Eu sou o Título escrita por HA HA HA 22


Capítulo 5
O Tataraneto do Primeiro


Notas iniciais do capítulo

A criação exige muita energia. Oh, bela criatividade, aonde encontra-se sua geladeira?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/583932/chapter/5

Ela ouve o barulho de uma escotilha se abrindo. O som do papel. Na porta da frente. O dia seguinte. Esse é o dia seguinte. Ontem, foi o grande sucesso da transmissão. Hoje. Terça-feira. O papel cai no chão. Ela cruza o corredor. Para. Olha para o pequeno espelho oval. Todo adornado. Pendurado na parede. Consegue ver uma mulher. Bonita. Loira. Magra. Em seus melhores dias. Olhos marrom-claros. Um pouco mais abaixo. Um sorriso. Brancos. A Repórter estava mesmo, muito feliz. Desvia. Chega na porta da frente. Uma carta. Pega e abre. Era da polícia. Um pouco mais pessoal. Do Tenente. Um convite.

“Vamos fazer hoje, uma inspeção na casa do morto. Você está convidada. Eu ficaria muito feliz se você fosse, ou melhor, a imprensa. Para tirarmos isso a limpo. Ass: Tenente. ”

Endereço. E tudo mais. Mas é claro. Ela não perderia uma oportunidade como aquela. Ia comunicar ao canal. Emissora. Seu namorado. Ele estava lá fora. Lavando o carro. Regando o jardim. Já era de tarde. Umas 14:34. Contou. Ele se animou. Entrou. Foi preparar os equipamentos. A moça, foi arrumar os caderninhos. Os dois. Esqueceram de comemorar. Beijar-se. Abraços. Esqueceram.

Foram direto para o escritório do canal 3. Conversaram com todos. Surgiu um clima. Ânimo. Dinheiro. Audiência. Todos se excitaram. Uma perspectiva de todos crescerem. A loira passou pela sala da Diretora. A porta entreaberta. Ela viu. Um rosto. Loiro claríssimo. Curto. Os olhos se encontraram. Das duas. Constrangimento. A ex-namorada. A Diretora. Nada mudou. Partiram.

Estavam todos lá. Na Zona Oeste. De frente para a casa com uma bela fachada. As duas, únicas câmeras já estavam filmando. O Tenente deu um olá para a repórter loira. Retribuiu. Ele tentou aparecer em uma das filmagens. A polícia abriu a porta. Sem força. Eles tinham a chave. Não foi necessário. A porta estava destrancada. Só foi preciso empurrar. Curioso. Curioso ninguém achar curioso esse fato. As polícias olhavam tanto para as câmeras.

Entraram. Limpo. Limpa. Paredes brancas. Móveis claros. Poucos móveis. Um cômodo amplo. A sala era bem espaçosa. Um pouco decepcionante. Nada ali era interessante. Ou dava uma boa história. Ou merecia um zoom. Uma filmagem de detalhes. Nada. Um sofá, bege, de três lugares. Encostado na parede de frente para a porta. No lado direito do sofá. Um aparador com algumas coisas em cima. Um vaso. Uma bacia de pedra. Um livro. Um quadro. E uma bola. Pequena. Do lado oposto do aparador. Do lado esquerdo do sofá. Uma parede vazia. Branca. Creme claro. Na mesma parede do sofá, uma porta. Fechada. E na mesma parede do aparador, outra porta. O namorado segurava uma das câmeras. Entrou. Na porta do aparador.

Mais branco. “ Uma cozinha. ”, exclamou o Tenente. “ Bela observação. ”, pensou irônico. Estava se chateando. Na cozinha, havia apenas uma comprida bancada de pia. Uma mesa de quatro lugares. E um tapete. Um pelego. Azulejos. A cozinha era menor que a sala. Mais quadrada. Num dos cantos da cozinha havia uma geladeira. Abriu a porta. Uma policial procurava. Não havia comida. Somente, uma jarra d’água. E alguns copos. Carnes cruas. Embrulhadas ainda nas embalagens. Dentro da validade. Recém compradas. Mas bem no fundo, sim. Bem guardada. Goiabada. Fatiada. Desinteressante. Minutos de vídeo perdidos. Pelo menos não era ao vivo.

— Tenente, queremos saber, o que exatamente a polícia está procurando?

A Bonita começou a entrevistar o Tenente. Alguns se assustaram.

— Os papéis com informações especiais da Empresa. São ultrassecretos. Nem mesmo a polícia sabe o conteúdo. Mas, sabemos o formato e as características. Estamos vasculhando em tudo. Nossa perícia está altamente qualificada. Nossos investigadores também. Estamos na casa do ladrão que acabou cometendo suicídio. – Fez um movimento amplo.

— Senhor, vamos entrar aqui? – Um dos policiais perguntou. Apontando para a porta fechada.

— Mas é claro, idiota, temos que fazer o serviço completo. – Deu um sorrisinho para a Loira.

A maçaneta girou. A porta abriu. Precisaram regular o foco da câmera. Dos olhos. O outro cômodo era ligeiramente mais escuro. Paredes brancas. Mas a luz era branco-azulada. Um quarto perfeitamente quadrado. 3 metros por 3 metros. Vazio. Piso de cimento queimado. Vazio. Exceto por....uma caçamba. Pequena. Funda. Cor branca. Cinza. O Camerazinha entrou no cômodo. A Repórter entrou no cômodo. Seguidos de certos policiais. Seguidos do Tenente. Cheirava. Nada agradável. Algo que só se você notar, começa a incomodar. Uma mistura de produto químico. Produtos de limpeza. E um pouco de carniça que não foi totalmente esterilizada. Dentro da caçamba o cheiro era mais forte. A luz branco-azulada. Tudo isso em conjunto. Uma sensação de armazém de frigorífico. Vazio. Cheirava.

