Monsters In The Woods escrita por Summertime Beauty, Park Hyo Shin


Capítulo 6
The Ritual




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Nathan saiu daquele estado atônito e engoliu em seco.

– Olá, Peter...

Peter tinha 27 anos, a pele branca e cheia de cicatrizes de batalha. Ele usava calças cor de terra e uma regata castanha, além de uma espécie de armadura, que mostrava os músculos ganhos com as guerras. Tinha o cabelo curto, castanho claro, um nariz torto, quebrado inúmeras vezes, e seus olhos azuis escuros eram frios. Seu patrono era uma Hiena.

Em um ranking dos mais assustadores na opinião de Nathan, Peter ocupava brilhantemente o terceiro lugar.

– Olá, Nathan. - Ele disse, ainda o encarando. - Vai me responder ou vai continuar com essa cara de inútil? Você me lembra muito o babaca do seu irmão quando fica desse jeito... - Ele sorriu, mostrando os dentes. A única coisa mais sinistra que seu sorriso era o fato de Peter não piscar em momento algum.

Isso fez Nathan acordar do estado paralisado em que se encontrava. Ele odiava quando alguém falava do irmão. Principalmente quando alguém falava mal. Principalmente quando o “alguém” era Peter.

Nathan foi possuído por uma estúpida coragem suicida.

– Pam foi morta por caçadores - Verdade. - ao sul. - Mentira.– O bebê não foi encontrado - Verdade. – mas achamos o Lobo e o Filhote. - Mentira.

Nathan ficou parado, olhando desconfiado para o homem a sua frente.

Peter o encarou. E então começou a rir baixinho, elevando o tom de voz até chegar a uma risada estridente. Em nenhum momento piscou ou olhou para outra direção. Apenas gargalhava e encarava Nathan.

– Melhor não brincar com a sorte, garoto. - Ele disse, sorrindo, mas já mostrava sua irritação mal contida. - Eu estou de ótimo humor, essas idiotices só vão estragar as coisas para você.

Nathan não respondeu. E Peter pela primeira vez na noite parou de sorrir.

– É melhor mesmo que isso seja uma brincadeira, Nathan. Porque se isso for verdade, garotinho, eu juro pelo Grande Deus, que sua vida vai ser um inferno. - Ele o encarou totalmente irritado. - E você sabe o que eu posso fazer. Você sabe, porque você viu. - Ele sorriu de novo. - Você viu o que eu fiz com o filho da puta do seu irmão.

Nathan cerrou os olhos, e sentiu uma pontada de dor. Sim, ele se lembrava, e esse era o principal motivo de tanto ódio por Peter.

O homem a sua frente sorriu malignamente, se aproximando de Nathan.

– Você se lembra, não lembra? De quando o bastardo chegava perto de você cheio de sangue... De todas as vezes que ele era humilhado... Até aquele dia. - Peter riu. - Ah... Esse sim foi um dia inesquecível. Seu pai desesperado, você chorando e soluçando como uma garotinha! Ah, e sua mãe... Ela foi procurar seu irmão. Adorável! Ela morreu naquele dia não fo...

Um soco atingiu com tudo o rosto de Peter, fazendo o mais velho recuar alguns passos, levando a mão ao nariz. Estava sangrando.

Ninguém tinha o direito de falar de seu pai. Muito menos de seu irmão. E PRINCIPALMENTE de sua mãe.

Nathan endireitou as costas, encarando Peter com desprezo.

– Pamela está morta, Peter! O bebê também. Já não há nada que te ligue a nós e nenhum de nós te quer aqui. Vá para seu grupo a Oeste, e nunca mais volte. Porque se você voltar a pisar um dedo que seja nessa região, eu trato pessoalmente de te enviar para o Grande Deus do Deserto.

Peter o encarou, sem sorrir. Ele fechou o punho e tentou atingir o outro, mas Nathan foi mais rápido e se abaixou, tentando dar uma rasteira em Peter e se levantando em seguida. Este caiu, mas logo deu um chute no mais novo, que o fez cair também.

Com agilidade, Peter rolou para cima do outro, prendendo as mãos ao lado do corpo com os joelhos, e dando finalmente um soco.

E outro.

E logo em seguida outro. Foram quatro golpes ao todo, o nariz de Nathan já quebrado, cortes na boca e um olho que em breve ficaria roxo. A fúria no olhar e no rosto sorridente de Peter. Os monstros foram acordando, e se juntando para testemunhar a luta.

