O Último Desbravador do Leste escrita por Jel Cavalcante


Capítulo 20
Logo logo eu vou estar do seu lado de novo


Notas iniciais do capítulo

Paranóia, medo, rivalidade, romance, traição. Tudo isso e muito mais em um capítulo repleto de reviravoltas. O próximo conselho se encontra cada vez mais próximo.



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A estratégia de Dani era a seguinte: segurar a corda para o grupo Sol somente até que algum dos outros seguradores desistissem da prova. Com isso, não seria a mais fraca do grupo, embora estivesse sentindo dores nos braços há bastante tempo. Para sua sorte, Binho não resistiu e largou a prova quando a cesta do seu time chegou ao limite do peso que poderia aguentar. Para dar uma boa disfarçada, Dani fez cara de que estava tudo bem, esperou mais uns três minutos com as mãos latejando de dor e desistiu em seguida. Assim, só restavam Rafa e Bel segurando a cesta da equipe Sol.

No grupo Lua, Mosca, Bia e Janjão nem sequer saíam do lugar, completamente focados na tarefa. Por terem acabado de sair de um conselho mega difícil, que resultou na eliminação impactante de Fábio, os garotos davam o máximo de si para não precisarem encontrar Bárbara no início da noite.

Quanto aos arremessadores, André e Ana continuavam dominando a prova completamente, mostrando que tinham uma ótima pontaria. A cesta erguida por Mosca, Bia e Janjão baixava cada vez mais, forçando os três a cravarem os pés na areia e aguentarem firme. Já no outro time, Duda e Pata eram os responsáveis pela maioria dos acertos, resultando no abandono precoce de Binho e Dani da prova. Maria, que já tinha saído há muito tempo, assistia a tudo de longe observando o ponto forte de cada um dos que ainda restavam na arena.

Mais uma tentativa de Cris e, por conta de sua total falta de concentração, mais um erro. A menina se afastou um pouco para dar uma respirada e sair da mira de seus amigos, que vez ou outra paravam para lhe gritar aos ouvidos que não desistisse. Duda aproveitou que estava fora da vista dos outros competidores e se dirigiu rapidamente até ela. Sem fazer contato visual, entregou um bilhete em suas mãos e tornou a apanhar cocos pelo chão.

"Desculpa, galera, mas eu tô não aguentando mais." - Falou Mosca movendo o pescoço de um lado para o outro para aliviar a tensão nos músculos.

"Tudo bem, a gente dá conta sozinho." - Janjão olhou para Bia e os dois voltaram a sentir uma espécie de conexão.

Mosca saiu da arena de cabeça baixa e sentou ao lado de Maria. Olhou para a determinação de todo o grupo, sobretudo de Pata, Duda e Marian, e percebeu que tinham muita chance de vencer a prova.

Neco caiu exausto no chão, largando os cocos que carregava. Janu aproveitou para apanhá-los e tentar fazer mais alguns acertos. Junto a ela estavam Cris e Ana com as mãos cheias. Bia e Janjão começaram a tremer os braços.

"Eu não sei por mais quanto tempo vou conseguir ficar aqui. Se eu pudesse… ficaria do seu lado pelo resto do dia." - Janjão tentava reconquistar o carinho de Bia.

"Você precisa largar isso daí agora. Olha só como ta a sua perna!" - Bia estava bastante assustada ao ver que o gesso de Janjão estava perto de romper.

"Mas… Eu tenho medo de ser… de ser eliminado antes que você me perdoe." - Sem dúvidas, aquele era um legítimo olhar de arrependimento.

"Deixa disso. Você vai acabar se machucando ainda mais. Confia em mim, vai ficar tudo bem." - Bia reforçou o laço que havia feito na corda, fincou os pés no chão e rangeu os dentes com toda a força.

A corda deslizou sobre os dedos de Janjão, deixando todo o peso da cesta nas mãos de Bia. Do outro lado, Rafa e Bel lutavam juntos para resistir.

"Só falta mais um." - Comentou Bel ao ver que Janjão havia acabado de largar a prova.

