The Z Apocalypse escrita por Nathi Peters


Capítulo 7
What doesn't kill you makes you stronger.




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Abro os olhos e o carro está parado, estou deitada no banco de trás. Meu braço está enfaixado, uma listra vermelha mancha a atadura branca.

Olho em volta. Nenhum sinal de Jane. Tento me sentar, mas minha cabeça lateja. Então apenas fico parada.

Depois de alguns minutos, decido sair do carro. Me sinto embrulhada e vomito no meio da rua. Logo, Jane está do meu lado segurando meu cabelo. Olho para ela e agradeço. Voltamos para o carro. Ela se senta na direção e sento-me ao seu lado.

– Você passou mal de verdade, Vee! Eu parei o carro por algumas horas para você dormir, também precisava descansar. – diz ela me olhando com preocupação. – Tentei chegar mais rápido até você. Mas tinha tantos deles.

– Tudo bem, você chegou a tempo!

Jane liga o carro e segue pela estrada, o sol começa a aparecer no horizonte.

– O que foi que deu em você? – pergunta ela.

– Cinco anos atrás eu tive fobia de sangue. O nome é Hematofobia. Fiz terapia e eu consegui me livrar disso. Mas hoje, acho que eu não aguentei ver todo aquele sangue saindo de mim. E sem falar do pânico de ser comida viva. Sei lá, eu surtei.

– É estranho, você vê um monte de sangue todos os dias.

– Eu sei, é que, esse sangue não está saindo do meu corpo...É complicado, eu sei. – digo sorrindo.

– Sabe, achei que isso tinha algo a ver com aquilo lá no depósito. – ela fala e olha para mim, deixa as palavras no ar, mas não respondo, então ela continua. – Aquela coisa ia te matar, você...Paralisou.

– Eu sei...Eu...Sei lá. Meu cérebro ordenava, mas meus membros ganharam vida própria. Eu não consegui me mexer.

– Isso é ruim, muito ruim! Vee, você precisa revidar, ainda mais no mundo de hoje. Saber agir pode significar a diferença entre viver e morrer.

– Eu sei. Eu vou me esforçar mais.

– Você se esforça. Você tem muita coragem...Ou uma maluca viciada em adrenalina. Nunca vi alguém se colocar em situações de risco com tanta facilidade, e por vontade própria! Você nos salvou.

– E você me salvou. Obrigada, te devo essa.

– Acho que estamos quites. – digo

O carro continua, e me sinto fraca. Perdi sangue e vomitei tudo o que tinha no estômago.

– Falta muito? – pergunto.

– Quase lá.

– Onde aprendeu a fazer isso? – pergunto apontando para o braço enfaixado.

– Fui enfermeira voluntária.

– Isso é uma coisa maravilhosa. – digo. – Quantos anos você disse que tinha mesmo?

– Eu não disse. – diz ela sorrindo. – Tenho 18. E você?

– Na verdade acabei de fazer 17. – digo. Meu aniversário fora apenas um mês antes de tudo aquilo acontecer. Jane me entrega uma maça.

– Coma. Encontrei no depósito. Estavam frescas. Estava guardando para mais tarde, mas você está bem pálida, parece que vai desmaiar a qualquer segundo.

– Obrigada! – digo. – Vamos dividir , okay?

– Tudo bem. – diz Jane. Procuro por uma faca em algum lugar do carro, encontro uma embaixo do banco. Corto a maçã em duas. Comemos e seguimos em silêncio.

– Onde será que você está, Logan? – sussurro para a minha forma no espelho do carro.

– Espero que esteja bem. – diz Jane, não percebi que ela escutou.

– Vocês já se conheciam? – pergunto.

– Sim. Nós namoramos uns dois anos atrás. – diz ela. - Mas sabe...Tudo bem...Você e ele.

– O que? – pergunto quase engasgando.

– Ah, qual é Vee, você sabe.

– Não, eu e Logan somos apenas bons amigos.

