A Esfera da Herança escrita por FireboltVioleta


Capítulo 52
Reborn


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoinhas!
Novo capítulo para vocês! *u*
Acho que não ficou tão bom quanto o último, mas... :P
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/584885/chapter/52

RONY

Eu já não sabia mais qual era o limite entre sonho e realidade.

Quando abri os olhos e reconheci a cama de dossel da Sala Precisa, minha primeira conclusão foi pensar que ainda estava sonhando.

Por que a noite anterior havia sido tão irreal, tão fantástica... não podia ter realmente acontecido.

Mas quando desci o olhar e focalizei-o na figura enroscada em meus braços, a verdade desabou em mim, ao mesmo tempo sufocante e maravilhosa.

Havia sido real.

Fechei os olhos, rememorando aquela noite inesquecível. Um arrepio de embaraço e satisfação disparou por meu corpo quando me lembrei de cada momento.

Contra toda a sanidade e probabilidade possível, num momento ao mesmo tempo tão inadequado e tão razoável, aquela garota incrível havia confiado em mim o suficiente para me permitir mais aquela loucura.

A hesitação e o medo que haviam me corroído até antão se dissolveram completamente. Meu bom senso gritava que talvez não fosse certo. Estávamos tão vulneráveis, e tudo que acontecesse poderia ser apenas fruto de nosso desespero em expurgar os terrores que ainda se apoderavam de nós dois.

Mas, por mais que eu ainda pensasse naquilo como uma insanidade, eu podia sinceramente dizer que não estava arrependido.

O fato é que não foi uma opção. Fora uma necessidade... e, pelo visto, não apenas minha.

Desde que havíamos saído do Ministério, eu havia me enclausurado num estado de torpor, como se aquilo fosse apenas da minha imaginação, onde eu tentava esconder a verdadeira realidade. Esperava finalmente acordar e descobrir que não havíamos saído. Que Helen vencera... que Hermione estava morta.

Tudo contribuíra para que uma angústia crescente se apoderasse de mim. A presença de Hermione ao meu lado parecia tão fácil de escapar... tinha visto – embora negasse querer ver, com todas as minhas forças – o quanto a vida podia ser frágil.

E o único modo de exterminar aqueles fantasmas dentro de mim parecia me convencer de que Hermione estava viva. Sentir sua pele em mim, sua boca na minha, absorver o calor e a palpitação e sua vida em meus braços.

Havia, naturalmente, ficado apavorado. Não sabia se estava preparado para nada assim.

Mas, pela primeira vez, agradeci por meu corpo ter me dado as respostas.

E foi tão bom. Tão lindo. Nada parecido com os quadros dramáticos ou pervertidos que eu já ouvira sobre aquilo. Havíamos nos unido com uma harmonia quase solene, como se tivéssemos nascido para estar nos braços um do outro.

E pude ver Hermione como ela realmente era. Ali, não estava mais a sabe-tudo adoravelmente irritante. Tampouco a Wicca régia e profunda que me inspirava tanta admiração. Era ela mesma, uma garota que era tão corajosa e durona por fora como podia ser carinhosa e frágil por dentro.

Senti meus olhos arderem bobamente, pensando em como eu podia ter perdido aquilo... ter perdido nós... e tudo por causa de tantos erros que havia cometido.

Eu sabia que ali, colada ao meu corpo, estava a única razão para que eu desejasse viver. Ali estava minha vida.

E o que havia acontecido só me aumentava a certeza de que, sim, aquele era meu destino... estar ao lado dela.

Sorri, absorvendo a sensação de sua pele em contato com a minha.

Eu nunca havia percebido o como o corpo de Hermione parecia pequeno quando estava encolhido. A ideia me fez dar uma bufada de humor.

Provavelmente, aquilo foi o suficiente para tira-la de seu sono, já que ela se remexeu em meu peito, resmungando.

Prendi a respiração, mas já era tarde demais. Hermione guinchou baixinho, abrindo lentamente os olhos e erguendo a cabeça em minha direção.

Tentei ignorar o rubor que tingiu seu rosto, já que minhas orelhas deviam estar da mesma cor.

– OI.

Senti o corpo dela estremecer quando riu, envergonhada.

– Oi.

– Dormiu bem?

Hermione passou os olhos ao redor da cama, parecendo zonza.

– Não sabia nem que tinha dormido – foi impressionante o quanto ela conseguiu ficar ainda mais vermelha – digamos que... nem percebi que dormi.

Ah, é. A manhã depois da noite. Céus, que vergonha...

– Está tudo bem? – soltei-a um pouco, pensando se Hermione devia se espreguiçar.

Ela só fez franzir o cenho.

– Por que está perguntando isso?

Minhas orelhas ferveram, tão quentes que poderiam fritar um ovo.

– Hum... – não sabia como falar aquilo sem parecer mais idiota do que o costumeiro – bem... ouvi falar que... de repente... vocês podem ficar um pouco... – engasguei – depois de...

