O ensaio da noite passada havia sido ótimo e eu estava tão feliz que acordei com um sorriso no rosto. Um pequeno raio atingiu meu estômago de ansiedade. Meu sonho de ser cantora cresce bem dentro de mim, mas meu subconsciente briga comigo dizendo: " Não pode ser cantora! Tem que fazer algo que te dê certeza na vida! ". Meu sorriso diminui, porém não some, já que de qualquer jeito estou na banda. Caminho dando pequenos pulos até o banheiro e olho meu reflexo no espelho. Estou sorrindo e pareço radiante.
Lembro-me rapidamente de ontem quando Cebola me falou que não queria que nossa amizade acabasse. Meu sorriso desaparece por completo. Meu estômago dá um nó e eu sinto uma vontade enorme de voltar para a cama. Mas logo me recomponho indo colocar alguma roupa para ir à escola. Arrisco colocar minha saia verde meio escuro que bate um pouco acima dos meus joelhos, uma regata branca com mangas e lisa por dentro da saia e uma sapatilha preta. Tudo bem, o que deu em mim ? Mas me olho no espelho e gosto do que vejo. Por algum motivo, me sinto mais confiante. Ando até o meu carro deixando de comer meu café da manhã, pois a lembrança de hoje mais cedo me tirou o apetite. Ligo o rádio e ouço a música " Love me like you do " da Ellie Goulding novamente e me lembro do dia em que estava com Cebola no carro e cantamos e dançamos essa música. Novamente fico feliz e triste ao mesmo tempo. Não posso continuar com isso.
Desço do carro quando estaciono e todos voltam suas atenções para mim. Todos parecem surpresos e curiosos ao mesmo tempo. O que uma mudança de estilo pode fazer em nossas vidas, hein ? Continuei a andar sentindo minhas bochechas corarem e só consegui ver Magali correndo na minha direção. Ela me abraçou e depois me analisou com seus olhos curiosos sorrindo em aprovação.
_ O que aconteceu com você ? - ela me perguntou -
Dei de ombros e começamos a rir. Magali passou seu braço direito ao redor dos meus ombros me abraçando e andamos até a entrada da escola. Carmem está no corredor junto com suas clones e todas me olham como se tivessem com algo entalado na garganta. Confesso, estou gostando disso. Dou um meio sorriso desafiador para Carmem e ela quase se corrói de raiva.
Avisto Cebola e de repente, não sei o que acontece, mas quase caio no corredor da escola com meus pés esquerdos. Quando vejo tem duas mãos em minha cintura. Olho de vagar para cima e vejo dois pares de olhos mel me encarando. Olho para seus olhos que sempre estão procurando algo nos meus e depois para sua boca. Eu quero me aproximar, mas estou paralisada. Ficamos nos encarando por alguns segundos e Carmem aparece pisando duro e segura no braço de Cebola me olhando feio. Todos estão olhando e cochichando sobre a cena. Fico envergonhada e não consigo olhar para nenhum lugar. Minha confiança se foi. Saio correndo com a Magali atrás de mim. Entro no banheiro feminino e começo a chorar sem nenhuma possibilidade de parar. Magali logo entra no banheiro e me olha preocupada.
_ O que está acontecendo Mô ?
Engulo por um segundo o choro e tento respirar entre as lágrimas.
_ Não sei. - falo batendo os braços contra meu corpo -
_ Olha... Eu ando muito preocupada com você. - ela começa com uma voz séria - Desde que você começou a andar com o Cebola, você mudou. No início, você parecia que estava bem, só que agora você só chora e até emagreceu. Eu sou sua amiga e queria que me dissesse o que está acontecendo.
Cruzo os meus braços e encaro seus olhos negros entre minha franja que cai nos meus olhos. Respiro fundo e resolvo desabafar.
_ Isso não tem nada a ver com o Cebola... - eu mesma me interrompo - Na verdade, tem. Mas não do jeito que você está pensando. É tudo. Ele, a Carmem, a pressão que eu recebo do meu pai, minha mãe longe, a saudade que sinto de casa e... Alguma coisa que parece estar entalada dentro de mim. Só não sei o que é ainda.
Magali fica por alguns instantes me olhando até que me abraça com força.
_ Pode contar comigo, sabe disso né ?
_ Claro que sim. - respondo sorrindo -
_ Agora pare de chorar que você está linda e está chamando muito a atenção! Sem contar no baile de hoje à noite que vou te deixar linda!
Não consigo parar de rir e fico impressionada como ela pode me deixar tão feliz tão rápido. Saímos do banheiro e vamos para a aula. Sei que Cebola ficou me encarando a aula inteira e minha vontade é de gritar com ele. Cebola é muito confuso e isso está acabando comigo.
