Heresia escrita por Ágata Arco Íris


Capítulo 7
Na casa dos walltertoff


Notas iniciais do capítulo

Um novo anjo aparece.... Esse um tanto obscuro, mas muito carismático.



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Depois de sair de meus devaneios voltei para buscar a mãe e filha, ambas estavam bem (Graças a Deus!). Elas me convenceram a ajudá-las a levar seus bens de volta. Andamos de noite quando a chuva passou, eu estava muito machucado e não aguentei andar muito, caí de joelhos por causa da fraqueza, só assim elas aceitaram repousar debaixo de uma frondosa árvore.

Fiz uma simples fogueira para nos aquecer, quando as duas já haviam dormido resolvi olhar um pouco melhor meus machucados. Tirei minha blusa e comecei a tatear minhas feridas, todas pareciam estar quase totalmente fechadas, menos a da espada que parecia ainda latejar. Não entendi porque as outras estavam se cicatrizando, mas aquela não havia melhorado nem um pouco sequer, eu havia pegado um pouco de Rum que os bandidos bebiam, tampei minha boca com um pedaço de pano qualquer e despejei o líquido em meu ferimento. Esperneei de dor, aquilo realmente queimava, mesmo tentando não fazer barulho, fiz alguns ruídos, a menina acordou. Ela levantou-se, pegou seu xale e o deu para mim.

— Tome, faça um curativo com isto, não é muito, mas deve servir.

— Obrigado!

— Obrigado digo eu, você me salvou. Aliás, meu nome é Raissa.

— Prazer, me chamo Noah.

O ferimento doía e não o deixava descansar, mas por volta das quatro da manhã, quando alguns pássaros já começavam a sair de seus ninhos e cantarolar, Noah conseguiu fechar os olhos e finalmente descansou após um dia muito corrido.

....................GOOD DREAMS...............NOAH........................

— Não faça isso! Disse Noah, mas o menino não parava de andar – Por favor, pare!

Disse Noah segurando a mão onde o menino segurava o punhal. O garoto apenas olhou para seus olhos e tirou a mão que o segurava.

— Eu preciso fazer isso Noah.

— Não, você não precisa fazer nada.

O garoto parou e uma lágrima escorreu de seus olhos.

— Preciso sim, ele não é um homem bom. Você sabe muito bem o que ele fez, não posso deixar que ele faça isso novamente.

Ele estava para andar quando Noah o segurou novamente pelo ombro.

— Não, mas isso não vai te fazer melhor do que ele.

— Prefiro manchar minha mão de sangue a deixar que aquele monstro a maltrate novamente.

— Então não precisa matá-lo. Pegue sua irmã e fuja... Eu te arrumo um lugar para ficar... Casa, comida, serei seu anjo da guarda até poder te proteger sozinho.

— Não, você não entende... Você nunca entenderá...

....................WAKE UP......................NOAH...........................

— Eu entendo... Eu entendo... Dizia eu ainda dormindo.

— Ixi mulher, esse é sonâmbulo!

— Ahh! Gritei eu ao ver a cena em que me encontrava.

Acordei no dia seguinte com uma espada apontada para mim, vi Raissa ao lado de um homem de barba branca e cabelos grisalhos. Pensei serem outros bandidos, peguei a espada que estava apontada para mim e a coloquei contra o pescoço do homem.

— Calma Noah, este é meu pai. Raissa olhou para seu pai – Papai, este homem me salvou, e ele está muito ferido. Por favor, deixe o ir à nossa casa para pelo menos fazermos um curativo decente nele.

—Tem certeza disso minha filha?

— Sim, é verdade marido, este homem salvou a mim e nossa filha.

— Isto é verdade Evangeline? Mãe e filha disseram que sim – Bem, neste caso... Dá cá um abraço meu filho.

Eu já havia me levantado, e aquele homem apertou justamente a ferida que não parava de latejar, eu dei um gemido de dor e ele me soltou na hora. Eu caí de joelhos tampando o ferimento com as duas mãos

— O que foi que eu fiz de errado?

— Papai, ele está muito ferido. Disse Raissa indo socorrer Noah.

