Quando o amor acontece escrita por Burogan


Capítulo 8
Uma conversa no escuro


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, estive sem escrever por um tempo devido a uns problemas de computador, Word e etc. Mas agora estou de volta com as peripécias do nosso herói. E aí, curiosos para saber o que Paty tem atrás da porta?? Não deixem de ler e por favor comentem, mesmo se for pra criticar. Seria muito bom saber o que os leitores pensam a respeito da história. Obrigado =D



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— É horrível, eu sei. Sou um monstro. – Paty tampava o rosto com as mãos.

Toda a minha atenção era dedicada ao tatame que estava a minha frente, no centro havia um saco de pancada pendurado, ele era sustentado por grossas argolas de ferro que o prendiam a uma viga de madeira no teto. A minha esquerda havia quatro pares de luva e algumas atadeiras. Tirei meus sapatos e caminhei lentamente até o meio do tatame, onde estava o saco de pancadas. Deslizei meu dedo lentamente no couro vermelho, estava desgastado e um pouco velho, algumas partes estavam até descosturando. Me perguntei quantas vezes ela precisou soca-lo, quantas vezes ela descontou seu medo, sua raiva... aqui! Passei o dedo delicadamente numa parte mais afundada do couro. Esse saco conhecia ela melhor do que qualquer um. Eu quando estou perdido e de saco cheio da vida, sempre me isolo em um canto e vejo animes. É aqui que ela vem quando se sente assim. Involuntariamente começou a crescer uma vontade insuportável dentro de mim, uma vontade de ser alguém para ela, alguém com quem ela pudesse ser ela mesma. Eu precisava me tornar esse tipo de pessoa, eu quero ser essa pessoa. Entender Paty Pannes já não era mais um dever que o coordenador tinha me incumbido de realizar, agora é uma necessidade da minha alma.

Sai do tatame e fui diretamente até ela. Paty estava encolhida no canto da parede ao lado da porta, os pés juntos, ela se abraçava. Aqueles olhos azuis piscina, um pouco avermelhados por causa do choro, agora me observavam depositando toda a apreensão que Paty já não podia mais conter.

— A partir de hoje eu quero ser como aquele saco. – Apontei para o centro do tatame.
— O que? Por que? – Paty fez uma voz fofa.
— Como aquele saco eu quero estar com você nos momentos que ninguém pode estar, assim como na noite em que você quase morreu. – Segurei a sua mão.
— Você... Você está delirando. – Paty corou. – Não precisa fazer isso nerd. – Paty enxugou o rosto na manga do blusão.
— Mais eu quero! E isso não é um pedido, estou adicionando uma clausula no nosso acordo. – Sorri.
— Meus fardos são pesados demais. – Paty olhou para o lado, o rosto mais vermelho que um tomate.
— Então eu divido o peso com você. – Peguei levemente seu rosto e o direcionei a mim, fiz questão de olhar em seus olhos.
— Mas.. Mas... AI! O que foi que deu em você hoje hein? – Paty saiu pela porta do quarto sem jeito. – Vem comer! – Ela disse logo em seguida.

Assim que cheguei na mesa dois sanduíches enormes me esperavam, dava para ver o queijo que derretia no hambúrguer – logo meu cativeiro de lombrigas começou a se manifestar. O silêncio era dominante. Paty estava pensativa demais para dizer alguma palavra e por algum motivo eu não parava de observa-la. Ela deu um leve tapa na testa fazendo um pequeno estalo, se levantou e foi até a cozinha. Não demorou muito e ela voltou com outra jarra de suco, imaginei que ela tivesse esquecido.

Por mais que eu estivesse na casa da menina mais popular da faculdade, não seria correto se esse herói se esquece de suas origens. Suas crenças. Os ensinamentos japoneses que aprendi ao longo da vida, tudo aquilo era parte de quem eu sou. O que pensariam os mangakás, os deuses dos templos se esse herói não fizesse isso aqui e agora? Imediatamente fechei meus os meus olhos e juntei as palmas das mãos.

— Itadakimasu! – Falei ao mesmo tempo que juntava as palmas das mãos.
— Você não sabe que é feio jogar macumba na refeição? – Paty deu três socos na mesa como forma de repreensão.
— Não, de forma alguma. – Eu ri. – Esse é o modo como os japoneses agradecem pela comida. – Tentei explicar.
— Bom, sendo assim... Itadakimasu! – Paty juntou as palmas das mãos.