"Desculpa, Bel." - Rafa não tinha mais como aguentar todo aquele sol nas costas e o suor ardendo em seus olhos.

Tati cutucou a irmã, que já estava descansando há bastante tempo, e a forçou a continuar catando os cocos. Duda, Pata e Marian continuavam acertando a cesta que, naquele momento, estava sendo erguida apenas por Bel.

Bia pelo grupo Lua e Bel pelo grupo Sol foram as últimas seguradores da prova. Cada uma apresentava manchas avermelhadas nas mãos, de tanto que a corda raspava na pele, mas nem por isso iriam desistir. As duas carregavam o medo de conduzirem suas equipes à derrota fazendo da arena um verdadeiro duelo de titãs.

A cesta de Bia estava bem mais pesada que a de Bel. Quase todas as tentativas de André resultaram em acertos e isso o fez criar um pouco mais de coragem frente ao grupo repleto de pessoas que não gostavam dele. Ana também tinha se saído muito bem mas tudo em que conseguia pensar era na imagem de Neco sentado no chão.

"Levanta daí, Neco. Você não ta vendo que falta pouco pra prova terminar? Nós precisamos de toda ajuda possível."

Neco levantou para pegar os últimos cocos que restavam no chão. O menino foi andando distraído pelo campo e acabou esbarrando em alguém.

"Tudo isso pra mim? Muito obrigado." - Vivi arrancou à força dos braços de Neco os últimos cocos da arena.

Enquanto isso, os demais arremessadores assistiam ao momento decisivo da prova, onde Bia e Bel resistiam bravamente ao peso de suas respectivas cestas. Vivi apareceu por trás da multidão e lançou, um por um, os cocos que havia roubado de Neco. A cesta de Bel estava em estado crítico e, após os reforço de Vivi, acabou superando a força da menina. Uma baita explosão de cocos enfeitou o final da prova, como uma chuva de confetes comemorando a vitória do grupo Lua.

Ao ver que havia vencido, Bia soltou a corda e correu em direção aos companheiros, que a receberam aos berros e abraços. Todos começaram a gritar, na euforia do momento, e acabaram enfurecendo o grupo rival. Os olhos de Bia se concentravam no sorriso de Janjão.

"Como vocês são idiotas. Comemorando por tão pouco." - Provocou Janu.

"Você fala isso porque provavelmente vai estar dando adeus à competição hoje à noite.' - Pata veio ao seu encontro para confrontá-la.

"Isso é o que nós vamos ver." - Respondeu Janu já quase partindo para a agressão.

Mosca correu na direção das duas e impediu que encostassem uma na outra. A confusão se generalizou quando todos os membros do grupo Sol começaram a insultar a equipe vencedora.

"Chega! Voltem para o acampamento de vocês imediatamente!" - Gritou Bárbara, carregando algo brilhante nas mãos.

"Essa aqui é a tocha da imunidade e pertence ao grupo Lua. Ter uma dessas no acampamento significa que não precisarão me visitar o conselho dos desbravadores." - Bárbara entregou a tocha flamejante nas mãos de Vivi, responsável por acertar o último coco na cesta do grupo perdedor.

"Ué, mas eu que deveria ter recebido a tocha!" - Reclamou Bia.

"Chega de discussão. Essa tocha pertence a todos vocês. Agora voltem para o acampamento." - Bárbara se voltou para o grupo Sol - "E quanto a vocês, usem o restante do dia da maneira como bem entenderem. Mais tarde, o grupo de vocês terá um integrante a menos."

Assim, as equipes se dividiram em lados opostos, cada um seguindo para o seu devido acampamento. Ainda haveria um longo dia repleto de conspirações pela frente.

_

Cris desviou o caminho de volta e se enfiou no meio de umas plantas mais ou menos da sua altura. Ali era o lugar perfeito para ler o bilhete de Duda. O papel estava um pouco amassado mas dava para ler perfeitamente as palavras do garoto:

"Oi, Cris. Eu sei que deve ta sendo difícil pra você, assim como ta sendo pra mim. Mas não se esqueça da minha promessa. Logo logo eu vou estar do seu lado de novo. Enquanto isso, tenta ficar perto dos seus amigos. Você é uma pessoa incrível e eles não vão te eliminar, que eu sei.

