Um Toque do Destino escrita por Ninna Leite


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Gente, estou de volta. Não sei com qual frequência vou postar, e não sei nem se esse capítulo está redondinho, mas to postando mesmo assim



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 Acordei praticamente de tarde no dia seguinte. Ninguém teve coragem de acordar cedo para ter que assistir as mesmas aulas chatas de sempre. Me estiquei ate a mesinha de cabeceira e peguei meu iphone. Pensei um pouquinho melhor e o joguei de volta no lugar. Não tive coragem de olhar para ele e dar de cara com milhões de mensagens do meu pai.

 — Annie, acorda. - Me estiquei até Annie que estava do outro lado da cama enorme improvisada. Aquilo parecia mais é com um acampamento. Saí atropelando todos pelo caminho. - Vamos logo Annie!

    Levantei cambaleando puxando minhas coisas do chão. Todos estavam dormindo ainda. Minha cabeça parecia prestes a explodir. Annie continuava reclamando comigo enquanto se levantava. Dei um beijo no rosto de Johanna dizendo que já estávamos indo para casa. Ela sorriu para mim.

 — Ei, Prim. Vamos para casa. - Tentei acorda-la de uma maneira bem calma.

 — Claro. - Ela me respondeu mostrando um rosto inchado, com algumas marcas roxas aparecendo. A maquiagem provavelmente havia saído quando estava dormindo.

    Nós fomos descendo pelas escadas até o primeiro andar da casa de Johanna. As paredes estavam imundas, copos quebrados no chão, comida jogada no chão, diversas manchas nos sofás da casa e um enorme arranhão na maior televisão que eu havia visto na minha vida. A situação não estava tão ruim quanto eu pensava. Algumas pessoas ainda estavam desacordadas pelo chão.

 — Fico imaginando o que aconteceria se isso fosse la em casa. Meu pai iria me matar. - Disse mais para mim mesma.

 — Aham - Disse Prim parecendo distante.

    Continuamos assim até o caminho de casa. O caminho parecia mais longo do que de costume. Meu corpo parecia estar sendo carregado involuntariamente e meu cérebro so conseguia focar no que se encontrava a minha frente. Annei volta e meia andava com os olhos fechados, e só conseguia me perguntar como faríamos para ir para não deixar na cara que estávamos acabadas.

 — Kat, eu não posso aparecer em casa assim! Vou dizer para a minha mãe que vou passar o final de semana na sua casa, pode ser?

 — Sem problemas.

 — Prim, não seria melhor você dar um jeito no seu rosto? - Ela olhou para Annie com cara de ódio.

 — Por que você não da um jeito na porra do seu rosto, senhorita perfeitinha? - E ela já tinha voltado a atacar.

 — Ela quer dizer que seu rosto está cheio de hematomas. Effy vai perceber. E aposto que ela vai querer ir atrás daquelas garotas pessoalmente. - Como eu podia ser tão ingênua?

 — Ah, é. Valeu, mas vocês podem ir entrando. Preciso fazer uma coisa antes.

 — Ah, nada disso. - Disse segurando-a pelo braço. - Já avisei ao meu pai que você iria passar a noite comigo. Não faz sentido eu chegar sem você.

    Depois de horas, dias e séculos discutindo, consegui convencer a Prim de entrar conosco. A casa parecia vazia, mas arriscamos a velha andada na ponta dos pés. Prim achou tudo ridículo, mas quanto menos nossos pais soubessem, melhor. Estávamos esboçando sorrisos de alegria quando atingimos o primeiro degrau da escada que levava ao quarto, até ouvirmos um pigarreio.

 —Quando disse que voltaria apos meia noite, imaginei que fosse de madrugada, não no dia seguinte. - Aquele tom de voz fez com que meu corpo inteiro entrasse em combustão.

    Realmente, se isso fosse um filme, seria o momento mais cômico de todos. As nossas cabeças se viraram lentamente, apenas para ver a incrível figura que meu pai e Effie formavam. Suas caras bravas chegavam a ser engraçadas. Meu pai não era muito bom nisso. Digamos que ele não havia treinado o suficiente, como Effie.

 — Bom... bom dia. - disse Annie. Vale a pena destacar que ela estava vermelha feito um pimentão, e isso fez com que Prim soltasse uma gargalhada.

 — O que é tão engraçado? Posso saber? - Effie havia se movimentado na direção da Prim.