Morri. Morri uma vez. Morri duas vezes. MORRI CEM VEZES! Foi com certeza a cena mais linda que já vi em toda a minha vida, Paty Pannes bancando a otaku. Eu não fazia ideia de que aquelas palavras podiam ser ditas de uma forma tão sexy e que ela conseguia ser tão perfeita. Naquele momento desejei com todas as minhas forças que o tempo parasse e que o mundo acabasse, então só restaria nós dois. Se era egoísmo da minha parte querer aquele momento só para mim? Talvez. Só sei que tudo o que eu queria, era ficar admirando aquela cena até que meus olhos enjoassem. Coisa impossível de acontecer.

— Quer mesmo adicionar mais uma regra feioso? – Paty falou enquanto mordia o hambúrguer.
— Uma não. Duas. – Minha voz era firme.
— E qual seria a segunda? – Ela arregalou os olhos.
— Comece a me chamar de Bryan. – Sorri.
— Por que? – Paty voltou sua atenção ao hambúrguer.
— Algo me diz que “Feioso”, está virando um apelido. – Eu bebia o suco.
— OK Bryan. Agora... – Paty fez uma pausa. – Sobre aquela conversa no tatame...
— Eu sei que vai dizer não, mas... – Eu a interrompi, mas não consegui terminar de falar.
— Tudo bem. – Paty escondeu o rosto atrás do sanduiche, a voz quase não se ouvia.
— O que? Desculpa eu não te ouvi. – Aproximei meu rosto para mais perto do seu.
— Eu disse que tudo bem. Mas eu também tenho uma condição. – Sua voz recuperou o tom normal.
— Aceito qualquer coisa. – Não conseguia esconder a empolgação em minha voz.
— Prometa que você vai vir quando eu te chamar! – Ela me encarava apreensiva.
— Tem a minha palavra de herói. – Fiz um juramento.

O Celular toca e imediatamente Paty atende fazendo a voz mais doce que ela podia fazer. Olhei para a janela e a escuridão já tomava conta do céu, não sabia exatamente que horas eram, mas sabia que tinha que ir.

— Está bem amiga, eu te encontro lá. Não, pode levar sim, eu dou um jeito de conseguir ingressos pra ela. Beijos de luz, até daqui a pouco querida. – Paty desligou o telefone.
— Suponho que eu deva ir. – Me levantei da cadeira.
— Eu te levo até a saída. — Paty já ia se levantando.
— E correr o risco de ser vista comigo? – Abri um sorriso no canto da boca.
— Pensando melhor, vou te dar tchau daqui mesmo. Até mais feioso, digo Bryan. – Ela sorriu.

Quando cheguei em casa a primeira coisa que fiz foi jogar Xbox, mas antes eu tive que fazer uma negociação com Amanda por que ela não largava do GTA. Depois de oferecer uma caixa de bombons ela saiu do quarto, imediatamente coloquei o Call Of Duty: Black Ops. Descanso. Paz. Tudo que esse herói precisava.

— Bryan! O porteiro ligou, disse que tem um amigo seu na portaria. – Aline gritou da cozinha.
— Amigo? – Perguntei.
— Mãe, o porteiro deve estar vendo coisas. Desde quando o maninho tem amigos? – Amanda falou entre risos.
— CALA A BOCA SEU GNOMO DE JARDIM! FALA PRA ELE SUBIR MÃE. – Gritei do quarto.

Amigo? De certa forma aquele diabinho que chamo de irmã tinha razão. Não sou do tipo que recebe amigos em casa, até por que eu não tenho. Até que eu me lembrei de um jovem que recentemente tentou roubar a minha irmã, me perguntei se era Thomas quem estava lá em baixo e se fosse esperava que Amanda não o reconhecesse. Alguns minutos mais tarde vi um topete aparecendo do lado da porta, olhando de um lado para o outro, a preocupação era clara.

— Eai Jow, está tudo certo? – Perguntei.
— Sei lá, eu não costumo muito visitar as pessoas. – Ele entrou no quarto.
— E eu não costumo receber visi....
— Caramba! Black Ops? Cara você é um lixo nesse jogo, dá licença deixa o papai aqui te ensinar. – Thomas foi se apoderando do quarto, da cama, do controle, de tudo.

Tinha que admitir, ele era bom. Ficamos jogando por horas e para completar eu pedi uma pizza e foi a partir desse ponto que varamos a noite. Jogamos, assistimos séries e animes. Meu quarto era escuro então não dava para perceber que o dia estava clareando e naquele meio tempo conversei muito com Thomas.

