Inversamente Proporcionais escrita por Jowlly


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Olá, tudo bem?
Espero que gostem!

Boa leitura...



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Trilha sonora: Amnesia - 5 Seconds Of Summer

– Oi, Érica! Tudo bem? – perguntou o garoto loiro se sentando ao seu lado sem o consentimento dela, no banco de pedra no meio do pátio da escola.

Érica praguejou mentalmente pela terceira vez no recreio por Kate, sua melhor amiga, ter a deixado sozinha para ir comprar o lanche da cantina, com a desculpa de que seria “rapidinho”. Bem, realmente, não fazia tanto tempo, mas fazia tempo o suficiente para que James viesse em sua direção e senta-se ao seu lado, como sempre fazia quando tinha alguma oportunidade.

A questão era: não dar oportunidade.

– Oi, James – seu tom de voz saiu frio, como sempre – Estou ótima.

Para que seguisse o fluxo de uma conversa normal, ela também deveria ter perguntado se estava tudo bem com ele. Mas Érica não queria saber.

– Ah, é? Não parece tão bem... algo te incomoda?

– Sim, sua presença. – Não existia motivo para mentir e ser agradável quando ele sabia muito bem que ela não gostava dele.

– Hahahah – James deu uma risada calorosa, o que só a irritou ainda mais – Dócil como sempre, senhorita Collins. O que eu poderia fazer para deixar seu dia ainda mais agradável? – apesar de tudo, ele não parecia se incomodar com o modo rude que ela o tratava – já estava acostumado - e isso só piorava as coisas, sem dúvida.

– Vai pastar, James! – Érica se irritou, levantando-se.

Ao longe, dava para ver que Kate voltava com o lanche em uma mão e uma coca-cola na outra. Fez sinal com a cabeça para a amiga, querendo dizer que se encontrasse em outro lugar - no caso, subentendia-se que de baixo da goiabeira, a uns bons metros daquele local. Érica saiu nervosa do local, enquanto ainda ouvia a risada de seu colega loiro.

Faziam quatro meses.

Quatro meses e algumas semanas desde o início das aulas. Era a última semana de Maio. E durante todo aquele tempo James continuava insistindo.

O loiro era um aluno novo. Ambos estavam na mesma sala, no último ano do fundamental II. Logo que entrou, já tinha conquistado a classe inteira, em todos os sentidos.

Parecia que tinha enfeitiçado metade das meninas. “Como não resistir aos olhos profundos azuis, ao cabelo curto loiro imbagunçável, ao físico ideal? Como não resistir ao olhar divertido e as piadas, ao cara tão bom de esporte, aos óculos de grossas armações pretas que o deixam com uma carinha intelectual?”, era mais ou menos o que ouvia das garotas da sala. Ridículo.

Então era isso? Todas babavam de amores por ele e ela também teria que babar?

O pior de tudo: mesmo que todas babassem de amor por ele, Érica era a única que se via constantemente atormentada pelo loiro.

No começo do ano era até divertido ver a cara de ódio e inveja das metidinhas de suas colegas ao ver James a cantando na frente de todo mundo, até mesmo porque não levava a sério o que ele falava e ás vezes até brincava também.

Acontece que ela achava que isso acabaria em pouco tempo, mas com o passar dos meses, viu que ele era muito mais persistente do que parecia. Continuava tentando conquista-la cada vez mais e mais. Ridículo, de novo.

Era o típico menino popular, capitão do time de basquete da escola, adorado por todos e todas. Dando em cima justo de uma garota tão sem... “classe”, como Érica.

Não, não era anti-social, desprezada, nerd ou coisas do tipo, na verdade. Mas se contássemos com popularidade, não chegava aos pés dele. Também não chegava aos pés da garota mais bonita da sala.

A garota mais bonita - e mais idiota também - tinha grandes e expressivos olhos verdes. E ela tinha olhos marrom-cor-de-lama. Sem graça. A garota mais bonita tinha cabelos loiros, ondulados e sedosos. Os seus cabelos lisos estavam sempre no mesmo penteado – solto -, com a franjinha que nem sempre a agradava e muitas vezes, embraçados, e ainda uma cor escura. Sem graça. A garota mais bonita tinha um corpo de uma adolescente invejável. Érica nem ao menos considerava que tivesse corpo algum. Baixinha, sem muito peito e nem bunda, pelo menos, era magra. Sem graça, sem graça e sem graça.

Ou seja, diante de tudo isso, ela só podia concluir que os óculos de grau de James não eram bons o suficiente. Simples assim.

Depois de uma caminhada, dando a volta no prédio da escola, chegou à goiabeira que tanto queria. Kate já estava se sentando no banco de madeira logo abaixo da árvore bebendo sua coca. Ah, Kate.

Cabelos loiros cacheados, olhos castanhos, filha de um famoso empresário da região - qual era mesmo a empresa de seu pai? Vidro? Alumínio? Já nem se lembrava mais... - Se conheceram no prézinho e são amigas desde então. Muito tempo, definitivamente. Amigas era pouco para descrevê-las, talvez até irmãs fosse pouco.

