Deslize escrita por Bagon


Capítulo 2
Capítulo 2




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– Agora, se tudo der certo, você estará comigo na sala de controle quando apertarmos o pequeno botão ao lado da tela. Aperte em 3, 2, 1... – Com o pressionar de um botão, o Doutor encontrou-se do lado de fora da clareira, que estava livre da macula dos corpos. Contudo, ao virar-se, percebeu que a TARDIS também havia sumido.

Susan. Ela não estava lá.

Algo deu terrivelmente errado, sim, mas isso não era importante no momento, a segurança da neta era o que o preocupava.

–Susan, Susan, onde está você, minha criança? – A voz do velho preenchia o local, recebendo como resposta apenas o farfalhar das folhas próximas, empurradas pela brisa. Com dedos firmes e movimentos rápidos, batia desesperadamente na tela em seu pulso, mas os olhos arregalados encaravam apenas um dispositivo incapaz de realizar sua função, seja ela uma simples viagem de alguns metros no espaço, ou mostrar a garota perdida.

Com passos largos a clareira foi percorrida, logo o homem estava em sua borda, apoiando as costas contra um liso e comprido tronco marrom. Correr não se mostrara uma boa ideia no passado, e a grande quantidade de ar que era sugado e expelido de maneira inconstante, juntamente com a sensação de que seus palpitantes corações iriam escapar-lhe pela boca, provou que seu velho corpo não havia feito progresso em acompanhar a força de vontade.

Qualquer coisa poderia ter acontecido com sua neta, ela poderia estar em outro lugar, em outro planeta, outro ano, outro milênio. E se ela estivesse vagando pela eternidade no próprio Vórtex do Tempo? As possibilidades iam e vinham numa velocidade que apenas o cérebro de alguém de seu povo poderia processar, acompanhadas pela intensa tentativa de recuperar o fôlego perdido. Acima de tudo, o Doutor teve medo. Mas não por muito tempo. Ele era o Doutor, e isso significava que enquanto houvesse a possibilidade de Susan estar viva, mesmo que no canto mais remoto da galáxia, havia também esperança.

Apoiado nesse sentimento, deixou o medo em um canto de sua mente. Sim, em um canto, isso quer dizer que ele sempre estaria lá, tão indesejado, mas agora não era sua principal companhia. Andou um pouco pelo o pequeno espaço entre as árvores floresta a dentro, logo encontrou um bom pedaço de galho, não muito grosso, não muito fino, relativamente reto, e passou a usá-lo como um cajado de apoio. Não era uma bengala, mas serviria. A pomposa gravata estava firme, então, com a mão ociosa, o Doutor segurou a abertura de seu longo paletó na altura do peito, e continuou adentrando cada vez mais profundamente na mata, sempre mantendo sua postura e ar de imponência que lhe era tão natural, caminhando em seu próprio ritmo moderado.

O terreno era predominantemente plano, com alguns morros pouco íngremes aqui e ali. Apesar das árvores estarem dispostas aleatoriamente, o espaço entre elas era constante, aproximadamente um metro. Agora, percebendo isso, ficou mais atento, começou a analisar a floresta enquanto caminhava, a distância constante não era o único aspecto não usual. Escolheu uma árvore, posicionou seu monóculo no olho esquerdou e analisou-a calmamente, levando seu próprio tempo, como era de seu costume. Sentiu a textura da casca, firme e quase lisa, seria impossível, pelo menos para ele, tirar uma lasca. Um profundo marrom escuro cobria os troncos, que não aparentavam nenhuma deformação ou sinal de interferência causada por outras formas de vida, não existiam mamíferos, insetos, nem qualquer outra forma vegetal que não as implacáveis árvores que se estendiam tantos metros em direção ao céu. Esse breve pensamento de imensidão o fez olhar para cima, percebeu que os galhos começavam a dividir-se na mesma medida, pelo que o homem estimou trinta e cinco metros. No topo, uma imensidão de folhas emaranhava-se, criando uma espécie de telhado que impedia a entrada de luz do Sol, dando a impressão de que a qualquer momento a escuridão da noite dominaria o local, mesmo se o astro estivesse em seu auge. No chão, a curta grama cobria todos os espaços, como um grande e macio carpete, sem qualquer sinal de animais ou insetos sobre ela. Sim, mesmo com tanto verde, a floresta parecia morta, sem qualquer sinal de habitação, nem pela mais minúscula formiga.