Quando o sinal toca, todos vamos para o refeitório e eu logo sento na mesa com Do Contra, Magali e Katherine. Decido como sempre, comer minha salada com tomate, cenoura e alface, porém Do Contra se recusa a aceitar.
_ Não, você não vai comer só isso. - ele diz em protesto - Você está muito magra. Toma.
DC coloca um pouco de batata frita no meu prato e eu faço careta pra ele, apesar de estar grata pela preocupação.
_ Obrigada. - digo sorrindo -
Ele dá seu sorriso perfeito e eu me sinto bem. Como minha salada e a batata e já me sinto bem melhor.
_ O ensaio ontem foi muito bom. - DC diz para mim -
_ Com certeza! - eu digo sorrindo - Onde nós tocaremos mesmo ?
_ No shopping em que a gente foi pela primeira vez, lembra ?
Eu sei que sua voz está carregada de nostalgia e sentimento. Tento não ficar incomodada com isso e apenas sorrio simpaticamente. Contudo, estou mais leve do que antes. Olho de relance para onde Cebola está do outro lado do refeitório. Ele parece entediado e eu não posso evitar a vontade que tenho de ir animá-lo. Reúno a minha confiança de hoje mais cedo e vou até sua mesa. Os olhos se voltam para mim também e eu paro timidamente na sua frente.
_ Oi... - eu digo sentindo minhas bochechas ficando vermelhas -
_ Oi... - ele diz um pouco surpreso -
_ E então... Quer dar uma volta ? - pergunto -
_ Claro. - ele diz dando um pulo da cadeira -
Vamos andando até a porta do refeitório e os olhares nos acompanham. Assim que saímos de lá, Cebola dá um suspiro de alívio. Olho para ele com divertimento e ele me devolve o olhar.
_ Parecia que estava precisando ser salvo mesmo, não é ? - digo sorrindo de uma forma convencida -
_ Nem me fale. - ele diz com a voz amarga - E aí ? Já está se preparando para o baile ? - o humor na sua voz muda se referindo a minha voz -
_ É, parece que sim... - eu digo timidamente -
_ Você está bonita assim. - ele diz com um meio sorriso -
_ Um elogio ? - eu digo com surpresa, porém divertida - Evolução de Cebola Menezes...
Ele ri e eu o acompanho. De repente ele para de rir e sua expressão fica mais séria.
_ Você vai com ele né ?
Eu suspiro e me odeio por termos chegado nesse assunto.
_ Vou... - digo sem jeito -
Cebola suspira de uma forma pesada e eu sinto um pouco de raiva por ele pensar tão mal do DC.
_ Eu vou ficar bem Cê... - eu digo o tranquilizando -
Cebola sorri de leve e eu fico confusa.
_ O que foi ? - pergunto -
_ " Cê "... Você nunca me chamou assim... - ele diz com seu sorriso divertido -
_ Ai meu Deus... - reviro os olhos -
_ De qualquer forma, me promete uma coisa ? - ele diz com a voz calma -
_ O quê ?
Paramos de no jardim da escola e ficamos nos encarando. Cebola se aproxima de mim e passa sua mão direita levemente em minha bochecha esquerda. Não desvio o olhar do seu, apenas continuo esperando outra reação sua. Porém ele apenas continua com sua mão me acariciando e me olha intensamente.
_ Não deixa ele tocar em você.
Sua voz está em um tom suplicante e não posso evitar de franzir a testa. O que ele quer dizer com isso ? Ele continua me olhando de forma intensa e eu sei que minhas pernas estão ficando bambas. Ok, pode parar Mônica Sousa.
_ Por que ele não poderia me tocar ? - arrisco perguntar -
Cebola suspira e seus olhos continuam a me analisar. Talvez um dia eu descubra o que eles tanto querem de mim.
_ Só me prometa isso. Por favor.
De má vontade, me contorço um pouco e fico um pouco irritada com seu pedido, sem saber o porquê.
_ Não prometo nada. - digo com um pouco de raiva -
Me afasto da sua mão que ainda estava me acariciando e continuo o encarando. Cebola suspira e solta um riso de como quem não sabe o que fazer.
_ Você vai acabar me deixando louco, sabe disso, não é ?
Suas palavras são o suficiente para eu ficar mais vermelha do que as mechas da Magali. O lanço um sorriso enigmático e voltamos para a aula.
O sinal toca depois de todas as aulas e Magali me acompanha animada sem parar de falar no baile. Passamos na loja onde ela alugou seu vestido e eu logo me lembro que não havia alugado o meu. Vamos para minha casa ainda faltando três horas para o baile e eu fico feliz por isso. Ainda dá tempo de arrumar um vestido. Eu posso me arrumar, passar numa loja, alugar um vestido e ir direto para a festa. É, acho que consigo.