– Ele tava te atazanando de novo? – ela perguntou quando Érica se sentou ao seu lado dando um forte suspiro.

– O que acha?

– Acho que ele não tem mais o que fazer.

– Durante quatro meses? É, haja falta do que fazer... – bufou.

– Sabe, eu tava pensando...

Sempre que ela começava com “Sabe”, Kate iria dar uma sugestão. Érica sabia qual seria a sugestão, e não gostava nem um pouco. Por isso, cortou-a antes mesmo que sua amiga continuasse.

– Não, Kate! Eu não vou dar NENHUMA chance para ele! Pode esquecer!

– Eu sei, eu sei! – a loira mostrou as palmas das mãos levantadas, como em um ato de rendição – Só acho que se ele ficou insistindo em você por tanto tempo deve realmente gostar de você... e bem, ele é mó gato, admite!

– Primeiro de tudo: você sabe que ele é do tipo de “pegar sem se apegar”, e eu não vou ser mais uma das peguetes dele, e nem nada dele! E ele faz isso para me irritar, eu tenho certeza e já te disse! – começou, suspirando exausta de novo – Segundo: no máximo, do máximo, do máximo, ele é bonitinho.

Kate deu de ombros.

– Ele é uma delícia e você não quer admitir. – falou de forma tão natural que chegou a ser cômica, arrancando um sorrisinho de Érica.

– Haahahah, ta brincando? Eu posso listar um bocado de defeitos físicos nele!

– Então liste! – desafiou.

Érica teve que parar para pensar. O jeito seria inventar mesmo, já que tinha dito que podia, agora era arcar com as consequências. Mesmo que não gostasse nem de pensar nem de admitir, James tinha lá sua certa beleza...

– Hmm... Sobrancelhas muito juntas, olhos separados demais, nariz grande demais, boca torta, orelha de menos, queixo muito fino...

– Tá, tá! – foi interrompida –Já entendi que ele não é do seu tipo, hahahah. Mas não fica botando defeito onde não existe! Ele bem que poderia ser capa healthmen’s...

Kate fez menção a uma revista onde todos os homens da capa são lindos, Érica soltou uma boa gargalhada ao tentar imaginar o loiro na revista.

O recreio acabou mais rápido do que deveria, como sempre, e logo tiveram que voltar para a aula. Matemática.

Aquela aula tinha tudo para ser irritantemente chata: exercícios da apostila, professor mala... Mas tudo ganhou cor quando Oliver entrou na classe. Foi apenas para pedir explicação do professor de um trabalho em grupo que aparentemente sua sala tinha que fazer. Quando estava voltando, deu um sorrisinho especificamente direcionado, arrancando um pequeno suspiro da garota - quantas vezes já havia suspirado aquele dia?

Oliver... aquele sim podia ser considerado gato, segundo Érica. Cabelo escuro – nem muito curto nem muito comprido -, pele morena, olhos quase negros e profundamente significativos, para completar, um sorriso colgate. Primeiro ano do ensino médio, era a sua classe.

Quando tinham a oportunidade, conversavam até não poderem mais. Era um bom amigo. Divertido, engraçado, inteligente e muitas outras qualidades que James jamais teria.

Kate dizia que ele estava afim de Érica, mas a garota não estava muito convencida disso. Se fosse mesmo, seria ótimo, tipo, maravilhoso. Ela tinha uma queda – abismo - por Oliver e não se importaria em ser sua namorada. Por outro lado, podia viver muito bem sem ele. O dia seria um pouco mais chato, mas não era impossível.

Depois do sorrisinho específico que ele mandou para ela, Kate olhou para a menina com os olhos brilhando suplicantemente, como quem dizia que ele, definitivamente, queria ficar com ela.

Érica deu um sorriso discreto de orgulho. Se Kate estiver certa, ah...

No fundo da classe, James observava a pequena troca de sinais que tinha acontecido. O sorriso do mais velho, o suspiro, os olhares, o sorriso de Érica. Nada disso lhe agradou. Tommy deve ter notado pelo fato de sua cara ter fechado de repente.

– Para de olhar para ela assim, a gente tá falando que é melhor desencanar logo – ele sussurrou.

James era cercado de amigos, entre eles, Tommy. Um ruivo muito bem humorado, um dos melhores jogadores da classe e motivo de muita falação em épocas de festas. Acontece que seus amigos não entendiam que ele não apenas tentava conquistar Érica por conquistar e nada mais, ele não queria “pegá-la”. Ele gostava de verdade dela. Mais do que imaginava ser capaz de gostar de alguém, na verdade. Érica era diferente, especial. Digna de casar, sua avó diria. Já havia ficado com muitas garotas, tentando suprir a falta, tentando esquecê-la. Não era disso que ele precisava. Ele a queria, e nada mais.

