Memórias Encaixotadas escrita por Malu


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Eu espero mesmo que vocês gostem (e leiam lskdajhskljda), porque é uma das primeiras fanfics de Amor Doce que eu posto e eu amei essa ideia (modesta -qq)...
Enfim...



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Acordar de um daqueles sonhos esquisitos. Enrolar na cama até quase dormir de novo. Desligar o despertador antes que despertasse pela segunda vez. Levantar com a mesma cara de zumbi e o bafo matinal de sempre. Arrumar seu lado da cama. Ir ao banheiro. Escovar os dentes para tirar o bafo matinal. Tomar banho para tirar a cara de zumbi. Se arrumar e torcer para que não sujasse a roupar antes de ter que sair para o trabalho. Descer as escadas o mais silenciosamente possível. Fazer o café da manhã para os meninos. Acordar Nathaniel, que roncava como um porco. Checar Jake, que roncava como um filhote de porco. Descer as escadas em silêncio novamente. Preparar o lanche para Jake – sanduíche de manteiga de amendoim e geleia e um suquinho de maçã. Finalmente tomar o próprio café da manhã. Subir novamente para ter certeza de que Nathaniel estava se arrumando e não havia dormido novamente. Arrumar o lado dele da cama. Sentar e observá-lo lutar contra o nó da gravata. Levantar e fazer o nó da gravata por ele. Sorrir e lhe dar um beijinho. Descer as escadas com Nathaniel para ter certeza de que ele tomaria café antes de sair. Desejar-lhe um bom dia no trabalho e subir para checar Jake novamente.

Lynn mal saíra da cama e sabia exatamente como seria seu dia até o momento em que o marido deixasse a casa.

Quando sua turma se formou, Lynn e Rosalya fizeram uma promessa de que nunca teriam uma dessas vidas monótonas que todas as mulheres casadas que elas conheceram até então tinham.

Rosa cumpriu a promessa e, mesmo tendo um marido e um casal de filhos, passava uma semana fora a cada três meses. Era o tempo que ela tinha para si e para aproveitar a vida, viajando para todos os lugares, visitando amigos de todos os lugares do mundo.

Lynn, por outro lado, casou-se com Nathaniel aos 21, depois de cinco anos de namoro, engravidou aos 22 e aos 28, sua maior aventura era conferir Jake, seu príncipe, depois que Nathaniel saía e descobrir se ele estava dormindo ou se já estava acordado e pronto para aprontar algo.

Não que ela não amasse seu filho – muito pelo contrário, ela daria sua vida pela criança –, mas aquela vida se tornava mais e mais tediosa a cada dia. Era como se todos os dias, ela acordasse e descobrisse que, em dez anos, não fizera nada do que a Lynn de 17 se imaginava fazendo em cinco. Como se acordasse e visse que, ao invés de cumprir todas aquelas coisas, ela apenas perdia mais e mais da garota esperançosa que costumava ser.

Assim que Nathaniel deixou a casa naquela fria sexta-feira de setembro, Lynn encontrou o filho acordado e já descendo as escadas.

Sorrindo, a mulher pegou o filho no colo e o levou para a cozinha, para lhe dar o café da manhã.

Depois de encher uma tigela de cereal e leite, ela beijou a testa da criança e a observou comer, pensando em como ele crescera rápido.

— Mamãe, tá cantando... — a criança disse, apontando para o aparelho celular de Lynn. Ela sorriu, vendo a tela piscar com um contato ligando para seu número pessoal e assim que reconheceu a música do Winged Skull, pegou o telefone.

— Termine seu café, Jake. — disse a mãe e saiu para atender a ligação antes que ela caísse na caixa postal. — À que devo a honra de sua ligação, Cass? — perguntou.

— Já disse que é Vossa Excelência, senhora advogada. — diz Castiel, soando todo sério e pomposo.

Mas logo em seguida começaram a rir.

— Para que ligou, Castiel? Sabe que não posso ficar falando com você fora do trabalho ou...