Os dois pareciam nem notar a pequena multidão a sua volta, e Nathan continuou apanhando até conseguir pegar a Adaga e enfiar na batata da perna do outro. Peter, surpreso com a pontada de dor, afrouxou os joelhos que prendiam Nathan, que conseguiu soltar as mão e empurrar o mais velho.

Nathan se levantou cambaleante. Sangue escorria pela perna de Peter, mas este também se levantou. Tirou a adaga presa em si e a jogou de lado, dando um soco no estomago de Nathan.

E então um galho grosso atingiu a lateral da cabeça de Peter, que caiu desmaiado.

– Eu... Venci... Yeeeeeah! - falou Nathan em um tom de animação misturada com embriaguez, levantando os braços, vendo tudo girar e por fim apagando.

****

–...lícia daqui a algumas horas. - Disse uma voz suave e feminina. - Ele acordou...

– Bom dia, flor do dia! - Disse outra voz feminina, mais autoritária e mandona que a primeira.

– Flor do dia é a bundinha sem pelo do Grande Deus do Deserto.

– Desde quando você tem um humor matinal tão sarcástico, Nathan? - Disse a voz autoritária, rindo. Nathan abriu os olhos. Estava com a cabeça no colo da garota de voz suave.

– Desde que tenho que acordar ouvindo sua voz, Lex.

– Ah, qual é! Salvei você da morte e você me agradece assim? - Retruca a garota, calando-se em seguida e bebendo água em uma espécie de copo de madeira.

– Agnes, mande a Lex calar a boca.

– E apanhar depois? Não, obrigado! - Respondeu Agnes, rindo. - Em briga de marido e mulher ninguém mete a colher!

Nathan encarou-a, chocado e incrédulo.

Alexia cuspiu a água em Nathan, tossindo e engasgando.

– HÃ?!

– ECAECAECAECA! - Nathan pulou do colo de Agnes.

– COMO É QUE É?! EU E ELE?!

– É COM ISSO QUE VOCÊ DIZ QUE EU VOU CASAR?! COM ESSA OGRA MAL EDUCADA?! - Gritou Nathan, desesperado e limpando a água/saliva da Lex do rosto.

– OGRA MAL EDUCADA?! PELO MENOS EU NÃO TENHO MINHA MASCULINIDADE CONSTANTEMENTE POSTA EM DÚVIDA!

– EU SOU MACHO, TÁ?! SÓ SOU SENSÍVEL A COISAS NOJENTAS! TIPO VOCÊ!

– EEEEEEU SOU NOJENTA?! PREFIRO BEIJAR A BUNDA DE UM JAVALI DO QUE BEIJAR SUA BOCA!

– Ai. Doeu. Tá chega. - Nathan tentou se lembrar da noite anterior, já que o sol já brilhava no céu. - O que aconteceu com Peter?

Agnes ainda se matava de tanto rir. Lex bufou e cruzou os braços.

– A ogra mal educada bateu nele com um galho enquanto ele te detonava, e ele desmaiou. Depois a ogra mal educada amarrou-o a árvore. Aí, a ogra mal educada tratou de curar o seu nariz nojento e quebrado, que por acaso já está consertado, e dos seus inúmeros machucados no rosto, inclusive seu olho roxo, e ficou aqui servindo de escrava até você acordar. UMA SALVA DE PALMAS PARA A OGRA MAL EDUCADA.

Nathan olhou desconfiado para Agnes, mas esta apenas assentiu, confirmando a história de Lex.

– Tudo bem... Valeu ogra mal educada. - Disse, sorrindo por fim. Lex revirou os olhos e foi embora. - O que vocês estavam falando antes de eu acordar?

– Sobre a Felícia... É hoje o aniversário dela... Ela precisa passar pelo ritual completo. Mas não vai ser meio perigoso deixa-la sozinha na floresta? Com os caçadores e tudo...

– É a prova dela... Agnes, vivemos em um mundo em que estamos em perigo. Tudo pode nos matar. O tempo, os animais, as plantas, os inimigos, os amigos... Os irmãos. Não tem como se preparar para isso. Ela está completamente vulnerável. É apenas uma menina... Por isso precisa de um patrono. É a arma dela contra o mundo.