Era masoquista, pensava, só podia! Ela o tratava tão rudemente. Mas tinha algo naquele olhar que o atraia, o tirava do sério, o fazia delirar. Tinha algo nela inteira que fazia com que ele a queria para si, mas sempre que demonstrava isso era rudemente cortado pela garota. Fingia não se importar, ria... mas não era bem isso que sentia.

Frustrante, sem dúvida.

Ah, Érica... tantas aos meus pés sendo que eu querendo você... não consigo nem saber quem é o bobo da história... Pensou enquanto a observava concentrada na tarefa.

– É sério cara, ela não vale o esforço. – Tommy fortificou ainda em um sussurro ao ver que seu amigo continuava a encarando.

Isso fez com que James saísse de seus devaneios. Ele apenas deu de ombros.

– É... – murmurou meio emburrado – Claro...

Muito simples falar.

A semana passou mais rápido do que o normal, devido às várias atividades que os professores estavam passando e os conteúdos das provas do próximo mês. Na verdade, era até melhor que passasse rápido, assim ficava cada vez mais próximo das férias de inverno.

Foi bem no recreio do último dia do mês que tudo mudou. Para pior.

– Vai, fala logo o que você tava querendo me dizer desde o começo da aula! Diz logo que estou ansiosa, Kate!! – Os olhos de Érica brilhavam pela ansiedade.

Sua amiga estava querendo contar uma novidade desde o começo do dia, mas por falta de oportunidade acabou não abrindo a boca.

– Ok, ok! Sabe o Rick?

– O amigo do Oliver?

– É, ele mesmo.

– Sei sim, o que tem ele?

– Ontem ele me chamou no whatsapp. Não me pergunte como ele conseguiu o meu número, também não sei...

– Hmm... ele quer ficar com você? – sorria de orelha a orelha. Rick era um cara bacana, eles podiam se dar bem.

– Não brisa, Érica. O assunto foi sobre você!

– Eu? – A garota ficou espantada.

– Sim! Papo vem, papo vai, e o importante é que provavelmente hoje o Oliver vai vim falar com você e... – deixou a frase no ar, mas já estava mais do que óbvio do que iria acontecer.

Érica não conteve o sorriso, seus olhos brilharam ainda mais.

Não deu tempo de falar muito mais coisa, logo a loira já tinha avistado, ao longe, Oliver olhando para elas. Avisou a amiga e se afastou, dando oportunidade para o garoto se aproximar.

Mas não deu tempo para ele chegar perto. James estava observando tudo que acontecia. E ele não iria deixar isso acontecer, não importava o que tinha que fazer, mas não iria perdê-la.

No desespero, acabou não pensando direito.

Ele se aproximou de Érica e sentou do lado dela, e em uma fração de segundos virou o seu rosto, selando seus lábios.

O beijo não durou nem três segundos, quando James sentiu uma dor seguida por uma ardência em sua bochecha esquerda. Havia levado um belo de um tapa - talvez merecido - de Érica.

Ele olhou de soslaio para Oliver, que, sem graça, desviou o caminho e foi embora. Seu olhar não passou despercebido pela garota, que logo ligou todos os pontos.

Quando voltou a fita-la, um bocado de medo percorreu seu sangue. Érica estava furiosa. Furiosa é pouco. O ódio tomou conta de seus olhos castanhos e foi assim que ele percebeu que havia cometido um erro, um grande erro.

– VOCÊ ESTÁ LOUCO?! – ela berrou, alguns olhares do pátio foram atraídos para os dois.

– É-Érica... eu...

– VOCÊ O QUE, JAMES? VOCÊ É RETARDADO POR ACASO?

– Se acalme! – foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

Ela havia se levantado, assim como ele.

Estava com o indicador sobre o peito do menino de forma acusadora. Cada passo que dava em sua direção ele recuava outro.

– VOCÊ PELO MENOS TEM NOÇÃO DO QUE FEZ?

Não conseguiu responder. Não tinha resposta para aquilo.

– COMO PODE SER TÃO IDIOTA? ARGH! UMA COISA É FICAR ME IRRITANDO, OUTRA É ME CONSTRANGER! AINDA MAIS NA FRENTE DE OUTRAS PESSOAS!!

Ela estava vermelha, vermelha de raiva. Havia ficado... constrangida... pelo seu beijo?

Um aperto surgiu em seu peito. Estava errado, claro. Mas não imaginou no momento que aquilo podia causar um surto nela.

– D-desculpa... eu... – ainda estava estático, não conseguia falar ou se mexer direito.

– OLHA, JAMES! FAZ UM FAVOR PARA EU E PARA VOCÊ. NÃO OLHE MAIS PARA MIM. NÃO FALE MAIS COMIGO. NÃO SE APROXIME DE MIM. NUNCA MAIS! – O que o espantou foi que os olhos dela estavam marejados, uma mistura de frustração e raiva. Ele havia causado aquela reação nela.

Nunca se sentira tão envergonhado de algo que fizera. Nunca se arrependera tanto. Estava começando a sentir seus olhos arderem também.

Com isso, ela deu meio volta e foi embora, deixando-o parado no meio do pátio, sem saber o que fazer.