– Aquele olhar que ele sempre tem quando olha pra você não é coisa de amigos. – diz ela sorrindo maliciosamente para mim.

– Não, nada a ver. – digo. Uma centelha de curiosidade me atravessa. – Então, qual a história de vocês?

– Bem, eu e Logan nos conhecemos no nosso bairro, eu era vizinha. Ele tocava na banda do meu amigo. Acabamos nos aproximando. Sempre tive receio, você sabe, ele é mais novo. Só um ano, eu sei. Mas eu...Sei lá. Acabamos namorando. Mas percebemos que tínhamos mais uma amizade do que um relacionamento amoroso. Logan é uma pessoa maravilhosa.

Reflito sobre o que Jane acabou de dizer. Não sei o que sinto sobre isso. Prefiro ignorar qualquer tipo de sentimento que me ligue as pessoas neste momento.

Jane dirige para fora do asfalto, e logo estamos em uma estradinha de chão, barrenta e irregular. Depois de alguns minutos, chegamos no Hotel. Saio devagar do carro. Jane carrega os dois sacos de lixo com os medicamentos e tenta sustentar parte do meu peso, já que estou um pouco tonta para caminhar.

Quando entramos dentro do hotel, logo ouvimos passos em nossa direção. A professora de espanhol, senhorita Hernandez é a primeira a chegar no cômodo.

– ELAS ESTÃO AQUI! AS MENINAS! - ela berra. Logo ela nos abraça, as duas ao mesmo tempo.

Percebo o resto do pessoal que estava na missão aparecem. Percebo Logan descendo as escadas apressado, os olhos cheios de preocupação. Ele para por alguns segundos em minha frente e segura meu rosto com as mãos em concha.

– Eu...Eu achei que nunca mais ia ver você. – ele diz. E então me abraça, me abraça tão forte que tento me lembrar de respirar. Não sei quanto tempo ficamos desse jeito. Mas sei que se um alfinete caísse no chão, todos naquela sala ouviriam. Logan se afasta para me analisar. Ele segura meu braço. – Meu Deus, o que foi que aconteceu? – pergunta.

Tento falar, mas estou muito tonta para fazer qualquer coisa. Gostaria muito de não agir como uma retardada enquanto Logan me abraça, ou enquanto todos se mostram preocupados. Mas dessa vez, não é meu corpo que não obedece aos meus comandos, é meu cérebro. Me sinto tão fraca que poderia desmaiar.

– Ela se cortou com vidro. Ela bolou um plano para nos tirar daquele terraço. Mas se machucou de verdade, perdeu bastante sangue.

– E..Estou bem, eu...Só... – não consigo terminar a frase, pois já estou desmaiando novamente. Dessa vez, sou carregada para algum lugar por Logan. Não tenho tempo de me sentir constrangida, ou de sentir qualquer coisa, pois minha mente fica tomada pela fumaça negra.

Abro os olhos, e Logan está sentado em uma cadeira ao lado da minha cama, ele olha para mim. Percebe que acordei e caminha até a porta, logo ele volta com alguém.

Decido evitar olhar para meu braço. Não quero vomitar outra vez. Não na frente dele. Espera? Por que diabos eu me importo?

– Olá, meu nome é Harry Paterson. Sou médico. – diz ele sorrindo pacificamente, logo me sinto mais tranquila. – Preciso examinar seu braço.

Meu estômago dá uma volta completa, e acho que o médico percebeu, pois olha para mim e tenta me acalmar.

– Só preciso ver, vai ser rápido. Você não precisa olhar se não quiser. – ele afirma. Concordo e ergo o braço esquerdo para ele. Ele delicadamente retira o curativo. Ele prende no sangue seco o que me faz sentir uma corrente elétrica percorrer meu braço inteiro, e percorrer meu corpo, faço uma cara de dor. Quando o médico retira tudo, seu rosto não parece bom.