— Cara, você está bem? — Thomas me perguntou em quanto sentava na beira da cama.
— Nunca estive melhor. — Sorri.
— Não sei não... você parece meio aéreo. —Thomas tinha a voz séria.
— Lembra daquele papo sobre compartilhar um segredo e ficar intimo de alguém? — Perguntei.
— O que é que tem? — Thomas tinha um ponto de interrogação na testa.
— Você tinha razão. — Imediatamente a imagem daquele demônio ruivo veio a minha mente.

Tudo agora era diferente, estranhamente anormal. Era como seu eu andasse sempre no limite e a cada decisão tomada era um rísco. Entender Paty é de longe a missão mais difcil que esse herói já teve e com certeza a mais interessante. Um saco de pancadas? Sério? Nunca, nem mesmo por um segundo eu imaginaria que ela escondia esse tipo de coisa naquele quarto. Me perguntei o quão dura foi a vida pra ela e acada vez que eu refletia sobre isso, maior era a minha vontade de ajudá-la.

Era noite de sexta, o dia tinha sido ótimo. Tinha conseguido chegar cedo no banco e não tive nenhum problemas com os clientes dessa vez, mas toda aquela energia positiva se foi no momento em que entrei na sala. Aquilo com certeza foi um baque. Os alunos estavam todos assustados, fosse idoso, adulto ou jovem, todos sem excessão carregavam o medo em suas expressões. Não se ouvia um pío. Sentei ao lado de André, que inclusive parecia bem apreensivo. Tati estava logo atrás de mim, as mãos entrelaçadas seguravam o terço que se enrolava até o punho, o crusifixo se encontrava perto da boca. Ela estava orando? Mas que raios aconteceu com esse povo hoje?

Meu globo ocular não parava de dançar, eu olhava de um lado para o outro, em busca de algum vestigio. De alguma resposta para o que estava acontecendo. Eu estava tão entretido com a situação que nem havia percibido que o professor estava em sala. Logo ele se levantou e disse em alto e bom tom.

— Bom, vocês terão sessenta minutos para resolver o teste surpresa. Façam com atenção, pois vai conta como nota parcial. — Aquelas palavras estupraram meus ouvidos.

— SANTO GOKU! — Esbravejei. Tinha a leve impressão de que havia encontrado a minha respostado.

— Marralkcs, calado! — Disse o homem.

Acalme-se herói, acalme-se. Isso não será o suficiente para abalar a sua paz, Sistemas Brasileiros de Comunicação é uma matéria tranquila. Eu dizia pra mim mesmo. A minha sorte é que de vez em quando eu faço algumas anotações dessa aula. Eram vinte questões objetivas. Não demorou muito e senti um cutucão vindo da direita na minha costela, olhei de esguelha e vi que era o senhor Olavo. Tinha lá seus sessenta e cinco anos, expressões marcantes no rosto e cabelo grisalho, era o unico idoso na turma. Rapidamente ele me mostrou a sua prova e com a caneta apontou para a questão número cinco. Ele queria cola?

Quase babei na tentativa de segurar a minha risada. Seu Olavo me observava, a aprensão tomava conta de seus olhos. Ele nem imaginava que daquela prova eu sabia tanto quanto ele, mas por sorte, a número cinco eu tinha feito. Lancei meu olhar rapidamente para o professor, que no momento olhava para o outro lado da sala. Era a minha deixa! Novamente lancei meu olhar para o seu Olavo e com uma habilidade incrivel, que apenas um herói pode ter, falei:

— Letra "B" seu Olavo. Letra "B". — Cochichei na esperança de que ele pudesse ter ouvido.

— Hein? Letra "C"? É que eu não escutei meu jovem. — Ele aproximou o ouvido.

— Não seu Olavo, é a letra "B" entendeu? Leta "B". — Acho que dessa vez ele tinha ouvido.

— Ha sim, entendi, letra "E". — Disse o bondoso homem.

— Santo Goku... Seu Olavo é a letra "B". — Calma herói, é um idoso. Tudo vai dar certo.

— Hein? Go-oque? Onde você leu isso? — Seu Olavo tinha a voz baixa. Droga, se ficarmos muito tempo nisso, vamos ser pegos.

— Se Olavo, é "B" de bola. — Falei com toda calma que consegui reunir.

— Desculpe filho... eu não consegui te ouvir. — Por que eu resolvi passar cola pra ele mesmo?

— Se o senhor me der lincença... — Sem que o professor visse, peguei a prova do seu Olavo e marquei a mesma questão que a minha e no mesmo estante devolvi. — Agora só rezar pra estar certo. — Sorri.