Quando notou que todos os olhares estavam concentrados nele, saiu correndo, antes que desabasse.

Andou um bocado até chegar em um canto vazio da escola, onde se sentou no chão, abraçando os joelhos e escondendo seu rosto entre eles, deixou uma lágrima cair, seguida por outra.

Estava mesmo chorando por ela? Perguntou a si mesmo.

Sim, estava. Por ela e por tudo.

Passou meses mostrando a Érica o quanto ela era importante para ele, e ela sempre o tratou mal, mesmo assim nunca desistiu. Quando viu que tinha a possibilidade de perdê-la, ter menos dela do que já tinha, não pensou no que faria. Foi tudo tão automático que ele nem se importava com as consequências.

O tapa dela ainda ardia em sua pele.

E agora não poderia mais falar com ela. A garota deixara bem claro. Sem olhar, sem falar, sem se aproximar. O que ele fez para tentar não perdê-la, terminou com ele perdendo-a de vez. Poderia perder algo que nunca teve? E agora estava escondido, mesmo depois do sinal do recreio ter batido, indicando para todos voltarem às aulas, com o coração apertado por uma garota que nem ao menos se importava com ele.

Notou o quão miserável isso era, mas mesmo que tentasse voltar em seu estado normal não conseguia.

Naquele dia, James cabulou as aulas restantes e foi para casa a pé. Prometeu a si mesmo que só sairia dali quando se sentisse disposto o suficiente, o que definitivamente não era o caso, no momento.

[...]

Érica havia convidado Kate para sua casa depois da aula, assim conseguiria explicar com mais calma o que havia acontecido.

Contou detalhadamente, mas de qualquer modo, nem havia muito para falar.

– Ele te beijou?! – a loira continuava batendo na mesma tecla.

– Sim, mas tipo, eu já te disse, foi só um selinho muito rápido. E eu bati nele depois.

– Mano, eu não acredito que ele fez isso com você!

– E você acha que eu acredito?! Tinha que ser o retardado do James! Tipo, ele sabe muito bem que não tem chance nenhuma comigo, mas estragar minha chance com outro cara, isso já é covardia!

– Sem dúvida! O que Oliver fez quando viu?

– Ah, nem me fale, coitado... vou ter que acertar as coisas com ele. Ele provavelmente só viu o beijo, não eu batendo ou brigando com o James. Ficou meio sem-graça e mudou de direção na hora. Foi tão vergonhoso! – escondeu seu rosto com as duas mãos.

– Imagino... Acha que James vai voltar a falar com você?

– Depois do que eu disse a ele? Nem a pau...

– Você ficou assim tão brava quanto parece?

– Claro!

– Então ele deve ter sido traumatizado, hahahahah! – gargalhou a loira.

– Capaz! – Érica também começou a rir. Não podia negar que a cara de pânico dele fora pelo menos um pouco engraçada.

Os olhos estavam arregalados e ele não sabia para onde ir ou o que fazer. Se fosse em outras épocas, quem sabe ela até teria ficado com um pouco de dó.

Acontece que no dia seguinte ele não foi para escola. Nem no próximo desse.

A morena começou a ficar meio preocupada. Ele não podia ter ficado assim pelo que ela havia dito... podia? Depois daquele dia, houve ainda alguns comentários na sala de aula sobre isso, mas o clima não deixava de ser tenso. Sem o palhaço da turma as aulas eram mais quietas.

Érica agradeceu um pouco por isso, pelo menos conseguia prestar melhor atenção, mas ainda sim era como se estivesse faltando algo na sala... sem James, tudo ficava diferente. Calmo demais.

Ela já estava começando a fica com a consciência pesada quando no terceiro dia ele veio. E pior: ele veio como sempre esteve antes.

Ele veio feliz, alegre e normal, como se nada daquilo tivesse acontecido. Com uma exceção: ele já não falava mais com Érica.

Ele não olhava mais para ela, não se aproximava mais dela. Justamente como ela tinha pedido.

Passaram-se uma semana e nada tinha voltado ao normal, ao menos, para ela. Devia estar feliz, com certeza. Tinha conseguido o que desejou por todos os meses, tinha conseguido dar um tempo de James. Mas por que não estava tão bem quanto achava que ficaria?

Por que estava com sentimento incrível de falta? Havia James a irritado tanto em todo esse tempo que agora ela já estranhava a falta de presença dele com ela? Sim, com certeza era isso.

Mas então... então por que doeu tanto quando ela viu o loiro dar o sorriso que sempre dava a ela para outra garota? Por que a indiferente felicidade dele a machucava tanto? Ele não devia estar triste, pelo menos, pelo fato de ter parado de falar com ela? Ele não dizia que ela era importante para ele?

Era tudo falso?

E por que Érica estava chocada? Ela vivia dizendo para si mesma que era falso. Por que constatar esse fato tão óbvio a fazia ficar tão... mal?

Por que não aproveitou o momento? Por que não deu atenção a ele que ele tanto merecia, agora via? Por que só depois que ela o perdeu, o queria de volta?

