da ambulância. Já estava mais do que na hora.

-Você acha que consegue sair do carro?

-Acho que sim.

Sem muita dificuldade ela tirou o cinto e saiu do carro a conduzi até a ambulância.

-Gabriel? Achei que você tivesse fechado o expediente.

Disse Vinicius, enfermeiro e estudante de medicina, e estagiário lá do hospital.

-E fechei, mas o trabalho parece não ter entendido isso!

Samantha estava sentada dentro da ambulância, o outro motorista estava em estado pior e foi levado por uma outra ambulância. Vinicius disse que podia seguir dali, mas eu preferi tratar da mulher até o fim. Pedi a ele que levasse meu carro até o hospital enquanto eu estava na ambulância, ele concordou. No final ela só estava com um corte, que eu limpei rapidamente e depois fiz um curativo. Nem de pontos precisaria.

Quando chegamos no hospital ainda pedi para ela que fizesse uma radiologia. Como não deu em nada ela recebeu alta.

-Mas se sentir qualquer coisa liga para mim, ok?

Ela sorriu.

-Claro. Mas primeiro eu preciso do seu número.

Dei a ela.

-Então, está livre nas sextas?

Ela perguntou com divertimento.

-Não fala assim que eu até acredito.

Respondi sorrindo.

-E é para acreditar mesmo.

Levantei uma sobrancelha.

-Que tal um café?

-Mas, agora?

-É, acho que é uma boa.

-Também acho.

Samantha PDV

O que você faz quando um cara lindo, muito lindo, de olhos azuis e cabelo loiro aparece perguntando se você esta bem? Ainda mais se não for casado, está sem aliança –não me perguntem como reparei nisso, é hábito- ?Existem muitas coisas que poderiam ser feitas ou ditas, mas com certeza a pior delas é perguntar se ele é um anjo. Só uma pessoa idiota como eu para fazer isso.

Mas não é que a idiota esta agora em um café com ele. E não é que Gabriel não é um anjo, pois anjos não tem filhos de quatorze anos, nem filhas de doze que mora na Inglaterra junto com a mãe? Que a propósito esta separada dele a esses mesmos doze anos e que agora é casada com um tal administrador. Pois é ele não é um anjo, mas ainda é um Deus Grego, nossa ele é muito lindo.

E ainda toma café com creme! Não e incrível? Eu acho que é.

Ele parece ser bem inteligente, afinal é medico. Gabriel estava falando alguma coisa a respeito de um paciente e como ele teve que tratá-lo e tal... Não estava entendendo nem a metade, mas ele falava de um jeito ritmado tão empolgado, podia ficar ouvindo ele o resto da minha vida.

-Você está entendendo alguma coisa do que eu estou falando?

Fui obrigada a balançar a cabeça negativamente e comecei a rir. Ele riu também.

-Acho que temos que ir em borá.

Disse, olhando para o céu em que já apareciam estrelas. Ele também olhou para fora e assentiu. Gabriel se ofereceu para me levar até em casa, aceitei, é claro. Afinal meu carro estava todo estragado, e o seguro disse que demoraria no mínimo quinze dias para que eu o conseguisse de volta ou um carro novo.

Fui o guiando pela cidade até minha casa, as ruas estavam cheias de turistas que aproveitavam o verão aqui no litoral. Gabriel parou o carro, olhei para ele sorrindo.

-Então, está mesmo livre nas sextas?

Ele me perguntou, sorrindo também.

-Para você até nas segundas.

Disse e depois me virei e abri a porta do carro, antes de fechá-la me virei para ele.

-Tchau, e obrigado pela carona.

-Tchau, e vê se toma cuidado, hein?

Fechei a porta e fui até a calçada, de lá observei enquanto o seu carro saia andando pela rua.