– Tudo bem, eu sei disso... É só que... Ah, esquece... Quem vai iniciar o ritual?

– Katy. Depois Tundra. Depois do almoço.

– Eles já estão almoçando...

– Já? Nossa... Bem... Vamos... Estou faminto!

*****

– Vem cá, pequenina. Vamos começar. - Disse Katy, chamando Felícia. As duas se afastaram do aglomerado de gente, e sentaram de pernas cruzadas uma de frente para a outra, em uma área lisa e plana, com poucos arbustos e com copas de árvore que tapavam o sol, deixando entrar apenas uma claridade confortável.

– Oi, Katy! Posso ficar aqui com vocês?

Laurent surgiu detrás de uma árvore. Ele era um garoto adorável. Pele branca, bochechas rosadas, olhos grandes de um azul parecido com cobalto, o nariz afinado e arrebitado e o cabelo castanho escuro, farto e cacheado. Parecia um anjinho. Um anjinho de 11 anos. Ok... Um anjinho de 11 anos com tamanho de sete, e ficava furioso por isso. Usava uma bermuda bege, tênis e uma camiseta amarelo-torrado. Seu patrono era o Leão.

– Olá, Laurent! É claro! Você se importa Felícia?

A menina olhou para o garoto, que a encarou ferozmente. Quando Katy olhou para ele, ele voltou a sorrir fofamente.

Felícia engoliu em seco.

– Não, não me importo.

Laurent passou a mão no cabelo e sorriu. Katy suspirou.

– Seus cachos são tão bonitos!

– Bonita é você. - Disse contente, sentando no colo de Katy, que o abraçou, sorridente, não ouvindo o que o garoto disse.

Felícia se controlou para não revirar os olhos. Katy limpou a garganta e ficou mais séria.

– Hoje é seu aniversário, Lícia. Daqui a algumas horas você vai voltar trazendo seu patrono, não só o animal morto, mas uma cicatriz e uma característica, além de uma personalidade. Em breve você se tornará uma de nós. Mas antes, você precisa saber por que fazemos isso. Precisa saber em quê nós acreditamos.

“Há muitos anos atrás, monstros e caçadores viviam juntos. Todos eram a mesma coisa, não havia distinção. Ou não era para haver. A verdade é que eles se dividiam e odiavam, mas por motivos incrivelmente estúpidos, como a cor da pele, o lugar onde nasciam, a religião, os costumes, a língua, a ... Qualquer coisa era motivo de divisão e exclusão. Também houve inúmeras guerras, por dinheiro, riquezas, poder ou regiões. Humanos contra humanos, homens contra mulheres, primos contra primos, filhos contra pais, irmãos contra irmãos. Houve sangue... muito sangue.”

“Ao longo do tempo, as coisas foram piorando. Eles diziam que estavam conseguindo vencer todos esses preconceitos e motivos bobos para guerrear, mas não conseguiam realmente. O mundo estava morrendo por causa dos humanos. Então eles surgiram.”

“Eram apenas dois gêmeos cientistas de um país pequeno e ignorável, deixados de lado pela maioria da humanidade. Eles eram gênios de 18 anos. Criaram uma teoria que dizia que o mundo morreria em vinte anos, se o ‘progresso’ não fosse interrompido a tempo. Então criaram um vírus e lançaram-no nas grandes capitais, que matava todos que completavam certa idade. Era apenas um aviso, eles nunca revelaram que foram eles quem criaram.”

“O vírus foi se espalhando pelo ar a uma velocidade impressionante. Tudo afirmava que a natureza o tinha criado. Mas os cientistas não esperavam o que aconteceria a seguir. Eles sabiam que os humanos começariam a pesquisar formas de cura, mas nunca imaginariam que eles usariam o mundo. Ao invés de se concentrar em achar uma cura eficiente, o que levaria talvez décadas e daria tempo para o planeta se restaurar, eles lançavam suas curas-testes nas cidades do interior, usando os mais pobres como cobaias. O vírus era muito forte, e obviamente resistiu e sofreu mutações. Ele se instalou por todos os lugares habitáveis por humanos, mas a poluição das grandes cidades fez os índices de radioatividade subirem consideravelmente.”