Continuou caminhando, ponderando as informações recém adquiridas. Susan poderia estar nesse planeta, então quanto mais soubesse sobre ele, melhor, ainda mais com tantas características peculiares. A leve brisa acompanhava seus passos, pensamentos, deduções, e teorias. Nada realmente relevante ou genial parecia aparecer em sua mente, mas continuou seu trabalho intelectual enquanto também imaginava onde estaria o fim da vegetação uniforme. O velho nem sequer tentou adivinhar quanto tempo se passou, tal frivolidade passa a ser irrelevante após quase três centenas de anos vividos, o fato é que, eventualmente, atingiu o pé de uma montanha, que erguia-se subitamente na floresta. Sem ter por onde ir, começou a tentar circundar a grande elevação.

Após mais algum tempo caminhando, o Doutor encontrou uma caverna, e foi até sua entrada para ver se algo de interessante poderia estar ali. De fato, encontrou algo interessante, porém, como de costume, mesmo recebendo o que tanto esperava, nada foi exatamente da maneira que pretendia. As paredes e o teto eram consideravelmente largos, mas isso foi de pouca importância, pois alguns passos à frente existia uma fogueira, o calor começou a atingi-lo e podia sentir a temperatura de seu corpo elevando-se lentamente. Mais ao fundo, equipamentos, caixas de metal, mesas, tubos de experimento, sacolas, comidas, provisões. Novamente isso também foi de pouca importância. Ao redor do fogo, três figuras rapidamente levantaram-se ao notar o recém chegado.

Humanoides, toda a sua pele era verde, com o que pareciam ser cascas de árvore espalhadas pelo corpo. Seus rostos eram distorcidos, como se tivessem sido girados com bastante força e tudo ficara meio torto, possuíam dois olhos, um nariz e uma boca, talvez aquelas pequenas estacas dentro desta seriam dentes. Coisas como galhos extremamente finos e flexíveis ocupavam o topo da cabeça. Ainda assim, era possível diferenciá-los, usavam o que um dia fora uma bela armadura espacial, uma verde, uma azul e outra vermelha, que encaixavam perfeitamente no corpo magro de cada usuário, contudo, o processo de ferrugem roubara sua antiga glória. Cada um também possuía traços faciais tais quais os humanos, a vermelha era claramente uma mulher, enquanto os outros homens, muito parecidos, possuíam como principal diferença a pequena cicatriz naquele que usava a roupa verde. Se isso já não fosse o bastante, suas sombras dançavam na escura parede da caverna, acompanhando o ritmo da rodopiante chama que aquecia o grupo.

– Você, você é humano... Você veio para nós... – Sua voz era rouca, como se falasse com um grande catarro preso na garganta. Todos pareciam abalados, mas nenhum mais que o homem sem cicatriz após proferir essas palavras. Estavam claramente surpresos, desesperados, uma mistura de medo, cautela e um pingo de esperança estavam estampados no rosto de cada um, que mesmo emocionados mantiveram uma boa distância.

– Não tão rápido, não sabemos direito quem é. – A mulher parecia ser a mais desconfiada de todos.

– Céus, não vim aqui para ninguém, estou à procura de minha neta, agora, por favor, recomponham-se. – O Doutor não tinha tempo para toda essa cena, precisava encontrar Susan, e queria saber logo o que estava acontecendo nesse lugar. – Agora, algum de vocês pode me dizer o que está acontecendo aqui? – O grande paletó, a bengala, o monóculo pendendo sobre o peito, a pomposa gravata. Tudo ajudava a compor a imagem do Doutor, um homem altamente respeitável e que não toleraria besteiras.

