Vida de Um Adolescente escrita por Fabio Farias


Capítulo 2
Capítulo 1




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Um mês antes...

Todos os dias eu me pergunto como seria minha vida se as pessoas soubessem o que sou. Minha mãe me impede de contar aos meus melhores amigos, Gustav e Lily. Por mim, todos saberiam, mas por eles eu deveria ficar preso dentro de casa e mal sair pra ir ao menos á escola. Mentira, talvez eu esteja sendo um pouco exagerado – muito exagerado na verdade. Meu nome é Pietro e tenho dezesseis anos, ainda moro com meus pais e estou terminando o segundo ano – para o meu azar ainda tenho mais um ano de aulas e mais um ano de atraso de vida. Sinto saudade das viagens em família, dos finais de semanas tranquilos com os amigos e as horas passadas na rua andando de bicicleta. Desde que descobri meus poderes, minha vida se tornou mais secreta que a própria vida de um agente da C.I.A. Eu tenho o poder de controlar os elementos clássicos: terra, fogo, ar e água. Eu os manipulo a minha força e vontade, e produzo o fogo como quem fala normalmente.

Estou na pista, em meu carro. O vento que entra pela janela, cujo vidro estava baixo, balança meus cabelos negros e a sensação que sinto é de total liberdade, mesmo que eu não esteja pilotando uma moto. Tranquilidade e paz estariam reinando se o som não estivesse estralando Highway To Hell do AC/DC. Não é minha banda favorita, mas eu sou louco por essa música. Sei lá, acho que combina com o momento, uma vez que estou indo cada vez mais para o interior do estado. Reach sempre foi uma cidade que me chama a atenção por seu tamanho, diversas possibilidades de se aproveitar um final de semana e por sua hospitalidade calorosa – claro, os habitantes são bem atrativos aos olhos também. É sexta-feira. Saí da escola, passei em casa e deixei um bilhete para minha mãe, juntei minhas coisas e decidi passar esses três dias na cidade vizinha. Sentir um pouco de liberdade era o que eu queria. Saber que lá posso ficar livre de ordens, regras e submissão, já me alegrava.

Meu carro não era nenhum atrativo, era apenas uma caminhonete caipira branca com uma faixa amadeirada em suas laterais. O ronco do motor era suave graças a uns concertos que fiz no dia anterior em um horário vago, então mico não seria uma coisa a ser paga por andar em um carro velho e barulhento. O celular toca e eu atendo.

– Fala mãe...! – Tateei a tela touch do aparelho colocando-o no viva voz. Eu não tinha nada a esconder, até tinha, mas preferiria manter como estava. Ela estava nervosa, ansiosa talvez. Não parava de repetir o quanto eu era irresponsável em pegar o carro e viajar sem mais nem menos, mas um único truque sempre a calava. – Mãe, eu estou dirigindo depois nos falamos! – Me despedi e desliguei-o. O lado bom de ter uma mãe super protetora era este, a desculpa de estar dirigindo sempre colava e chegava a ser engraçado às vezes.

Nunca parei pra pensar que um dia eu viajaria sozinho e, por ser a primeira vez, eu estava um pouco eufórico demais. Talvez fosse por isso que ela ficou toda preocupada, mas deixei esse pensamento de lado. Queria o fim de semana inteiro para mim. Eu e mais ninguém. Nenhum pensamento em casa, nenhum pensamento em meus amigos, nenhuma preocupação fora do que eu estivesse passando por ali. A cidade de Reach tinha muito a oferecer e eu estava ali para aproveitar todo esse oferecimento. Conhecer pessoas novas e lugares novos, o que eu preciso é dar uma repaginada em minha vida... Talvez eu comece pelo The Start. Ouvi histórias sobre aquele lugar e estou realmente tentado a experimentá-lo e conhece-lo por mim mesmo. Ao entrar na cidade, e eu não sei se foi coincidência, começa a tocar Welcome To The Jungle do Guns ‘n Roses e acho que a animação me contagiou ainda mais, pois comecei a cantar junto com a música enquanto passeava com os olhos pelas ruas que passava.