“A mutação parou e se tornou constante quando os pesquisadores desistiram. No mundo reinava o caos e a tristeza. Então os gêmeos decidiram tomar uma atitude. Mas a atitude de cada um era contraditória. A do gêmeo era matar de uma vez todos, tentando criar um vírus mais forte ainda. Ele dizia que os humanos não mereciam mais viver e estavam destruindo o planeta só de existirem. A gêmea disse que não, que ainda havia esperanças. Eles tinham que reeducar todos.”

“Então eles juntaram forças... e conseguiram convencer as pessoas a se transformarem em seu lado selvagem. Foram duros anos, em que os gêmeos tentaram ensinar as pessoas uma nova língua. Tentaram ensina-los sobre como a natureza era bela e importante. Vendo que as pessoas ainda eram apegadas ao seu passado, resolveram fugir para a floresta, longe das civilizações antigas. Criaram uma nova religião. É claro que nem todos se juntaram a nova sociedade.”

“Uma coisa que eles diziam ‘já ter morrido há muito tempo’ renasceu: o preconceito. Os que ficaram para trás começaram a odiar tudo o que a nova sociedade fazia. Até chegarem os extremistas. Eles chamaram os jovens das florestas de Monstros, e se auto-intitularam Caçadores de Monstros.”

“Ninguém sabe onde, quando, ou como, mas de repente uma guerra sem fim começou entre os dois grupos. Então um dia, um Caçador perseguiu os gêmeos. Ele conseguiu encurralar a garota, mas quando ia atirar, o irmão se colocou na frente dela. Não foi o bastante. A bala atravessou-o e alojou-se nela. O Caçador fugiu.”

“O irmão morreu com rancor no coração, desejando a morte de tudo e de todos. Ele se transformou no Grande Deus do Deserto, com seu coração que queima com ódio qualquer um que confronta-lo e com seu senso de justiça insensível e frio, não se importando com distinção de sexo, idade ou religião. Ele cuida da alma dos mortos que foram ruins, injustos, que cometeram crimes graves sem motivos. Ele aceita Caçadores e Monstros em seu reino cruel e vingativo. A irmã morreu triste é verdade, mas sentindo um amor enorme ao ver o ato do irmão. Ela se tornou a Grande Deusa da Floresta, ou Deusa Mãe, com seu coração cheio de vida e alegria, onde ninguém envelhece e todos se reencontram com aqueles que mais amaram. Ela também aceita os Monstros e os Caçadores, pois entende que não é culpa deles eles seguirem os costumes de seus pais. Ela cuida da alma dos mortos que morreram honradamente, protegendo os entes queridos ou até os desconhecidos, e os que tiveram uma vida justa, boa e honesta.”

“Mas então, de repente os Monstros se viram sem lideres e sem armas, sozinhos e abandonados à própria sorte. E então os Irmãos vieram em sonho a todos os Monstros da Terra, dizendo-lhes para matarem um animal naquela noite. Eles o fizeram, e ganharam mais do que cicatrizes. Ganharam a sua sobrevivência. A partir daquele dia, sempre que uma criança completasse o oitavo ano de vida, passaria por um ritual que começaria com a história, depois a luta e por fim a morte do patrono. É a magia, e ninguém sabe de onde ela vem. Mas é o que nos torna nós mesmos.”

– É sua vez de se tornar uma de nós, Felícia. E não tenha medo ou pena pelo animal que você encontrar. Lembre-se que é seu patrono e está ali por você, para que você possa viver. E ele não morrerá realmente, ficará vivo em você durante a noite. Bem... Acabou minha hora... Boa sorte, garota. - Disse Katy por fim. Felícia engoliu em seco e se levantou, indo em direção a Árvore.

– Bela história... - Disse Gaspard. Se aproximando. Katy largou Laurent imediatamente, se levantando e indo até ele.

– O que você quer? - Ela perguntou curiosa. Ele sorriu de lado.

– Que tal ir comigo a um lugar? Achei um lago ótimo para nadarmos. - Falou, sibilando como uma cobra nos “S”.

– Vai me dar o bote, Cascavel? - Ela perguntou, arqueando as sobrancelhas. Aquele som característico do chocalho da cascavel começou a ser ouvido.

– Talvez um beijo, Tigresa. - Ele disse malicioso.

Caham... - Disse Laurent, nem um pouco satisfeito com a conversa dos dois. - Katy... A gente pode ir fazer alguma coisa hoje? Faz tempo que você não brinca comigo! - Ele disse, fazendo um biquinho absurdamente adorável.

