Ele sabia o que fazer.

Mas a parte de fazer era outra história. Faltava-lhe coragem. Visitou aquela rua do Brooklyn tantas vezes nos dias que vieram a seguir. Observou aquela velha casa a qual construíram uma família. Observava de longe. Sempre de longe.

Esperava um dia passar ao mesmo tempo que ela voltasse das compras, ou estivesse levando o lixo para fora, ou qualquer coisa do tipo. Esperava encontrá-la “por acaso” e que assim fosse forçado a agir. Mas isso nunca aconteceu.

E, pelos olhos do Gavião, olhar de longe era bom o suficiente.

Só que não era.

Sempre deixando as coisas para amanhã, o amanhã nunca chegou. Mas os dias passaram, e se tornaram uma semana inteira. E no sábado era o aniversário de Anthony Edward Stark. Ele sabia que ela estaria lá, que “apareceria só por aparecer”. E isso lhe parecia “por acaso” o suficiente.

Clint estava tão bem vestido quanto um adolescente desleixado no dia do seu baile de formatura. A gravata estava frouxa, a camiseta meio dentro e meio fora da calça, e toda a vestimenta estava terrivelmente amassada. Pôde olhar-se no espelho um segundo antes de entrar no salão, e se perguntou como alguém poderia gostar daquilo. Bobbi gostava. E ele a veria logo, depois de tanto tempo. Suas mãos suavam e ameaçavam tremer, só com aquele simples pensamento.

Stark, às vezes, conseguia ser o favorito na lista do troféu “babaca do ano”, mas era impossível negar que ele sabia como fazer uma festa. De relance, viu tudo brilhando. Figuras com a forma de pessoas balançando, provavelmente dançando, um barulho que se assemelhava com música, um cheiro que o remetia muito à comida. Tudo isso perdeu o sentido, quando seus olhos encontraram Bobbi.

Estava em pé, completamente triste e não disfarçava o sentimento. O encontro do olhar dos dois foi capaz de transformar o ar em eletricidade.

Clint pensou em ficar olhando, encarar a sua beleza, redecorar cada detalhe de seu corpo, e depois ir embora. Aceitar que seu tempo ausente foi um bilhete só de ida para o fim de seu relacionamento. De alguma forma, reverter os papéis do dia frio em que a pediu em casamento. Deixá-la ali parada enquanto ele ia embora parecia ser bom o suficiente para o Gavião.

Mas para ela não.

Aproximou-se e, em silêncio, o beijou o rosto. Não conseguiu distinguir qual sentimento ela guardava, mas achou que não deveria falar. Não tinha justificativa se não “eu sou um idiota”, e, por alguma razão, achou que ela já estava cansada de ouvir isso.

Finalmente foi capaz de discernir a música que tocava, e a melodia era animada, nada tinha a ver com o momento confuso e tenso que passava ali.

Well, my heart went "boom",
When I crossed that room,
And I held her hand in mine

Sentiu o agradável aroma natural de Bobbi quando ela passou os braços sobre ele, e lentamente os dois corpos ganhavam movimento. Percebeu que nunca tinha dançado com ela antes.

Sentia muito.

Sentia por ser um estúpido. Por ter se descontrolado. Por ter fugido. Por ser babaca. Por nunca ter dançando com ela. Por não ter dito que a amava o suficiente. Por não ter beijado a cabeça de seu filho vezes o suficiente.

Sentia tanto que não foi capaz de ficar em silêncio.

— Bobbi... — começou, mas ela deu um tapinha lento em sua cabeça, uma censura em forma de carinho.

— Clint, eu sei — sussurrou ao pé de seu ouvido. E, por mais que fosse impossível, em sua voz ela mostrou que sabia. Sabia de coisas que ele sequer tinha notado até então. Bobbi abaixou a cabeça, apoiando-se no ombro dele e tudo estava bem.

We danced through the night,
And we held each other tight,
And before too long I fell in love with her.
Now I'll never dance with another
Since I saw her standing there

A música parou, a dança terminou. Se inclinou para beijá-la, mas foi recebido com uma recusa.

— Eu quero o divórcio.