Paro o carro na garagem e respiro fundo. Depois de tudo que eu passei, vou mesmo fazer isso ? Não sei se devo...
Não! Eu tenho que fazer isso! Tenho que fazer isso por mim.
Depois de andar com as pernas trêmulas até a porta, eu finalmente a abro com agressividade e determinação. Avisto Carmem sentada no sofá conversando com alguém no sofá. Me aproximo lentamente sem fazer barulho e arrasto minha mala cuidadosamente.
_ Ai, finalmente aquela nerd saiu daqui de casa. - ela faz uma pequena pausa - Claro que não! O pai dela é ridículo o suficiente pra ouvir a gente e não ouvir ela. - ela faz outra pausa - Com certeza ela já está bem longe daqui. E quem sabe agora, consigo fazer o Cebola abrir os olhos pra deixar de pensar naquela vadia nerd.
Um sangue fervente começa a passar pelas minhas veias rasgando minha sanidade. Ando normalmente até a sala passando por Carmem com a minha mala sendo arrastada. Carmem deixa o celular cair no sofá e fica estática por um tempo.
_ O que está fazendo aqui ? - ela pergunta com a voz fraca -
_ " Eu " ? - pergunto olhando para os lados - Eu moro aqui. Esqueceu ?
Escondo o meu sorriso sarcástico e aprecio sua expressão. Carmem está com os olhos azuis arregalados, mais pálida que o normal e completamente paralisada.
_ Não pode ficar aqui! O seu pai... O seu pai te mandou pra ficar com a sua mãe. - ela diz se levantando rapidamente -
_ Ninguém me tira daqui. - digo firmemente - Eu tenho sido burra por anos deixando pessoas como você me intimidarem e me fazerem pensar que sou menos do que realmente sou. Isso acaba hoje. - me aproximo dela e seu olhar fica apreensivo - O seu reinado acabou.
Ela balança levemente como se fosse desmaiar e eu pego minha mala. Sorrio vitoriosamente e dou uma última olhada para seu rosto pálido.
_ Ah, e... Acho melhor eu não demorar muito aqui já que o Cê tá me esperando.
Eu podia jurar que ela iria ter um ataque cardíaco, mas sai de perto antes de ver o resultado. Subi as escadas e guardei minhas coisas no devido lugar novamente.
Desço as escadas e encontro meu pai, Susana e Carmem todos juntos.
_ Vamos conversar ? - meu pai pergunta -
Um pouco de medo cresce dentro de mim, porém ignoro e ergo a cabeça.
_ Sim. - digo com a voz decidida - Não vou sair daqui e quero que saiba que sou sua filha. Sua filha. Deveria ser mais importante que um romance pós divórcio e a filha Barbie. Você não me escutou quando precisei, contudo... Peço que faça isso agora. Não quero que decida entre eu e elas porque seria egoísmo. - faço uma breve pausa - Quero que me coloque em primeiro lugar e que me apóie.
Papai ficou em silêncio por um tempo com os braços cruzados. Ele se aproxima de mim e me abraça. Eu fico surpresa no início, pois fazia tempo que não fazíamos isso. Ele me segura forte e eu retribuo.
_ Me desculpa. - ele sussurra - As vezes achamos que estamos certos, mas na verdade estamos fazendo tudo errado.
_ Tudo bem. - sussurro de volta -
Enxugo uma pequena lágrima que escorre dos meus olhos e sorrio. Susana está com cara de rejeição e eu fico na frente dela.
_ Não espero que goste de mim. - olho para meu pai e volto o olhar para ela - Espero que goste dele e o faça feliz. E eu vou garantir saber se isso está acontecendo.
Susana me olhou com desconfiança e desgosto ao mesmo tempo. Eu finjo que não percebo e me viro para meu pai.
_ Não precisa disso tudo filha. Eu assumo daqui para frente.
_ Tá... - digo tímida de repente - Vou sair e volto mais tarde.
Dirijo até uma casa não muito longe da minha. Fico nervosa e olho para as estrelas do céu como se fossem me ajudar. A porta se abre me fazendo tomar um pequeno susto. Uma mulher simpática está sorrindo perfeitamente para mim.
_ Oh, oi Mônica.
_ Oi... O DC está ? - pergunto educadamente -
_ Está querida, pode entrar.
Ela me dá passagem e eu já sei onde ele está. Vou para a sua garagem e ele está tocando sua guitarra concentrado. Eu dou duas leves batidas em sua porta e ele levanta o olhar para mim. Seu olhar é surpreso e ele fica parado com sua guitarra sem falar nada.
_ Oi. - digo em um sussurro -
_ Oi. - ele sussurra de volta -
Caminho até onde ele está e sento ao seu lado no pequeno sofá vermelho. DC não me olha nos olhos, mas tenta parecer amigável pelo que percebo.