Ela o queria de volta?

...

Sim, sim, mais do que tudo no mundo. Ela precisava dele de volta.

E estava cada vez mais se cansando de tantos “por quês?” sem resposta.

Mas agora parecia tarde demais. Não só pelo seu orgulho... mas desde que ele parou de falar com ela, também pareceu melhor. Mais feliz, mais alegre, agora via. Sem com uma garota atazanando e sendo grossa com ele - como sempre foi e agora se arrependia - ele estava outro. Muito melhor.

E Érica se odiava por isso, por tudo, pelo tempo perdido, por tê-lo deixado ir embora... por tê-lo obrigado a ir embora de sua vida.

Estava tão nervosa no momento em que falara aquelas coisas... e agora, mesmo com tudo resolvido entre ela e Oliver, já não sentia mais vontade de estar com ele ou qualquer coisa do tipo, o único com quem ela se importava já não olhava mais para cara dela.

Humpf, que engraçado, pensou. Agora a situação se inverteu.

Eles são, sempre foram, inversamente proporcionais.

Só quando a coordenadora foi entrar na sala deles que Érica “acordou” de seus devaneios, ela foi lá para anunciar sobre a festa junina que aconteceria no próximo sábado, com quadrilha e tudo mais. Isso pareceu deixar boa parte da sala agitada e as conversas desataram a andar.

Só depois de um tempo a professora conseguiu retomar o controle dos alunos e a aula voltou. Assim como Érica também voltou aos seus pensamentos.

Olhou para trás, para a última fileira onde James costumava sentar. Dessa vez teve uma breve surpresa. Por um segundo, ele retribuiu o olhar, ele já estava olhando para ela antes, mas assim que o encontro de olhares aconteceu, ele logo desviou o rosto e voltou a falar com seu amigo.

Seu coração, ao mesmo tempo em que aliviou, voltou a apertar em instantes.

“NÃO OLHE MAIS PARA MIM”, seu próprio grito ecoou em sua mente. Aquilo tinha acontecido em uma semana e ela não imaginava que ele levaria tão a sério. Ela nem ao menos queria que ele tivesse levado tão a sério.

Tinha, definitivamente, acostumado-se com a irritação de James e só quando não pode mais tê-la que percebeu quanta falta ela fazia.

Sentiu alguém tocando em seu ombro e logo se virou a pessoa. Kate estava sentada do seu lado.

– O que tá fazendo aqui? – perguntou distraída à amiga.

– Nossa... se não queria fazer dupla comigo tivesse falado antes... – fingiu aborrecimento, mas não estava brava de verdade.

– Ah... é pra fazer dupla? Desculpa, não tinha percebido... – julgou a si mesma por não ter prestado atenção na aula.

– O que tá acontecendo com você, Érica?! Você nunca foi tão distraída assim nas aulas... – houve um momento de silêncio entre elas. Érica não precisava responder com palavras para que sua amiga entendesse. – Por que não tenta concertar as coisas com ele?

– Está brincando? – debruçou-se sobre a mesa – Eu deixei bem claro para ele nem se aproximar de mim, como vou conseguir fazer isso?

– Ás vezes pedindo desculpas quando tiver oportunidade, ué...

– E essa oportunidade nunca chega... ele tá sempre cercado de amigos!

– Bem, você consegue... – Kate disse pegando a folha avulsa de exercícios que seu colega passara – Mas agora me ajuda nisso daqui que eu não estou entendendo.

E com isso, de pouco em pouco, elas foram retomando no ritmo da aula. Quem não conseguia retomar nem a força era James.

Nos primeiros dias estava acabado. Seus irmãos, sua mãe, seu pai, toda a família tentou entender o porquê daquilo e consolá-lo. Quando a pessoa que você está apaixonado te proíbe de ao menos se aproximar ou olhar para ela, por um erro besta que você mesmo cometeu, era normal ficar daquele modo, não era?

E antes que pudesse causar mais confusão, quando voltou para escola fez exatamente aquilo que Érica disse. Sem falar, sem se aproximar... e sem olhar na medida do possível, claro.

Ele estava tentando seguir em frente, tentava se mostrar o mais feliz possível, mas só quem o conhecia de verdade percebia que o sentimento alegre era falso. Depois de tanto forçar o sorriso, ele acabou aparecendo de uma forma mais natural, pelo menos.

– Ainda assim por causa dela? – Tommy o perguntou, com seus olhos verdes preocupados.

– É... ela parece estar tão triste, quero ir lá anima-la ou consolá-la, mas, bem... você sabe...

– Acha que ela está triste por sua causa?

– Por minha causa? – deu uma risada cínica – Ela me odeia. Pode estar triste por tudo e qualquer coisa, menos pelo fato de eu ter parado de falar com ela.

– A gente te avisou que era encrenca...

– E eu sei que devia ter ouvido... – ele suspirou.

– É, devia mesmo. – Tommy confirmou.

– Você não está ajudando.

– Certo, desculpa então, mas é a verdade...