– Então você não é da equipe? – Verde estava incrédulo, ou melhor, decepcionado.

– Claro que não, idiota, olhe para esse velho, não consegue nem ficar de pé sem se apoiar em um pau. Eles nos abandonaram, lide com isso. – Azul voltou a sentar-se.

– É fácil para você falar, toda a família que tem está aqui com você. – A mulher parecia distante, passou a fitar as chamas.

– Com licença, eu fiz uma pergunta, e ficaria extremamente grato se pudessem respondê-la. – O Doutor não aguentaria mais essa conversa sem sentido.

Todos, porém, permaneceram em silêncio, o que obrigou o Senhor do Tempo a aproximar-se, adentrando completamente a caverna e sentindo o fogo cada vez mais forte, assim como o cheiro da madeira virando cinzas.

– Você, parece ser o mais propenso a falar. Vamos, também tenho coisas a fazer! – Apontou para o Verde.

– Eu sou Leo, o meu irmão é Gabriel, e ela é Vic. Você realmente não é daqui, né? De onde veio?

– Pare de ficar dando informações para quem você nem sabe quem é! – Vic ficou de pé, realmente brava, parecia que pularia em seu amigo caso não fosse interrompida.

– Cale a boca e sente, deixe o velho falar, depois decide se pode confiar ou não. – Pelo que pode perceber Gabriel falava muito pouco, mas era sempre preciso, direto ao ponto. Sua ordem foi obedecida com desgosto.

– Vejam, meus caros, minha nave parou aqui por acidente, e agora não tenho meios para partir. Minha neta está perdida, e preciso encontrá-la imediatamente. E ainda não obtive a minha resposta.

– Bom, você está preso aqui assim como nós, não vejo porque não te contar a verdade. Quanto a sua neta, não, somos só nós. – Todos permaneceram em silêncio, Leo notou que poderia continuar falando. – Essa foi a primeira tentativa de terraformação do Império Humano, pegar um planeta e bombeá-lo com substâncias para deixar a atmosfera igual a da Terra. Algum cientista babaca fez os cálculos errados, viemos na frente de todos para fazer a verificação. Você está vendo o que aconteceu com os que não morreram.

– Típico de uma raça inferior, invadir planetas que não os pertence sem ter nenhum conhecimento. – O Doutor nunca gostou muito de humanos.

Vic voltou a levantar.

– Chega! Essas são informações confidenciais do... – Foi interrompida. Barulhos de motores logo preencheram a caverna, e as reações de quando o Doutor apareceu foram repetidas mais uma vez. – ...será que?

– Não.

– Talvez.

O Doutor soltou o mais parecido com uma risada de satisfação que conseguiu, e acompanhou enquanto todos moviam-se para fora da caverna, onde logo perceberam um imenso cruzeiro espacial pairando sobre eles, a força do vento empurrado pelas turbinas havia removido todas as folhas das árvores próximas. Sabia onde estava, em uma era antiga, preso com seres que nunca o compreenderiam, mas ele poderia muito bem usar a tecnologia da nave para tentar encontrar Susan.

Após ir o mais baixo que conseguiria, um grande círculo metálico desacoplou da nave e começou a ser abaixado por um dos espaços por entre as árvores. A expectativa dos três quase humanos era notável, risadas, frases como “conseguimos!” e “finalmente!” eram frequentemente ditas, nenhum sinal das pessoas revoltadas de alguns minutos antes.

Eventualmente a plataforma, suspensa por duas longas hastes de corda de algum metal humano extremamente resistente, atingiu o solo. Quatro pessoas estavam nela, igualmente usando armaduras espaciais, todas brancas. Sem nenhum capacete, assim como os outros, um homem de cabelos compridos encarou o grupo que esperava-os, principalmente as criaturas de quem já fora colega. Trouxe o pulso para próximo ao rosto.

