Já era de tarde quando todos se encontraram na arena da segunda prova. Bárbara estava de pé numa estrutura de aproximadamente dois metros de altura e se comunicava através de um megafone.

"Atenção equipes. Para este desafio vocês deverão escolher dois corredores, que terão de permanecer amarrados um no outro. Os corredores precisarão atravessar uma série de obstáculos e, em seguida, cavar na areia demarcada a fim de encontrar três sacolas com peças de quebra-cabeça. Um terceiro membro terá que montar o quebra-cabeça e acionar a bandeira do elemento correspondente ao seu grupo. A última equipe a terminar a prova irá me encontrar hoje à noite no conselho e terá que eliminar um de seus membros. Como vocês podem perceber no grupo Ar, Thiago foi o primeiro eliminado da competição. Eu vou dar um tempo para vocês se organizarem. Boa sorte a todos."

Mosca e Binho se entreolharam, chocados, ao ver que Thiago havia sido eliminado. Do outro lado, Janjão gritou "É isso aí, Tatu! Acaba com eles!", provocando ainda mais a fúria dos demais.

"O que será que aconteceu no grupo da Pata? Ela nunca iria permitir que o Thiago saísse antes do Tatu. Tem alguma coisa errada aí…" - Cochichou Mosca para Binho.

Vivi cortou o papo imediatamente, a fim de decidir quem iria participar da prova. Mosca e Binho se propuseram a ser os corredores. Samuca se dispôs a montar o quebra-cabeça. Maria e Neco sentaram no canto da arena para assistir a prova. Mais uma vez os dois pequenos ficaram de fora da tarefa.

No grupo Ar, mais uma cena de discussão se seguiu.

"Cris, eu corro melhor que você. Deixa eu ir com o Duda nessa, senão a gente pode perder de novo." - Pediu Pata.

"Pra sua informação, eu corro muito melhor que você, então EU vou com o Duda." - Cris agarrou no braço do garoto, encarando Pata fixamente.

"Pata, que tal você montar o quebra-cabeça?" - Sugeriu Duda.

"Eu sou péssima em provas de raciocínio e tenho certeza que posso me dar muito melhor correndo. Larga a mão de ser chata, Cris, e vê se pensa mais no grupo." - Pata estava começando a ficar de saco cheio daquilo tudo.

"Eu posso montar o quebra-cabeça no lugar da Pata, se vocês quiserem." - Pediu Tatu, esperando receber uma resposta negativa.

"Tanto faz. Eu nem faço mais parte desse grupo mesmo." - Disse Pata dando de ombros e indo sentar em um canto afastado.

"Então ta decidido. O Tatu vai participar da prova com o Duda e a Cris." - Concluiu Tati, observando Tatu com orgulho. "Só espero que ele saiba o que ta fazendo..." - Pensou.

No grupo Água, Marian se adiantou para montar o quebra-cabeça alegando ser muito boa nesse tipo de coisa. Bia olhou desconfiada para a garota. "Será que ela é boa mesmo? Nunca vi a Marian fazendo nada no orfanato que não fosse plantar intriga entre as pessoas." - Bia estava sempre desconfiada de Marian, mas resolveu dar um voto de confiança. Afinal, estavam do mesmo lado.

Janjão e Janu estavam certos de que seriam os corredores, mas Bia impediu que algo fosse feito sem o consentimento de todos.

"Eu também quero correr. Não é justo vocês dois decidirem pelo grupo todo." - Uma discussão quase se formou quando Mili interveio propondo que Bia e Janjão corressem pelo grupo Água. Só assim a escolha parecia justa.

Do grupo Terra, Dani e Teca imploraram para participar, indo contra os planos de André, que gostaria de correr com Bel. Para que não houvesse confusão, o grupo aceitou que as menores participassem da competição. Rafa foi escalado para montar o quebra-cabeça e assim a disputa iria começar.

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Quando a corda enlaçou os braços de Cris e Duda, a menina estremeceu da cabeça aos pés. Suas bochechas coraram imediatamente e um sorriso bobo surgiu em sua face rubra. "Eu não acredito que isso ta realmente acontecendo" - Pensava, procurando não se agitar muito. Não queria que Duda percebesse o que ela estava sentindo.

Bárbara deu o sinal e os quatro grupos dispararam à todo vapor. Mosca e Binho nem pareciam estar atados um no outro e percorriam os obstáculos sem o menor problema. Já Bia tentava pensar em algo que a fizesse esquecer aquele momento. Jamais imaginara ver seu corpo perto daquele "garoto insuportável", como costumava chamar o menino ao seu lado. Janjão sorria cada vez que sentia sua mão encostando na de Bia. Chegou a suspirar um pouco, mas logo voltou a si e viu que estavam ficando para trás.

Dani e Teca eram pequenas demais para o circuito que estavam enfrentando, mas nem por isso se deixaram levar pelo desespero. Enquanto viam as outras duplas se dando bem no trajeto, analisavam a melhor forma de encarar o desafio. Alguns pneus estavam dispostos em sua frente, e seus pés enroscavam em cada um deles. Ao atingirem um certo ponto, começaram a se desentender.

"Ai garota! Você ta me machucando correndo desse jeito!" - Reclamou Teca.

"Você que é uma fresca. Cala a boca e se concentra nesse negócio. A gente ta muito atrás dos outros!" - Replicou Dani tentando se desvencilhar do pneu em que estava presa.

Duda arrastava Cris na prova como se estivesse carregando ela nos braços. A menina sentia bastante dificuldade de acompanhar o ritmo do parceiro mas estava dando o máximo de si. A última coisa que queria era desapontá-lo. Os dois corriam juntos como um casal em busca do desconhecido. Os olhos de Cris estavam cheios d’água e em sua cabeça relembrava frases românticas retiradas de filmes de amor.