Para minha surpresa, Hermione riu, parecendo achar graça em meu embaraço.

– Você pensa demais, Rony – Hermione balançou a cabeça, plantando um beijo brincalhão em minha boca.

– E então? – insisti, ainda preocupado.

– Não... – ela baixou o olhar diante de minha expressão séria – bom, não sei – bufou, revirando os olhos e, para meu espanto, sorrindo de modo encantadoramente alegre e colando-se ainda mais perto de mim – não importa por enquanto.

Estreitei os olhos, ficando ainda mais assombrado quando Hermione riu marotamente, ao mesmo tempo envergonhada e satisfeita.

O sorriso dela, porém, se esvaiu rapidamente em seguida.

– Bom... – Hermione pareceu ligeiramente sem graça – o que... bem, e você? Como se sente?

Não entendi a pergunta por alguns segundos.

Mas quando entendi, fiquei pasmo.

– Quer saber se eu gostei?

Hermione ficou ainda mais corada.

– Sim... – ela mordeu o lábio.

Eu precisava aprender a dar uma resposta constrangedora sem parecer culpado nem pervertido.

– Pode parar de se preocupar – afaguei seu nariz com a ponta do meu, fazendo-a desmanchar a expressão tensa e rir – não podia ter sido melhor pra mim – sorri, sendo mais do que sincero.

– Sério?

Céus, como ela estava linda, os cabelos bagunçados, o rosto tímido como o de uma garotinha... era demais pra mim.

– Sempre o tom de surpresa – falei, brincalhão.

Com essa ela gargalhou.

– Tá bom, tá bom – ela se guinchou de volta para meus braços.

– E você? – foi minha vez de morder o lábio.

Hermione balançou a cabeça.

– Se eu tivesse odiado, acha que ainda estaria nesta cama? – ela devolveu, humorada, soltando o impensável em seguida – se é o que quer saber, sim, você é bom de cama. Fique tranquilo.

Depois dessa, peguei o travesseiro dela e enfiei no rosto, tentando sufocar o riso. Hermione também riu, se erguendo ao meu lado.

Quando finalmente recuperei o fôlego, me reergui, ainda rindo e a encarando.

– Tantas coisas para falar... – comentei, balançando a cabeça. E lá se ia meu senso de realização. Comecei a rir de novo.

– Não fui romântica o suficiente? – Hermione brincou, deitando a cabeça em meu ombro, enrolada no lençol.

Senti uma onda de carinho me invadir, enquanto me virava para ela e afagava seu rosto.

– Nem um pouco – suspirei, sorrindo antes de beija-la.

Hermione retribuiu, novamente se aninhando em meus braços. Desci minha mão livre por suas costas, acariciando suavemente sua perna, sorvendo a sensação maravilhosa de sua pele.

Hermione gemeu baixinho, enroscando-se inconscientemente de volta para meu colo.

Quando o ar finalmente desapareceu, nos separamos, ainda abraçados.

– Hum... é melhor... voltarmos para a Toca – ela sussurrou, encostando a testa na minha.

Assenti. Aquele pequeno “incidente” não estava nos meus planos da noite, então estávamos mais que atrasados para voltarmos para casa.

Saí da cama, já procurando nossas roupas, e poupando Hermione de mais vergonha, por me enrolar no lençol enquanto isso.

Apesar de tudo que havia acontecido, nós não havíamos exatamente apreciado a paisagem um do outro. E, sinceramente, estava acanhado demais até para querer ver.

Hermione pareceu pensar na mesma coisa, pois apanhou o vestido que eu lhe joguei sem nem sair do lugar, encolhendo-se nas cobertas e fazendo uma expressão assustada, que quase me fez dar risada.

– Acho que no banheiro tem roupas novas – indiquei o pequeno cubículo no canto da Sala.

– Bom, eu preciso chegar lá, não é? – Hermione arregalou os olhos dramaticamente, fazendo menção de levantar.

No entanto, ela arfou subitamente, dobrando o corpo para frente e abraçando o baixo ventre, caindo de volta no colchão.

– Hermione!

Corri até ela, ajudando-a a levantar.

– O que aconteceu? – perguntei, apavorado.

– Tá tudo bem – Hermione balançou a cabeça, tão perplexa quanto eu – acho que fiquei com tontura... só isso.

Ela evitou deliberadamente me olhar, o que me fez engolir em seco.

– Está doendo, não é?

Ela negou com a cabeça, desesperada.

– Não, Rony...

– Ah, Hermione... – ela continuou em negativa, enquanto eu a guinchava da cama, sentindo a desolação me afogar.

– È sério, Rony. Não é nada.

Tentando desviar minha mente da angústia que queria me invadir, concordei com a cabeça.

– Está bem – suspirei – quer ajuda para chegar ao banheiro?

– Não... obrigada – Hermione se enrolou ainda mais no lençol, me lançando um olhar tenso e indo em direção ao banheiro da Sala.