– Cara, que cidade incrível! – Falei comigo mesmo ao ver as inúmeras pessoas passeando com seus cachorros, em turma, crianças e família. A praça estava cheia, a sorveteria abarrotada. A praia estava extremamente convidativa com todas aquelas pessoas em seus trajes de banho, ondas grandes o suficiente para um surf irado. – Ai, ai... Eu estou no paraíso! – Eu, provavelmente, estava babando por tudo aquilo. Com toda aquela perfeição de cidade eu estava começando a me odiar por morar em uma cidadezinha furreca, no interior do interior. Que saco. A praia parecia uma boa pedida para um começo de final de semana.

– E aí gente fina, vai uma bebida? – O homem do quiosque de coco chamou minha atenção, estava um tanto animado. Animado até demais ao que parecia.

– Eu acho que vou querer sim. Um bem gelado, por favor! – Assenti tentando dar um sorriso simpático ao homem que, de prontidão, manuseou a fruta com extrema maestria colocando-o a minha frente com um canudo branco no buraco de sua superfície. – Gostei! Pegue aí! – Paguei-o e parti para a areia.

O vento soprado do mar aberto era acolhedor. Parecia me envolver nos braços para um descanso tranquilo e eterno, mas, ao mesmo tempo, me enchia de energia para aguentar qualquer animação que fosse me pegar de surpresa. A bebida gelada doía meu cérebro, mas eu não conseguia parar de beber – água de coco é tão viciante. Minha caminhada estava tranquila com a camiseta branca regata sobre um dos meus ombros e a bermuda havaiana em minha cintura, ao menos, até meu rosto encontrar o chão.

– Wow... Toma cuidado cara, não olha por onde anda não? – Senti meu tom hostil sair junto com as palavras cuspidas. Talvez pudesse não ter sido culpa do rapaz, mas meu coco estava no chão e sua água sendo sugada pela areia. – Olha aí... Agora vou ficar com sede! – Praguejei mentalmente, já que a última coisa que eu queria era briga.

– E vai fazer o que? Hã? – Seus olhos azuis me encararam seriamente, embora sua expressão fosse de espanto, medo e desespero. Ele parecia ter uns vinte anos, por aí. Era atlético, o que me fazia ter certeza que passava horas em uma academia a julgar pela camiseta preta justa e a calça jeans do mesmo jeito em suas pernas.

– Vai com calma aí, cara, é só um coco! – Levantei as mãos em gesto de rendição. Eu não queria brigar, só queria entender o que uma pessoa fazia correndo em uma praia de calça jeans e tênis.

O moreno olhava para todos os lados como se estivesse procurando algo. Seus olhos transpassava o medo que sentia e, por um instante, senti-me da mesma forma. É como se meu coração acelerasse e eu sentisse o que ele estava sentindo. Isso é bizarro. Aquilo começou a me incomodar e eu comecei a esperar seja lá o que fosse que o rapaz estava esperando. Senti meu corpo arrepiar e minha pele esfriar. Um nervosismo me pegou de surpresa preenchendo-me por inteiro.

– Ahn... Você está bem? – Perguntei um tanto alterado. Eu não sabia explicar como, mas eu realmente parecia estar sentindo e ele pareceu perceber, pois me olhou de forma repreensiva.

– Te dou quatrocentos dólares pra me tirar desse lugar! – Me perguntei do porque do desespero, mas a resposta veio logo que um grupo de homens armados, terno e óculos escuros irrompiam a multidão da praia em nossa direção. Eu com certeza não iria dar cobertura a um fugitivo da polícia, não mesmo. Estava prestes a recusar quando ganhei uma gravata de seus fortes braços quase me sufocando. – Anda logo, me tira daqui... – Seu tom era de raiva. -...onde está o seu carro?