 — Nada. Aliás, eu não disse porra nenhuma pra ninguém. Quem disse isso foi a Katniss, não eu. - parceria era a definição da nossa relação.

    Ela subiu correndo para o nosso quarto enquanto Annie e eu continuamos paralisadas. Meu pai tinha mudado seu olhar de bravo, se é que aquilo foi um olhar bravo, para um olhar engraçado.

 — Tudo bem. Você já é bem grandinha. Não tem problema dormir na casa de suas amigas. Só quero que me avise. Sabe como eu fico preocupado. - dizendo isso, me puxou para um abraço. Sim, meu pai era o melhor do mundo.

 — Ah eu falei isso pra ela. Eu disse Katniss... - Annie começou a andar na direção do meu pai. - Katniss, vamos avisar ao seu pai. Foi isso que eu disse. - ela finalizou gesticulando bastante e parando ao lado da Effie.

 — Sim, ela disse. - dei um abraço em Effie e puxei Annie até o nosso quarto. As escadas pareciam estar se mexendo um pouco. Pensei que ainda deveria ser o alcool no meu organismo. Afinal, quase não tinha dormido na noite anterior.

    Prim pareciai estar dormindo, mas é óbvio que não acreditei. Já a conhecia por tempo o suficiente para saber que ela sempre procurava se isolar para escapar de seus problemas. Sentei na minha cama e coloquei meu celular para carregar. Annie havia dito que iria tomar um banho. Coloquei meu travesseiro sobre a cabeça para tentar me livrar da dor que a claridade que entrava pela janela trazia aos meus olhos.

 — Sabe, você não precisa ficar inventando desculpinhas por mim. Só piora tudo. - já havia tirado o travesseiro da cabeça após ter ouvido sua primeira palavra.

 — Ah, Prim, se for pra reclamar pode ficar sabendo que vou te ignorar. - Disse sincera, me sentindo farta daquilo.

 — Você se acha completamente perfeita, não é Katniss? - Pronto, ela havia se levantado. Nem quando eu dizia que não a ouviria, ela dava um jeito de chamar atenção. - O que te deu na cabeça pra ficar andando com os meus amigos? - ela estava com o rosto vermelho.

 — É isso então? Está com ciúmes. - afirmei enquanto soltava uma gargalhada. - Amigos não são propriedades, Prim. Não podem ser só seus. - Disse voltando para a minha postura anterior. - E, aliás, eles são mais velhos do que você. Por que não anda com gente da sua própria turma?

 — Primeiro, toma cuidado com o jeito que fala comigo. - usou um tom ameaçador que, na altura da bebida, quero dizer, do campeonato, acabou me arrancando um bocejo. - E eu não ando com o pessoal da minha turma pelo simples fato de eles não valerem a porra do prato de comida que comem. - para ela devia ser a coisa mais simples do mundo.

 — Como se você prestasse, não é Prim? - Annie saiu do banheiro com os cabelos molhados, achando que arrancaria alguma risada da loura, que para contrariar, lançou-lhe um olhar mortal. - Ta bom, não ta mais aqui quem falou.

 — Ah, ta legal. Eu vou passar o dia aqui e espero que vocês mantenham as porras das bocas caldas. - Disse bufando e fechando a cortina.

 — Um dia você ainda vai ganhar um prêmio pela sua delicadeza. - Foi o que disse antes de tudo ter ficado escuro.

    Acordei calmamente, e peguei o celular logo em seguida, vendo que o relógio marcava uma hora da tarde. Prim já não estava mais no quarto. Annie havia dormido na cama comigo. Fiquei por um momento parada, pensando se valeria a pena levantar ou não. Todos os meus músculos estavam doendo. Decidi deixar Annie dormindo. Tomei um banho e, logo em seguida, desci até o primeiro andar. Meu pai havia deixado um bilhete, dizendo que tinha adiado novamente a ida ao mercado e que havia lasanha no congelador.

 — Prim? - Resolvi perguntar após passar por um momento de silêncio na casa. - Merda. - Respondi a mim mesma quando não obtive nenhuma resposta. Toda aquela preocupação que tinha pela Prim já estava tomando conta de mim. As vezes parecia até que eu sentia quando ela estava com problemas.

    Subi até o quarto novamente, tomando extremos cuidado para despertar minha querida donzela ruiva. Afinal, eu não estava nem um pouco desesperada...