_ Achei que estaria em um avião essas horas... - ele começa -
_ Algo me fez ficar. - eu disse simplesmente -
_ Foi ele, não foi ?
Fiquei confusa no início, até entender que " ele " era o Cê. Eu pego em sua mão e mesmo seu olhar estando triste, parece que ganhou um brilho agora.
_ Não só ele. Mas você. A Magá. E todos aqueles que ficaram do meu lado esse tempo todo.
Do Contra está com um olhar impenetrável e sério. Chega a ser perturbante procurar saber o que ele está pensando. E então ele aperta minha mão e solta o ar de uma forma engraçada que me faz rir.
_ Tudo bem. - ele diz por fim - Ainda bem que você ficou.
_ Tinha muita coisa pra resolver ainda.
Depois de algum tempo conversando, fui embora e voltei para casa. A casa estava silenciosa, o que eu estranhei, é claro. Onde estavam as ordens de Susana e os telefonemas altos de Carmem ?
Entro e olho ao redor. Meus olhos encontram duas mulheres loiras lindas com três malas caras cada uma. Fico sem reação e tento entender o que está acontecendo. Carmem caminha na minha direção junto com sua mãe e está ameaçadora.
_ Espero que esteja feliz.
Eu não podia perder a oportunidade e aproximo minha boca de seu ouvido esquerdo. Não consigo tirar o pequeno sorriso estampado e seu som na minha voz.
_ Muito. - sussurro -
Carmem sai pisando duro junto com Susana. Meu pai da de ombros e faz um sinal de silêncio. Sei que ele não quer conversar sobre isso agora, porém eu vejo o pequeno sorriso no seu rosto. Ele também está feliz que se livrou delas.
Subo para o meu quarto e pego o meu diário que faz " anos " que não escrevo. A verdade, é que apesar do nome do objeto que serve para contar coisas diárias, eu apenas conto aquelas importantes e que acho que vale a pena lembrar. As embaraçosas e ruins guardo para mim como um borrão.
" Olá diário! Não vou começar com " Meu querido diário ", já que você sabe que odeio esse tipo de clichê. Hoje foi um dia muito bom. Finalmente resolvi a maior parte da minha vida. Cebola ( o garoto por quem estou apaixonada ) fez eu enxergar quem realmente sou e que tenho que batalhar para conseguir uma vitória; meu pai se separou da vacadrasta que levou junto sua olhos - azuis - assassinos. Estou mais feliz do que imaginei estar. Quero me lembrar de hoje pra sempre. "
Meu celular faz um barulho avisando que tenho uma mensagem e logo o pego. Era Cebola.
" Oi... Te pego hoje às oito. Pode ser ? "
Sorrio e respondo.
" Claro. "
Tomo um banho quente e lavo meus cabelos lentamente para relaxar. Coloco uma música enquanto deixo a água escorrer pelo meu corpo. Saio do banho e seco meus cabelos que ficam lisos e grandes como sempre. Coloco um vestido rosa claro que bate um pouco acima do joelho, não possui mangas mas tem alças que cobrem parte do meu ombro. Não possui nenhum detalhe, apesar de ser bem bonito e delicado. Passo um batom claro e coloco uma sapatilha branca. Passo de leve um rímel e olho o horário no meu celular. Já são oito horas, acho melhor descer.
Desço para o andar de baixo e vejo Cebola na porta me esperando. Ele está lindo com a sua camisa branca de mangas, calça jeans preta e all star preto. Seus cabelos rebeldes lhe dão um ar sexy e ele está olhando para mim. Eu me aproximo e sorrio para ele.
_ Você está linda. - ele sussurra e logo me dá um selinho -
_ Você não está nada mal... - digo em um tom de brincadeira -
Vamos para o carro e primeiro saímos para jantar. Comemos em um restaurante muito bonito e iluminado. Assim que terminamos, Cebola me leva até a sua casa. Eu fico um pouco confusa, mas ele insiste em me mostrar algo.
_ Fique aqui fora.
_ " Aqui " ? Por quê ? - pergunto confusa -
_ Você verá.
Ele caminha até a garagem da sua casa que é enorme e bem cuidada, com toda certeza. O Cê entra e eu fico do lado de fora esperando por cerca de dez minutos. Quando já estou quase desistindo, o portão da garagem se abre até a metade lentamente. Entendo como um sinal para entrar, então o faço. Está tudo escuro e eu vejo apenas algumas luzes no teto que me chamam a atenção. São luzes azuis que brilham como pontinhos que logo se espalham. Fico maravilhada com cada uma, só que logo uma luz branca chama a minha atenção. Cebola está sentado em um banco em cima de um mini palco. Ele está segurando um violão com um microfone na frente. Meu coração acelera e meu corpo congela. Alguém me fala como se respira ?
