O Relógio escrita por aneurysm


Capítulo 2
Tic Tac


Notas iniciais do capítulo

Porque nem mesmo o mais forte dos homens suportaria o fardo de viver sem amor!



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TIC TAC


Eu imagino, que o tempo é a peça mais importante da vida do homem, imagine como seria se tivéssemos tempo para tudo, se aos cem anos fôssemos apenas um bebê ainda na mente dos mais velhos, seria tudo simples, pois você teria tempo para tudo na vida, e talvez sobrasse tempo para nada, se parar para pensar, cinquenta anos é muito tempo, mas pra quem já passou por cinquenta anos, não é tanto tempo assim, ele olha para o passado e pensa em todas as coisas que queria ter feito, mas não teve tempo, e em tantas que ele não queria, mas que apenas tomaram o tempo dele, se ele fosse dono do próprio tempo talvez não houvesse arrependimentos!

Sempre que eu olhava o velho relógio, eu percebia que o tempo passava rápido demais e que era impossível acompanhá-lo, eu ficava feliz em ver que eu havia aproveitado bem o tempo, feito coisas certas, e cuidado do meu próprio tempo de forma correta, mas em contra partida, eu via o tempo passando, e ficava pensando o que faria se não encontrasse quem amo, afinal eu nem sei quem é! E esse tempo que estou sozinho agora, eu poderia estar aproveitando com esse alguém.

Eu sempre tive medo desses pensamentos incomodarem o universo, meu pai sempre dizia que o universo sempre da um jeito, então estaria eu muito afoito? Estaria meu desespero sendo um ato de blasfêmia? Eu não sabia responder, e a cada pedaço de tempo que aquele relógio marcava, as perguntas chegavam a minha mente, mas não havia respostas.

E em um pequeno hiato eu pensei nas palavras de Alice, "quanto menos você se preocupa com o futuro, mais feliz será hoje" então eu decidi me libertar desse pensamento, e de simplesmente, aproveitar o meu tempo, e não pensar mais no tempo de nós.


No outro dia fomos ao lago, e viajamos juntos por mais três cidades na Noruega naquela semana, eles me chamaram para continuar a viagem com eles, a viagem ainda duraria mais três semanas, eles iriam para a Dinamarca, e de lá voltariam pra casa, assim eu decidi acompanhá-los.

Nossa visita a Noruega acabou e pegamos uma embarcação em Bergen para Copenhagen, demoramos um dia inteiro para chegar, era um sábado nublado, é relativamente para um brasileiro, encontramos um hostel, e por lá ficamos no sábado, no domingo o céu estava mais bonito, então começamos a caminhar, passeamos por toda a cidade e aproveitamos bem o dia, eram quase onze horas da noite quando eu sugeri que fôssemos jantar, Francesco encontrou um lugar para comermos, era um restaurante tradicional, nos sentamos na mesa pedimos a comida e por ali ficamos!

Era uma mesa de seis lugares, como éramos sete, Francesco pegou uma cadeira e se sentou na cabeceira, chamamos a garçonete e ela veio, eu estava sentado na cadeira da ponta, perto de Francesco, quando ela veio caminhando, ela colocou a mão dentro do bolso do avental para retirar um bloco de notas, nesse instante eu abaixei a cabeça e coloquei a mão no bolso para retirar o velho relógio, quando ouvi o Francesco dizendo em voz alta e em tom de alegria e surpresa, como se estivesse acabo de encontrar um maço de notas!

"Ai, meus Deus, olha!"

E quando eu levei os olhos em direção a ele, ele estava se levantando e tirando algo do bolso, era uma espécie de chave, com uma rosa dos ventos na ponta, e no braço dela, havia um bracelete, com uma espécie de fechadura, em formato de rosa dos ventos, ele levou a chave em direção ao bracelete, a chave se encaixou perfeitamente e o bracelete, abriu, ela o tirou e por baixo estava escrito, “aproveite o amor!”