— O Nathaniel fica uma fera, blá, blá, blá... Vire essa página. Bata em outra tecla. — Lynn imaginou Castiel revirando os olhos e com aquela cara de cachorro brabo que ele costumava ter no colegial. — É o seguinte: eu tenho uma audiência no fórum dessa vilinha aí mais tarde e quero encontrar você na cafeteria perto da escola antes disso.

Ela consultou o relógio e suspirou.

— Tenho uma audiência mais tarde também. Vou levar o Jake para a escola daqui a pouco e vou para lá.

— Te vejo às nove. — ele disse e desligou, sem sequer se despedir, mas era normal. Lynn nunca ouviu Castiel “tchau”, principalmente para ela.

Lembrou-se das últimas semanas de aula, quando os pais do garoto resolveram levá-lo para Paris e como ela ficou devastada – afinal, mesmo que não agradasse Nathaniel, o até então namorado, Cass fora seu melhor amigo todo o colegial. Quando ela foi à rodoviária se despedir, ele quase a matou, dizendo que não queria se despedir dela e quando Lynn perguntou o porquê, ouviu-o dizer que odiava dizer tchau para as pessoas que amava.

Foi a primeira vez que ela o ouviu dizer que amava alguém.

Estava dispersa em seus pensamentos sobre a partida de Castiel e voltou à realidade ao ver Jake passar correndo para as escadas e subir para ir se vestir.

Ela deixou Jake na escola e sorriu ao sentir o beijo do garotinho estalar em sua bochecha, seguido de um “parabéns, mamãe!” que parecia mágico na boca dele. Ouvir isso da criança fazia com que ela se sentisse mais nova, mesmo que estivesse ficando mais e mais velha cada vez que ouvia.

Depois de ver o filho entrar correndo na escola junto com os amiguinhos, dirigiu calmamente para a cafeteria.

Tendo certa dificuldade para estacionar na frente da cafeteria, decidiu estacionar do outro lado da rua. O local parecia lotado e, por um momento, se perguntou como ela e Castiel encontrariam uma mesa para eles ali, mas a dona do local os conhecia desde novos. Com certeza daria um jeito de arranjar um lugar para eles.

Quando entrou na lanchonete, olhou o mural com antigas fotos de clientes que costumavam frequentar a lanchonete e encontrou uma foto sua com a turma. Na verdade, havia várias fotos da turma.

— Sente falta? — um homem parou ao seu lado e ela se assustou ao ouvir sua voz, mas se assustou mais ainda ao reconhecer Xavier, o marido da dona.

— Muita... Não me lembrava dessas fotos. — disse, tocando algumas das imagens que pareciam capturar toda a sua adolescência e revelá-la em um mural.

— A mesa de vocês já está pronta. — Xavier avisou e ela se afastou das imagens.

— Obrigada... — murmurou e fez seu caminho até a salinha que costumavam frequentar em sua juventude. Assim que empurrou a porta de correr, soltou um arquejo de surpresa.

Castiel já estava à sua espera e não estava sozinho. Não era apenas o mural que parecia revelar toda a sua adolescência. Estão todos ali; seus melhores amigos o colegial.

Olhou para todos, estupefata. Estavam absolutamente todos ali: Armin e Alexy, Kim e Violette, Iris e Melody, Ken e Dakota, Lysandre e Rosalya... Castiel.

— Parabéns, Tábua. — disse Castiel, levantando-se e indo ao seu encontro. Mesmo depois de anos, mesmo que seus seios fossem maiores que o de muitas garotas que Castiel já namorou, ele continuava chamando-a assim e ela admitia que, com o tempo, ela havia deixado de odiar o apelido. Ao menos aquilo poderia ser considerado estável em sua vida: Castiel sempre estaria ali para caçoar dela.

— Vocês... — não conseguiu completar a frase antes de se engasgar em seu próprio choro. Eles saíram de vários países da Europa, de diversos lugares da França para estar ali.

— Sinto muito, mas não conseguimos fazer com que Nathaniel viesse. — disse Cass e ele realmente lamentava.

