– Sophie! Volte aqui! Onde você pensa que vai?

– Me deixa em paz Gregori!

De todas as pessoas que poderiam ter me visto chorando e andando a passo firme para o banheiro, justamente a pior me seguiu. Gregori. O que ele tinha a ver com isso? Nada! Não tinha razões para me incomodar, afinal nem nos falávamos. Então por que veio me consolar? Esse menino é muito estranho.

– Sophie! O que houve? Posso ajudar?

– Me deixa em paz! Não quero conversar! - Falei entrando no banheiro, incrédula com a ousadia dele em me seguir até o banheiro feminino.

– Não me importa o que tu queres, eu vou te ajudar. Vem aqui. – Ele disse, me puxando para um abraço, enquanto eu desabava em lágrimas.

– Chorar não é a melhor maneira de passar o intervalo.

– Nem dentro do banheiro feminino. – Retruquei com uma risada abafada, o choro cessando por um momento.

– Assim é melhor. E então, o que aconteceu?

– Foi o Peter... Nós estávamos namorando... – a careta de surpresa dele quando falei isso foi hilária – É eu sei que não parece, mas estávamos juntos... E terminamos agora, por causa da festa de amanhã.

– Como assim?

– Ele não queria que eu fosse, e insinuou que eu encontraria outro na festa. Daí quando falei que iria do mesmo jeito, ele brigou comigo. Então eu fiquei com raiva e explodi também. E agora to aqui chorando como uma idiota na frente de um gato, e ele ta lá bancando o gostosão!

– Um gato é?

– Ai Gregori, to nervosa. Falei sem pensar, não me enche! –Falei virando de costas, para esconder o rubor.

– Mas vai ficar tudo bem Petit. Se você não podia fazer o que queria, então não estava no relacionamento certo. Agora, se eu fosse você, enxugava essas lagrimas e ia naquela festa, linda como sempre, para mostrar pra ele que você é forte e que não é uma briga que te abala.

–É, vou fazer isso... Eu vou à festa!

– Isso. E nos vemos lá. Agora que tal sair daqui? Não estava nos meus planos passar o intervalo no banheiro feminino.

–É uma boa ideia- Concordei.

Algumas pessoas dizem que as mulheres são complicadas, impossíveis de agradar. Eu discordo. É só tratar com educação, prestar atenção nas conversas e reações da mulher e fazer alguns agrados, que ela já se apaixona. E depois, é só manter o ritmo, e ir aos poucos a conhecendo melhor. Já os homens... Eles têm ciúmes dos próprios amigos, sendo que eles mesmos nos levam para sair com seus amigos. Não gostam que usemos roupas curtas, mas para eles ir á academia sem camisa é normal. Não querem que vamos a meras festinhas escolares, mas passar o fim de semana bebendo com os amigos, isso eles podem. E os homens da minha vida são especialmente complicados.

Lembram-se daquele Marcelo, que costumava me perseguir? Então, eu o apresentei à Marta, pelo Facebook, e uma semana depois estavam namorando. O que foi bom. Livrei-me de dois problemas com um gesto. Perdi um perseguidor sinistro e ganhei uma amiga com um humor muito melhor que o habitual. Em contrapartida, o humor da Carol vinha piorando. Ela parecia estar entrando numa fase depressiva, se afastando de todos, se isolando no seu próprio mundinho.

Podemos dividir a história da minha vida em Pré Festa de História e Pós Festa de História. Até agora, tudo corria normal, na medida do possível. Quando começam as reviravoltas, estamos na transição entre os dois períodos, e agora vamos para o marco divisório deles. A tal festa.

Aproveitando um dos momentos em que a Carol parecia estar no nosso mundo, decidimos nos arrumar juntas para a festa. Eu e a Marta fomos até a casa dela, para nos caracterizarmos como personagens históricos, única regra para participar da festa. Marta foi como uma deusa grega, usando um vestido preto –Muitos especularam que estava vestida de dançarina de cabaré-. Carol foi de Afrodite, usando uma toga branca com vários enfeites dourados. E eu, fui de mulher das cavernas.

A festa foi ótima. A decoração estava maravilhosa, a música estava boa, e todo mundo estava animada. Excedeu minhas expectativas, que não eram muito altas. Já para as outras, nem foi tão boa assim... Carol queria ter ficado com o Greg, e ficou extremamente chateada ao ver que ele não se interessava nela enquanto dançava comigo. Já a Marta queria ter o Marcelo junto com ela, mas ele não pode ir, pois estava levando pontos no hospital, por causa de uma mordida de seu cachorro. E eu, que não queria ficar com ninguém e estava me divertindo, ganhei um convite inusitado.

– Sophie, você não vai querer ficar com ninguém hoje?- pergunta o Greg, como quem não quer nada, quando me acompanha para comprar uma bebida.

– Não sei Greg... Ainda sinto que seria uma traição com o Peter.

– Eu não acredito que tu ainda pensas nele! Vem, vem comigo lá fora um pouco.

Concordo, o seguindo curiosa.