Depois de a professora ter chamado a atenção deles pela segunda vez, resolveram se concentrar - ou pelo menos tentar - na tarefa.

A semana que seguiu foi repleta de provas. Como era de se esperar, Érica teve uma das melhores notas da classe, mesmo não sabendo exatamente como conseguiu. Não pegou a matéria dos últimos dias, já que sua mente estava em outro lugar durante as aulas.

James nunca foi o mais inteligente, de qualquer modo, havia passado na maioria e era isso que importava no momento. O dia seguinte seria o sábado da festa junina. Já dava para ver a escola repleta de bandeirinhas penduradas em todos os lugares, as barraquinhas montadas quase prontas, até mesmo a cadeia. Típico.

E quando eles perceberam, já era sábado e estavam no meio da quadra indo para o outro lado por causa da ponte quebrada.

[...]

A festa já estava chegando ao fim. E, realmente, tinha sido muito boa. Melhor do que o esperado, na verdade. Fazia tempos desde que Érica não sorria de verdade.

A animação do lugar contagiava qualquer um. Pessoas em todos os lados com camisas xadrez, vestidos do tema, sotaque caipira super mal arranjado, maçãs do amor, churrasquinho... e claro, a música. Mais brega impossível.

Já estava cansada, já tinha dançado na quadrilha umas duas vezes em dois casamentos diferentes, já tentara pegar o buquê da noiva - o que lhe rendeu um pé doendo e várias cotoveladas -, e coisas assim.

Agora estava a espreita observando, meio de longe, James se despedir dos amigos e familiares que já estavam de saída. Ele só tinha que pagar em uma barraquinha e logo iria junto. Quando todos tivessem ido embora e ele estivesse só, Érica iria tentar falar com ele, engolindo todo o orgulho. Esse era o plano.

Uma brisa fria bateu em sua perna, lhe causando arrepios. Como um típico inverno, o clima estava frio, e cada vez mais esfriando. Mesmo o dia estando um tanto ensolarado, o sol raiando parecia de “mentirinha”, pois não esquentava nada.

Perdeu um pouco a concentração, quando notou, James já tinha pago o que devia e estava a caminho do portão da escola para ir embora. Ela saiu de seu “esconderijo” e chamou por ele.

– James...

Sua voz saiu mais fraca do que o normal, vacilante, diria.

Estavam próximos a saída e toda a confusão era mais perto das quadras e ao fundo da escola, a música chegava lá quase num sussurro, assim como a algazarra das pessoas que ainda estavam na festa. Por tudo isso, seu baixo chamado foi ouvido.

– Oi... – ele respondeu. Ainda estava de costas para ela.

A voz de James saiu pensativa, incerta e até um pouco fria.

– Tudo bem? – tentou puxar assunto, ou qualquer coisa que o fizesse olhar nos olhos dela.

Ainda estavam há alguns metros de distância.

– Tudo. – Havia rancor em sua voz. Agora era ele que não queria saber se estava tudo bem com ela. Mesmo ainda gostando dela, não podia acreditar que a garota o chamara, não fazia nem ideia do por quê.

O resto intacto do coração de Érica havia se quebrado no instante em que ele não devolveu a pergunta... como ela costumava a fazer com ele.

Prometeu a si mesma que a partir de agora sempre perguntaria aos outros também, era horrível aquele ponto final onde não devia...

– Sobre o outro dia... – ela começou, mas logo foi interrompida.

– Tudo bem, não se preocupe. Eu não voltarei a te incomodar. – Ele sorriu torto, mesmo sabendo que ela não podia ver. Pensou em voltar a andar, mas a garota teimava em continuar o assunto.

– Não... é que... E-eu... – Pare de vacilar tanto, ordenou a própria voz – Desculpe por aquilo, eu não queria dizer... estava muito n-nervosa... e-eu... me desculpa.

A última parte saiu num sussurro, ela estava com a cabeça abaixada de tamanha vergonha. Houve um momento de total silêncio, nenhum dos dois sabia mais o que falar.

Uma brisa fria voltou a bater. Érica arrepiou-se novamente, praguejando por não ter pegado o casaco como sua mãe tinha falado.

Quando achou que o momento de silêncio torturante seria eterno, ela o ouviu, minimamente, falar.

– Tá.

Foi tão baixo que nem tinha certeza se realmente respondera ou se era só sua imaginação fazendo-a desejar ouvir o que ela queria, mas logo ele começou a andar, sem olhar para trás, até o portão. Fez a curva e sumiu da vista da garota.

Estaria tudo resolvido?

Não.

Se antes o clima entre eles já estava estranho, agora tinha piorado de vez.

James não havia voltado a falar com ela, nem a se aproximar. Mas foram as inúmeras vezes que seus olhares se encontraram durante as aulas.

Olhares ás vezes tão significativos, olhares de dúvida, de compaixão, de piedade, de vontade, de desejo, de diversão, de rancor, de tristeza... Olhares ás vezes tão indecifráveis, sem que nenhum dos dois conseguisse entender o que o outro estava sentindo. Olhares, ainda, ás vezes tão vazios... apenas olhares.