Katy sorriu de lado para Gaspard.

– Desculpe Gasp, mas Laurent é mais fofo que você, e ele tem razão. A gente marca depois. - Ela saiu rebolando. - Vem Laurent, a gente vai caçar, meu filhotinho de Leão!

Laurent a seguiu saltitante, mas não sem antes se virar e mostrar a língua para Gaspard, que o encarava boquiaberto, incrédulo e revoltado.

****

– Bem, Felícia... A Katy deve ter contado que temos patronos para nos defendermos. - Disse Tundra, encarando a garotinha. - Lembre-se dessa frase: Os verdadeiros assassinos não usam armas. São rápidos, vorazes, perigosos. Você vai aprender tudo isso de forma inconsciente ao longo dos anos, mas para matar seu patrono você tem usar uma lamina.

– Mas eu não sei usar...

– É por isso que eu vou te ensinar. A maioria dos patronos te encaram assustados, e você fica aterrorizada apenas psicologicamente. Não é comum eles atacarem, salvo exceções. De qualquer forma, tente mata-los com apenas um golpe, de preferência no coração.

– Por quê?

– Porque quando mais machucados você fizer no seu patrono, mais cicatrizes você ganha.

– Ah... nossa...

– O maior exemplo disso é a Alexia. você já viu a quantidade de cicatrizes que ela tem? O patrono dela é um Javali. Eles não são os mais fáceis de matar, pelo contrário. É um dos poucos que atacam. Ela tentou o golpear de diversas formas. A maior parte das cicatrizes dela é dos cortes que ela fez nele, mas várias são que ele fez nela. Quando menos machucados você causar no patrono menos dor você sente.

– Mas eu não tenho tanta força como a Alexia!

– Nem ela tinha quando tinha sua idade. E também não era durona, rabugenta, sarcástica... Aliás ela era completamente o oposto. Ela era fofa, sorridente e completamente princesinha delicada. O patrono define quem nós somos, é inconsciente e imutável. Mas não se preocupe, sério! O javali dentro da Alexia se soltou e ela virou essa coisa pavorosa que ela é agora. Mas todos nós a amamos e aceitamos o jeito dela. Ela também é muito útil assim. Acredite, você vai ser aceita, não importa qual seu patrono. Podemos começar então?

– Hurrum... - A mais nova disse, hesitante.

– Então... você pega a faca assim. - Tundra falou esticando a mão e segurando o cabo com a lâmina para baixo. - Porque se você segurar para cima, você perde força e velocidade. Entendeu? - Felícia assentiu. - Ótimo. Agora alguns movimentos básicos.

Tundra pegou a faca e fez uma série de movimentos rápidos, graciosos e precisos, golpeando o ar. Depois fez tudo de novo, mostrando calmamente o passo a passo para a garota atenta.

Quando foi a vez de Felícia, a mais velha teve que consertar várias vezes a posição do cotovelo, ou da perna, mas alguns minutos depois, Felícia já conseguia fazer os golpes básicos de maneira... básica.

– Tudo bem, agora largue a faca. Toma. - Tundra entregou uma espécie de faca de madeira de ponta arredondada. - Não corta. você vai lutar comigo. - A mais velha jogou a faca de madeira para a pequena e pegou uma para ela mesma.

Elas começaram a lutar. Felícia sempre atacando, Tundra sempre na defensiva, mas de qualquer forma a Raposa conseguia vencer a menina facilmente. Quase meia hora depois, a menina estava melhorando. Já não perdia tão rapidamente, apesar de não conseguir vencer Tundra por causa de sua agilidade.

Felícia estava tão concentrada que não viu ou ouviu até ser tarde demais. Mãos fortes agarraram sua cintura e a levantaram. A faca de madeira escapou de suas mãos. Pareceu que o tempo ficou em câmera lenta. Felícia viu o objeto voar e esticou a perna, chutando-o no ar, e estendendo o braço, agarrando a faca, rapidamente girando-a nos dedos para ficar para baixo, e movendo o braço, atingindo algo.

Quando Tundra finalmente se tocou do que aconteceu, Samuel já estava rindo, a faca de madeira bem no lugar onde provavelmente estaria o estomago.

– Cuidado com isso, sua aprendiz de psicopata! - Diz Sam, rindo. - O que anda ensinando a essa menina?

