– O que quer dizer? Akane só me conhece há uma semana, não tem como ele saber a diferença ainda. - tudo bem que ficou o tempo todo com Akane, mas demorou pelo menos um mês para que o melhor amigo de Shinra nos Estados Unidos soubesse diferenciar os dois. Tanto que adorava fingir que era seu irmão e enganar o pobre garoto.

– Mas ele sabia. Tanto que olhou para mim e disse para te entregar, nem ao menos se assustou quando perguntei quem ele era. - eram poucos aqueles que sabiam a diferença entre os gêmeos, até mesmo seus pais tinham um pouco de dificuldade de vez em quando, e para alguém que só viu sua irmã durante uma semana e nunca tinha se quer olhado para ele, saber a diferença era assustador. Ele devia prestar muita atenção em Hina.

– Depois da pergunta, até eu desconfiaria...

– Ele não desconfiou, Hina. Ele sabia que não era você. Ele tem que ter prestado muita atenção em você para saber a diferença, tem certeza que vocês não tem nada um com o outro?

– Somos apenas amigos, Shinra! Claro que de todos, ele é o mais próximo de mim, mas você deve estar se preocupando à toa. Ele sabia que eu tinha um irmão, quando perguntou quem ele era deve ter suposto que não era eu e sim você. - insistiu.

– Você disse que nós éramos gêmeos?

– Bem... Não, mas...

– Hina! Ninguém conseguiu isso, tem que parar de apenas se preocupar com vôlei e observar as pessoas ao seu redor. Agora mais do que nunca precisa fazer isso se não vão descobrir nosso segredo! - repreendeu seu irmão. Shinra era um garoto calado, ao igual que Akane era observador, mas por outros motivos. Era um garoto demasiadamente inteligente, sério e com altos problemas de autoestima. Enquanto em Hina isso era demasiadamente alto em Shinra faltava. - Vamos, me diga detalhadamente quem é ele.

– Akane Tomoshi, estuda na mesma sala que eu, é um garoto bastante calado. Enquanto estamos juntos normalmente me deixa falar sozinha sobre diversas coisas, não me incomoda, mas acho bom quando toma parte do assunto. Ele me ajuda na escola e é um bom jogador, apesar de ser meio lento. É um cara legal, apesar de tudo.

– Ele fala com outras pessoas além de você?

– Hun? O que quer dizer?

– Até que ponto ele é calado?

– Ne... Porque está fazendo tantas perguntas sobre o Akane-kun?! Não está suspeitando de nada, está? Você nem o conhece, só o viu uma vez! Criou a capacidade de saber as intenções das pessoas apenas olhando para elas? E daí que ele soube diferenciar a gente? Pode ter sido apenas coincidência, não quer dizer que ele é um maníaco perseguidor que está de olho em mim!

– Apenas digo que, se tem alguém interessado em minha irmã eu tenho o completo direito de saber.

– Shinra! Você sabe muito bem que ninguém se interessaria por mim! - reclamou, as bochechas infladas em um muxoxo fofo por não estar gostando do assunto. Shinra sorriu, adorava implicar com sua querida irmã, principalmente com relação a esse assunto. - Principalmente porque agora eu faço papel de menino! Não teria como ele gostar de outro garoto!

– Você mesmo estava perguntando se garotos poderiam ficar juntos. Isso não quer dizer que você acredita que meninos tenham interesses um pelo outro? Vai que ele também tem, mesmo que pra ele você seja um garoto.

– É, mas... Arg! Não complica a história! Akane-kun não tem esse tipo de interesse por mim!

– Oh? Então está gostando do seu senpai? Por isso não gosta que insinue que seu amigo está interessado em você.

– Chega, Shinra!

– Então está gostando dos dois, mas não sabe qual escolher e é por isso que te incomode que toque no assunto!

Hina se jogou sobre seu irmão, ambos agora rolando no chão em meio a diversas gargalhadas. Não era diferente das diversas vezes que já haviam discutido assim. Se bem que não poderiam chamar de discussão, quase nunca brigavam e quando o faziam em poucas horas voltavam a se falar como se nada tivesse acontecido. Era uma necessidade de ambos os irmãos estarem juntos, apoiarem-se, por mais que fosse difícil as vezes, era preciso.

Há algumas ruas dali Akane encarava seu próprio celular, o numero de seu único amigo refletido na pequena tela eletrônica. Estava em duvida, queria conversar com ele, mas também não queria incomodar. Era difícil para ele decidir esse tipo de situação sendo que nunca em sua vida teve que passar por ela. Suspirou, deixando o braço com o celular cair sobre o peito, não era nada divertido ficar com essas questões tão inconvenientes na cabeça.