Eu fiquei imóvel, sem saber o que fazer, eu estava vendo, todos os meus medos, todos os meus pesadelos, se tornando realidade, como poderia, o totem que ele carregava, era idêntico ao meu, o mesmo tamanho, a mesma cor, era idêntico, e naquele momento me bateu um desespero enorme.

Naquele instante todos começaram a aplaudir, e todo o restaurante se levantou para bater palmas, e eu, em um gesto involuntário e desesperado, comecei a aplaudir junto com todos, mas o meu coração estava tão apertado, que eu sentia o pânico tomando conta do meu corpo, nesse instante o chefe dela ao ouvir o alvoroço, veio em nossa direção, deu a ela um abraço, e disse pra ela retirar o avental, que aquele era um dia especial ela jamais trabalharia em um noite tão importante como essa, nesse instante Francesco com um belo sorriso no rosto gritou, “Eu a encontrei”, ele puxou para ela uma cadeira, e disse que aquele jantar eles passariam com os amigos, já que juntos estávamos quando ele encontrou o amor de sua vida.

À noite foi passando e o desespero se tornava cada vez maior, a cada instante que eu via aquele bracelete no braço daquela moça, eu ficava pensando, "não pode ser possível, não deve ser só coincidência, o destino não faria isso, eu sei que tive pensamentos blasfemos, mas era “medo" e a todo instante eu via o mundo se desmoronar nas minhas costas.

Como era uma noite para comemorar, Francesco decidiu beber, e todos o acompanharam, eu me controlei para não beber demais, Angelika, era o nome dela, magra de cabelos compridos e castanhos claro, olhos verdes e uma pele clara, ela parecia saber beber como ninguém, a cada instante ela estava ou experimentando um "shot" com Francesco enquanto falavam sobre a vida um do outro, ou tomando outra cerveja, eles beberam até não aguentarem mais, eu e Philip tivemos que praticamente carregar o pessoa de volta ao hotel.

Angelika passaria a noite conosco, já que uma amiga havia levado um bilhete para os pais dela avisando do acontecimento, durante a noite inteira eu não me controlava, pensamentos pairavam sobre a minha mente, e eu me via perturbado pela possibilidade de passar o resto dos meus dias sozinho por um simples momento no tempo! Eu decidi que não poderia viver com a dúvida, no meio da noite eu fui até a cama dela, por ser a primeira noite, Francesco estar bêbado demais e por ainda estamos no hostel nós o quarto e comunitário, eles não dormiram juntos na mesma cama, eu caminhei até ela, retirei o meu totem do meu bolso, e abri o bracelete, e como na hora que Francesco tentou, o bracelete de abriu, aqueles foram os piores segundos de toda minha vida, eu fechei o bracelete novamente, naquele instante eu realmente não sabia o que fazer, eu caminhei até o armário, peguei uma blusa de frio, e sai pra rua, e caminhando e sentindo aquele medo por dentro, só o desespero era o meu consolo, ao ver o amor escapar entre meus dedos de forma tão simples e inesperada, foi um martírio tão grande que naquele momento, somente a morte me consolaria, mas como diz o velho ditado, a esperança é a última que morre, eu não poderia me matar naquele momento porque por mais que agora só o sofrimento preenchesse meu coração, no fundo sempre haveria esperança.

Eu caminhei o resto da madrugada inteira, de um lado para o outro, de uma rua para a outra, eu já estava perdido e mesmo assim não me importava, eu queria caminhar enquanto minhas pernas me carregassem, eu queria continuar me sentindo pelo menos vivo, o desespero e o medo da solidão me acompanhavam e eu continuava a caminhar, e caminhar, eu via pessoas na rua, e via a felicidade que agora eu corria o risco de nunca ter estampada meu rosto como estava no rosto delas, eu pensava, e pensava, e não conseguia encontrar uma solução, em um mundo onde todos nós estamos fadados a ter um par, eu fui o único a ser apartado da regra, e nesse instante eu não sabia mais o que era certo ou errado, se o mundo fazia tudo direito, eu queria respostas, mas não sabia aonde procurar, eu continuei caminhando por toda a noite, ate que cheguei a um lago, eu me sentei, livrei minha mente de todos os pensamentos que me atormentavam durante toda a noite, olhei para a água, e me foquei do balançar da água com o vento, e a luz do sol que começava a chegar e refletia sobre a água, e decidi que se fosse para passar a vida sozinho, eu faria a melhor maneira possível.