– Oi Sam! - Felícia diz, finalmente abraçando o jovem e sendo colocada no chão. - Tundra me ensinou bem, né?

– Com certeza! Você podia ter matado! E olha que não é fácil me matar porque... - Ele diz, sorrindo, mas então franziu as sobrancelhas, imitando o rosto de um típico vilão pensando em um plano. - ... EU SOU A GRANDE PANTERA NEGRA! E VOU TE MATAR AGORA MESMO!

Ele pulou na menina, fazendo eles rolarem, e por fim fazendo cosquinha nela ao ponto dela estar quase chorando de tanto rir.

Tundra revirou os olhos.

– Hey...

– SOCORRO!! PAAHAHAHAHAAAARA!! - implora Felícia.

– Gente...

– MUAHAHAHHA!!! QUEM ESTÁ VENCENDO AGORA?! - Grita Sam.

– É sério...

– PAARA POR FAVOOOR!

– GENTE! PAROU! SAM, VAZA!

– Meow? - Ele olhou para ela com aqueles “grandes olhos azuis estupidamente hipnotizantes” (foco, Tundra!). - Quer dizer... caham... Tudo bem, Lícia, vem. - Ele ajudou a menina a levantar. - Ah, Tundra, já está na hora. Eva vai leva-la.

– Já?... Ok, boa sorte baixinha. Vê se volta antes do jantar, ou o Samuel vai comer tudo.

– Tchau, Tundra. - Disse a menina, voltando a ficar ansiosa.

– Eu não como muito... - Diz Samuel, baixinho, sorrindo e achando graça.

Felícia ficou séria e agarrou os ombros dele, olhando fundo nos seus olhos.

– Sim, você come. E vai morrer gordo, triste e solteiro, com uma pantera de estimação.

– ... Ok, você anda passando tempo demais com as garotas da tribo.

****

Eva e Felícia caminharam por uns 15 minutos em silêncio, para que a mais nova pudesse decorar bem o caminho.

– Chegamos. Escute... você não vai achar nenhum animal aqui, a não ser seu patrono. Ele vai ser o primeiro e único que você vai achar. Mantenha a calma e lembre-se do que aprendeu. Você consegue! Não se intimide se for um animal grande e feroz, e não se preocupe se for pequeno ou inofensivo. Apenas faça e volte, e não se esqueça de trazê-lo. Boa sorte.

A menina se embrenhou na floresta, a lâmina presa entre os dedos trêmulos dela.

Eva esperou cinco minutos, e logo em seguida correu, mas ao contrário do que qualquer um faria, ela não correu para a Árvore, e sim para uma campina um pouco distante. Em pouco tempo chegou lá, e viu um homem sentado em um tronco.

–Olá. - Ela disse, devagar. Ele afiava um dos facões com uma pedra, e ela realmente não queria assusta-lo nesse momento.

Ele se virou e sorrio.

– Olá Eva!

– Eu levei uma garota para a floresta. Ela vai matar o patrono dela hoje.

Arthur torceu o nariz. Achava esses costumes meio estúpidos e sem sentindo. Quem em sã consciência larga uma criança a própria sorte numa floresta cheia de animais perigosos?! Mas ficou calado. Não queria brigar com ela por isso, principalmente hoje que ela parecia meio nervosa.

– Parece que foi ontem, não? Eu te conheci no meu aniversário também.

– Já se passaram 12 anos. Bastante tempo, não é?

Eva se sentou a seu lado, e Arthur passou o braços nos ombros dela, beijando o topo da sua cabeça.

– Vão entrar em guerra logo.

– Quem? - Ele perguntou, confuso, tirando o braço e se virando de frente para ela. Ela o olhou mais confusa ainda.

– Ora... Os Caçadores e os Monstros! Desde que um dos de vocês matou a irmã da melhor amiga do líder, e roubou o bebê dela e de Peter, que ficou com raiva de tudo e de todos, e quer o sangue do líder em um copo com flor de laranjeira e tudo...

– Espera... o que?!

– Como assim o que? Não tem nenhum bebê com vocês?

– Tem, mas... Mas a Anna falou que era filho de uma caçadora e... ai meu deus! Que merda ela fez?! Bem que o Tiberious disse que ela devia ter abandonado a criança na floresta! Concordo com ele!

– Hã?... Você concorda?