– Sinal de ajuda conferido. Parece que chegamos tarde. Ficaremos algum tempo para ajudar os feridos e conferir a eficiência da terraformação, encontrem algum lugar para pousar. – Repousou o braço ao lado do corpo novamente. – Meu Senhor, o que aconteceu com vocês?

–--

Susan estava desesperada, deu um rápido olhar no monitor em seu pulso e logo percebeu que este estava negro. Sentia as lágrimas se formarem ao redor de seus olhos.

– Seguindo o protocolo padrão para invasões em espaçonaves de classe quatro, peço mais uma vez, declare seu nome, posição e propósito. Em caso de omissão, temos permissão para usar a Sonda Mental.

Não sabia o que era uma Sonda Mental, mas o nome parecia assustador.

– Susan... Me chamo Susan... – Finalmente as palavras saíram, em meio a tantos soluços. Sentia a garganta apertando cada vez mais forte, conseguia imaginar como seus olhos estavam vermelhos, pois suas bochechas já estavam úmidas. Não estava sendo convincente, sabia disso, eles nunca acreditariam em nada que dissesse, e, acima de tudo, onde estaria seu avô? Precisava sair dessa situação, precisava encontrá-lo, e também precisava ser forte, mas seu corpo insistia em pronunciar as palavras em tropeços, entre fungadas e soluços. – Meu avô... Ele... Ele fez isso... – Levantou o braço para que o homem na cadeira pudesse ver seu dispositivo. – Era para nos encontrarmos... Eu teleportar para ele... Desculpe, não queria estar aqui...

– Eu não tenho tempo para isso, Inteligência, leve-a para interrogatório. – A cadeira virou para a tela novamente, como se nada houvesse acontecido. Durante toda a conversa não existiu qualquer sinal de sentimentos no rosto do homem, estava claro que era um perfeito soldado, uma máquina de seguir protocolos.

Através de sua visão embaçada, Susan percebeu que uma mulher levantou ao seu lado, a umas duas cadeiras de distância, era difícil ter certeza com olhos tão inchados. Ao chegar perto, um gentil rosto estendeu-lhe a mão, gesto que foi retribuído após a garota esfregar os olhos rapidamente com os dedos, retirando assim o excesso de lágrimas.

As duas levantaram e atravessaram o corredor entre as cadeiras sem dizer uma palavra, logo estavam no fim da sala, onde a mulher posicionou a mão sobre um sensor, para que a porta abrisse. O corredor também era todo de metal, um largo túnel prateado fora projetado como um grande círculo, as várias salas ficavam ao seu redor e em seu interior. Andaram um pouco por ele, Susan não sabia o que pensar, mas sabia que era melhor continuar seguindo se quisesse reencontrar o seu avô.

– Sabe, não me chamo Inteligência, sou Amanda. Foi uma entrada bonita a sua, conseguiu tirar o chefe da tela, não é qualquer um que faz isso. – Pela primeira vez a menina realmente olhou para sua guia. Era realmente bela, longos cabelos alaranjados, olhos de um profundo verde, o rosto livre de qualquer maquiagem, e estava sorrindo. Pela primeira vez Susan sentiu-se segura, todo o conjunto de sua aparência colaborava, o próprio tempo poderia desintegrar-se e tudo estaria bem, pois o conforto que encontrou naquele sorriso era inferior apenas ao que sentia nos braços do Doutor. Passou as costas das mãos contra os olhos, para retirar o que agora seriam as últimas lágrimas.

– Você... Você acredita em mim? Vai me ajudar a encontrar meu avô? – Gaguejou um pouco, resquícios do desespero que antes sentiu.