P.s.: Quando fecho os olhos, ainda sinto o gosto do teu beijo."

Apertou o bilhete contra o peito e suspirou profundamente.

"Duda, como você consegue ser tão fofo!" - Pensou - "Ainda bem que eu tenho o bendito colar de imunidade. Se eu perceber que alguém ta querendo me eliminar, é só usar e pronto. Só espero que ele também tenha como se salvar caso o grupo Lua perca alguma prova."

Saiu do meio das plantas e voltou para o caminho que dava para o acampamento. Mais à frente, ouviu um barulho estranho por perto e resolver dar uma olhada. Alguns tocos de madeira rodeavam uma pequena árvore e, para sua surpresa, se deparou com uma cena muito romântica.

"Cris? O que você ta fazendo aqui?" - Perguntou Rafa afastando o rosto de onde Bel estava.

Bel arrumava os cabelos ainda em choque tamanho foi o susto que levou. Cris, por outro lado, abriu o sorriso e se aproximou. Sentou em um dos banquinhos de madeira e começou um discurso inesperado.

"Bem, eu sei que não devia ta aqui mas juro que foi sem querer. E também, não quero atrapalhar vocês então vou ser rápida. Que tal se a gente formasse uma aliança?" - Cris mantinha um semblante calmo e pacífico.

O casal ainda estava bastante assustado. Bel sabia que Cris gostava de Duda e isso serviu para que acreditasse nas palavras dela, afinal as duas estavam em situações muito parecidas.

"Eu acho uma ótima ideia, desde que você não conte pra ninguém sobre o que viu aqui hoje." - Propôs Bel abraçando Rafa carinhosamente.

"É… Eu confio em você, Cris. A gente pode se dar muito bem junto. Mas, me diz, você tem alguém em mente pra votar hoje à noite?" - Perguntou Rafa com expressões mais relaxadas no rosto.

"Por mim, qualquer um dos vizinhos que sair ta bom. Que tal o André?"

"O André se saiu muito bem nessa prova. O que você acha, Bel?" - Perguntou Rafa ao notar que a menina estava calada.

"É que… Eles são meus amigos também. Vocês sabem disso. Pra mim, seria muito difícil votar neles. Eu acho que vou votar na Dani, hoje." - Falou Bel, insegura.

"Eu sei que é difícil pra você mas… O pessoal do orfanato provavelmente vai querer tirar um deles. O que você acha de votar na Janu, Cris? Ela foi uma das que menos contribuiu na prova." - Rafa e Bel permaneciam abraçados.

O carinho dos dois fez com que a menina sentisse ainda mais falta de Duda ao seu lado. Por um momento, ficou imaginando como seria lindo se os quatro seguissem juntos até o final do jogo.

"Pode ser. A gente precisa primeiro falar com os outros. Posso chamar eles aqui?" - Cris se levantou na esperança de sair dali. Não queria passar muito tempo segurando vela.

Bel permaneceu cabisbaixa quando Cris saiu. Era muito difícil estar nos dois lados ao mesmo tempo mas seu coração não conseguia se decidir.

"Nós estamos em maioria. Se você quiser, pode ir ficar do lado deles. Não vai fazer muita diferença e também eu não quero te obrigar a votar em pessoas que você gosta." - Rafa estava muito confiante com o futuro resultado do conselho.

"Espero que você me entenda." - Bel se levantou e saiu em busca de seus amigos, Janu e André.

No primeiro conselho que havia enfrentado, André quase foi eliminado e aquilo a abalou muito. Agora era a vez de Janu passar pela mesma coisa. O pior de tudo era saber que estavam tramando contra sua amiga e não poder contar nada a respeito. Pela primeira vez, sua cabeça estava em dúvida. Seria muita mancada da sua parte deixar que eliminassem Janu tão cedo no jogo. Alguma coisa precisava ser feita o quanto antes.

