A festa acabou e eu fui embora sozinho pra casa. Quando cheguei no quarto e me deitava na cama ela apareceu sentada ao meu lado.

 

- a festa foi divertida? – o tom de sua voz tinha um pouco de ironia.

 

- sim. – já não levava mais susto quando isso acontecia. Na verdade já estava até acostumado com as aparições dela.

 

- e como foi com a coisinha? Digo...Qual o nome da menina mesmo?

 

- o nome dela era...Ah! Nem lembro.

 

- nossa! Ela deve ser muito interessante pra não lembrar.

 

- está com ciúmes? – eu perguntei aquilo e ela ficou muito vermelha. Não sei como tive coragem de perguntar uma coisa daquelas e pra ela. Ela me olhou irritada e sumiu. – Emily desculpa! – gritei, mas ela não voltou a aparecer.

 

No dia seguinte quando acordei ela estava no meu quarto mexendo nuns papéis em cima da minha cabeceira da cama.

 

- bom dia Gerard. – disse sem olhar pra mim.

 

- bom dia. O que faz aqui?

 

- calma, estou apenas lendo essa letra de música. É bem bonita.

 

- você ficou chateada ontem, não foi?

 

- já até esqueci. – e ela me olhou séria.

 

- me desculpa. Não sei o que deu em mim, eu não me controlei.

 

- eu sei que sente. Está desculpado.

 

- obrigado. – e ela voltou a olhar pro papel calada. Fiquei observando ela e me perdi admirando seu corpo, seu rosto, seus lábios, ela era completamente perfeita. Até que ela me acordou daqueles pensamentos pecadores.

 

- eu queria ser uma música. Poder tocar o coração de cada um, soar bonito, e viajar o mundo... – fez uma pausa e suspirou. - Pensamento besta esse...OMG! Eu não disse essa palavra. – e tapou a boca com as mãos.

 

- se depender de mim, ele lá em cima não ficará sabendo.

 

- ele está bravo comigo. – e ela veio se sentando do meu lado cruzando as pernas. - Ando pisando na bola o tempo inteiro. Acho que não nasci pra ser anjo de ninguém.

 

- bobagem! Você é a melhor anja que existe.

 

- como você sabe? Nunca conheceu outro. – disse me olhando e esperando uma resposta.

 

- sim, mas você me faz feliz. Não é isso que você deve fazer?

 

- também. – e ela voltou a olhar pra um ponto qualquer à sua frente. – sabe Gerard, você foi a melhor coisa que me aconteceu.

 

- me diz uma coisa, antes de ser o que é agora, o que era?

 

- é até difícil de se falar...E de lembrar também.

 

- me conta. – supliquei.

 

- bom, eu tinha quatro anos quando isso aconteceu. Meu irmão e eu íamos pra escola andando quando um carro nos atropelou. Era um adolescente o motorista do carro, e estava bêbado. Meu irmão conseguiu sobreviver, mas eu morri na hora. Crianças puras e inocentes quando morrem viram anjos, Gerard. – disse ela deixando uma lágrima escapar.

 

- você está chorando de novo.

 

- sim. Eu acho que não tenho vocação pra isso. Não era pra eu poder conseguir chorar, mas olha aí...Eu to quebrando todas as regras. – e ela riu ao mesmo tempo que chorava. – chega a ser até engraçado esse negócio de eu ser toda errada.

 

- você é perfeita, Emily.

 

- quem me dera. Ninguém é perfeito, Gerard.

 

- e os seus pais? Você voltou pra vê-los?

 

- nunca. Até por que isso já faz muito tempo. A gente não vira anjo assim que morre, passamos por um processo muito demorado de reencarnação e além do mais, meus pais já se foram faz tempo, já nos reencontramos no céu, mas nos separamos quando vim a ser um anjo.

 

- isso é tudo muito estranho.

 

- e eu nem devia contar essas coisas a você. Mas é que eu confio tanto em você. Quer saber de uma coisa? Eu não era pra ser seu anjo.

 

- e como conseguiu ser então?

 

- eu insisti até conseguir. Eu ainda não estava preparada, mas eu queria muito estar contigo. Não sei por que, mas eu queria estar do seu lado. Algo em você me chamava. Eu não me arrependo até hoje, você é incrível. Com certeza se eu ainda fosse viva e te conhecesse eu me... – e ela se calou tapando a boca. – esquece tudo isso?

 

- por que?

 

- eu não devia dizer essas coisas pra você.

 E ela sumiu. Mais uma vez ela sumiu me deixando encabulado. Fiquei pensando naquelas palavras dela e quase podia jurar que ela gostava de mim, mas ela era um anjo e anjos não sentem essas coisas. Pelo menos era o que eu achava.