Assim que terminei a prova o professor me liberou. Imediatamente fui direto para o único lugar que eu poderia ficar em paz e fazer a unica que relaxava esse herói. Ver animes no santuário! O vento soprava forte. Não demorou muito e comecei a subir na pilha de madeiras, por um minuto eu me perguntei o que será que estava sendo construido aqui. Logo minha atenção foi deirecionado para o tablet em minhas mãos e o anime da vez seria Sword Art Online.

Então escutei um galho se quebrando, olhei ao redor mas não vi nada. A área de construção não era tão iluminada quanto o resto da faculdade, mas difcilmente alguém viria aqui. As pessoas vão a vários lugares, a não ser que seja um engenheiro ou algo parecido, ninguém mata o tempo em um canteiro de obras. Exceto esse herói aqui, é claro. Com certeza devia ser algum animalzinho, logo voltei a dar atenção ao meu anime. Mais uma vez um barulho, porém dessa vez eram passos. Até que finalmente a pessoa saiu de trás de um trator parando a minha frente. Minha boca se escancarou num "O".

— Então é aqui que você se esconde nerd feio... digo, Bryan. — Paty estava em pé a minha frente. Sua voz não tinha nenhuma emoção.

—O que... O que você está fazendo aqui? — Não acredito que ela havia descoberto meu santúario. Agora sim a paz desse herói iria acabar.

— Eu vi você saindo do seu bloco mais cedo e resolvi te seguir. E você é realme estranho, como tem coragem de ficar aqui? Sei lá, é deserto...

— Me tranquiliza. — Minha voz era séria. — Esse canteiro pra mim é o mesmo que aquele quarto com tatame é pra você. — Voltei a ver Sword.

— Perfeito... — Sua voz era doce. Quando lencei meu olhar a ela, percebi que Paty havia se pertido na dança que o vento provocava nas arvores. — Está decidido! Aqui será o nosso local de encontro. Nenhum dos meus amigos viriam aqui. — Ela tinha um sorriso de um lado ao outro.

— Você está brincando né? — Falei com indignação.

— Não. — Sua voz era firme.

— Não! Esse é o meu lugar de paz. Meu santuário. Você não...

— Nosso santuário queredinho. — Paty me interrompeu destacando bem a primeira palavra.

— Ok, nosso santuário. — Não estava nem um pouco a fim de começar uma discução. — Então, o que você quer tratar comigo? — Perguntei.

— Na verdade são só algumas ideias que eu queria discutir com você, estava pensando fazer algumas alterações na planta do projeto. — Sua voz era séria.


Num piscar de olhos a faculdade foi tomada pelo breu. Além dos meus olhos só havia escuridão. Logo em seguida os gritos dos estudantes ecooaram por toda a universidade. Era uma péssima hora pra acabar a luz, pensei comigo mesmo. Tive a impressão de algo se agarrar as vigas de madeira, logo senti uma mão segurar o meu pé e em questão de alguns minutos alguém se sentou ao meu lado.

— Nem morta que eu vou ficar lá em baixo sozinha. — Paty arfava a cada palavra.

— Acho que vou te apelidar de macaquinha. — A iluminei com a luz do Tablet.

— Cala a boca! — Paty esbravejou.

— Vou descer pra ver se encontro alguém e descubro algo. — Eu já ia descendo da pilha de madeira quando a mão de Paty me se gurou firmemente.

— NÃO! Por favor, não me deixa aqui sozinha. — A luz do Tablet iluminava perfeitamente seu rosto. Aqueles olhos pareciam me infeitiçar.

— Alguém precisa ir lá ver o que ta acontecendo Paty. — Eu a olhava nos olhos.

— Bry... Bryan... eu estou com muito medo. Não gosto do escuro. É sério, se você não ficar eu vou.. eu vou.. — A ruiva falava em meio aos soluços.

— Vai fazer o que hein? — Sorri.

— EU VOU CHORAR, TÁ? EU VOU CHORAR ATÉ FICAR DESNUTRIDA, ATÉ NÃO RESTAR NENHUMA GOTA DE LIQUIDO NO MEU CORPO. ENTÃO EU VOU MORRER. E SE ISSO ACONTECER EU VOU TE ASSOMBRAR E PUXAR SEU PÉ DE MADRUGADA. — Paty era uma mistrua de raiva, choro e medo.

— Santo Goku, como ela é drámatica. — Comecei a rir.

— E você é um idiota. — Paty bufou.

