- Mikey, vamos meu querido. – gritava minha mãe da sala.

- já to indo mamãe. – respondeu ele dando o ultimo retoque no cabelo de frente pro espelho.

- pra onde vocês vão? – perguntei parando de desenhar.

- minha mãe e eu vamos ao shopping.

- só vocês? E nem me chamaram!?

- foi idéia da mamãe Gerard. Mas se quiser ir...

- tudo bem. Podem ir. Não quero sair mesmo. – respondi o interrompendo. Eu era bastante orgulhoso, se não me chamaram antes, eu é que não iria me oferecer pra ir.

- Mikey! Vamos! – gritou novamente.

- tchau Gerard. – disse ele com um pouco de pena e depois saiu do quarto às pressas.

- eu sou sempre excluído. – eu falei revoltado pra mim mesmo.

Amassei o desenho que eu fazia pra minha mãe e desci. Abri a porta de entrada e fui pro quintal. Olhei em volta resolvendo o que iria fazer pra passar o tempo, quando vi minha casa da árvore. Corri e subi nela. Olhei meus bonecos espalhados pelo chão de madeira, peguei um deles e fiquei examinando-o depois o taquei longe. Respirei fundo e vi que novamente ia ficar sem ter o que fazer o dia todo. Sem ninguém pra brincar, sem nada pra passar o tempo, me deitei no chão e fiquei jogando uma bolinha no ar e agarrando. Foi quando ouvi uma voz ao meu lado quase que no meu ouvido.

- oi. – me virei e uma garotinha de cabelos claros e curtos na altura do ombro e de olhos bem azuis me olhava sorridente.

- quem é você? – perguntei me levantando. – como entrou aqui?

- me chamo Emily, Gerard. E subi por aqui. – disse apontando pra escada que dava acesso à casa da árvore.

- como sabe meu nome?

- sabendo. – respondeu ela com um sorriso que já estava me dando raiva.

- isso é invasão de privacidade. Eu nem te conheço e você invade meu forte.

- você tem bastante imaginação. Então é disso que você brinca? Faz disso aqui seu forte? Eu posso brincar também?

- você é uma menina. Eu não brinco com meninas. Vai procurar sua turma. me deixa em paz. Eu quero ficar sozinho.

- eu só vim brincar com você. Vi que estava se sentindo sozinho.

- como pode ver isso? Você nem me conhece. Some daqui, agora!

- ok. – e o sorriso em seu rosto se desmanchou. – tchau. – e desceu as escadas olhando fixo pra mim. Fiquei com um pouco de pena, mas não voltei atrás na minha expulsão. Olhei da janela da casa e a vi correndo pelo jardim.

No dia seguinte eu cheguei em casa da escola e não tinha ninguém em casa. Mais um dia de tédio. Minha mãe e Mikey viviam saindo juntos, ela nunca me levava com eles. Ele era o xodó dela. Isso as vezes me dava raiva.

Olhei em volta procurando o que fazer e liguei a tv. A campainha tocou e eu desliguei a tv e fui atender. Quando abri a mesma menina do dia anterior estava ali dessa vez com um boné e uma bola de basquete embaixo do braço.

- quer brincar? – disse com um sorriso gigantesco estampado no rosto.

- não! O que faz aqui? Pensei que tivesse deixado claro que não queria papo com você.

- pensei em te fazer companhia. Trazer diversão.

- eu não quero brincar com uma menina. Some da minha vida.

- então ta. – ela me olhou triste e me estendeu a bola. – toma pra você. – eu peguei a bola e ela se virou indo embora. Olhei pra bola em minhas mãos e senti pena dela. Fechei a porta da minha casa e corri atrás dela, mas ela havia sumido. Olhei de um lado a outro da rua e nenhum rastro dela. Quando me virei levei um susto ao dar de cara com ela, rosto com rosto, quase que nos beijando.

- estava me procurando? – perguntou ela contente.

- como é que você apareceu aqui?

- sabia que voltaria atrás. Me escondi ali atrás dos arbustos. Quer brincar? – perguntou ela insistente naquele assunto.

- ok, mas tem que me prometer não contar a ninguém. Ninguém pode saber que ando brincando com uma menina.

- deixe de caretice. Vem. – ela correu e eu corri atrás dela.

Aquele dia foi divertidíssimo. Nós brincamos juntos a tarde toda. Apesar de ser uma menina, eu tinha que admitir que ela era divertidíssima e jogava basquete muito bem. A partir desse dia, ela vinha todos os dias pra brincarmos. Nos tornamos grandes amigos e a minha vida deixou de ser uma coisa monótona. Era visível que eu andava até mais alegre desde que nos tornamos grandes amigos.

Mikey estava em sua cama lendo um livro enquanto eu fazia um retrato dela. Ela se ofereceu pra posar pra mim e me ajudar a aperfeiçoar meus desenhos.

- Gerard, você está bem? – perguntou Mikey me olhando com um olhar esquisito. Eu mal conseguia responder de tanto rir com as cócegas que ela fazia em mim.

- sim. É a Emily que não para de me fazer cócegas. Emily se você não parar eu não posso terminar de fazer o seu desenho. – eu disse a ela que ficou na hora quieta e voltou a se sentar na minha frente fazendo cara de quietinha, mas não se conteve e começou a rir novamente.

Mikey ficou nos olhando por um tempo e depois saiu do quarto correndo. Ao chegar no andar de baixo foi direto pra cozinha atrás da nossa mãe.

- mãe. Preciso conversar com a senhora.

- o que foi Mikey? Que cara de assustado é essa?

- Gerard ficou louco. Ele anda falando com alguém que nem existe.

- o que? – e ela começou a rir sem acreditar nele.

- mãe, é sério. Ele diz ser uma tal de Emily.

- olha Mikey, já disse pra parar de inventar coisas à respeito do seu irmão.

- mas é sério mãe. Ele está lá em cima rindo e conversando sozinho.

- ele deve estar brincando com você. Querendo fazer tipo uma pegadinha.

- não mãe. Ele fala sério.

- olha, depois eu converso com seu irmão, ta? Agora deixa eu terminar senão o almoço vai sair bem tarde.

O tempo foi passando e nossa amizade ficava ainda mais forte. Eu não conseguia mais ficar longe dela nem um dia. Ela era como uma irmã pra mim agora. Foi quando a convidei pra um banho de piscina que tudo ficou péssimo. Se eu soubesse que isso traria tanto alvoroço, fingiria não conhecê-la.