– Claro! Se não fosse por isso, eles não iam estar a ponto de começar uma guerra estúpida, e colocar nossa relação em risco!

– Você não gosta de crianças...?

– Sinceramente não. E cada vez gosto menos!

Eva sentiu os olhos arderem e lágrimas começaram a escorrer contra sua vontade. Arthur a encarou boquiaberto e confuso. Por que ela estava chorando?

– Ei... ei, ei, ei! Calma! O que foi? - Ele a abraçou, enquanto ela soluçava contra sua camisa. - Aconteceu alguma coisa? - Ele perguntou, desesperado. Ele nunca sabia exatamente o que fazer quando via alguém chorando. E odiava se sentir perdido.

Mas Eva também não entendia porque estava chorando. Logo ela, que não era daquelas que choram por tudo e por nada.

– Eu tenho que ir, Arthur. - Ela disse, limpando uma lágrima.

– Mas você não está aqui nem a meia hora. E a gente não se viu ontem. Se você me disser por que está chorando eu posso... eu posso... eu não sei... eu...

– Eu preciso ir. Preciso falar com o novo líder... não aconteceu nada, ok? - Ela limpou a última lágrima e se inclinou, grudando os lábios nos dele.

As lágrimas deixaram o beijo salgado. O beijo foi lento, suave e romântico, e depois de quebrado Arthur ainda lhe deu mais três selinhos, terminando com um leve encostar de narizes.

– Não aconteceu nada, ok? Até amanhã.

E ela correu, sem olhar para trás, e sabendo que ele também corria, mas na direção oposta.

Ela sentiu uma lágrima descer pelo rosto de novo e passou a andar ao invés de correr.

Quem eu estou querendo enganar? ela pensou. É claro que aconteceu.

E então encostou-se a um tronco e escorregou, sentando-se no chão.

Malditos hormônios a flor da pele...

E com uma mão acariciou a barriga por enquanto plana.

****

Felícia estava muito nervosa, sem saber o que fazer. Ela andou por quase meia hora, sem nenhum animal grande a vista.

Respirou fundo e resolveu prestar atenção aos detalhes menores. E demorou mais quinze minutos até ver finalmente um animal.

Em cima de uma pedra, uma grande, intimidadora e assustadora Viúva-Negra.

Felícia engoliu em seco. Como se mata uma aranha com um golpe no coração?! Ainda mais uma Viúva-Negra! Aranha tamanho monstro!

Sem saber o que fazer, levantou a faca e tentou atingi-la, sem sucesso. A aranha saiu “correndo” com suas oito patinhas, e Felícia esqueceu o medo, concentrando-se em pegar a maldita aranha. Depois de quase oito minutos de tentativa, Felícia conseguiu encurrala-la entre o chão e uma pedra lisa, sendo rápida e pressionando a aranha entre a faca e a pedra, e cortando-a ao meio.

Nesse uma luz vermelha saiu da aranha e a atingiu na barriga, e fazendo sua blusa cinza ficar manchada de sangue.

Com dor e assustada, Felícia levantou a blusa, e constatou um enorme corte em sua barriga, um pouco acima do umbigo. A luz ainda estava lá, e sangrava muito. Então a luz “entrou” pelo corte, que cicatrizou imediatamente e subiu. Para seu olho direito.

Felícia não sabe explicar a dor que sentia no olho. Algo parecido com “sendo esmagado, triturado, esburacados, cortado ao meio, com milhares de agulhas em brasa entrando e saindo ao mesmo tempo enquanto é jogado no fogo e derrete aos poucos”.

Foram dez minutos agonizantes, a menina com as mãos pressionando o olho que não parava de doer, ao mesmo tempo em que uma luz vermelha escapava por entre os dedos da menina.

Quando a dor passou, ela arrancou uma tira da blusa cinza ensanguentada e amarrou ao redor do rosto, fazendo uma espécie de tapa olho. Agarrou a aranha, colocando-a em cima de uma folha e guardou a faca, e pôs-se a caminhar de volta à Árvore.

*****

Adrian bufou de raiva ao ouvir a desculpa que O Corvo lhe dera.

Na noite anterior, Gold se lembrava do maldito lhe agarrar o braço. Ele se concentrara em fazer seu veneno sair pela sua pele, o mais forte possível, e quando o traidor deu um grito e o soltou, agarrando a mão queimada, Adrian bateu na nuca dele com um galho. Ok, talvez seu modo de pensar “primeiro bater, depois perguntar” não fosse muito correto.

