Essa dor incessante no meu peito não passa. A cada segundo me sinto sufocado, minha alma grita, implora por misericórdia. Imagino meu corpo indo de encontro a qualquer coisa que me conforte, mas não posso. Não consigo achar conforto. Não, vocês não são culpados. Não sei quem fala mais alto, minha mente ou meu coração, mas falam a mesma coisa. Minha vida acabou naquele dia. Aquele maldito dia. Eu me tornei um vilão. Indo agora ou mais tarde, minha alma já está condenada ao Inferno. Não posso mudar meu caminho. Meus passos parecem ser guiados por outra pessoa, não entendo. Simplesmente, minha realidade se perdeu quando eu fui proibido de escolher o meu destino.

Pai, mãe, eu amo vocês. Não posso mais olhar para vocês e vê-los sofrendo por mim. Sua dor deve ser tão igual à minha… Devo aliviar esse fardo. Não, eu não quero que isso pareça culpa de vocês. Não é. Eu tenho certeza que o único culpado disso sou eu. Mas me permitam contar o que aconteceu, antes que imaginem que isso foi fruto de uma loucura momentânea.

Depois do acidente, quando me isolei, acreditei estar louco, mas não. Eu estava provando um momento de lucidez fora do caos que vivi. Minha mente foi conquistada por ele lentamente. Ele me disse que eu nunca seria amado. Eu NUNCA fui amado, entendam isso. Ele me fez ver que as pessoas não se amam. Mas não posso imaginar como eu, justamente eu, poderia amar.

Essa dor me sufoca. Como se eu mergulhasse em um rio profundo e nunca mais conseguisse achar a superfície. Se isso parecer confuso, me perdoem. Estou tão excitado para encontrar o ar, o verdadeiro ar, a liberdade… A luz. Me retirar dessa condição miserável e nojenta que é o mundo que estou. Essa espiral negra de dor, mentiras e sofrimento. Essa tragédia sem fim que leva toda uma espécie para o abismo eterno do fim e da obscuridade. Mas eu preciso respirar, preciso viver. Isso em que estou, o que chamam de minha vida, foi uma eterna mentira. Mas agora eu posso ver, além da escuridão. Eu posso ver, posso sentir. Um fio de esperança além da perdição. Uma luz além da escuridão. Que os falsos chorem por mim, não me importo. Mas é para livrar vocês dessa dor, pai e mãe, que faço isso.

Pensei por muito tempo. Devo ou não? Como fazer? Uma lâmina de ferro beijando meus pulsos? Alguns comprimidos? Talvez um pulo através de uma janela? Ou uma corda amarrada no teto? Doeria muito? Qual seria mais rápido? Nunca imaginei que ser livre traria tantas dúvidas. Mas agora, quando vejo os benefícios da minha imortalidade após a miséria, vejo que todas as dúvidas colaboram para o que vem a seguir. O último capítulo. O último ato. O último suspiro.

Pai, você era a pessoa em quem me inspirei para ser um bom homem, mas falhei miseravelmente nisso. Mãe, obrigado por toda a dedicação, mesmo sem me amarem, percebo que se preocupam. John, meu querido irmão, lamento por não ser o melhor irmão mais velho, mas tenho a impressão que só você demonstrou algum sentimento, ao menos de compaixão por mim. Me perdoem, mas agora irei me juntar a Vic. Amo vocês, incondicionalmente.

Assinado, Micheal Harvey.