O conto do Herói

Saltei da cama num pulo. Meus olhos estavam arregalados e meu coração quase saia pela boca. Observei a minha volta e só vi o breu, demorei alguns segundos até perceber que estava no meu quarto. Alívio. Minhas mãos apalparam rapidamente o objeto que vibrava sem parar em baixo do travesseiro ao som de Hotaru No Hikari, opening 5 de Naruto Shippuden.

– DROGA! -- Praticamente cuspis as palavras assim que vi que o celular marcava 10h45.

Sai correndo do quarto, passei pela sala, pela cozinha, fui até a área de serviço, peguei a primeira muda de roupa estendida no varal e corri pro banheiro. Meu Deus! Não tem nem dois meses que arrumei um trabalho e já vou chegar atrasado. E tudo culpa de quem? Desse meu cérebro lesado que não consegue perceber que o despertador estava tocando. Minha sorte é que minha mãe não estava em casa, então não vou precisar me explicar, agora pro meu chefe... não tem outro jeito.

Meu nome é Bryan Marralkcs, tenho 19 anos. Sou alto, moreno e tenho olhos cor de mel que são emoldurados pelos meus óculos quadrados. Uma característica marcante minha, é o meu cabelo. Meus cachos sempre chama a atenção – sorri ao pensar na idéia. Vou academia e de vez em quando eu corro. Aparentemente sou um menino normal, com uma vida normal, fisicamente normal. Isso é, até eu abrir a boca.

— Vida social dos infernos! A temporada de inverno começando eu aqui, tendo que ir trabalhar. Ô ódio. – Resmunguei enquanto colocava um pão na boca e saia correndo de casa até o ponto. Já ia esquecendo de falar o mais importante sobre mim. Sou geek. Eu poderia me rotular como nerd, mas não sou tão inteligente quanto um. Sou um cara diferente, gosto de passar a noite vendo seriados, jogando x-box e vendo animes. Eu amo animes! Então pra priorar a situação, eu sou otaku. E eu não tenho vergonha disso, tenho orgulho – bati a mão no peito. É claro que não é fácil se assumir um otaku, pois você não vai arrumar uma namorada tão fácil, e é obvio que isso inclui ser zoado pelos outros, mas tem um lado bom, pois vai existir pessoas que vão aceitar você e seus gostos isso vai significar que elas são realmente suas amigas.

Se eu pudesse me definir, eu diria que sou um Don Juan ao avesso igual o Lucas do livro “Garotapop.com”. Esse livro me salvou. Eu estava numa fase que chamo de “Monge a Caminho dos Céus”, como o ensino médio já tinha acabado e eu não tinha emprego, ficou impossível sair de casa. 24 horas do meu dia eram dedicadas a livros, seriados, filmes, jogos e principalmente animes. Ou seja, eu virei parte da mobília do meu quarto. Até então, não tinha a menor idéia do que fazer da minha vida e foi ai que descobri esse livro. Por causa dele eu decidir entrar na faculdade e fazer um curso que tem tudo haver comigo. Publicidade e Propaganda. E por causa da minha fase de Monge, a senhora minha mãe se irritou e me fez arrumar um estágio no banco. E neste exato momento sou um Do Juan ao avesso que está extremamente atrasado para o seu trabalho.

A tarde não demorou muito a passar, a agência havia lotado, então tinha serviço pra tudo quanto é lado. É óbvio que eu levei um sermão do meu chefe e tive que sair mais tarde pra compensar meu atraso. Mas tudo bem, eu estava feliz. Era o primeiro dia na faculdade e por conta disso varias emoções tomavam conta do meu corpo. Eu estava ansioso para conhecer pessoas novas, fazer amizades e principalmente pra estudar a matéria que mais me chamou atenção no curso. Fotografia.

A faculdade estava impossível! Era tanta gente, que se alguém nos visse de cima ia ter a impressão de estar vendo um formigueiro. Aquilo acabou com meu ânimo, esta certo que eu gosto de conhecer pessoas, mas aquilo já era abuso da minha paciência. Por mim eu estava em casa vendo quais eram os animes da temporada de inverno. Não demorou muito e encontrei, meu nome estava lá.

“Bryan Marralkcs – Publicidade e Propaganda – Bloco A, sala 210.” — Isso ai herói! Missão encontrar seu nome, concluída com sucesso. Agora a segunda missão, descobrir onde fica esse raio desse bloco. – Pensei comigo mesmo.

Depois de dez tentativas fracassadas eu encontrei. Era o maior e com certeza o mais chamativo, pois tinha a estátua de um galo bem na entrada. Abri a porta da sala e fiquei parado. A única palavra que veio na minha mente foi “Diferente”.

Continua...