Então, exausto, desmaiou. Uma coisa absolutamente... estúpida... para se fazer num momento como esse. Acordou meio tonto quando já era de dia, e o maldito Corvo acordou quase ao mesmo tempo.

– Olha, Adrian, eu posso explicar! Juro. Só... não faz isso de novo, ok? E eu to falando da parada do galho, sinceramente to pouco me fudendo para a queimadura na mão, apesar de com certeza não ter gostado. - Adrian o encarou. - Só não gosto mesmo de ficar inconsciente.

– Bem que alguns diziam que você era O Corvo Traidor! Esteve com eles esse tempo todo! E todo mundo preocupado com o fato de você ter ido para a guerra com a Hiena Psicopata!

– Ei, calma ai, garoto! Eu sei que devia ter ido com Peter, mas a questão é que eu tenho um motivo totalmente plausível, ok? Se não acreditar em mim... ahn... eu fico quieto e você pode me bater com o galho de novo, tudo bem? - O Corvo disse, levantando as mãos.

Adrian agarrou o galho e franziu as sobrancelhas, encarando-o. O outro suspirou.

– Eu ia com Peter, mas então durante a noite a gente brigou por... ah, você sabe... o motivo das pessoas sempre brigarem comigo... mas qual é, não tenho a culpa de ser tão incrível... eu só... de qualquer forma, a gente brigou e eu fui para a floresta, e ai achei uma trilha e tal e achei os Caçadores. Eu planejava voltar e avisar vocês, mas eles me viram e eu fingi que era um Caçador perdido. E estou espionando eles e tudo... EI CALMA AI, ABAIXA O GALHO, AINDA NÃO TERMINEI! QUAL É, TAMBÉM PEGOU A MANIA DA ALEXIA?... Eu ia voltar, estava só esperando para ver quem ia ser o novo chefe deles, e eu descobri. Por isso eu estava na floresta na noite passada, ok? Eu ia voltar!

Adrian o encarou de olhos semicerrados. O outro suspiro e olhou para Gold, o único de pé.

– Acredita em mim?

– Você me convenceu. - Disse Adrian. - Até a parte do “pegou a mania da Alexia”. É uma hábito recente dela. De uns dois meses para cá. Sei disso porque eu estava perto dela quando ela falou “Até que é legal, vou começar a usar galhos mais vezes”. E você sumiu há sete meses.

Antes do outro conseguir entender a observação de Adrian, este jogou toda sua força no galho e tentou acertar a cabeça.

Mas o outro foi mais rápido. Seus olhos brilharam, e, de repente possuído por uma agilidade inumana, rolou para a esquerda, dando uma rasteira em Gold, que caiu no chão.

Ai... que estúpida forma de perder uma briga!

– Você traiu os Monstros! - Repetiu o garoto.

O mais velho pegou o galho e bateu na têmpora do adolescente. Não foi com muita força, mas o bastante para fazê-lo desmaiar. Se aproximou do menor, seus olhos dourados voltando a cor mel.

– Não... Trair não é a palavra certa... Talvez gerir negócios seja mais apropriado... - Ele sorriu, malignamente. - Mas, como você mesmo disse antes... Bem, tenho que fazer jus ao título se me chamam de Trevor, o Traidor, não é mesmo?


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Notas finais do capítulo

Gente... eu estou muito ocupada com a escola... eu estudo direto desde as 7:10 as 18:00, e quando chego em casa tenho q estudar o conteudo em atraso, então eu não sei quando vou ter tempo de escrever.
Não vou desistir da fic, mas minha vida infelizmente não se resume ao Nyah Fanfiction, principalmente para mim que quero passar em Medicina.
Eu só vu ter tempo para escrever no domingo, e é raro eu conseguir escrever um capítulo rápido. A alternativa é tentar escrever capítulos menores, mas assim quebraria demais os p.o.vs e não seria tão legal
Vou tentar postar sempre que possivel, mas perdoem-me se eu demorar muito, e não me abandonem :((
Esse capitulo rendeu 17 páginas em times new roman tamanho 12, e eu estou muito feliz!! Achei um dos mais legais até agora, e tentei explicar mais ou menos as coisas :3

Espero que tenham gostado, e mais uma vez, me perdoem os erros gramaticais!