_ Sei que essa é uma das suas músicas favoritas, então... - ele faz uma breve pausa se posicionando - You have my heart, and we'll never be world apart; maybe in magazines, but you'll still be my star, baby 'cause in the dark, we can't see shiny cars, and that's when you need me there, with you I'll always share... Because...; when the sun shines, we'll shine together, told you I'll be here forever, said I'll always be your friend, took an oath I'mma stick it out 'till the end, now that it's raining more than ever, know that we'll still have each other, you can stand under my umbrella, you can stand under my umbrella.. Ella ella eh eh eh; Under my umbrella; Ella ella eh eh eh; Under my umbrella; Ella ella eh eh eh; Under my umbrella; Ella ella eh eh eh eh eh eh... ( Você tem o meu coração; e nós nunca estaremos em mundos diferentes; talvez em revistas, mas você vai continuar sendo minha estrela, porque amor quando estamos no escuro, nós não conseguimos ver carros brilhantes, e é quando você precisa de mim, e com você eu sempre compartilharei porque... Quando o Sol brilha, nós brilhamos juntos, te disse que sempre estaria aqui, te disse que sempre seria seu amigo e vou manter minha promessa até o fim; e agora que está chovendo mais que nunca, sei que ainda teremos um ao outro, e você pode ficar de baixo do meu guarda chuva... )
O Cê termina de cantar e tudo que resta é a música Kiss me do Ed Sheeran que dançamos no baile. Ele desce do mini palco e me estende a sua mão. Eu estou ainda em estado de choque e quase não consigo piscar.
_ Me daria a chance dessa dança ? - ele me pergunta com uma expressão indecifrável -
Seguro sua mão firmemente como se nunca fosse soltá-la e ponho a minha outra no seu ombro direito. Ele segura a minha cintura e me aproxima de seu corpo. Eu estou olhando em seus olhos mel iluminados apenas com as luzes azuis do teto que lembravam estrelas. Isso não podia ser real. Parecia que eu estava presa em um conto de fadas agora e que iria acordar a qualquer momento. Olho novamente para o Cê. Não. Isso é real. É tão real que dói quando penso no que sinto por ele. Depois de tudo que passamos, estamos aqui.
_ Isso não é real. - sussurro impulsamente -
Cebola sorri de lado e logo fica sério novamente, apesar de ter uma expressão suave.
_ Também não parece real quando estou com você.
Como ele pode me dizer isso ? Como alguém pode me falar isso ? Esse tipo de coisa não existia pra mim há poucos meses atrás. Eu achava que era só em filmes e livros adolescentes que faziam para ganhar publicidade e fazer dinheiro. E aqui estou eu.
_ Eu te amo. - digo segurando em sua nuca -
_ Também te amo.
Nós nos beijamos e parece que milhares de fogos de artifícios explodem em mim. Minhas veias começam a queimar e a pulsar rapidamente, meu estômago quase estoura com o frio na barriga e minhas pernas ficam bambas. Essa é a primeira vez que sinto tudo isso ao mesmo tempo. Esse é o efeito que ele tem sobre mim.
_ Me prometa uma coisa ? - pergunto suplicantemente -
O Cê assente concordando sem dizer nada.
_ Me prometa que não importa quanto tempo isso for durar... - faço uma breve pausa - Que vamos passar cada momento como se fosse o último, mas com o sentimento de que é pra sempre.
Minhas palavras parecem assustá-lo, porém me assustam também. Ele segura meu rosto com suas duas mãos e me olha profundamente.
_ Faço isso o tempo todo.
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Estou tão nervosa que parece que vou explodir. Olho para o relógio e estou um pouco atrasada. Magali entra no carro comigo animada e brigando com Cascão pelo atraso dele. Eu rio e tento não ficar mais nervosa do que estou.
Arrumo meu cabelo e dou uma última olhada para mim no espelho. Estou bonita e segura. É agora.
Eu entro e vejo apenas ele. Ele está lindo com seus cabelos rebeldes que parecem estar sempre assim, como se fosse lei. Seus olhos mel encontram com os meus e estamos sozinhos agora. Ninguém mais importa agora. Tudo o que sinto por ele está correndo pelo meu corpo agora sem a possibilidade de evitar. Felicidade é pouco para descrever o que estou.
O Cê segura minha mão e eu a aperto levemente. Ele começa a fazer movimentos circulares com o seu dedo como de costume que sempre me relaxa.
Ficamos um de frente pro outro e agora eu sei. É pra sempre. Olho para ele e sorrio.
_ Eu aceito.