E esses olhares ás vezes se desviavam com a mesma rapidez que se encontravam, mas ás vezes eles ficavam se fitando, encarando-se por, talvez, até horas, em um próprio jogo de emoções que apenas os dois compartilhavam.

Mas eles não voltaram a se falar. Nenhum dos dois ousava a abrir a boca naquele jogo particular.

Isso até o último dia de aula, antes das férias de Julho.

A última aula do dia era Educação Física, que tinha acabado de terminar e o professor havia liberado um pouco mais cedo, para que todos pudessem pegar suas coisas, arrumando-as e só darem as caras novamente em Agosto.

Érica havia passado no banheiro antes de retornar a sala de aula para beber um pouco d’água, visto que a queimada havia sido extremamente exaustiva.

James, enquanto arrumava lentamente as suas coisas, sem pressa nenhuma para ir embora, pegou o seu café quente na garrafa térmica – mesmo com os exercícios físicos, o dia continuava frio -, mas não conseguiu nem dar um gole quando Mark, um de seus amigos, roubou-a de suas mãos.

James olhou divertidamente suplicante para Mark, como pedindo que ele devolvesse. Em compensação, esse o lançou um sorriso de quem estava aprontando. Quando James tentou tirar a garrafa da mão dele, já era tarde demais. Com um “pensa rápido” a garrafa já estava na mão de Tommy.

Ele se aproximava e a garrafa logo voava para mão de outro amigo. Corria um pouco em uma brincadeira infantil de “pega”, todos fazendo-o de bobinho com o seu café.

Em uma jogada arriscada – de um lado da sala para outro – a garrafa acabou caindo. Não só caindo, mas como a sua tampa se soltando, e, com isso, todo o café dela acabou caindo na mala de uma aluna. Todos automaticamente pararam de fazer o que faziam. Pararam de rir.

Silenciosamente, aproximaram-se da mala da garota... e aqueles que viam mais de perto o estrago, faziam uma careta de dor já imaginando o que podia acontecer.

A garota era Érica.

Todos sabiam, e sabiam muito bem, que ela tinha um pavio muito curto. Qualquer coisa já a deixaria irritada, e café em todos os seus cadernos não era qualquer coisa. James se via ferrado pela eternidade.

Depois que ela o pediu desculpas ele não soube direito o que fazer ou o que falar. Estava com impressão de que – pelos intermináveis vacilos em sua voz – aquilo não fosse algo que ela queria mesmo dizer, tipo por obrigação, talvez... de qualquer modo, não voltaram a se falar.

Ele estava com medo de que voltasse a irrita-la como antes, achou melhor continuar as coisas do mesmo jeito.

Mas pelo menos passaram a trocar olhares...

Concluindo, a relação entre eles estava muito estranha e completamente instável. Com a situação atual – café em todo lugar – não poderia concluir uma reação certa que nela causaria.

Mas foi totalmente diferente do que ele pudesse ter imaginado, ele e qualquer um.

Ao chegar à sala, Érica começou a sentir uma determinada angústia ao ver James e seus amigos em volta de suas coisas.

– O que aconteceu? – perguntou, chamando atenção de todos.

Os garotos fizeram o favor de se afastar o mais rápido possível, menos James, que ficou lá parado, sem saber se olhava para mala ou para Érica, que estava começando a entender o que havia ocorrido.

– E-eu... d-desculpa. Foi sem querer... O café caiu... A garrafa térmica derrubou na mala e... – ele não sabia como explicar, tinha medo de sua reação.

Ela olhou para ele profundamente. Constrangimento estava estampado em seus olhos, ele ficara vermelho, totalmente sem ação.

Passou a olhar para a sua mochila. Encharcada. Um forte cheiro de café a dominou. Perto da mesa havia uma garrafa térmica vazia no chão.

Ela tentou sentir raiva, tentou sentir remorso, até mesmo frustração ou tristeza. Mas não conseguiu sentir nada. Estava totalmente anestesiada. Não estava com raiva ou qualquer coisa do tipo, e isso a surpreendeu também.

Depois de uns bons segundos encarando a mala, ela resolveu se movimentar.

– Tsc, não faz mal – deu de ombros, com a voz mais calma do que imaginava que poderia ser possível. – Já é o último dia de aula mesmo... – a última parte saiu em um sussurro.

Com isso, pegou a mochila por sua alça e saiu da sala, deixando James lá parado, estático. De novo.

Não só James, mas todos os seus amigos, estavam boquiabertos, perplexos. De todas as reações que Érica podia ter, “não faz mal” não se incluia na lista. O loiro olhou para trás para conferir se seus amigos presenciaram aquela cena fantástica ou se era só coisa de sua cabeça.

Pelas expressões deles, também tinham notado que algo estava errado... E foi por isso que ele ficou tão inquieto.

Sem pensar duas vezes, foi atrás de Érica.

A menina estava entrando em um dos banheiros femininos segurando a mochila, nem por isso ele se acanhou, entrou também, causando um determinado espanto na morena que o encarava um tanto quanto perplexa.

