Meu pai passou na escola para me buscar. Um sorriso bobo estava em seu rosto. Imaginei que fosse por que hoje almoçaríamos com Samantha. Nesses últimos dias meu pai estava estranho, meio aéreo. Segunda -feira, por exemplo, ao descobrir que eu tinha levado mais uma advertência apenas disse para que eu tomasse cuidado para não levar uma terceira se não eu seria suspenso. Quero dizer, ele nem me xingou nem nada do tipo? Algo estava acontecendo, estava sim...

Quando comentei com Anne ela me disse que possivelmente tinha algo a ver com Samantha. Anne, acabei de dar tchau para ela. Um tchau bem longo e demorado, contra o muro da escola...

-Então, a onde vamos almoçar?

Perguntei ao meu pai quando notei que não estávamos indo para casa. Ele sorriu e me respondeu que quando chegássemos eu descobriria.

Admito que estou ansioso para conhecer Samantha. Desde a semana passada fico me perguntando como ela é.  Será alta, magra, gorda, morena, baixa, ruiva, de olhos azuis, verdes ou castanhos? Será ela engraçada ou tímida?

-Chegamos.

Meu pai disse depois de andarmos uns dez minutos de carro. Estávamos no porto. Lá é um lugar legal, sempre cheio de pescadores e tal. Tem algumas lojas, em uma delas tem um Senhor bem velho que vende um monte de bugigangas antigas. Adorava aquele lugar, com fotos da cidade uns 50 anos atrás e também algumas coisas que eu não tinha idéia para que serviam.

Mas não foi para aquele lado que meu pai estacionou o carro, foi na frente de um pequeno restaurante em um dos armazéns. Já passei algumas vezes aqui pela frente, mas nunca cheguei a entrar.

A chuva que caia desde ontem ainda estava forte. Eu e meu pai fomos correndo para dentro do restaurante, que era bem pequeno para falar a verdade. Um lugarzinho bem aconchegante, com uma vidraça na frente, com vista para o mar e um navio que estava encalhado lá desde antes de eu nascer.

Lá dentro, em uma mesa no canto, eu vi Camila sentada rindo possivelmente de uma piada, que eu não consegui ouvir. De costas para nós estava uma mulher que eu imagino que seja Samantha. Só consigo ver que seu cabelo é castanho com cachos enormes, ela vira o rosto e vejo que seus olhos são verdes.

Meu pai, me desculpe, mas ela é linda. Ao nos ver Samantha se levanta e Camila faz o mesmo. O sorriso bobo de meu pai cresce em seu rosto.

-Oi Sam.

Ele diz com uma voz melosa. Vou vomitar!

-Oi Gabe.

Ela fala com a voz toda doce. Gabe? Quem chama meu pai assim? Vou vomitar.

-Desculpe o atraso, Sam, mas o trânsito estava horrível por causa da chuva. Ela acena com a cabeça.

-Tudo bem.

Eles dão um selinho. Estou passando mal. Olho para Camila.

-Eu vou vomitar!

Ela diz com a voz enjoada. Sorriu, é eu também. Samantha e meu pai “Gabe” ficam vermelhos.

-Camila.

Samantha diz em tom de reprovação. Camila por sua vez apenas revira os olhos. Samantha finge que não viu e sorri.

-Gabriel, esta é a minha filha Camila.

-Oi!

Camila fala, quando ela olha para mãe as duas riem, eu não entendi por que.

-Prazer.

Meu pai fala, e parece também não entender os risos delas.

-Samantha, este é o Lucas, meu filho.

-Oi Lucas, seu pai fala muito de você.

Olhei admirado para o meu pai.

-Fala?

Acho que todos resolveram ficar surdos ao mesmo tempo e não me responderem. Nós quatro sentamos.

-Então, já fizeram o pedido?

Meu pai perguntou a Samantha, que assentiu com a cabeça.

-Sim, pedimos. Massa. Algum problema para vocês?

Nos dois dissemos que não. Alguns pãezinhos estavam em um cestinho no centro da mesa, peguei um por que estava morrendo de fome.

-Você e Camila se conhecem, Lucas?

Samantha perguntou, simpática.

-Sim, Samantha.

Respondi depois de engolir um pedaço do pãozinho.

-Pode me chamar de Sam.

Disse ela com um sorriso. Sorri também, por reflexo.

-Ok, Sam. E pode me chamar de Luke.

Sam era muito legal. Era simpática e parecia alegrar a todos com o seu sorriso fácil. Era fácil ver por que meu pai tinha gostado dela.

Além disso ela era publicitária, trabalhava em uma cidade vizinha da nossa. Ela era diretora de arte. Imaginei se era por isso que ela usava aquelas roupas espalhafatosas: básica cinza, uma saia preta, um cachecol vermelho e uma bota de calboy marrom.

Diferente de meu pai, Sam parecia ser bem hiperativa e extremamente chamativa. Achei engraçado como eles eram diferentes, mas mesmo assim eu via nos olhos dos dois um brilho que denunciava o quanto eles gostavam um do outro.

Acabei conversando com Camila, pois as vezes os dois começavam a falar de algo e simplesmente esqueciam que a gente estava ali. Tinha me esquecido que Camila era legal, quero dizer, é claro que ela tinha feito coisas horríveis a Anne que eu achava indesculpáveis, mas nós éramos amigos e até já havíamos ficados umas vezes. Tinha me esquecido como ela era espontânea, e impulsiva o que as vezes a levava a fazer coisas como as brigas com Anne. Mas as vezes esse seu jeito era legal e divertido.

Perguntei a ela por que ela tinha agido como se eu fosse invisível segunda-feira de manhã. Ela me lançou um olhar diferente.

-Joanne é a sua namorada. Não ia ficar dando corda para você, ela poderia pensar que eu estava dando em cima de você. Sabe, eu queria fazer as pazes e não conseguir mais brigas.

Eu já disse que nunca iria entender essas garotas? Pois bem, eu nunca vou entender essas garotas e sua lógica retorcida!

 A massa estava ótima. Simplesmente se desmanchando na boca de um modo perfeito!

-Luke, Camila, precisamos contar algo.

Samantha disse enquanto sorria para o meu pai, ele também sorriu.

-Nós estamos noivos.

Noivos? Eu ouvi certo? Eles estão noivos? Olhei para mão do meu pai e pel primeira vez notei o anel prata no seu dedo anelar na mão direita. Olhei para Samantha e ela tinha um igual. Ok, então era verdade.

-Sério?

Camila gritou ao meu lado. Olhei para ela, que parecia ter ficado histérica ao meu lado.

-Aham.

Samantha concordou com entusiasmo.

-Ai Meu Deus! Você vai se casar! Quando? Onde? Já mandou fazer o vestido? Como será a festa? Ai Meu Deus! Você vai se casar!

Ela mais parecia uma metralhadora falando desse jeito. Pior foi o jeito que Samantha a respondia da mesma maneira. Olhei para meu pai de olhos arregalados. Ele parecia tão pasmo quanto eu.

Já disse que eu nunca vou entender essas mulheres?