— Mas o que isso quer dizer? Não há nem mesmo uma gaveta, para se colocar os documentos ou dossiês. – O camerazinha reclamava.

Três cômodos. Vazios. Desinteressantes. Brancos. Vazios. Nem mesmo um armário. Pasmo. O Tenente. Logo se recuperou.

— Vamos dar mais uma vistoria na cozinha.

— Mas para quê? Já vimos que lá não tem nada.

— Você, fique quieto, não se intrometa. Nem da polícia é. Esses jornalistas. Nada a ver com você querida. -  olhou para a Bonita.

Voltaram para a cozinha. Alguns policiais estavam lá. Alguns que restaram. Um olhava pela janela. Começaram a olhar em tudo. Vistoria. Em lugares loucos. O chão. Nas paredes. Lugares prováveis. Na pia. Na bancada. Na geladeira. Embaixo da mesa. Em cima. Olhava pela janela.

— Senhor, e se nós procurássemos no jardim do morto. É bem grande, provável que esteja lá.

— Claro, eu ia mandar a equipe lá, se não encontrássemos nada aqui dentro.

— Então vamos logo. Não há nada aqui. – O outro camerazinha falou.

— Cala-a-Boca. Vamos, lá no jardim deve ter alguma coisa.

Passaram pelo corredor lateral. Chegaram no fundo da casa. O Jardim. Uma área ampla. Grande. Tinha até árvores. Porte médio. Um sonho. Amarelo. Plantas diferentes. Os olhos do tenente se encheram de lágrimas. Ele era um admirador. Nato. Admirava plantas. Sabia um monte. Roxo. Verduras tão bem cuidadas. A beleza daquele lugar estava na liberdade das folhas. Nada tinha um tamanho certo. Nada era cortado em formatos. Vermelho. Eram livres. Se entrelaçavam. Se conheciam. Brincavam com o espaço. As frutas. Penduradas. As flores. Caídas no chão. Colorido. As folhas. Esvoaçavam. Verde. Uma leve brisa de repente surgira. Marrom. Havia um caminho. Paralelepípedos. Levavam para um passeio. Numa das árvores do fundo, um balanço. Para frente. Para trás. Em outra parte, uma mesinha. Redonda. Branca. Com duas cadeiras. Conjunto. De um lado onde as sebes cresciam mais. Formavam um arco. Ali. Havia um banco. Para duas pessoas. A grama verdinha. Exalava um aroma de terra. Muitos insetos visíveis. Não se incomodavam com a presença humana. Nem os pássaros. Cantando tranquilos. O barulho de água corrente. Uma pequena fonte. Uma mulher mínima. Pelada. Posição grega. Dando vivas para o ar. Em pé, no centro do chafariz. Molhada até as vergonhas. Quietos. Admirando por alguns segundos. Minutos. Lá, no fundo do muro. Uma casinha. Casinha de ferramentas. Feita de madeira. Telhado verde escuro. Bem escondida. Um jardim secreto.

Todos seguiram. Pelo caminho. Todos em direção a casinha. Casinha de ferramentas. Só podia estar ali. Era a única opção. O único esconderijo. Bem reservado. Todos iam. Todos queriam finalmente encontrar algo. Dúvida. Anseio. E se não estivesse ali. Por favor. Era a única opção.

A primeira a chegar foi a Loira. Bonita. Magra. Que horror. Gritou. Que ânsia. Nojo. Medo. O Tenente correu. Tentando ajudar a repórter. Escorregou na pedra molhada. Caiu. O Camerazinha chegou depois. Se espantou. Nojo. Incrédulo. Com dificuldade se levantou. Sem ajudas. Correu. Com cuidado. Encostou no ombro da mulher. Afastou o homem. Queria ver. O que? Os outros tinham que olhar pelas janelinhas da casinha. Casinha de ferramentas. Os olhos revirados. As córneas brancas. Dois corpos. O pescoço de um, quebrado. Ângulo doloroso. A barriga de outro. Estraçalhada. Aberta. Os órgãos visíveis. Os dois com tufos de pelos faltando. Sangue escorria. Vinho. Quente. Para o ralo da casinha. Casinha de ferramentas. Que macabro. Algumas partes da carne foram arrancadas brutalmente. Nacos enormes. Moscas por perto. Não fazia muito tempo que os corpos estavam ali. Medo. Estraçalhado os dois corpos. O de barriga aberta. Um cachorro. O de pescoço quebrado. Um macaco-aranha. Estranha combinação. Cheirava.

— Que visão horrível. Esses dois animais estão se decompondo rápido. Que nojo. Nunca vou esquecer. Que nojo. – A repórter choramingava.

— Calma, amor. Os policiais vão dar um jeito.

— Pode apostar que vamos. Pessoal, chamem reforços sanitários.

E então, começou. A esterilização. Autópsia. Alguns agentes ficaram. Sentados no Jardim. Os repórteres e câmeras esperaram. Gravaram. Esperaram. No Jardim. Tentando encontrar alguma paz.

Eu chamo ele de Thomas...

A autópsia. A perícia chegou numa conclusão. Alguém havia estado ali.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Mais um, seguidos. Seguidos
basta agora para eu sumir,
volto depois de muito tempo



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Eu sou o Título" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.