Eu Estou Aqui escrita por SenhoraDiAngelo


Capítulo 5
Capítulo V


Notas iniciais do capítulo

Desculpa, gente. Esqueci de postar aqui de novo.
Obrigada por todos os comentários



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"You don´t want me, no

You don´t need me

Like I want you, oh

Like I need you"

– You, The Pretty Reckless

Os olhos se Jason procuraram Nico. Ele se lembrava de tê-lo visto na fogueira. Annabeth, em vez de responder ao pedido, se atirara sobre Percy e agora os dois se beijavam mais como se estivessem num quarto escuro.

Todos haviam levantado excitados, e foram até os noivos, erguendo-os no ar, os filhos de Afrodite aos gritos histéricos e os de Ares urrando. Só Jason não se juntou a eles, procurando alguém com o olhar. Por fim, encontrou Nico. O garoto estava sentado num tronco de árvore parecendo ter levado um tapa na cara: seus olhos estavam arregalados, com as pupilas dilatadas. Ele aparentava mais pálido que o normal, e seu corpo tremia claramente com a boca entreaberta, como se eles quisesse dizer algo mas estava perplexo demais para qualquer coisa. Sua respiração pesada parecia em choque.

O garoto se levantou cambaleante e começou a andar de costas, já que de frente para a multidão, a incredulidade e o desespero estampavam seu rosto. Sentia dor como nunca havia sentido antes. Suas pernas fraquejaram ao se distanciar, tropeçou uma na outra e Nico caiu de costas no chão. Ele arfava, como se não conseguisse respirar. Estava tendo uma visão perfeita de Percy e Annabeth que se beijaram novamente, em resposta ele agarrou os cabelos com força e enterrou o rosto nos joelhos.

Era como se caísse rumo ao nada, tentando se agarrar a algo que não existia. Cada vez mais profundo estendia a mão tentando voltar, mas não havia quem o pegasse para devolvê-lo à superfície. Ele não era Annabeth.

Foi aí que Jason decidiu que não ficaria apenas olhando o amigo submergindo em seus terrores. Di Angelo estava do outro lado do recinto e Jason tentou correr, mas estava impossível fazê-lo sem atropelar alguém. As hordas de semideuses gritando e se acumulando a sua frente como abelhas indo para a colmeia não ajudavam muito. Droga, Jason só queria chegar até Nico o mais rápido possível. Finalmente, o loiro se aproximou o bastante até o filho de Hades, ajoelhando-se ao seu lado.

— Nico! – Sibilou Jason com urgência, puxando-o para que ficasse de pé. – Vamos sair daqui. Agora.

— Jason... – Sussurrou Nico, quase sem voz.

Ele parecia pequeno e totalmente vulnerável, como um filhote abandonado. A visão era insuportável para Jason: tinha que tirar o amigo de lá, não podia deixa-lo ver mais daquilo.

— Agora! – Repetiu o filho de Júpiter, puxando-o pela mão e começando a correr.

Nico não tentou resistir. Parecia deprimido demais para fazer qualquer coisa. A grama antes verde secava e apodrecia por onde eles passavam; folhas das árvores caíam e as flores se contorciam. Mesmo Jason que o levava pela mão, conseguia sentir a dor do garoto. Tanta tristeza. Tanta raiva de si mesmo. Tanta frustração.

O filho de Hades estava se afogando. Seus pulmões queimavam. Ele estava em pânico, e não podia fazer nada. Por um momento, desejou que a água invadisse seus pulmões. Que acabasse com aquilo de vez, mas ele sabia que nunca iria acabar. Tamanha ironia: justo a água.

Jason não se importava com o que Percy, Annabeth, Leo ou até mesmo Piper iriam dizer, isso era muito mais importante pra ele. Como Percy não haviam percebido o que estava bem debaixo de seu nariz? “Aquele cara precisa mesmo de Annabeth pra compensar a burrice dele” concluiu, ao passo que a mão de Nico na a sua tremia. Queria trazer o garoto o mais longe possível daquele lugar. Ele não parou de correr até o som das palmas e dos gritos tornarem-se ao máximo inaudíveis.