– Eu já disse que não faz mal... – ela falou baixinho, voltando sua atenção para a mochila.

– É que... eu... – o que estava fazendo ali mesmo?

Já fazia tanto tempo que não conversavam de forma “normal”... o clima tenso ainda se estendia entre eles. Um clima que já havia passado da hora de acabar. E ele poderia dar um jeito nisso, seria sua última oportunidade, talvez.

– Deixa eu ajuda-la a limpar isso. – Deu um sorriso de canto de boca.

Ela logo acompanhou o sorriso também.

Juntos, tiraram o material de dentro da mala, o deixando de lado na pia, em uma parte seca. James pegou um monte de papel, molhou-os com a água e colocou, ainda, um pouco do sabonete líquido que lá se encontrava. Começou a esfregar nela, tentando, ao menos, tirar a mancha de café. Logo Érica estava fazendo a mesma coisa.

James notou que ela estava com um sorrisinho bobo no rosto, por isso não pode deixar de perguntar o que foi.

– N-nada... é que... – ela havia corado ao olhar para ele – Eu senti sua falta, idiota. –desviou rapidamente o olhar e voltou a se concentrar na mochila.

Ele se viu sorrindo diante daquele gesto.

– Eu também. Muita. – respondeu com ternura.

Agora eles não estavam apenas lavando uma mochila banhada em café no banheiro feminino da escola. Eles estavam fazendo tudo isso com um sorriso besta no rosto, apenas apreciando a companhia um do outro, companhia que nos últimos tempos foi difícil ter.

James deixou escapar um riso, foi a vez de Érica perguntar o que foi.

– N-nada. É que há um pouco mais de um mês, você não conseguia nem aturar minha companhia que já brigávamos... e agora cá estamos nós. Talvez tenha sido nosso tempo record juntos sem nenhuma discussão. Hahahah...

Sua risada era calorosa. Aqueceu internamente Érica naquela tarde de inverno tão fria. Ela riu também.

– Sobre isso... me desculpa. Ás vezes eu não reparo o quão grossa acabo soando... – encolheu os ombros, se envergonhando.

– Tudo bem, acho que já tinha até me acostumado... – ele deu de ombros, voltando sua atenção à mochila.

– Assim como eu acabei me acostumando com sua constante irritação... – Érica falou sorrindo. E depois já não podia viver sem ela, completou mentalmente.

Ambos se olharam nos olhos, brilhando. Trocaram sorrisos confortáveis e desviaram ao mesmo tempo para a mochila.

Aquilo foi como um consentimento mental para eles que as coisas não voltariam a ser como antes, mas seriam muito melhores dali em diante.

Depois de ter feito o possível com a mochila, eles a secaram – o quanto dava, pelo menos -, botaram os matérias de volta nela e sairiam do banheiro.

James ainda a acompanhou silenciosamente até o portão da escola.

Eles ficaram se encarando, ambos com sorrisos significativos, por alguns segundos. Até que o loiro resolveu quebrar o silêncio.

– Se eu lhe roubar um beijo agora... levarei outro tapa? – perguntou meio divertido.

A morena fez um rápido revirar de olhos, mas logo voltou a fita-lo. Sua resposta foi tão significativa quanto.

– Por que não tenta para ver? – o sorriso não largava sua boca.

Com isso, ele se aproximou dela e, segurando seu rosto com uma das mãos, e a outra apoiada em seu ombro, selou seus lábios mais uma vez.

Daquela vez foi muito melhor. Muito melhor por incontáveis motivos. Ela havia correspondido, durou muito mais, ela beijava incrivelmente bem. Eles sentiram que ele era feito para ela e vice-versa.

Logo as mãos de Érica perderam a timidez e foram parar nos cabelos loiros de James, descendo, em seguida, a sua nuca, onde ali ficou. O garoto, por sua vez, passou um braço por sua cintura, aproximando-a ainda mais de si. Eles tinham que ficar o mais próximo possível um do outro, eram um só agora, ambos sabiam disso muito bem.

E quando finalmente o beijo se desfez, quando as bocas se afastaram a procura de um pouco mais de ar, eles se encaram com toda paixão que sentiam – agora, sem dúvida, correspondida – e, no meio de toda aquela calmaria que estava o pátio da escola depois dos primeiros vinte minutos que os alunos são liberados para as férias, começaram a rir.

Rir de tudo e, principalmente, de si mesmos. Depois de tanto tempo perdido, tantas cantadas gastas, tantos gritos, tantas lágrimas, tantos apertos no peito, tanta confusão... depois de tudo, finalmente, estavam juntos.

Ele com ela e ela com ele, como devia ser desde o começo. E também sabiam que ficariam juntos, seja pelo tempo que fosse...

E, quem sabe, a partir daquele momento, parariam de ser tão... inversamente proporcionais...


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Notas finais do capítulo

Hey!
E aí, gostaram?
Sugestões? Críticas?
Elogios?
Espero reviews c:

Obrigada por lerem!