O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 6
Só um de nós vai conseguir


Notas iniciais do capítulo

A competição segue em frente e as primeiras alianças começam a se formar. No fundo, são todos peças de um grande tabuleiro. E peças existem para serem usadas.



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Pata saiu do conselho furiosa e, ao mesmo tempo, sem saber exatamente o que tinha acontecido. Caminhava apressada para não ter que ficar perto de seus colegas de equipe.

"Cuidado aí, Pata. Assim você vai acabar se perdendo" - Falou Cris, que não parava de lembrar do rosto de Thiago ao se despedir. "Desculpa, Thiago. Eu sou mesmo uma traidora".

"Muito obrigada, mas eu não preciso da ajuda de ninguém aqui." - gritou Pata, já bastante adiantada no trajeto. Por dentro, a menina tentava se conter para não prejudicar ainda mais seu jogo. Com a saída de Thiago, não restara ninguém em quem pudesse confiar, porém, dentre todos ali, a que mais lhe surpreendeu foi Cris.

Cris caminhava ao lado de Duda, tentando se aproximar cada vez mais. "Eu fiz exatamente o que ele me pediu e ele nem sequer agradeceu." - Pensou, procurando algum gesto de gratidão nos olhos do garoto.

Duda estava bastante contente com o resultado da noite. Além de enfraquecer sua inimiga no jogo, conseguiu fazer com que todos o apoiassem em sua decisão. Pata seria sua opção de voto mais óbvia, porém aquela atitude poderia prejudicar o grupo nas próximas provas. Sua única preocupação agora era o casal de menores, que estava se consolidando aos poucos.

Tatu havia escapado da primeira eliminação mas, para ele, o melhor de tudo foram os momentos em que esteve de mãos dadas com Tati. Nunca em sua vida esteve tão perto de uma garota como naqueles últimos dias. Com o passar do tempo, os dois iam se aproximando de uma forma bastante inesperada. Tati também estava muito feliz por manter seu amigo por perto, mas o sentimento que crescia em seu coração era mais difícil de lidar do que a eliminação de Thiago.

Chegando no acampamento, Pata foi ao encontro de Tati para pedir explicações. Os ânimos de todos ainda estavam à flor da pele e um frio repentino passou a tomar conta do ambiente.

"Tati, será que você pode me explicar o que foi aquilo no conselho? De onde você tirou que eu não me importo com você?" - Os olhos de Pata pesaram sobre os de Tati.

"Tudo que eu falei é verdade. Você, o Thiago e a Cris ficaram o tempo todo de segredinho e não me contaram nada." - Tati rebatia como se tivesse discutindo com alguém da mesma idade. Tatu acompanhava o movimento de seus lábios cada vez mais encantado.

"Acontece, Tati, que você tava toda amiguinha do Tatu e a gente ficou com medo de te contar o nosso plano. Além do mais, você sabia que a gente ia votar nele o tempo todo. Ele nunca foi um dos nossos, ao contrário do Thiago." - Continuou Pata.

"Mas a ideia de votar no Thiago não foi minha. Eu tava conversando com o Tatu perto do fogo quando o Duda veio propondo um acordo, diferente de vocês que não estavam nem falando comigo direito." - Tati olhou para Tatu e notou que o garoto estava congelado olhando para ela.

Pata lançou um olhar para Duda, mas antes que pudesse confrontá-lo, Cris surgiu tentando apaziguar a situação.

"Olha, Pata. Eu entendo que você ficou com raiva de todo mundo, mas cada um aqui teve seus motivos pra eliminar o Thiago. Pensa pelo lado bom, poderia ter sido você."

"Se você pensa que isso me deixa melhor, está completamente enganada. E outra, eu ainda não entendi quais os seus motivos pra fazer o que fez. Pelo que me parece, o Duda simplesmente mandou você fazer o que ele queria e a tonta obedeceu sem mais nem menos." - Pata havia chegado no ponto em que queria e com isso pôde ir se acalmando aos pouco.

Cris ficou em silêncio sem saber o que dizer. Duda era o seu grande amor, mas aquilo não justificava trair a confiança de um amigo. Ao ouvir todas aquelas palavras, a menina entrou na barraca aos prantos. Duda entrou em seguida.

"Cris, posso falar com você?" - Perguntou Duda com uma voz mansa.