Nico cambaleava atrás de Jason e deu um grito abafado ao tropeçar em uma raiz saliente que saía da terra sob seus pés. Protegendo o rosto com as mãos, caiu com o corpo deitado sobre o chão. Ele não sentia vontade de se levantar, permaneceu ajoelhado sobre a terra, com a cabeça baixa, olhando para o vazio. Sentia-se oco, de olhos opacos e sem brilho. Percy levou sua alma e esperança consigo.

Morrer não seria uma possibilidade tão ruim naquele momento.

Ia fundo em sua própria escuridão, mente e coração. Ele já não conseguia ver a luz da superfície. Nem se lembrava de se havia uma superfície. Não importava o quanto lutasse e se debatesse, era inútil.

Jason se ajoelhou ao lado do garoto.

— Nico. – Ele disse sem resposta. – Ei. Eu sei. Estou com você. Não vou dizer que está tudo bem, que sei que não está. Mas você não precisa esconder sua dor de mim.

Trincou os dentes: o que Jason falara apenas piorara sua situação. Estava parecendo um fraco; ingênuo, uma fraude. Agora, não tinha nada. Mesmo que tentasse se conter, não conseguia nem isso, algumas lágrimas indesejadas rolavam pelo rosto. Ele enterrou o rosto nas mãos e atirou a cabeça novamente na direção dos joelhos, puxando os cabelos. Odiava chorar. Odiava ser incapaz de abafar sua dor. Odiava que tudo aquilo era por causa de Percy e odiava que Jason estivesse vendo aquilo.

— Eu vou morrer. – Disse mais como uma afirmação em voz baixa. – Me mate, Jason. Eu quero morrer. Me mate. Agora.

— Nico! – Exclamou Jason, alarmado.

— Não! Não! Eu quero morrer! Eu sei que vocês não se importariam de qualquer jeito! – Nico gritava, com lágrimas escorrendo pelo rosto, incessantes. – Me deixe escapar daqui! Eu não suporto isso! Me deixe ir embora!

— Nico! Pare! – Gritou Jason, estendendo a mão, realmente nervoso com o outro à sua frente completamente em pânico, destruído.

— Não. Não. Não. – Ele repetia. – Você... eu... Não importa, se você não vai fazer isso, então eu vou! Sou uma vergonha! Um fracasso! Estranho, repugnante! Eu quero morrer!

Nico pegou sua espada de ferro estígio jogada ao seu lado. A lamina inteiramente negra, sem luz, que deixava escuridão ao redor mais escura ainda. Assim como Nico estava por dentro naquele momento. Ele a segurou, e trêmulo, virou a lâmina para seu pescoço. Não havia sobrado nada dentro dele, nada que o prendesse ao mundo. Sua vida estava escorrendo por entre seus dedos. Nico fechou os olhos com força e se preparou para dar o golpe. Já podia até ver seu sangue a derramar sobre a terra, sua vida esvair. Ele desejou ter morrido na guerra contra Gaia, ou no Tártaro. Mas tudo bem, tinha a chance de consertar aquele erro naquele momento.

— Chega Nico! – Jason arrancou a espada da mão de Nico.

Nico o olhou nos olhos, com um olhar suplicante, tão desesperado, tão magoado e triste. Mais lágrimas escorreram de seus olhos.

— Droga! – Gritou o filho de Hades, escondendo o rosto nas mãos. Ele soluçava com tanta força que seus ombros sacudiam-se violentamente. – Grace! Você não me deixa nem... – Um soluço interrompeu sua frase. – Por quê?! Não faz a mínima diferença para você!

Mas o filho de Júpiter apenas se aproximou e envolveu-o com seus braços, puxando-o para um abraço. Nico arregalou os olhos em meio aos soluços.

Teria pedido que Jason se afastasse, que não o tocasse, porém dessa vez, ele não tentou resistir. Aqueles braços entorno dele eram firmes, calorosos, acolhedores como uma vez já sonhou. Podia Di Angelo até dizer que se sentia seguro lá.

Fora sim ingênuo de acreditar que Percy havia percebido, estando concentrado demais em Annabeth para sequer prestar atenção nele.

Nico sabia que as pessoas costumavam esquecer-se de sua existência quando ele não falava. Que tinham medo dele. Sempre preferira assim, mas...