– Realmente espero que sim, mas primeiro vou ter que fazer algumas perguntas. Susan, é Susan, não é? Nós vamos entrar na minha sala, vou fazer algumas perguntas, nada difícil e você já respondeu a maioria. Depois disso, vamos fazer o possível para encontrar o seu avô. Sou a Inteligência, consigo achar qualquer pessoa. – A voz era calma, não um calmo sonolento, mas como uma suave melodia.

– Sim... Muito obrigada, muito, muito obrigada. – Só mais alguns minutos e tudo ficariam bem.

Não demorou para que Amanda abrisse outra porta, dessa vez inscrita ao círculo, revelando uma pequena sala. Ao lado esquerdo encontrava-se uma maca que mais parecia uma mesa retangular, com algum tipo de máquina atrás. Uma cadeira preenchia o outro canto, posicionada ao lado de uma mesa, onde grandes biscoitos podiam ser vistos em cima de uma bandeja.

– Sente-se, coma alguma coisa. São de chocolate, eu mesma fiz. – Nunca perdia o sorriso. Susan sentou na cadeira, levemente desconfortável por ser de metal assim como todo o resto, e provou um biscoito. O gosto era incrível, era como felicidade em um dia de primavera. A garota sorria a medida que o adocicado chocolate preenchia todos os cantos de sua boca. De fato, a sensação de prazer foi tão grande, que nem importou-se quando a cozinheira prendeu-lhe uma fita preta à testa. – Fique calma, vai precisar disso, viver no espaço não é fácil. – Soltou uma pequena risada. – Deite-se na maca, assim ficará mais confortável enquanto conversamos.

Cambaleante, a menina fez o que lhe foi pedido, e, deitada, virou a cabeça para observar Amanda, que agora sentava na cadeira.

– Primeiro, como você está? Está se sentindo bem?

– Sinto falta do meu avô, mas se você está pedindo se estou machucada, não, estou bem. – Susan sentia-se meio tonta, mas aquele era um momento alegre, e não iria incomodar Amanda com esse pequeno problema, ela certamente tinha maiores.

– Sim, vamos encontrá-lo. – Fez uma pequena pausa. – É uma coisa curiosa isso o que você tem no pulso, seu avô quem fez?

– Sim, era para encontrar ele com isso, mas parece que quebrou. – Antes estava triste, mas não mais.

– Conte como tudo isso começou, podemos usar qualquer informação para te ajudar.

– Estávamos dentro da TARDIS, nossa nave. – Não devia falar sobre a TARDIS, o Doutor já havia avisado, mas Amanda era uma pessoa tão boa. - Ele fez isso para caso a gente se perdesse, mas ao invés de ir para o lado dele, vim parar aqui. – Sentia-se cada vez mais zonza.

– Entendi... Você se importaria se tirássemos para análise? Talvez nós possamos descobrir como funciona, o Império certamente... – Foi interrompida, o homem sério de cabelos compridos entrou na sala.

Susan começou a sentir os olhos pesados, pensou em falar alguma coisa, mas foi inútil, o sono passou a dominá-la, não encontraria energia para isso mesmo que tentasse.

– Apresse-se, parece que... – O homem parou por um momento e analisou a situação. – O que eu disse sobre usar soro experimental? Se usasse a Sonda...

– Eu sei, mas...

Ali, deitada na maca, a criança pensou que não faria mal dormir um pouco.

Pesados, os olhos foram abrindo aos poucos. Nem percebeu que havia adormecido, e por uma fração de segundos, durante a transição entre o mundo onírico e o real, tudo estava bem. Susan levantaria, iria até a sala de controle onde seu avô estaria esperando, pronto para ir para outro planeta. Bastou piscar os olhos algumas vezes para lembrar de tudo. Estava sozinha em um grande pedaço de prata flutuante, porém a última coisa que lembrava era de uma sala com muitas pessoas, como foi parar ali, dormindo? Levantou, confusa e sonolenta demais para pensamentos complexos, levou a mão à testa, sentiu a pele um pouco quente. Foi até o que acreditava ser a porta, apenas para perceber que não sabia como abri-la. O comunicador em seu pulso continuava preto.