 — Annie, acorda! - Gritei desesperadamente atirando-a direto ao chão. Fechei os olhos imediatamente após ter ouvido o barulho do baque.

 — Primeiramente, te odeio. - Ela disse enquanto surgia com a mão posta na cabeça. - E, segundamente, sério? Não vem nem com um bom dia?

 — Annie, to surtando. - Disse a ignorando. Foi mais por ter tido consciência de que fiz besteira.

 — Okay, o que foi agora? - Ela não precisava de muito para adivinhar. - Tudo bem, eu me respondo. Prim não está.

 — Acertou. Ela não ta em casa, e eu to sentindo que alguma coisa errada ta acontecendo. - Disse me jogando na cama.

 — Parabéns, você realmente vai chegar ao fundo do poço se preocupando tanto assim. - Ela havia se jogado ao meu lado. - Por favor, não me derrube de novo.

 — Me desculpe. - Comecei a olhá-la com minha típica cara de cachorrinho abandonado.

 — Não. Katniss, não. - Ela havia se levantado. - Nem me peça. Já sabe minha resposta.

 — Por favoooor. - Me posicionei ao seu lado. - Não te peço mais nada.

 — Ai, ta legal. Mas eu não vou ficar maluca feito você.

 — Obrigada! - Disse pulando em suas costas.

 — Só não se acostume com isso. Não somos babás, Katniss. A Prim não é um bebê. E ela se dava muito bem antes de você chegar, e isso não vai mudar do nada.

 — Tudo bem, mas não vou ficar parada como se não tivesse acontecendo nada. - Puxei-a pelo braço da maneira mais histérica possível, levando-a em direção à porta do meu quarto.

 — Podemos pelo menos comer antes? - Me parou de repente, com um olhar fixo no horizonte.

    Paramos para comer rapidamente. Na verdade eu não sabia o que iria fazer. Estava completamente perdida. Por que estava com um sentimento ruim dentro de mim? Por que estava me preocupando tanto se aquela garota vivia sumindo? Por que eu de fato me preocupava com ela? Por que não sabia o que fazer? Não conseguia entender, apenas consegui sentir que não poderia ficar parada dentro de casa esperando-a voltar. Acontece que meus neurônios não estavam funcionando corretamente, e eu me assustava por não conseguir pensar em nada.

 — Johanna! - Annie gritou, fazendo com que a minha cabeça se levantasse da mesa da cozinha. Tudo parecia se mover em câmera lenta.

 — Johanna... - Repeti lentamente.

 — Katniss, acorda! Ela deve estar na casa da Johanna. Vamos ligar pra ela! - Ela correu em direção ao seu celular que estava conectado ao carregador.

 — Não! - Puxei o aparelho de sua mão.

 — Não! - Ela repetiu automaticamente. - Por que não?

 — Porque a Prim pode muito bem fazer a cabeça da Johanna para não me contar que estão juntas. Nós vamos lá! - Eu estava decidida e esperançosa.

    E lá fomos nós. Annie continuava com a mesma roupa da festa, e carregava em seus braços um pote de sorvete, que, na altura do campeonato, já estava virando um pote de suco cremoso. Corríamos feito loucas em direção daquela casa que já estava marcada em nossa memória. As pessoas nos olhavam como se fossemos seres de outro mundo. Não é todo dia que você vê duas adolescentes correndo feito loucas numa cidade que não pode ser considerada muito grande. Para nossa aflição, Johanna não atendia aos nossos chamados. Bom, pelo menos ela não atendeu por exatos 34 segundos.

 — Oi, gente. O que houve? - A sua cara inchada demonstrava que a mesma havia acabado de acordar.

 — Não brinca comigo, Johanna. - Disse a afastando para o lado e entrando mesmo sem ter sido convidada. - Me leve até a Prim.

 — Ela não está aqui. - sua expressão de cansaço logo mudou para uma dura expressão de preocupação.

 — Não adianta escondê-la. - Eu já não acreditava mesmo que Prim poderia estar lá.

 — Katniss, é melhor a gente conversar, tipo, uma conversa séria mesmo. - Ela me puxou pela mão.