Eu estava bem até de noite, já havia feito curativos em mim, mas de uma hora para outra minha ferida parecia ter se aberto mais ainda. Os walltertoff foram muito hospitaleiros e me deram um quarto para dormir, não era muito grande, mas tinha tudo que eu precisava.

Por volta da meia noite ouvi a madeira do assoalho da casa ranger e senti uma presença conhecida, não sabia de quem era, mas eu conhecia, talvez fosse Miguel. Os sons do assoalho começaram a ficar mais forte, de repente escutei a maçanete de meu quarto rodar, por baixo da porta eu podia ver nitidamente que carregava alguma vela consigo.

—Miguel? Disse eu antes que a porta se abrisse.

A porta se abriu, era Raissa de pijama e com uma vela na mão.

— Não, é a Raissa.

— Perdão, Miguel é minha irmã.

— Irmã?! Miguel é nome de homem. Você deve estar com febre, deixe me ver.

Raissa fechou a porta, aproximou-se de mim e pôs a mão em minha testa. Ela retirou rapidamente e estatelou os olhos, eu deveria estar realmente com febre.

— Meu Deus, você está muito quente. Vou busca um pouco de água e já volto.

Assim que a porta se fechou, logo em seguida esta abriu novamente. Dessa vez era meu irmão, o anjo da morte, do jeitinho que eu me lembrava. Morte era alto, muito magro, tão magro que sua face tinha uma afeição de doente, com rosto um tanto “chupado” diria eu, era um pouco corcunda e tinha pele muito pálida, a cor era típica de um defunto. Ele usava roupas que não condiziam com a época, um modelo de terno cinza com pequenas listras vermelhas, creio que só foi aparecer uma vestimenta como aquele por volta de 1800, seu cabelo também não, havia passado gel em seu cabelo e jogado a parte da frente toda para trás.

Mesmo com tudo isso, o que me estranho é que desta vez, meu irmão parecia mais doente, corcunda, pálido e fraco do que eu me lembrava.

—Você veio me levar irmão?

—Não, apenas vim ver algo. Se viesse te buscar não estaria com minha bengala e sim com minha foice.

— O que você veio ver?

—Seu machucado. Posso vê-lo? Disse ele colocando a mão sobre meu ferimento.

Ele pôs a mão sobre as faixas mesmo, mas eu podia sentir como se ele estivesse com a mão dentro de minhas entranhas, segurei o máximo para não gritar ou gemer, mas doía muito mesmo.

— Eu sabia, é a ferida da besta.

— O que é isso irmão?

— Onde está a espada que lhe fez este ferimento meu irmão? Disse Morte com sua voz calma, arrastada e um tanto cantada.

— Olhe dentro do embrulho encima da cadeira.

Morte pegou a espada quebrada em suas mãos e ficou... Não sei dizer o que fazia, mas passava muito à mão sobre ela e olhava-a de vários ângulos.

— Hum... Interessante!

Morte encostou-se na porta do quarto, logo em seguida ela se abriu e Morte sumiu como névoa ao abrir a porta. Raissa havia voltado com uma bacia de água e um lenço para abaixar a febre de Noah.

— Demorei muito?

— Nem um pouco. Disse Noah sorrindo.

Raissa passou o pano molhado em sua face, Noah estava realmente muito febril.

— Você deve estar muito ferido, não deixou que ninguém desta casa fizesse curativos para você.

— Não estou tão ferido assim.

— Então deixe me ver.

— Não.

— Deixe me ver.

— Não! Disse eu em um tom mais alto, minha voz ecoou sobre o quarto.

— Isso, acorde meus pais.

— Perdão.

— Só te perdoo se me deixar ver suas feridas.

Noah tirou sua blusa e a menina ficou espantada, tirando o ferimento que latejava em sua barriga, ele não tinha mais nenhum arranhão.

— Não entendo, como isso é possível?

— Eu também não entendo.

Ao lado da cama estava a roupa que usara quando chegou a sua casa, Raissa a pegou e pôde constatar que estava realmente toda rasgada pelas diversas facadas que levara e o sangue cobria quase todo o pano. Como era possível a roupa estar um farrapo por tantos rasgos e Noah estar inteiro?