Depois de uma hora, Magá já está com sua maquiagem azul para combinar com seu vestido tomara que caia, simples em cima e bem rodado em baixo. Seu vestido é curto, ousado e elegante ao mesmo tempo. Eu o adorei.
_ Vamos te arrumar agora! - Magali diz animada -
_ Ai Deus... - digo revirando os olhos -
Quando Magali termina tudo, me olho no espelho completamente surpresa. Não parece que me chamo Mônica Sousa mais. Parece que sou outra pessoa. Meus cabelos estão enrolados, algumas mechas presas atrás e o resto do cabelo solto. Minha maquiagem é clara, porém chama bem a atenção. É delicada e chamativa. Um toque de rosa claro e preto é tudo. Meus cílios estão longos e volumosos, meus lábios rosados e minha pele impecável. Quem sou eu ?
_ Parece que virei a Carmem. - digo sem reação -
Magá faz uma careta para mim.
_ Nossa, detestou tanto assim ?
Rimos e eu a abraço muito feliz.
_ Obrigada. Você é a melhor amiga de todas.
_ Eu tento. - ela diz rindo -
Ouvimos uma batida vindo da porta do meu quarto e eu estranho rapidamente. Será que é a Carmem ? O que ela quer ?
Fecho melhor meu roupão branco e abro a porta de mal gosto. Paraliso todo o meu corpo e minha boca seca. Cebola está parado na minha porta com uma sacola enorme na mão.
_ Anda, veste. - ele diz me entregando a sacola -
A seguro desajeitadamente e tento falar algo, porém ainda estou em estado de choque. Cebola revira os olhos.
_ Eu sabia que não ia lembrar de alugar o vestido, então fiz isso por você. Acho que vai gostar.
Seu sorriso se alarga em seu rosto e eu o dou um sorriso irônico.
_ Ceb... - começo, mas ele me interrompe -
_ Não termina. Gostei quando me chamou de Cê...
Fico vermelha e fecho a porta com força. Magali me olha confusa e preocupada.
_ O que foi ? Você está bem ? Tá muito vermelha! Tá com febre ? - Magali começa a colocar a mão na minha testa e eu protesto -
_ Antes fosse. É o Cebola. Ele está aqui fora e me deu esse vestido.
Magali abre a boca para falar algo, mas fica tão surpresa quanto eu. Abro a sacola e vejo um vestido rosa claro, curto bem rodado em baixo, com finas alças em cima e um pequeno contorno nos peitos. É, o filho da mãe tinha razão. Eu adorei o vestido. Ponho o vestido e ele combina imediatamente com minha maquiagem e cabelo. Coloco um salto preto de uns dez centímetros na intenção de ficar mais alta. Vou até a porta junto com a Magá e desço as escadas. Cebola está sentado no sofá e quando me vê nossos olhares se congelam. Eu quase posso ver sua boca no chão e não posso perder a oportunidade.
_ Acho que tem uma coisa bem aqui. - Aponto para o canto da sua boca -
_ O quê ? - ele pergunta curioso -
_ Uma babinha, eu acho. - falo irônica -
Ele faz uma careta pra mim.
_ Você está linda.
Coro e começo a reparar nele. Ele está de blazer, sapato social, olhos mel intensos, cabelos rebeldes e um perfume maravilhoso. Caralho, ele está muito sexy. Afasto esse último pensamento inapropriado da minha cabeça e tento me recompor.
_ Acho que eu e a Magá já vamos.
_ A Carmem deve demorar. - ele diz com uma careta - Espero com vocês aqui fora.
Ficamos nós três esperando do lado de fora o DC e o Cascão aparecerem. Cebola ficava me olhando e desviando o olhar e Magali me cutucando pra me alertar do que ele estava fazendo. Mereço...
Os dois chegam juntos e DC também fica de boca aberta quando me vê. Magali fica toda boba quando vê o Cascão.
_ Uau, você está linda... - DC murmura -
_ Obrigada. - respondo sorrindo -
_ Nada que ela já não saiba. - Cebola diz se intrometendo -
O olho com alerta e passo meu braço no de DC. Dou um aceno para Cebola que retribui e quando DC acena também, Cebola só acena com a cabeça de uma forma ameaçadora. Do Contra se vira constrangido e eu o encaro para ver se ele se dá conta do quão grosso ele foi. Mas ele acaba mostrando o dedo do meio para DC enquanto ele está de costas. Eu arregalo os olhos e apresso o passo com Do Contra. O que deu nele ?!
_ Você primeiro. - DC diz abrindo a porta para mim -
_ Obrigada.
Entro no carro e olho na janela. Cebola ainda está nos encarando. Oh meu Deus... Não é possível que vou ter que aguentar isso a noite toda.