Fernweh escrita por MaeveDeep


Capítulo 1
Vamos celebrar


Notas iniciais do capítulo

Nick, eu não estava brincando quando disse que as suas palavras me levaram às lágrimas. Feliz Aniversário, minha linda, e esse é o único presente que posso te oferecer.



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Capítulo Um – Vamos Celebrar

Atena debruçou-se sobre a murada de madeira da varanda, observando o sol se pôr naquelas montanhas frias. O céu estava cheio de cores, o vento gélido e seco. Fechou os olhos, sentindo-o roçar seu rosto e esvoaçar seu cabelo preso. Era tudo tão lindo e, no entanto, ao reabrir os olhos, perguntou-se quantas vezes já não havia visto aquilo.

Estava viva fazia mais de dois mil anos. Já havia visto o sol se pôr em todos os lugares do mundo, sob todos os climas e sobre todas as cidades. Percebeu uma tímida estrela na região lilás da abóbada, e por um segundo a invejou.

– Por que ainda nos importamos? – Dionísio disse às suas costas, aproximando-se em passos lentos. O deus do vinho e temporário diretor do Acampamento Meio-Sangue se pôs ao seu lado, o cabelo escuro tão desalinhado quanto sua camisa. – Essa é a grande pergunta.

Atena soltou um suspiro baixo, como sempre dividida entre o que poderia dizer e o que deveria guardar para si. Era ela a serenidade e a compostura do Olimpo, tanto quanto Zeus era o poder. Se começasse a desabafar suas dúvidas, os baluartes da família cairiam um por um.

– Alguns poderiam dizer que é um esforço inútil – disse por fim, com certa cautela.

Dionísio riu baixinho.

– Não Afrodite.

É claro que não, havia sido ideia dela. Todas aquelas viagens eram. Coisas pequenas, de um fim de semana ou três dias. Destinos exóticos em bons hotéis, toda a família reunida enquanto outros cuidavam, para variar, do destino da humanidade.

– Deméter acabou de ir embora – Dionísio continuou dizendo, despreocupado. – Perséfone está trancada no quarto, Hades quase matou três camareiras por acidente. Não entendi muito bem o que houve. Artemis ainda está brigando com Afrodite por ter mentido sobre a ala separada para mulheres. Zeus olhou três segundos a mais para a massagista, Hera a transformou em uma alface. Ou uma acelga. Nunca entendi muito de horticultura.

O sorriso de Atena foi tênue. Já não se importava com as picuinhas de sua família fazia tempos.

– Por que nos importamos? – repetiu, contudo, em um murmúrio, porque Dionísio tinha mesmo levantado uma questão válida. – Grupos de semideuses são mais uma família do que nós.

Dionísio apenas encolheu os ombros, concordando. Atena observou as montanhas, tentando imaginar como seria ser mortal, como seria ver aquela paisagem linda sabendo que talvez nunca a visse de novo. Talvez tudo fosse mais belo para os humanos.

Ouviu passos delicados se aproximarem.

– Dionísio? – era a voz de Ariadne, insegura.

A pobre garota ainda não havia aprendido a falar como uma deusa, mas Dionísio se virou para ela com um sorriso gentil.

– Sim, querida?

– Lorde Apolo está tocando jazz com os músicos daqui – e, mesmo sem vê-la, Atena podia imaginá-la arrumando a alça do vestido, nervosa como sempre ficava antes de pedir mais de seu irmão. Ele havia lhe dado imortalidade, o que mais a garota poderia querer? – Poderíamos dançar.

Algo naquilo encheu Atena de tristeza, ao menos ele tem alguém com quem dançar. Descendo o olhar para o vale, ouviu a concordância carinhosa de Dionísio e sua quieta despedida. Quando havia se sentido tão velha?


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