_

No acampamento do grupo Lua, todos estavam reunidos, pela primeira vez, comemorando a vitória. A tocha da imunidade exibia suas mais belas chamas enquanto um banquete era servido com os suprimentos extra que haviam recebidos por terem vencido a prova.

Duda aproveitou para puxar assunto com Pata. Após o fim dos grupos, os dois andaram completamente separados e uma reaproximação poderia fazer muito bem para o seu jogo. Da mesma forma, Janjão tentava encontrar brechas para falar com Bia.

"Você ainda ta muito chateada comigo?"

"Isso aqui responde a sua pergunta?" - Bia mostrou os arranhões em um dos joelhos, decorrentes da armadilha dos vizinhos.

"Eu sou um idiota mesmo. Perdi a confiança de uma das pessoas mais especiais pra mim e de quebra ainda ganhei um pé quebrado." - Janjão falava de cabeça-baixa, envergonhado por tudo que havia acontecido.

"Você vai continuar fazendo esse drama por quanto tempo? Eu já tô cansada de ver essa sua cara de derrota. O que você fez já ta feito."

Um silêncio repentino fez com que todos prestassem atenção em um papel misterioso nas mãos de Mosca.

"Atenção pessoal. Eu achei esse negócio embaixo da cesta de comida. Aqui diz: Pista secreta para o colar de imunidade."

A tensão se instalou imediatamente no acampamento, estragando o momento de confraternização do grupo. Marian olhava espantada para as mãos de Mosca. Seu desejo era arrancar o papel dele e sair correndo floresta adentro.

"Já que estão todos aqui, eu vou ler em voz alta. Parece ser a coisa certa a se fazer." - Mosca engoliu à seco e começou a leitura - "Existe um colar de imunidade escondido próximo a esse acampamento. Para encontrá-lo, será preciso localizar o momento em que a lua brilha mais forte. Depois é só virar na direção do infinito e caminhar nos limites de uma mão. Na hora certa, verás que a chave do mistério esteve com você o tempo todo."

Todos permaneceram em silêncio por algum tempo sem entender o que aquilo significava. Para encerrar o momento de tensão que se instaurou de repente, Pata resolveu quebrar o gelo com uma proposta bastante interessante.

"Eu acho que seria mais justo se ninguém aqui fosse atrás desse tal colar de imunidade. Senão, todo mundo vai ficar paranoico atrás desse negócio e isso só dificultaria ainda mais a nossa convivência, que já não ta nada boa." - A menina encarava à todos, porém tinha uma atenção especial voltada para Marian, Duda e Janjão.

"Você fala isso porque não ta correndo risco nenhum de ser eliminada. Assim é muito fácil ficar aí parada quando tem algo tão importante escondido ao redor." - Protestou Duda conseguindo o apoio instantâneo de seus companheiros, Janjão e Marian.

Maria sentiu que precisava dar sua opinião.

"Que tal se a gente combinasse assim: Hoje todo mundo comemora a nossa vitória junto, sem ligar pra esse colar e, amanhã, quem quiser procurar fica à vontade pra seguir a pista. Quem aqui concorda?"

Todos levantaram a mão, com a exceção de Duda, Janjão e Marian.

"Pelo visto a maioria ta com a Maria, né gente?" - Falou Tati pondo um fim na discussão.

O clima já não era mais o mesmo, porém os integrantes do grupo Lua fingiam não estarem preocupados com o colar de imunidade à solta. Era uma questão de tempo até que todos eles tentassem colocar as mãos no objeto detentor de um dos poderes mais fortes do jogo.

"Peraí… Cadê a Marian?" - A voz de Vivi soou como um alerta. Todos se puseram de pé, rapidamente, como se algo muito perigoso estivesse prestes a acontecer.


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Notas finais do capítulo

Tenho um aviso muito importante a fazer: esses dias comecei a escrever uma fic de Carrossel (mas não se preocupem pois não vou parar de escrever essa).
Conto com o apoio de vocês por lá!

Link: https://fanfiction.com.br/historia/636209/Carrossel_e_a_Desordem_de_Alabasta/

E aí, gostaram do capítulo?
Bjs e até o próximo (;