"Eu não devia ter topado participar daquele seu plano idiota. Agora todo mundo acha que eu sou uma traidora." - O rosto de Cris estava completamente encharcado de lágrimas.

"Mas você fez o que era melhor pro seu jogo. Cris, olha pra mim. Todo mundo aqui quer vencer mas só um de nós vai conseguir. É normal que as pessoas fiquem chateadas assim que descobrem que foram eliminadas, mas com o tempo elas vão ter que aceitar. Assim como os que continuam também vão ter que entender que o jogo é assim. Se a gente tivesse eliminado o Tatu, a Pata iria continuar com todo o poder sobre nós. Eu fiz aquilo pra que nós dois tenhamos mais chances de vencer isso daqui. Fiz o que fiz pensando em você, Cris." - Falou Duda acariciando os cabelos da menina. Por dentro, sabia que nada daquilo era verdade. Seu único objetivo era vencer e, por mais que lhe doesse mexer com os sentimentos de alguém, sacrifícios haveriam de ser feitos.

O coração de Cris estava disparado e antes que pudesse controlar seu corpo, já estava abraçada com o garoto, deixando escapar as últimas lágrimas da noite. Os dois passaram um tempo ali, calados. Duda conseguia sentir o coração de Cris batendo forte. Aos poucos, foram se desgrudando, até que a menina resolveu dormir. Duda saiu da barraca, permitindo que Pata e Tati entrassem para descansar. Lá fora, percebeu Tatu sentado próximo ao fogo.

"E então? Tudo certo com você?" - Perguntou enquanto preparava o espaço onde iria se sentar.

"Nem tanto… Acho que eu tô apaixonado pela Tati." - Disse Tatu sem tirar os olhos das chamas à sua frente.

"É… acho que aqui não é um bom lugar pra sentir esse tipo de coisa. Uma hora você vai acabar tendo que deixar ela pra trás ou, pior ainda, ver ela partir. Dificilmente vocês chegarão juntos na final." - O conselho de Duda parecia ir muito além daquele momento. Como se ele tivesse chegado àquela conclusão de uma forma bem mais dolorosa. Talvez seu coração também batesse mais forte de vez em quando.

"Infelizmente, você tem razão." - Tatu permanecia com Tati na cabeça. A noite poderia silenciar sua voz, mas nunca sua mente.

_

O barulho dos pássaros acordou Marian, interrompendo um sonho em que se tornava a última desbravadora do leste. O dia estava mais quente que o normal e as árvores balançavam com o vento. Janu a viu acordando e se apressou para segui-la. As duas decidiram sair juntas pela floresta em busca de algumas frutas.

"Vem cá, Marian. Você se dá bem com todas as meninas do orfanato? Às vezes você me parece meio distante delas..." - Janu começou a colocar seu plano em prática.

"Não vou mentir pra você. Na verdade eu não vou muito com a cara de algumas delas. Mas não é como se a gente não fosse amiga. Você me entende?" - Perguntou Marian disfarçando seu interesse no assunto.

"Sim, eu te entendo. Eu acho todas muito chatas. Principalmente a Bia. Odiei ter vindo parar num grupo com ela e com aquela falsa da Mili." - Com o que acabou de dizer, Janu viu nos olhos de Marian um pequeno sinal de animação.

"Hmm… Então eu acho que a gente pode se dar muito bem nesse jogo. Eu, você e o Janjão poderíamos bolar alguma coisa pra tirar elas daqui. Que tal?" - Marian começou a revelar suas intenções com bastante cuidado.

"Ótima ideia, Marian! Dá pra ver que você é das minhas. A gente só vai precisar trazer aquele japonês estúpido pro nosso lado e pronto. Você tem ideia de como fazer isso?" - Perguntou Janu completamente empolgada com a conversa.

"Eu sei de algo que a gente pode fazer sem precisar da ajuda de mais ninguém. Por enquanto, deixa comigo. A única coisa que eu preciso de você é que se certifique de que o Janjão está totalmente do nosso lado." - Marian tentava enxergar em Janu algo que provasse sua lealdade.

"Pode deixar comigo. Essas chatas estão com os dias contados nesse acampamento." - Completou Janu e as duas caíram na gargalhada.