Eu voltei para o hostel, Angelika e Francesco estavam na porta do nosso quarto, eu passei por eles sem falar nada e segui até o meu armário, e comecei a juntar minhas coisas. Ele veio me perguntar o que estava acontecendo, eu inventei uma desculpa dizendo que um chamado urgente do Brasil tinha sido enviado pra mim, e eu tinha que voltar, ele me pediu pra ir junto, como ele havia dito ele gostaria de trabalhar comigo, e agora mais ainda por que tinha alguém para cuidar. Eu não hesitei em permitir que viesse, eu disse que dia vinte eu partiria para o Brasil, e que ele deveria estar apostos no dia dezenove me esperando de manhã para prepararmos a embarcação, e nesse instante uma mão tocou as minhas costas, quando eu virei era Alice, com uma expressão seria, e convicta ela disse, “Eu vou com você”.

Eu fiquei perplexo nesse momento, sem saber o que dizer, afinal, eu jamais esperava isso, ainda mais dela, eu jurava que ela estudava e que estava com a vida encaminhada, então eu perguntei o porquê de ela querer ir comigo. Ela disse que tinha experiência em navegação e que queria trabalhar, me achava sincero e honesto e que eu poderia ser um bom chefe, e assim foi que eu disse que ela seria responsável por conferir os carregamentos e lançar as notas de entrega. Ela aceitou e mesmo com um salário abaixo do mercado ela disse que iria, eu disse para ela se apresentar no dia dezenove juntamente com o Francesco, mas ela decidiu que iria comigo, queria me conhecer melhor e o barco também, já que passaria tanto tempo com os dois, naquele instante eu já não me preocupava com mais nada, então aceitei. No mesmo dia pegamos um barco para Sandfjord na Noruega e de lá, iríamos encontrar um transporte para Bergen, ao chegarmos em Sandfjord já era noite, então fomos procurar um lugar para nos acomodarmos. Ao nos acomodarmos no quarto ela olhou para mim e disse, “Por favor, sente-se, eu preciso lhe fazer uma pergunta” Eu me sentei e ela disse o seguinte:

– O que houve na noite passada? Você era uma das pessoas mais alegres na mesa, e seu semblante se transformou no momento em que Francesco encontrou o amor dele, como se alguém tivesse morrido, e eu vi você saindo de madrugada, o que aconteceu?

– Eu não sei como explicar, mas você disse que "O triste penar da espera pelo completo amor que todos vivem em favor de, é o que torna a nossa vida tão angustiada e temerosa, não o medo maior do que temer a inexistência da sua cara metade, por isso quanto menos você se preocupa com o futuro, mais feliz você é hoje", mas a verdade e que ninguém é feliz sem amor. – falei tentando não parecer tão frustrado. – Você pode não estar triste e não se desesperar com o seu futuro, mas a solidão não permite que ninguém seja feliz, somos feitos em pares, e a felicidade e o resultado da união desses pares. E quando o homem vê o seu amor escapar de suas mãos, toda felicidade que ele tinha guardada no peito se dissolve e só resta ódio e rancor, e se ele tiver outra chance de ser feliz, nunca será igual se ele não tiver amor!

"O triste penar da espera pelo completo amor que todos vivem em favor de, e o que torna a nossa vida tão angustiada e temerosa, não a medo maior do que temer a inexistência da sua cara metade, por isso quanto menos você se preocupa com o futuro, mais feliz você é hoje"


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