— Ele estava sendo gentil e legal comigo. – Explicou Nico subitamente entre os soluços, a voz abafada. – Acho que, e-ele nunca prestou muita atenção em mim. E ele disse que... Ele disse queria que ficássemos mais próximos, que queria me ver sorrindo... Então eu pensei que talvez... Só talvez... Ele tivesse percebido, mas...

Jason afagou os cabelos de Nico, que se encontrava encolhido em seus braços, as mãos sobre o rosto. O loiro sempre tivera a impressão de que não gostava muito de Jackson, acreditava ser por causa da rivalidade entre suas origens – grega e romana – ou seus pais, que sempre estavam a brigar, mas nunca imaginara que ele poderia ser tão idiota. Não percebia nada?

Depois de Split, Jason começara a reparar que o comportamento de Nico era diferente perto de Percy: ele ficava mais inquieto e desconfortável, como se quisesse fugir, tinha um brilho diferente nos olhos. E quando Annabeth estava com ele, o filho de Hades assumia um ar mais melancólico.

O problema era que já era bom demais em esconder suas emoções, mas poxa, o cara havia feito de tudo para demonstrar que queria ficar longe de Percy, e o que ele fazia? Aproximava-se mais dele. Apesar de ser poderoso, forte e intimidador quando lutava, era óbvio que Nico estava desarmado no quesito emocional.

Percy o havia iludido mesmo que não intencionalmente, feito-o pensar que ele talvez compartilhasse de seus sentimentos e depois... Como quando se explica algo a alguém e ela sorri, pra dizer que não entendeu coisa alguma. É o mesmo sentimento.

Mas ele o fez sem ao menos se dar conta disso. Se pelo menos houvesse mantido certa distância de Nico, talvez o garoto não houvesse ficado tão ferido. Jason deveria ter insistido para que Percy não fosse falar com Nico, mas... Se ele o fizesse, Percy acabaria descobrindo o que acontecera em Split. Bom, na verdade Jason não sabia se isso seria melhor ou pior do que o que havia se sucedido.

Tantos “se”.

— Droga. – Murmurou Nico para si mesmo. – Eu sabia que isso daria errado. Gostar de Percy. – Jason se perguntou se ele havia se dado conta de que dizia em voz alta. – Se eu não fosse tão fraco, poderia simplesmente esquecer isso. É óbvio que ele nunca iria perceber. Eu não exatamente solto purpurina e arco-íris quando passo. E mesmo que ele soubesse, obviamente escolheria Annabeth. Ela é uma menina só em primeiro lugar. Isso é bizarro e errado.

O garoto engoliu em seco, tentando parar de chorar. Estava agindo de forma extremamente imatura. Mas talvez não fosse apenas Percy; era Bianca, era todos aqueles anos de rejeição e medo, sendo incompreendido, acusado, enquanto apenas afundava mais em sua própria agonia.

Escuro.

Frio.

O filho do Mundo Inferior.

— Pare com isso. Não é sua culpa se você sente o que sente. – Sussurrou o filho de Júpiter. – E não tem nada de errado com isso. Não é fraqueza, não é bizarro. É só... Você só está gostando de alguém, Nico.

— Não é assim. – Respondeu Nico, a voz por um fio.

— Sabe, não sei nos anos 30, mas hoje em dia, muitos meninos gostam de outros meninos. O mesmo para meninas. Pare de se preocupar tanto com isso. Além disso, os deuses não podem dizer nada. A maioria deles, incluindo meu pai, já tiveram casos com gente do mesmo sexo. Não se lembra de Jacinto?

Subitamente, o garoto sentiu um calor preenche-lo por dentro. Jason o puxava de volta para a luz e, pela primeira vez em tempos, pode respirar novamente.

— Por quê? Por que você está fazendo isso? Podia estar festejando com seus amigos, mas em vez disso você... – Ele deixou a frase no ar por alguns segundos. – O que eu já te fiz, Jason? Se só te tratei de modo rude até agora, por quê...?

— Por que eu não me importo. Eu sei que meu lugar é estar aqui, não com eles. Eu sei como você se sente e é rude porque é como você sabe lidar com isso. E mais do que tudo, sei que não vou deixa-lo sofrer sozinho. Eu não poderia estar lá festejando sabendo que você está aqui.