Enquanto isso, Janjão continuava deitado em sua barraca. Ao seu lado, Fábio começava a dar os primeiros sinais de que estava acordando. Janjão se antecipou e saiu em direção às mochilas, que ficavam do lado de fora. Desde a noite anterior, estava preocupado com a pouca água que restava no reservatório do grupo. Depois de alguma tempo procurando, encontrou o mapa e resolveu partir para o riacho onde haviam disputado a prova do dia anterior.

De todos os acampamentos, o grupo Água era o que mais se aproximava do riacho e não foi difícil chegar lá sozinho. Janjão começou a encher as garrafas que havia levado consigo quando percebeu algo estranho na água. Um pouco mais afastado da margem, uma pedra diferente chamou sua atenção. Era uma espécie de monumento que enfeitava o riacho de forma curiosa. O garoto nadou até lá para averiguar melhor o que era aquilo. Ao chegar, se deparou com algo que fez seus olhos brilharem de emoção. Em cima da pedra, um colar descansava preso em um barbante. Janjão desatou o nó e observou o objeto mais de perto.

"Só pode ser o tal colar da imunidade. Com isso eu posso garantir a minha permanência e a da Janu por mais algum tempo no jogo!" - Janjão mal conseguia se conter de tanto entusiasmo. "Eu preciso contar pra Janu o mais rápido possível" - Pensou.

_

Mosca e Binho já estavam acordados quando Samuca saiu da barraca. O garoto pensou em se aproximar, mas no caminho foi surpreendido por um chamado de Vivi.

"Samuca! Eu preciso de você aqui agora!" - Vivi ergueu os braços para que Samuca a visse algumas árvores adiante.

Vivi estava vestida com uma roupa totalmente inadequada para o local onde se encontrava. Parecia que a menina ia para alguma balada ou coisa do tipo. Samuca estranhou vê-la daquele jeito e tão cedo da manhã.

"Pra onde você ta indo vestida desse jeito?" - Perguntou o garoto.

"Ai Samuca. Você não entende nada de moda. Eu só coloquei uma roupinha básica pra curtir essa manhã linda de sol. Até porque eu quero perfeita na hora de colocar o meu colar." - A garota esbanjava um sorriso confiante enquanto tentava convencer o amigo aceitar o convite.

"Como assim? De que colar você ta falando?" - Perguntou Samuca confuso.

"Eu quero dizer que nós dois estamos indo caçar aquele tal 'colar da imunidade' que a Bárbara mencionou. Todo mundo vive me chamando de fresca e provavelmente eu serei a primeira eliminada desse grupo se a gente não fizer algo à respeito." - Vivi não parava de pensar em formas de permanecer no jogo. Do grupo Fogo, era a que mais se preocupava com as eliminações pois achava que seria a primeira opção da maioria.

Os dois seguiram na floresta empunhando o mapa e procurando alguma coisa que indicasse o local onde o colar poderia estar escondido. Samuca tentou se colocar no lugar de alguém que tivesse que esconder algo naquela floresta e chegou a uma conclusão.

"O colar só pode estar próximo do acampamento. Ele precisa ficar em algum lugar onde possamos encontrá-lo. Não faria sentido esconder ele em uma floresta tão densa como essa." - Após esse raciocínio, os dois passaram a procurar algo no mapa que fosse perto do acampamento e que servisse de esconderijo para um objeto tão pequeno.

Alguns minutos de procura fizeram com que Vivi se cansasse de ficar em pé, deixando Samuca sozinho na busca pelo colar. Ao ver Maria vindo em direção a eles, Vivi fez sinal para que Samuca disfarçasse e os dois começaram a fingir que estavam apenas observando a natureza.

"Bonito esse lugar, né?" - Falou Vivi para Maria.

Maria fez que sim com a cabeça e seguiu floresta adentro. Quando viu que não havia mais ninguém por perto, sentou Laurinha em uma pedra e se afastou. A boneca virou menina e veio logo reclamando por ter sido deixada bastante tempo de lado.

"Desculpa Laurinha. É que eu nunca tenho chance de ficar sozinha com você. O Neco ta sempre no meu pé e o Mosca não me deixa sair pra muito longe." - Falou Maria alisando o cabelo da menina boneca.

