Impressões Enganam, as escrita por MyKanon


Capítulo 13
Ela gosta de tons pasteis




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Eu já estava acordado quando o despertador soou. Meu relógio biológico estava mais eficiente que o digital.

Aquela era uma segunda-feira bem vinda.

 

 

*

 

 

_ Mais cedo que o de costume? - perguntou minha mãe quando me viu abrindo a porta.

_ Não.... Você acha?

Mas eu sabia que ela estava certa.

Ela balançou a cabeça positivamente e não me deu mais atenção. No fim das contas, ela estava contente com o meu cuidado maior com as horas.

 

 

*

 

 

Quando empurrei a porta de vidro, senti a atmosfera fria e seca que o ar condicionado causava. Nos primeiros dias, aquele ar me causou sérios problemas respiratórios, agravados pela minha bronquite, mas meus pulmões já pareciam ter calejado, e agora sua falta em muito me incomodava.

Como que por magnetismo, fui instantaneamente atraído para uma outra baia, que não a minha.

Primeiro surgiram seus cabelos claros, presos em um rabo, e a medida que me aproximava, toda sua figura surgiu.

Ao notar minha aproximação, parou o que fazia e me encarou. Seus olhos arregalaram-se aos poucos, mas não disse nada.

Continuou me observando com sua expressão que parecia apreensão, enquanto continuei assistindo-a em silêncio.

_ B-bom dia, Vitor.

Ou ela estava envergonhada, ou eu a estava assustando. Eu não queria que nenhuma fosse verdadeira, mas a primeira soava menos pior.

_ Bom dia, Veri. Tudo bem?

Sua confirmação veio com uma sacudida de cabeça. Parecia tão infantil que me fez ter vontade de protegê-la do que quer que a estivesse incomodando. Mas infelizmente o problema era eu.

_ E então, chegou bem na sua casa no sábado?

Seus ombros pareceram relaxar um pouco, e finalmente sorriu:

_ Sim.

_ E sua mãe?

_ Vai muito bem, obrigada!

Achei engraçado.

_ Digo, ela brigou com você por ter demorado?

_ Ahn, não... Claro que não... Ela só reclamou por eu não ter feito bolinhos de chuva. Então aí eu fiz.

Eu deveria continuar aquele tipo de conversa?

Optei por simplesmente fazer cara de interesse.

_ Mas quando eu terminei, ela já havia adormecido... - completou como se lamentasse profundamente – No domingo ela não quis...

_ Poxa...

_ Aí eu acabei dando para a minha vizinha. Os filhos dela adoram bolinhos de chuva. Ou talvez sejam apenas gentis...

_ Tenho certeza que foram sinceros.

_ Mas eles disseram que estavam duros.

_ Ahn! Bem... Então acho que não foram tão sinceros...

_ Eu acredito. Eles não têm culpa... Afinal eu não podia mesmo provar...

“Ah, é... O leite...”

_ Bom, já que está tudo bem, vou trabalhar um pouco. Mas, nós vamos almoçar juntos, não é?

Seu sorriso se alargou, e inclinou a cabeça delicadamente para um lado quando respondeu:

_ Vamos sim.

_ Beleza.

Com certa dificuldade, dirigi-me para o meu lugar.

Já havia duas mensagens na minha caixa de e-mail.

“Eita povo que não dorme...” Pensei quando li o nome do meu chefe & companhia em uma das mensagem.

 

De: Marissol B. Correa

Para: Carlos Barasal

 

Bom dia Barasal,

 

Os testes de conhecimentos específicos estão agendados para quarta-feira às 9hs a.m. no 24º andar. Informe sua equipe com antecedência.

 

Att,

Marissol B. Correa

 

“Testes de conhecimentos específicos?” Que raio de testes eram esses?

Abri a outra mensagem que era a resposta do meu chefe:

 

De: Carlos Barasal

Para: Vitor Ferreira; Daniele Ikoma; Robinson Malheiros

Cópia: Marissol B. Correa

 

PSC

 

Att,

Carlos Barasal

 

“Sutil”

Então a Dani e o Robinson também fariam o tal teste... Será que tinham maiores informações?

Deixei o teste pra lá, ainda tinha tempo até quarta-feira, e me dediquei ao meu trabalho. Já estava acostumado a ele. A ideia de fazer um teste sobre isso não me assustava.

Pouco antes do horário do almoço, ergui a cabeça para ver se ela já estava pronta, mas como de costume, não estava em sua mesa.

Vi o Robinson passando em direção à cozinha enquanto falava ao celular.

Levantei-me e também fui até lá, na esperança que ele soubesse algo sobre a prova.

_ E aí cara. - cumprimentei enquanto pegava um copo plástico.

_ E aí velho, beleza.

Enchi o copo de água e ele fez o mesmo.

_ Você viu o e-mail do Barasal? - comecei antes de dar o primeiro gole.

_ Vi sim... Não entendi uma vírgula, mas tá valendo.

Ele também deu um gole em seu copo. Eu ia perguntar outra coisa que até esqueci o que era quando a Dani adentrou a cozinha repentinamente. Parecia pensar que não teria ninguém, pois ficou corada ao notar minha presença.

_ Oi Vitor...

_ Oi Dani.

Deu uma risadinha e passou por mim para pegar um copo.

_ E então, vamos comer pizza hoje?

Perguntou brincando com o indicador no braço do Robinson. Seu gesto foi discreto, mas deixava claro o envolvimento entre os dois.

Eu podia reprovar a facilidade com a qual a Dani havia sido conquistada pelo meu amigo, mas jamais poderia negar a atração que ainda me despertava.