– Olá, alguém está aí? – Susan bateu a mão suavemente contra a porta. – Por favor, me deixem sair daqui! – Estava em um lugar que, de fato, era muito pequeno.

Breves instantes após seu pedido, a porta deslizou para o lado, revelando uma bela mulher. O rosto era tão familiar, já encontrara ela antes? Seus cabelos alaranjados contrastavam com a coloração esbranquiçada de sua armadura metálica, que encaixava em seu corpo como uma camisa feita sob medida.

– Finalmente acordou, Susan, sou Amanda. Vamos, estamos prestes a descer no planeta, e se a sua nave caiu aqui, poderemos encontrar seu avô. – Sorria o tempo todo. Mal acabou de falar e continuou andando para o corredor, Susan apressou-se para acompanhá-la. A perspectiva de finalmente encontrar o Doutor a fez esquecer de toda a confusão e de todas as perguntas, queria voltar a vê-lo, apenas.

– Posso ir assim, vestida desse jeito? – A felicidade mal cabia em seu corpo, agora ela também sorria, andava a passos largos, ansiosa, mas tinha dúvidas se poderia descer usando sua grossa camiseta de gola alta.

– O planeta todo foi terraformado recentemente, nós usaremos isso porque é o procedimento padrão, mas você não precisa.

Logo entraram em uma sala muito maior do que a anterior, vários equipamentos e computadores nas paredes, no centro havia um grande círculo, de onde duas cordas metálicas saíam em direção a um gigante rolo, preso a uma das paredes. Andaram até o círculo e ali ficaram em silêncio, observando enquanto várias pessoas operavam os computadores. Finalmente encontraria o seu avô, nem se importou quando o homem sério de cabelos compridos também juntou-se a elas, seguido por mais duas pessoas. Susan não tentou imaginar quem eram, seus pensamentos estavam junto ao Doutor.

– Ótimo, vejo que trouxe a garota. Vamos aproveitar e entrega-la logo, chega dessa besteira. – O homem continuava com sua usual rispidez. – Iniciar o processo de desacoplamento.

Com um baque, o círculo em que estavam começou a descer. O rolo na parede girava, dando mais corda para que a plataforma alcançasse seu destino. Susan percebeu que ainda estavam alto, ali do céu tudo que via eram folhas, visão que se estendia até o horizonte. Não olhava para baixo, não parecia seguro. Sentiu a leve brisa enquanto desciam cada vez mais, logo atravessaram um amontoado de galhos, e não demorou para que encostassem no chão, em frente a uma caverna. Lá, três pessoas pareciam realmente animadas em vê-los, usavam as mesmas armaduras, porém com cores variadas.

Sem nenhum capacete, assim como os outros, o homem de cabelos compridos encarou o grupo que os esperava. Trouxe o pulso para próximo ao rosto.

– Sinal de ajuda conferido. Ficaremos algum tempo para ajudar os feridos e conferir a eficiência da terraformação, encontrem algum lugar para pousar. – Repousou o braço ao lado do corpo novamente. – Fico feliz em vê-los novamente.


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Notas finais do capítulo

Lembrando de novo, todo comentário é bem vindo, elogios, críticas, sugestões, tudo mesmo! :D
Queria agradecer o comentário no primeiro capítulo que me animou a escrever o resto, sem ele provavelmente esse capítulo nunca seria postado. Também agradeço à Grazi que tanto me ajuda com meu problema de jogar vírgulas em tudo que é lugar.
Não estou acostumado a escrever uma narrativa assim em terceira pessoa com várias personagens, o primeiro Doutor também está longe de ser o que é hoje, não interfere tanto, pensa mais do que fala, e desculpe se isso de alguma forma deixou a história chata.
Só uma curiosidade que achei enquanto pesquisava sobre a Susan, o nome real dela é a palavra em Gallifreyan pra Rose, gente, isso é muito lindo. *-*



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