"Tudo bem, eu te entendo. Só não faz mais isso de novo, ta? Eu preciso falar algo que ta me deixando muito preocupada. Você e o Neco estão muito desligados do jogo e vão acabar sendo eliminados logo logo. A Vivi e o Samuca não se desgrudam e o Mosca e o Binho também são bastante próximos. A gente precisa pensar em alguma coisa caso o nosso grupo perca a próxima prova, senão..." - A boneca passou a mão no pescoço indicando que poderiam estar em perigo.

"Você tem razão. O Neco é muito medroso e fica o tempo todo querendo desistir. Se não fosse por mim, ele já teria voltado pro acampamento principal, onde fica a Bárbara e o Cleber. E fora ele, não tem mais ninguém do meu lado... quer dizer, do nosso lado." - Maria se sentia cada vez mais segura na companhia de sua boneca.

"Nós precisamos fazer a Vivi e o Mosca brigarem. Só assim a gente se livra da eliminação." - Sugeriu Laurinha com um sorriso diferente do de costume.

"Mas isso é muito feio Laurinha! Tem que ter outro jeito de ficar aqui. Só não sei como." - Encerrou Maria. Tanto para ela quanto para algumas outras pessoas, a competição ainda não estava clara. O que não sabiam é que muita coisa estava para acontecer e muitas convicções seriam afetadas em breve.

_

No grupo Terra, pouca coisa havia mudado de um dia para o outro. Teca e Dani continuavam se estranhando feito cão e gato, obrigando Ana a decidir qual das duas era sua preferida para vencer a disputa. Ana, por sua vez, preferia ficar calada e evitar que o conflito crescesse ainda mais.

André aproveitou a manhã para falar com Bel sobre suas possíveis táticas de defesa. Bel estava mais preocupada com Rafa do que em pensar em formas de sobreviver no jogo. Não havia falado com o amigo uma vez sequer naquela manhã e isso a fazia cada vez mais apreensiva sobre a forma como deveria agir na competição. Por um lado, sentia um grande apreço por seu amigo André e não queria que ele fosse eliminado pelo grupo, mas por outro tinha o amor que nutria por Rafa em segredo. Quando estavam juntos, Bel se sentia a garota mais feliz do mundo e seus sentimentos estavam gritando mais alto do que poderia suportar. "E agora, o que é que eu faço?" - pensava enquanto fingia estar dando atenção para o que André estava dizendo.

"Bel, você ouviu o que eu acabei de falar?" - Perguntou André, desconfiado.

"Ah.. claro que ouvi. É que eu tô meio distraída, mas eu ouvi tudo sim." - Disfarçou Bel com seu sorriso simpático.

"Então, você concorda que o Rafa deve sair antes dos pirralhos?"

"O quê? Claro que não! Você ta maluco? O Rafa é o mais forte do nosso grupo, fora que os pirralhos são muito mais fáceis de eliminar. Eles tão sempre brigando uns com os outros." - Defendeu Bel.

"Você tem razão. É que eu tenho medo, às vezes, de que você fique do lado daquele gordo e esqueça quem são seus verdadeiros amigos." - Um pouco de medo se revelou na voz do garoto.

"Relaxa André. Eu e o Rafa não temos nada. Só tô falando que a gente precisa eliminar primeiro quem mais prejudica o grupo. E a gente tem que ficar esperto pra que eles não se unam, porque são três deles mais o Rafa. Isso pode acabar com o nosso jogo." - Bel conseguiu amenizar a situação com maestria.

"É verdade. Primeiro um dos pirralhos então. E depois aquele gordo. Eu prometi pro Janjão que não ia deixar ele tentar te fazer mudar de lado." - Finalizou André, mostrando que jamais aceitaria a amizade dos dois.

"Pode deixar. Isso não vai acontecer" - Os dedos de Bel estavam cruzados e alguma coisa em seu coração dizia que esse dilema ainda estava bem longe de chegar ao fim.

Os quatro grupos estavam começando a acordar para o jogo e aos poucos a competição ia se tornando mais complexa. Uma nova prova estava por vir e dessa vez a disputa seria completamente diferente da anterior. No céu, o sol continuava a brilhar e os pássaros anunciavam um dia repleto de emoções.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal? Quem, na opinião de vocês, ta sabendo jogar melhor e por quê?

Espero que estejam gostando. Beijos e até o próximo capítulo :**



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