Ergueu-se de sua cama, e por mais que soubesse que não seria sua melhor escolha descer do seu quarto, estava com fome e precisava comer alguma coisa. Com calma caminhou até a porta, fazendo questão de conferir se mais alguém se encontrava do lado de fora. O silencio rodeava a casa, supôs que sua mãe não estivesse em casa e seu pai dormindo no quarto, seja como for se tudo estava em silencio nenhum dos dois estava com raiva ou juntos.

Caminhou com calma até o andar de baixo, adentrando na cozinha enquanto deixava seu celular em um canto qualquer sobre a mesa. Nunca teve muito o que fazer durante os fins de semana, normalmente procurava ficar a maior parte do dia em seu quarto ou caminhando em algum lugar longe de casa. Faria tudo para ficar longe da vista de seus pais.

– Quem é essa garota? - a voz de sua mãe o assustou enquanto pegava qualquer sobra que tinha na geladeira. Voltou seu olhar para a mesa vendo sua mãe mexendo em seu celular, seu rosto mostrava que claramente estava bêbada.

– Ah... não... - queria dizer que não era uma garota, mas perto dela não conseguia falar. A memória do que já tinha passado estava próxima de mais para dizer alguma coisa. A única foto que tinha em seu celular era uma que Shinra havia insistido de tirar para colocar como contato.

– Ela é bem bonita, apesar de parecer um menino com esse cabelo curto. Duvido que seja sua namorada, não está dando uma de perseguidor sexual, está? - Akane encolheu, não querendo dizer nada que poderia ser uma afronta a sua mãe. A ultima coisa que queria era mais um hematoma para que Shinra lhe perguntasse.

– Por que todo esse barulho? Ah? Esse não é o celular do Akane? - seu pais se aproximou e soube que a partir dali as coisas só iam de mal a pior. - Quem é essa? Uma garota que você gosta?

– É a única foto que ele tem no celular. Deve ser importante.

– É uma mensagem nova.

– Tem razão. Aqui diz: Obrigado pelo salgado e desculpa não ter te acompanhado, espero que não tenha ficado chateado. Então você não é um perseguidor.

– O que uma garota como ela quer com um cara como você?

– Amigos... Somos só amigos... - murmurou, mas sabia que seus pais não o escutariam. A discussão entre eles logo começaria e talvez só com aquilo poderia escapar, isso se não fosse envolvido. Esgueirou-se por entre os moveis, tentando usar sua vantagem como pouco notável para escapar daquela situação, aproveitando que sua mãe havia temporariamente largado seu celular, pego-o e desapareceu andar a cima.

Suspirou, jogando-se sobre a cama, tentando deixar de escutar a alta discussão que se desenrolava no andar de baixo. Teve sorte de conseguir sair, na maior parte das vezes era arrastado para junto da confusão e nunca saia sem algum tipo de machucado, se caso isso tivesse acontecido não saberia como explicar isso a Shinra no dia seguinte. Encarou novamente o celular e dedicou-se a responder a mensagem que tinha recebido.

Acho engraçado a preocupação de Shinra, não era como se estivesse com raiva, sabia que isso iria acontecer algumas vezes. Mesmo assim... Encolheu-se na cama, encarando a única foto que tinha em seu celular. Era estranho, pensou que fosse por causa de ser seu primeiro amigo, mas sentia algo muito parecido com... Possessão, pelo pequeno garoto.

Não era gay, longe disso, nunca sentiu atração por ninguém de seu mesmo sexo. Tudo bem que não eram muitas as garotas que gostava, mas nunca havia sentido aquilo por ninguém. Estaria gostando de Shinra? Mais do que como amigo? A pergunta do garoto deu voltas em sua mente, eram dois meninos, mas sentia que queria mais do que isso. Queria a atenção do garoto apenas para si, gostava de sua companhia e de outras coisas mais. Conversar com ele era fácil, estar com ele era fácil, tudo parecia mais fácil do seu lado...

Poderia mesmo estar gostando de um garoto?

O dia seguinte chegou rápido, logo se encontrava caminhando lado a lado com Shinra, que tagarelava sem parar, ansioso para o treino. Foi apenas quando viu seu rosto que recordou-se de sábado, onde encontrou, por um mero acaso, o garoto parecido com Shinra.

– Ne, Shinra. Seu irmão, é um irmão gêmeo? - perguntou, tentando parecer o mais descontraído possível. Shinra sorriu.