Enquanto isso, procurei não ficar me remoendo de culpa. Talvez Hermione tivesse razão, e eu quisesse fazer tempestade em copo d’agua. Mas também a conhecia o suficiente para saber que Hermione era mestra em esconder o que sentia quando queria.

Mas não ia deixar aquilo estragar a redoma maravilhosa de felicidade que eu sentia ao nosso redor. Se Hermione se sentia segura o suficiente para banalizar algo como aquilo, era por que estava realmente feliz. E eu nunca mais iria querer perturbar seus sentimentos.

Eu mesmo estava me sentindo o cara mais sortudo da face da Terra. Então podia conviver muito bem com aquilo.

E ainda mais com a garota irresistível que era a principal estrela das minhas melhores lembranças.

Mas, pelo menos pelo futuro próximo, os acontecimentos da noite anterior ficariam ocultos naquele lugar tão especial e em nossas mentes.

__________________________O___________________________

Ou foi isso que pensei.

Por que eu não imaginava que Gina, que finalmente viera para casa passar as férias de Páscoa, ia perceber que alguma coisa estava diferente ali.

Enquanto almoçávamos, tentando parecer o casal de noivos mais inocente do mundo, Gina olhava para nós dois como se soubesse de todos os nossos pecados.

E eu tinha a péssima impressão de que o sexto sentido dela já sabia de tudo.

Olhei para Hermione de modo inquisitorial, e tudo que ela fez foi retribuir o olhar como quem diz que não sabe de nada.

Tentei sair da mesa o mais rápido possível, para não ter que passar pela expressão sarcástica de Gina, e consegui subir escada acima sem ser interrogado.

Hermione não teve a mesma sorte.

E vi que era tarde demais, quando ouvi Gina puxando-a para o próprio quarto, alegando querer saber de todas as novidades.

Como se eu não soubesse que ela estava à fim de saber apenas sobre uma.

Foi com um espanto tenso que, minutos depois, vi Hermione entrar no quarto com a expressão mais paranoica da Terra.

– E aí? – perguntei, dividido entre o medo e a diversão – como foi?

– Horrível – Hermione choramingou, fazendo uma expressão martirizada – ela falou que estava na cara – ela se boquiabriu – como assim? Como assim?

– Cara de quem já... – brinquei, quase sendo espancado por uma das mãos de Hermione.

– Não tem graça!

Não resisti. Derrubei-a na cama, e finalmente ouvi sua risada assustada.

– Tem graça sim – suspirei, beijando sua testa – sua bobinha.

Hermione revirou os olhos, enlaçando os braços em meu pescoço.

– Rony...

– Sim?

– Acho que a gente se esqueceu de alguma coisa ontem.

Fiquei um tempo sem entender.

E quando entendi, senti meu rosto ferver.

– E isso é ruim? – perguntei sem pensar.

Hermione parecia tão acanhada quanto eu, mas franziu o cenho, pensativa.

– Não... necessariamente – fiquei espantado quando ela deu um sorriso ao mesmo tempo maroto e satisfeito – se vier mais cedo, paciência.

Bufei.

– Claro. Seus pais nem notariam a diferença.

Ela riu, deitando em meu peito.

Não que, em meio á loucura que fora a noite anterior, eu sequer tivesse me lembrado daquela preocupação básica.

Mas Hermione estava certa. Diabos, tínhamos vacilado mesmo, que fosse.

O que não me deixava menos eufórico, ao fantasiar que tudo aquilo desse origem á algo tão maravilhoso quanto um filho... um filho nosso.

No entanto, isso também podia esperar.

Caramba, eu ainda estava me recuperando do que acontecera no dia anterior. Com mais essa, eu ia era ter um ataque cardíaco.

Hermione não disse nada, mas, dado o eu olhar significativo, ela parecia compartilhar do meu estado catatônico.

– Bom, não importa – ouvi-a comentar, erguendo a cabeça em minha direção – o que importa é que sobrevivemos. Vou abrir o jogo com todo mundo amanhã... tudo vai voltar ao normal. E vamos continuar juntos.

Sorri, acariciando seu rosto e beijando sua testa.

– Sim. Para sempre. E vai ficar tudo bem – acrescentei, fazendo-a rir – tirando a Gina. Essa está lascada comigo.

Hermione gracejou, voltando a deitar-se em meu ombro.

Absorvi a realidade das palavras que dissera, sentindo uma paz de espírito que há muito tempo não residia em mim.

Hermione havia enfrentado os piores medos e desafios que poderia ter enfrentado naqueles três anos caóticos. E eu sofrera junto, por vezes em nem poder poupa-la de tanta dor e angústia.

Mas tudo finalmente terminara. Após tanto tempo, as coisas finalmente estavam tomando o rumo que deveriam. O amor que eu sentia por Hermione era o suficiente para exorcizar qualquer recordação dolorosa.

Agora só nos restava compartilhar nossa história com o mundo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentários? Risadinhas? (sei que tem gente rindo... huehue)
Beijos e até o penúltimo capítulo! :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Esfera da Herança" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.