"Eles poderiam andar juntos sobre o mesmo trilho, mas nunca seriam esmagados pelo mesmo trem..." - Suspirou baixinho, agarrada no braço do garoto que amava.

Os primeiros a chegar no fim do percurso foram Mosca e Binho. Mesmo amarrados, conseguiram achar uma forma de cavar com rapidez. Três sacolas deveriam ser encontradas naquela areia marcada com um "X".

Cris e Duda foram os segundos a começar a cavar. Duda estava bastante concentrado na tarefa e compensava a falta de fôlego da garota presa em seu braço. O buraco estava ficando bastante fundo e uma parte da primeira sacola ia sendo revelada aos poucos.

Quando Bia e Janjão chegaram na areia, as duas duplas que estavam ali já haviam desenterrado sua primeira sacola. Os dois usavam os braços em sincronia, aproveitando as vantagens de estarem atados um no outro. Em pouco tempo, haviam recuperado uma boa parte da vantagem dos outros times.

Dani e Teca foram as últimas a cavar. A dificuldade de trabalharem em equipe permaneceu também na hora de encontrar as sacolas. De onde estava, Rafa sentia uma grande decepção em ter permitido que as duas pequenas participassem em seu lugar. Bel e André davam risada sem se importarem com os resultados. Ambos já sabiam que estavam em perigo.

Mosca e Binho terminaram de recuperar a terceira sacola e retornaram correndo para o posto onde estava Samuca. Agora só faltava montar o quebra-cabeça e aproveitar os prazeres da vitória iminente.

Duda, Cris, Bia e Janjão voltaram com suas peças quase que ao mesmo tempo. Tatu e Marian começaram a trabalhar na montagem do quebra-cabeça com rapidez. Tatu estava bastante nervoso. Seu time havia acabado de perder um membro e ele sentia que precisava provar aos demais que possuía alguma utilidade. Já Marian permanecia tranquila pois aquela era a melhor oportunidade de iniciar seu jogo.

"Essa coisa deve formar uma frase. Aposto que aquele nerd idiota já se sabe qual é." - Pensou Marian, de olho no que Samuca estava fazendo - "Ainda bem que eu não vou precisar me esforçar pra terminar esse negócio." - Sorria por dentro mas fingia estar um pouco preocupada por fora.

Dani e Teca demoraram bastante para voltar com as peças para onde estava Rafa. O garoto teria que recuperar uma grande quantidade de tempo. Seus concorrentes estavam ligeiramente adiantados no processo e o medo da derrota tomava conta de suas mãos trêmulas.

Samuca logo percebeu que o quebra-cabeça formava a frase "Estar perto não é físico". Em pouco tempo, conseguiu terminar sua tarefa e concluiu o desafio acionando a bandeira com o símbolo do grupo Fogo. Maria e Neco se abraçaram em comemoração. Vivi olhava de longe para Samuca e sentia um orgulho enorme dentro de si. "Ele fica muito fofo quando banca o herói" - Pensou enquanto disfarçava a enorme alegria que estava sentindo. Mosca, Binho e Samuca se abraçavam pulando e cantando um grito de guerra improvisado.

"Vai Marian, você não tinha dito que era boa em quebra-cabeça? Anda, termina logo isso daí! Que garota lerda!" - Bia começou a ficar nervosa ao ver seu grupo ficando para trás.

Rafa conseguiu compensar o tempo que as menores perderam e já estava prestes a superar o desempenho de Marian. Enquanto isso, poucas peças separavam Tatu de completar a prova. Pata assistia a tudo de longe, com medo de ter que enfrentar um segundo conselho pois sabia que dificilmente escaparia da próxima eliminação.

Tatu terminou a montagem do puzzle, recuperando assim a honra do grupo Ar. Aquela vitória significava muito para o garoto. À partir dali suas chances de permanecer no jogo aumentariam em grande escala. Enquanto isso, Rafa e Marian disputavam lado a lado para salvarem suas equipes.

"Anda logo seu imbecil! Eu não vou conseguir fingir por muito tempo." - Marian torcia secretamente para que Rafa a ultrapassasse o mais rápido possível.

Após alguns minutos de tensão no que imaginava se tratar de um grande combate, Rafa completou a prova e acionou a bandeira do grupo Terra, ainda sem acreditar que havia conseguido salvar seu grupo da eliminação. Nessa hora, Bia deu de costas para Janjão e Marian e saiu furiosa na direção dos outros companheiros de equipe.

"Como ela conseguiu perder tendo todo aquele tempo pra montar a droga do quebra-cabeça?" - Gritou ao chegar onde estava Mili e Fábio.

"Calma Bia. Ela pode ter ficado nervosa com você lá, gritando com ela o tempo todo. O jeito agora é encarar o conselho de cabeça erguida."- Falou Mili consolando a amiga com um abraço.

Marian caminhava de cabisbaixa escondendo o sorriso e, ao passar por Janjão, falou sem que ninguém mais pudesse ouvir:

"Chama a Janu e me encontra no riacho antes de anoitecer." - Marian parecia certa do que precisava ser feito. Ao chegar onde suas amigas estavam, pediu desculpas fingindo um choro convincente.

Bárbara desceu da estrutura de onde acompanhara a prova e decretou a derrota do time Água. Com isso, os grupos se dirigiram cada um para o seu acampamento, carregando consigo as marcas de um dia intenso de competição. O sol caminhava rumo ao poente, mas uma aurora no horizonte sugeria um longo percurso até o conselho dos desbravadores.