– Ah, é. Ele disse que você tinha ido lá em casa entregar o salgado. Somos sim, gêmeos. É bem difícil saber nossa diferença, já enganamos muitas pessoas assim. - riu. A melhor maneira de enganar alguém era contando exatamente a verdade. Quem acreditaria que eles fariam isso para trocar de escola e assim poderem se livrar da implicância de seus pais. - Ele ficou um pouco assustado falando que você sabia a diferença entre nós.

– Bem... Foi um pouco difícil, mas o cabelo dele é mais comprido que o seu e a voz é ligeiramente mais grossa. - Shinra parou de andar, seus olhos abertos pelo que tinha acabado de escutar. - O que?

– C-como... como soube disso? Só o viu uma vez... - resmungou, mais para si mesmo do que para seu companheiro.

– O que?

– N-nada! Vamos antes que cheguemos atrasados para o treino.

– Eh? E-espera S-shinra! Não corra assim! E-eu não consigo acompanhar!

– Rápido Akane-kun!

Shinra afastou-se um pouco, mas adequou o passo para que Akane não o perdesse de vista. Mas estava preocupado, assim como seu irmão havia alertado ele não apenas havia adivinhado, ele sabia a diferença entre eles. Isso era um problema, um grande incomodo, assim não dava para destrocar sem Akane-kun saber. Se alguma coisa acontecer... Se algo der errado... Não tinha como concertar... Droga! Agora mais do que nunca deveria manter seu segredo, e segurar as pontas durante os três anos em Karasuno.

Quando finalmente chegaram já conseguiam ver alguns dos membros do clube adentrando no ginásio, prontos para o treino. Sorriu, esquecendo por um instante todos os problemas que tinha antes. Era bom ver um rosto sorridente logo de manhã.

– Shinra!! - gritou Nishinoya ao vê-lo, os braços bem estendidos a cumprimentá-lo a distancia. Apressou o passo.

– Yuu-senpai, bom dia!!

Akane observou, desde mais atrás, cada movimento que ambos baixinhos faziam. Tanta intimidade, eles a tinham antes? Seria por causa do que aconteceu sábado? Pelo mesmo motivo que Shinra não o pode acompanhar? Não sabia porque mas aquilo o incomodava, era irritante e sentia uma forte vontade de afastar Shinra de seu senpai. Toda aquela cena era irritante, terrivelmente irritante.

Não sabia o que sentia por Shinra, não sabia se realmente estava apaixonado por um garoto, não sabia e naquele momento não queria saber porque tinha toda aquela obsessão com o garoto. Apenas queria... Apenas queria a atenção dele, apenas para si, agora e em todo o momento. Droga isso o levaria a loucura.

– Eu falei, é sufocante. - quando foi que Kintaro apareceu a seu lado? Bem isso não importava, sua maior vontade era de descontar sua estranha fúria e por desgraça o loiro era o mais próximo disso. - Ele vai continuar ficando apenas mais próximo de todos eles, atraindo cada vez mais a atenção de todos para si e ofuscando os demais.

Respirou fundo, tentando ignorar o que o loiro dizia. Focou sua atenção em outra coisa, em qualquer outra coisa, todavia a única que conseguia agora era na do baixinho sendo abraçado pelo ombro pelo seu senpai líbero, agora com a aproximação do pequeno ruivo que o puxou para si, dizendo alguma coisa pervertida a Nishinoya, deixando ambos, tanto o líbero quanto ao pequeno ponteiro, completamente vermelhos. Aquilo era tão...

– Akane-kun!! Você não ficou tão pra trás né! Anda logo ou vai se atrasar! - aquele sorriso, agora em sua direção, ignorando os outros dois baixinhos que tinha a sua volta... Droga, sua fúria se esfumou por completo e só conseguiu andar em sua direção.

Droga, aquilo não poderia ser possível, definitivamente não era gay. Mas... Droga, droga, droga! Não poderia negar que estava se sentindo atraído por Shinra, que queria sua atenção e que adorava ouvir sua voz. Droga, isso não estava bom, nada legal, nada legal.

O treino continuou e nunca em sua vida se sentiu mais perdido em meio a tantas pessoas. Estava tão confuso! Maldito foi o momento que se aproximou daquele garoto. Mas também abençoado foi o dia em que o conheceu, em que conversaram e em que se tornaram amigos. Shinra tinha uma presença esmagadora, isso não poderia negar, mas diferente do que Kintaro estaria pensando, ele não queria afastar isso, queria deixá-lo mais próximo...

Arg! Estava louco, deveras louco...