Nico fechou os olhos, tentando esquecer-se de Percy, de Bianca, do medo, de tudo. Tentou concentrar-se apenas no calor dos braços de Jason e a respiração dele perto de seu rosto.

Ele nunca teria imaginado que abraçar alguém poderia ser tão bom. Agora as lágrimas já não caíam mais e sua respiração voltara ao normal.

De repente, um barulho ao longe os fez se virarem de supetão. Passos. Ainda estavam ao longe, mas logo os alcançariam. Jason ouviu a voz de Piper chamando o seu nome. Estreitou os olhos, tentando ver a figura da garota andando até ele. Nico se soltou de seus braços e se afastou. Ele queria dizer para o loiro que fosse até Piper e se divertisse, que o deixasse e não haveria problema, mas temia que sua voz saísse trêmula. Estava bem. Melhor, pelo menos –, ou assim esperava que estivesse no mínimo. Então fechou os olhos, se concentrou e viajou pelas sombras até seu chalé.

Jason parou de encarar Piper e voltou-se para frente, onde Nico supostamente se encontrava sentado, mas apenas o ar preenchia o espaço, suspirou. Só esperava que Di Angelo ficasse bem. O filho de Júpiter se esgueirou por baixo de seus arbustos até seu chalé para que a filha de Afrodite não o visse. Abriu a porta com dificuldade, por estar abaixado e entrou, se sentando na cama. Se Piper o visse lá fora poderia pensar coisas estranhas, desse modo ela viria para seu chalé com certeza o procurando. Dito e feito: alguns segundos depois, ouviu batidas leves na porta.

— Jason? – Disse a voz de Piper com delicadeza. – Você está aí?

— Estou. – Respondeu ele. – A porta está aberta. Pode entrar.

A porta abriu-se com um rangido e Piper McLean pôs a cabeça para dentro, tendo a visão de Jason largado na cama. Ele ergueu a cabeça e acenou.

— O que aconteceu? Você saiu no meio da fogueira. Está tudo bem?

Jason deu de ombros, tentando parecer o mais convincente possível.

— Me senti mal e resolvi que era melhor descansar um pouco. Saí lá pela parte que Percy estava pedindo a atenção de todo mundo lá. Pensei que não fosse nada demais então vim para cá.

Piper abriu um sorriso.

— Então, você não viu?

Jason se sentiu mal por mentir para Piper, afinal, ela era sua namorada, e eles haviam passado por tantas coisas juntos... Mas aquele momento... Ele não podia contar a ninguém. Nem mesmo ela.

— Não vi o quê?

— Percy e Annabeth! Eles vão se casar! – Saltitou animada e bateu palmas, olhando para ele com expectativa. Poxa, o que ela queria que ele dissesse?

— Legal! – Respondeu, tentando soar o mais alegre possível. – Que ótimo! Me lembre de dar os parabéns a eles amanhã.

Ela assentiu, com um sorriso e ajoelhou ao lado dele.

— E aí, quer que eu vá para deixa-lo descansar mais um pouquinho? Ou prefere que eu fique...?

— Não precisa, vá lá aproveitar com os outros, só estou um pouco cansado.

Ela se alarmou ao ouvir isso:

— Ah, tem certeza? Você está bem? Acha que é alguma coisa grave?

Ele negou com a cabeça.

— Nada que uma boa noite de sono não resolva. – Respondeu Jason e Piper se levantou, mas ainda estava próxima.

— Então eu acho que vou deixa-lo descansar um pouco. – Informou. - Qualquer coisa, me avise, certo?

Ele forçou um sorriso.

— Certo. Eu te amo, Piper.

Piper deu-lhe um selinho. Jason reparou que não havia sido como das outras vezes. Parecia tão... Normal? Não tinha o toque especial que sempre tivera, não tinha toda aquela emoção de antes.

Por algum motivo, a melhor descrição daquele beijo era monótono. A garota saiu do chalé e a porta fechou-se com um clique. Jason esfregou as mãos no rosto. O que diabos estava acontecendo com ele? Resolveu dormir para acordar cedo no dia seguinte, e por algum motivo, certo filho de Hades invadia seus sonhos...

Definitivamente, Jason estava ficando louco.


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Notas finais do capítulo

adhvfasgsdkjghsdljglsd odeio esse capítulo :v mas tá aí.



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