    Sua casa estava uma verdadeira zona, porém já não havia sinais de almas de ressaca no recinto. Aquele clima me preocupava. Eu realmente não sabia como aquela pirralha, que só estava presente na minha vida há pouco tempo, poderia me  preocupar tanto. Eu acabava sentindo que deveria cuidar dela. Mesmo com aquele jeito arrogante, tinha vontade de abraçá-la para sempre. Mas não era tão fácil. Eu não conseguia admitir para mim mesma. A resposta que eu me dava constantemente era baseada no meu desejo de ver meu pai feliz com Effie. Mas eu sentia, e sempre vou sentir.

 — O que é tão importante a ponto de você fazer a gente jurar não contar para ninguém Johanna? - Perguntei assim que chegamos ao seu quarto.

 — Exato. - Annie se sentou no chão, encostando as costas na cama. - Eu estou bem acostumada a jurar solenemente não fazer nada de bom.

 — Argh, potterhead. - Ela, declarou, abrindo um espaço para um sorriso brotar no canto do meu rosto.

 — Não me esconda nada. - Eu disse quebrando o silêncio. - Por favor.

 — Sabe, eu conheço Prim a muito tempo... - Ela começou com um olhar distante. - Ele aparenta ser muito bruta, e muitos acham que ela não liga pra nada...

  Ai, Johanna, disso a gente já sabe. - Interrompeu Annie, com um certo desespero. Imaginei que ela queria tão rápido quanto eu o que Johanna tinha para dizer.

 — Ta bom. - Ela tentava respirar calmamente. - É que eu ainda não aceitei o que vou falar agora. Vou direto ao ponto. - Ela pegou um cubo mágico que estava no chão e começou a embaralhá-lo. - Eu acho que a Prim ta fazendo programa.

    As suas palavras me atingiram como um soco no estômago. Eu não tive forças para acreditar que existia uma remota chance de aquilo estar acontecendo. Annie me olhava, provavelmente esperando alguma palavra sair da minha boca. E eu olhava para ela, esperando que ela falasse algo como 'isso não pode ser verdade'. Mas talvez, por um momento, eu tenha aceitado que poderia sim ser verdade.

 — Isso não é possível. - Disse, tentando retomar os sentidos. - A Prim não precisa disso.

 — Katniss, eu... eu queria estar mentindo. - Ela se levantou e começou a andar pelo quarto inquieta. - Mas você não percebe? Você mora com ela.

 — Eu...

 — Ela sai escondida a noite, vem aqui pra casa e quando eu pergunto o que ela andou fazendo, se recusa a dizer.

 — Mas isso não é...

 — E os hematomas no corpo dela? Isso tem alguma outra explicação pra você?

 — Ela disse que brigou com umas meninas e...

 — Por favor, Katniss. A Prim nunca apanharia daquele jeito pra um bando de gartota. Com certeza foi um homem que fez aquilo.

    Annie segurou minha mão, querendo mostrar que ela estava ali comigo. Tudo o que a Johanna falava parecia verdade, e, mais do que isso, fazia sentido. Eu só não podia acreditar naquilo, não naquele momento. A imagem de Prim, tão nova, passando cada noite com um cara diferente, sendo até agredida, era demais para a minha cabeça. Eu não desejava aquela situação para nenhuma mulher nesse mundo. Eu olhei para Annie. Estava completamente perdida. Sem saber o que fazer. Uma lágrima escorreu solitária pelo meu olho. Eu me levantei e resolvi tomar uma atitude.

 — Vamos procurar por ela. Vamos procurar por ela e eu vou dar um fim no que quer que esteja acontecendo.

 — Katniss, eu não sei se isso é uma boa idéia... - Johanna estava completamente insegura. Parecia que ela não queria descobrir a verdade.

    Eu não ligava, era o que meu coração me mandava fazer. Peguei o celular no meu bolso. Estava com 23% de bateria. Desbloqueei e procurei nos contatos o nome da única pessoa que eu achei que poderia me ajudar no momento. Peeta Melark.

 — Katniss, o que houve? - Annie se posicionou ao meu lado e começou a me sacudir. - Ta ligando pra quem?

 — Não ta ligando pra Effie, né? - Johanna se colocou ao meu outro lado. Fiz um sinal negativo com a cabeça.

    O telefone chamava e ninguém atendia. Começava a ficar nervosa com a idéia de estar sozinha naquela situação. Annie me olhava ansiosamente, quando ouvi aquela voz que tanto me confortava na linha.

 — Peeta? Até que enfim.


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