Em sua cabecinha de moça, ela começou a pensar que ele fosse um bruxo ou algo parecido. Talvez vocês não saibam, mas na idade média era comum acusar pessoas, qualquer um poderia ser acusado, muitas vezes por motivos insignificantes, até mesmo uma briga na família, a falta ou muitos filhos poderiam ser motivo para acusar alguém de envolvimento com bruxaria.

Ela já estava para dizer que Noah era um bruxo, mas Morte que ainda estava atrás da porta sob a forma de escuridão soprou, esse sopro chegou ao seu ouvido. O que Morte soprou chegou à boca de Raissa antes do que iria falar:

— É um milagre! Eu vou só buscar uma coisa e já volto. Disse Raissa saindo do quarto.

Assim que Raissa fechou a porta Morte foi voltando à sua forma humana.

— Menininha mais engraçadinha, não acha? Disse Morte com um sorriso alegre, mas digno de pena, pois sua boca estava torta – Odeio quando acusam um inocente de bruxaria, já levei muitos assim.

— Irmão, você parece um tanto fraco. O que houve?

— É tudo culpa dessa espada, um demônio maldito pegou uma das caveiras de minha bengala, deu a um ferreiro do mal para fazer esta espada maldita e desde então toda maldade que fazem com ela é sentida por mim.

Ah, eu me esqueci de falar da Sombra Da Noite. Sombra Da Noite á a arma e ferramenta usada por Morte, era sua foice, mas quando assumia forma humana, a Sombra Da Noite mudava de forma também, assumia a forma de uma bengala. A bengala é assustadora, imagine a seguinte cena, várias caveirinhas de prata em espiral da base até o topo da bengala, entre as caveiras era como se várias cobras de ouro segurassem as caveiras e no topo se encontravam formando a cabeça de uma cobra com a boca aberta no seu máximo, dentro da boca da cobra havia um diamante de cor roxa. Essa era Sombra Da Noite, a majestosa e assustadora bengala usada pelo anjo da morte.

Morte passou a mão sobre a espada e retirou sua caveira que saiu em forma de névoa e depois solidificou e tornou-se parte da bengala novamente.

— Minha querida sombra da noite é como viva, estava ferida, e agora está curada. Agora é sua vez meu irmão.

A morte pôs a mão esquerda sobre minha ferida novamente, dessa vez doeu mais ainda. Sua mão perdeu totalmente a carne, ele a encostou em mim, de dentro da ferida eu senti como se algo saísse de lá. Passados alguns segundos a área esfriou totalmente e de lá saiu um sangue negro e que cheirava à podre. O sangue foi pego pela mão de ossos de morte, quando ele terminou levantou a mão, olhou fixamente o sangue e do nada a sangue começou a queimar em sua mão como um fogo forte.

— A marca da besta é um golpe infligido por esta espada, o veneno que ela deixa na sua vitima mata na hora, caso contrário, não deixa cicatrizar os ferimentos e abre mais ainda em um curto período de tempo. Ainda bem que você não é humano, se não já teria sucumbido à morte.

— Obrigado irmão!

— Não há de que. Vou embora, mas antes um presente.

Morte tirou de seu paletó um vidro cheio de um liquido que mais parecia plasma e o despejou totalmente sobre a espada. Saiu uma fumaça negra da espada e ela tomou um brilho forte.

— Ache um ferreiro de coração puro e peça-o para fazer outra espada a partir desta, a espada será mais forte do que a de qualquer humano. use-a com sabedoria! Disse a morte saindo do quarto.

A porta acabara de fechar-se e abriu novamente, era Raissa que voltava com um terço. Ela ajoelhou-se na cama e começou a rezar, assim que terminou de rezar pôs a mão em minha testa e constatou que minha febre havia abaixado.

— É realmente um milagre!

— Concordo!

Raissa voltou para seu quarto e Noah conseguiu dormir um pouco. Quando Morte saiu da casa, ao longe uma mulher jovem de cabelos brancos e rosto muito bonito observava a casa e viu o anjo sair de lá.

— Hum... A morte entrou naquela casa, mas não levou nenhuma alma... Interessante.

Aquela mulher transformou-se em gata e sumiu por entre a escuridão e névoa da floresta.


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Notas finais do capítulo

Então... Gostaram do morte?



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