Lynn acabou não respondendo. A verdade é que nem queria que Nathaniel estivesse ali, pois ele provavelmente ia acabar estragando tudo ao entrar em uma briga desnecessária com Castiel, assim como fazia em todos os encontros da escola.

— Está tudo bem... Ele está pegando os plantões da manhã. — murmurou, se afastando dele e indo abraçar aos outros.

Eles haviam mudado bastante desde a escola... Violette e Armin acabaram juntos depois de a garota ter desistido do irmão, Ken certa vez surpreendeu à todos ao anunciar que estava noivo de Ambre, Castiel e Melody – eles continuavam achando que ninguém sabia disso – dormiam juntos ocasionalmente. Alexy acabou como sócio de Rosalya ao fundarem uma grife bem sucedida, Dakota teve um daqueles namoros-ioiô com Li, mas acabou casando com Charlotte, Íris se revelou lésbica e namorava uma tal Alex – ao menos, até o último contato feito com Lynn. Lysandre, por sua vez, acabou se dedicando à sua carreira como cantor e nunca chegou a casar, mas não parecia incomodado com isso. Li era uma das modelos de Rosalya, Peggy trabalhava em um dos maiores jornais da França e Kim trabalhava com segurança na Inglaterra.

A turma estava sempre conversando, se não por e-mail, por um daqueles grupos de WhatsApp que não duravam muito mais que duas semanas, mas raramente se encontravam pessoalmente ­– o fato de a turma ter se dispersado pela Europa não ajudava nas visitas – e quando o faziam, geralmente era em Dezembro, para que pudessem passar ou o Natal ou o Ano Novo juntos, como nos velhos tempos.

— Nós sentimos muito que Nath não possa ter vindo. — comentou Lysandre alguns momentos depois. Eles já estavam sentados ao redor da mesa, dividindo uma torta de coco como a que costumavam pedir e tomando ou café ou chocolate quente cremoso que apenas a cafeteria de dona Amelia tinha.

— Foi melhor assim... — murmurou a mulher, pensando se aquele era o momento de revelar a verdade que o casal vinha ocultando já havia algum tempo. Na verdade, certas vezes, pareciam ocultar aquilo até deles mesmos. — Eu e Nathaniel estamos nos divorciando. — acabou revelando, com um pesar na voz que sequer conhecia. Ela amava Nathaniel – ele sabia disso –, mas preferia acabar com o casamento logo, antes que o casamento acabasse com eles.

Divórcios tinham tendência a fazer aquilo: tornar tudo tão complicado entre o casal, que o processo podia ser capaz de destruir até mesmo a amizade. Mas eles haviam resolvido: não seriam do tipo de casal que envenena a mente dos filhos contra o outro. Jake podia ser apenas uma criança, mas acabaria entendendo que estavam fazendo aquilo por todos os três. Talvez pudessem ser uma família movida à amizade ao invés de ser movida à um matrimônio forçado.

O silêncio foi tão longo que, por não ser capaz de olhar nenhum deles, Lynn quase achou que estava sozinha.

Ela levantou o olhar e percebeu que não estava. Estava cercada por seus amigos e pelo choque evidente no olhar de cada um.

Todos ficaram surpresos. Kentin e Armin trocaram um olhar e olharam para Castiel, buscando orientação por saber que ele era o que tinha mais contato com Lynn.

— Quanto tempo faz isso? — perguntou Alexy, fitando a mulher depois de perceber que até para Castiel era novidade.

— Uns 10 meses... — murmurou-a, olhando para as próprias mãos, cujas unhas eram cuidadosamente pintadas de um tom nude.

— Mas 10 meses atrás, nós nos vemos pela última vez. — constatou Violette ao contar nos dedos e perceber que aquilo começara em Dezembro do último ano.


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Notas finais do capítulo

Críticas, elogios, ideias, dicas... Estou aceitando tudo ♥
Ah, caso encontrem algum erro em relação à sexualidade do filho da Lynn, é porque antes era uma menina e eu decidi mudar, então me avisem se encontrarem :v
See ya' xx