– Foi um corte bem fundo. Sorte sua que não perfurou nenhuma veia importante. Teve sorte que sua amiga fez um bom trabalho aí, poderia estar infeccionado. – diz ele virando meu braço de um lado para o outro para examinar melhor. – A boa notícia é que você vai ficar bem, a má notícia é que você vai precisar de pontos.

– Podemos dar pontos aí. – diz Logan.

– Na verdade, vai ser um pouco mais complicado que isso. – diz o médico.

– Como assim? – pergunto respirando, mantendo o controle e tentando manter a curiosidade sob controle para não olhar para o corte.

– Não temos anestesia. – diz ele.

– Bom, então não fazemos. – digo.

– Se não fizermos não vai parar de sangrar.

– Ai, droga! – digo.

– Está tudo bem. Vamos dar um jeito.

Ele aperta minha mão direita.

– Vou mandar trazer o kit de sutura. Vou ver se Jane não encontrou nada para anestesiar na farmácia. – diz ele saindo.

– Logan, não sei se posso fazer isso. – digo. – Não quero ser covarde, mas...Eu, eu sou fraca pra dor, principalmente esse tipo de dor.

– Você vai conseguir. – diz ele, sorrindo, me tranquilizando – Eu não vou deixar você morrer. Eu...Eu não posso. Fiquei esperando você voltar, não sabe o quanto foi difícil, pensei que estivesse morta.

Ele chega bem perto e beija minha testa, e se afasta quando o doutor Harry volta com Jane, Brutus e Tyler.

– Vee, Lidocaína é tudo o que eu tenho, não vai funcionar como morfina, mas vai ajudar um pouco.

– Você está pronta? – pergunta Harry.

Meu corpo todo treme, meu estômago dá voltas e sinto vontade de vomitar. Mas faço sinal positivo com a cabeça.

– Tudo bem. Vamos começar. – diz ele.

Harry puxa uma cadeira coloca meu braço esticado ao meu lado, e coloca uma toalha branca em baixo dele. Tyler segura uma lupa e uma lanterna com luz bem forte em cima do meu braço. Jane passa para o doutor um pano branco molhado. Ele passa o pano no meu passo e eu me encolho de dor, tento não gritar, mas a dor é terrível, solto um gemido agudo. Logan acaricia minha testa.

– Pronto! Pronto! Está limpo. – diz Jane.

O doutor pega uma agulha em forma de foice e a esteriliza no álcool. Depois ele pega a pomada e aplica no meu corte, que fui burra o bastante para olhar. Um corte fundo de 10cm, na vertical. Quando ele espalha a pomada pelo meu braço, a dor foi quase tão grande quanto a dor de quando ele estava limpando o corte, solto um grunhido de dor.

– Agora preciso que conte até três... – diz Harry. - 1...2...

– AAAAAAAAAAAAAAAAH! – grito, urro, faço qualquer som grutal que minha garganta consegue emitir, Harry enfia a agulha em forma de foice entre o corte, o unindo com uma linha, posso sentir a linha passar entre a minha pele. Percebo que Bruttus está segurando meu tronco para impedir que eu me mova.

Cada ponto é uma nova onda de dor, uma dor que nunca senti antes. Perco os sentidos duas vezes e vômito três. Já passam dos doze pontos e eu estou berrando, gritando, urrando. A dor chega a um ponto que é sentida por toda a extensão do meu corpo. Sinto o suor escorre em minha testa e em meu pescoço. Logan está me fazendo olhar para ele. Vejo sua angústia. Mas nada naquele momento alivia aquela dor constante.

Depois de meia hora de tortura, os vinte pontos estão dados. Meu corpo todo treme e soa frio. Estou sem forças para falar. Logan sai do quarto irritado, sei que não está irritado comigo, está irritado por não poder fazer nada.

– Você foi muito corajosa, nunca dei pontos sem anestesia. Agora descanse. – diz Harry, saindo.

Tento pensar em suas palavras. Corajosa? Gritei a cada agulhada, todo mundo do hotel deve ter ouvido.

Não tenho tempo de me sentir envergonhada, pois quando me dou conta, já estou inconsciente outra vez.


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