– Está... Pra lá... – Falei com dificuldade, apontando com a cabeça. Não sabia se respirava ou se respondia.

Os homens que antes andavam em nossa direção, pararam e falavam com o punho na boca. Dois deles apontavam a arma em nossa direção enquanto três parecia chamar reforços. As pessoas começaram a correr. Crianças gritando e chorando, mulheres tentando ampará-las enquanto as levava para longe do que parecia ser um futuro conflito. De repente, uma vontade enorme de não ter saído de casa, de voltar e não sair nunca mais me golpeou no rosto como um tapa mais forte que já senti em toda minha vida. Saí de casa esperando que tivesse os três melhores dias da minha vida e vou morrer. Muito legal não!? Em passos pesados, o rapaz me arrastava pela areia dando a volta, o mais longe possível, do grupo de homens que não tirava os olhos e as armas de nós. Praticamente me arrastando ele me levava para onde estacionei e minha respiração começava a ficar ainda mais difícil.

– Eu não quero te machucar, apenas quero que me tire daqui o mais rápido que você puder. Está me entendendo? – Ele realmente estava com medo e apavorado. Ofegante, forçava as palavras saírem. Não queria me machucar, mas era exatamente isso o que estava fazendo. Desejei chegarmos à porcaria do carro logo, mas parecia estar do outro lado do universo.

– Cara, vamos acabar logo com isso. Eu te dou minhas chaves, você pega o carro e me deixa ir embora. Por favor! – Falei por entre a respiração cortada a cada passo que dávamos e a cada apertada que sentia de seu braço em minha garganta.

– Nada disso estaria acontecendo se você não tivesse me atrapalhado a correr, seu imbessíl! Eu poderia estar bem longe agora se não tivesse no meu caminho, e você continuaria seguindo sua vidinha patética! – Respondeu com escárnio. Eu podia jurar que o choro estava embebido em suas palavras, mas o rapaz mantinha minha cabeça ao lado do seu rosto e sobre seu ombro. Não dava para ter uma visão clara do rosto do meu agressor.

Finalmente, chegamos ao carro. Ele apressava-me, colocava-me sob pressão para abri-lo e dar partida para sairmos dali. Senti-me tão inútil e usado. Nunca pensei que isso um dia aconteceria comigo. Ser ameaçado, sequestrado e roubado. Isso com certeza não era uma coisa muito legal. Minhas mãos tremiam e meu coração parecia que estouraria meu peito a qualquer momento e sairia dando pulinhos correndo para longe. Minhas pernas tremiam tanto que comecei a pensar que meus ossos fossem feitos de gelatina. O ronco do motor tranquilizou-me em partes. Quanto mais cedo eu o tirasse dali provavelmente mais cedo eu poderia dar o fora. Mas, quanto mais tempo eu passasse com ele, mais eu corria perigo. Os homens de terno da praia bateram no vidro com suas armas e forçaram a porta se abrir.

– Acelera... Acelera... – O rapaz berrava com os olhos vermelhos e pude ter certeza que ele estava chorando.

Eu estava aterrorizado e com o medo nítido em meu rosto. Minhas mãos tremiam no volante e meus pés se recusavam a ficar quieto no acelerador. Meu coração estava a mil dentro do meu peito e eu podia sentir o sangue pulsando em minha cabeça, em cada parte do corpo a cada bombeada que ele dava. Se eu sofresse do coração, com certeza, estaria tendo um infarto naquele momento. Minha primeira vez, meu primeiro dia em uma cidade que parece ser o máximo e eu já seria um procurado número um da polícia, ou fosse lá de onde aqueles homens de terno eram. Eu não sabia o porquê, mas, naquele momento, fiquei com minha mãe na cabeça e as coisas que ela dizia no celular. Nada mais importava, na verdade, eu estava frito de qualquer forma.


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