Sua blusa branca não era muito decotava, mas realçava seus seios fartos.

_ Se você ainda quiser... - respondeu meu amigo.

Quase senti raiva dele por ter conseguido ficar com ela. Mas outro pensamento se sobrepôs.

Tinha certeza que ela não era tão culta, tão inteligente ou tão espirituosa como a Veridiana. Perto da Veridiana, qualquer outra garota parecia monótona.

_ E aê, garanhão.

O Robinson me deu uma cotovelada e percebi que estávamos novamente sozinhos.

_ Quê?

_ Tá pegando que eu sei.

Eu não queria que ele falasse da Veridiana. Ele já havia deixado claro que não gostava dela, então nenhuma menção que fizesse a ela podia ser agradável para mim.

_ Humpf. - resmunguei.

_ Fica de boa... Não vou espalhar-

_ Quer dizer o que com isso? - eu o interrompi.

Nenhuma das interpretações que minha vinha à cabeça pareciam justas.

Eu não pretendia esconder de ninguém, a não ser que ela preferisse, e não sentia -nunca mais sentiria- vergonha dela. Pelo contrário. Sentia-me até orgulhoso pela conquista.

_ Calma meu, foi só brincadeira.

_ Hum.

Terminei meu copo d'água e o joguei fora. Ainda me lembrei da Veridiana defendendo a natureza enquanto fazia isso.

Era uma pena, mas parecia que dificilmente eu e o Robinson nos daríamos bem novamente. Além de ter me passado a perna, ele não gostava da minha garota.

Minha garota? Me surpreendi ao pensar assim. Pelo menos era o que eu queria que ela fosse.

_ Oi! Eu pensei que já tivesse ido...

Seus olhos cinzas estavam esbugalhados.

_ Não acredito que pensou isso... - comecei quase ofendido.

_ Não acredite mesmo, estou só brincando.

_ Veri... - dei risada de sua brincadeira boba – Vamos então?

_ Hum-hum!

Esperei que ela passasse, para então também deixar a sala.

Depois de apertar o botão para descer, ela ficou olhando fixamente para as portas fechadas do elevador enquanto segurava sua minúscula bolsa entre as mãos.

Eu também não me atrevi a me aproximar. Coloquei as mãos nos bolsos e me postei logo atrás dela, de propósito para que ela sentisse minha presença bem próxima.

Ela permaneceu imóvel, parecendo tensa, enquanto as portas não se abriram.

Quando isso aconteceu, ela entrou vagarosamente, e então virou-se.

Diferente do que imaginava, seus olhos estavam ansiosos. A cabeça estava erguida para me encarar com determinação.

Logo no meu primeiro passo, minhas mãos foram de encontro ao seu corpo. Enquanto uma a cercava pela cintura, a outra trouxe seu rosto para perto do meu, e a beijei.

E dessa vez foi diferente. Não foi cheio de expectativa e insegurança como no primeiro dia. Foi mais real e decidido.

E muito mais difícil de interromper, mas já tínhamos atingido o térreo, e precisávamos desembarcar.

_ Que tal experimentarmos um restaurante novo na galeria? - sugeri pegando sua mão.

_ Sim! Eu sempre quis ir ao “Tomate Azul”!

Até suas sugestões eram hilárias.

_ Que foi? - perguntou ao notar meu riso – Quando eu era criança, sempre pintava meus tomates de azul...

_ E eu pintava meus elefantes de azul. Estamos quase quites.

_ Você ainda tem a desculpa de que nunca havia comido um elefante...

_ Pensando dessa forma... Tem razão. Então por que pintava de azul?

Quase que indignada, me encarou duramente e respondeu como se fosse óbvio:

_ Porque eu queria. Sempre preferi tons pasteis...

_ Quer saber, você é que sempre esteve coberta de razão! Seus tomates podem ser da cor que você quiser! Afinal, eles são seus!

_ Hum-hum! - ela finalizou.

Chegando à galeria, nos dirigimos ao Tomate Azul e nos sentamos. Enquanto esperávamos pelos pedido, lembrei da prova agendada para aquela semana. Senti vergonha de pedir informações, mas que mal haveria em perguntar se ela ouvira falar?

_ Veri...

_ Sim? - perguntou desviando sua atenção do guardanapo com o qual brincava.

_ Você... Está sabendo sobre uma prova que vai haver na quarta-feira?

Ela continuou me encarando como se eu ainda não houvesse dito nada, e depois de alguns segundos, aprumou-se na cadeira. Pareceu escolher as palavras, mas no fim, optou por apenas responder:

_ Sim.

Acho que a conversa sobre a prova estava acabada.

_ Ah, me desculpe, não queria deixá-la numa saia justa com a sua chefe perguntando essas coisas...

_ Não... Eu queria mesmo que me perguntasse...

Fiz cara de interrogação, por isso ela explicou, num tom um pouco mais baixo:

_ Eu não queria ter de começar... Pois se você perguntasse, seria apenas uma resposta, não minha iniciativa...

_ Não entendi, Veri...

_ Bem, apenas estude... Essa prova é muito importante.

_ Muito importante?

Ela balançou a cabeça positivamente.

_ Mas, ainda não entendi... Quão importante?

_ Hum... Dependendo do resultado... Você pode ser efetivado...

Mas antes de meu sorriso terminar de se formar, ela completou:

_ Ou ser desligado da empresa.

Seria outra brincadeira doida dela?

 

Continua

 


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Notas finais do capítulo

N/A: Pessoas-xuxus, perdoem a demora! Mas vcs devem imaginar, a vida real não é nada fácil... Rrsrsrs!

Kissus a todas!