Como ela conseguia ser tão perfeita? Era a unica pergunta que esse herói conseguia pensar. Paty ainda é bruta comigo, mas cada vez que ela mostra esse outro lado dela, um mais meigo e gentil a vontade que eu tenho é de abraça-la e nunca mais soltá-la, era como se eu precisasse dela e ela de mim.

— Posso te fazer uma pergunta? — Falei meio receoso.

— Já está fazendo. — Sua voz soou seca.

— Então farei outra. — Sorri. — Por que tem medo do escuro? — Perguntei.

— Eu tinhas nove anos... — Se não fosse pela luz do Tablet não perceberia que Paty brincava com uma formiguinha. — Eu tinha dado uns bons socos numa biscatinha da minha turma, pois ela estava me enchendo a paciência. Eu achei que tudo tinha se resolvido, mas não. A menina tinha uma irmã mais velha, não demorou muito pra sua irmã e as amigas grandalhonas dela virem tirar satisfação comigo. Mandaram eu me ajoelhar e pedir desculpas. — Paty riu ao se lembrar.

— Você pediu desculpas né? — Eu parecia uma criança observando uma loja de doces.

— Há! Olha a minha cara de quem pede desculpas nerd. — Paty me encarou com aquele azul piscina, era um olhar impiedoso. — Eu sempre saio por cima, sempre. Exceto aquela vez. — Novamente ela riu. As poucos a rainha ia se esquecendo que estava no escuro e todo aquele medo foi sumindo.

— Por favor, continua. — Minha curiosidade estava pra me matar.

— Como eu ia dizendo... elas pediram pra eu me ajoelhar. Ao invez disso, eu cuspi nelas. Foi aí que a merda toda aconteceu. Elas vieream e me imobilizaram, me bateram e me trancaram no armário onde o zelador guardava seus materiais. E foi horrivel. O lugar era cheio de baratas, ratos e aranhas, o quartinho era bem pequeno e abafado. Fiquei 12 horas no escuro sentindo aqueles insetos passearem pelo meu corpo, até que por fim a diertora sentiu minha falta. Desde então eu não gosto de escuro. — Sua voz não tinha nenhuma emoção.

Eu fiquei calado. Tentava processar tudo o que Paty havia dito. A ruvia na minha frente era totalmente diferente da rainha que os alunos veneram. Tudo o quue eu ouvia sobre Paty Pannes era o quanto ela é bonita e rica e as varias formas que a amizade dela poderia beneficiar alguém. Eu nunca imaginaria que alguém como ela teria passado por um momento desses.

— Tenho que admitir, você é bem chata. Mas não é o monstro que eu pensei que fosse. — Falei enquanto eu mexia no tablet.

— Não sou um monstro. Apenas faço o que for necessário pra manter o meu posto. — Sua voz saiu firme.

— Sabe, é esse o seu problema. Estatus, popularidade, por que isso é tão importante pra você? — Eu a observei ficar de cabeça baixa, talvez pensava em uma resposta.

— Quem sabe um dia eu te conto. — Ela falou, mas seus olhos observavam o nada. — Agora, chega de falar de mim. Vamos falar de você nerd. — Paty sentou de frente pra mim.

— Você não vai parar de me chamar assim né? — Suspirei.

— Se acostume. Então... o que tem de tão interessante nesse tablet pra você querer ficar sozinho aqui? — Cada palavra carregava um pouco de curiosidade.

— Meus bebês. Meus animes! — Havia certa empolgação na minha voz.

— Então você gosta de ver desenhos... — Ela sorriu.

— Desenho não, anime. Anime! — Horas, quem ela acha que é pra insultar meus bebês assim?

— Que seja! — Sua voz saiu tão rapido quanto a minha. — Bryan...? — Paty falou com certo receio.

— Sim? — Perguntei.

Paty ficou ali, parada por um tempo. Ela observava as estrelas, talvez tentava encontrar palavras pra me contar algo. O silêncio aos poucos foi tomando conta e o vento dançava com nossos cabelos. Era estranho. Eu estava sentado ao lado da garota que me humilhou na faculdade, que até me atropelou. A verdade é que agora eu não sabia mais se odiava, o meu conceito sobre a rainha estava mudando.

— Você também não é nerd escroto que eu achei que fosse. — Ela cortou o silêncio junto com aquela sorriso. Um sorriso que só aquela rainha podia fazer?


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Notas finais do capítulo

Parece que uma nova amizade está crescendo no ar. Uma amizade entre rainha e herói. Seria isso possível? Próximo capitulo será uma surpresa.



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